segunda-feira, 31 de maio de 2010

alicerce do paraíso vol 04

ÍNDICE

Capítulo 1
A FÉ NO COTIDIANO
Pragmatismo........................................................11
Religião pragmática..........................................12
Fé é confiança....................................................13
Fé é justiça.......................................................15
Verdadeira Fé......................................................16
Liberdade na Fé.........................................18
Incorporação e encosto.......................................20
A bebida e a Religião.......................................24
Tipos de Fé.....................................................26
O pecado e a doença............................................29
Johrei através das letras......................................31
Leia o mais possível os meus ensinamentos....................32
Tente agradecer a Deus por tudo o que faz........................34
A atitude “Daijo” versus a atitude “Shojo” nas doações............36

Capítulo 2
PENSAMENTO E SENTIMENTO
O homem depende de seu pensamento......................41
Mistério do Mundo Espiritual.............................41
Sinceridade...............................................43
Nós é que traçamos o destino..................................44
Treino de humildade............................................45
Satisfação e insatisfação........................................46
Domine o “Ga”..................................................47
Egoísmo e apego.................................................47
Entregue-se a Deus.............................................49
Sabor da Fé....................................................51
Atitude mental................................................53
A respeito do espírito da palavra.............................53

Capítulo 3
AÇÃO
Filosofia da Intuição...............................................57
Novamente a respeito de Bergson.............................58
Sinceridade............................61
Aura...............................................61
Bondade e cortesia....................................66
Pessoa simpática.....................................67
Teoria sobre os efeitos contrários........................69

Capítulo 4
RELACIONAMENTO
Não se irrite...........................................73
Vencer a ira..............................................76
Não julgueis...............................................77
Presunção..................................................78
Não julgue.................................................80
O conflito entre o Bem e o Mal..............................81
Ceda para conquistar........................................83
Seja um bom ouvinte..........................................84
Sentimento e reputação.......................................85
Não seja odiado..............................................86
A ampla tolerância...........................................87
Respeite a ordem.............................................89
Ordem.....................................................92
Amor correto e amor incorreto...........................94
Pessoas medrosas.........................................96
A irresponsabilidade dos suicidas.......................97

Capítulo 5
TEMPO
Aguardar o tempo certo...............................101
Tempo é Deus.............................................103
A alegria, o tempo e a ordem...........................105

Capítulo 6
APRIMORAMENTO
A parábola da espada..............................109
Beco sem saída......................................110
Dúvida...............................................110
Libertação..........................................112
Instinto e abstinência..............................113
Abstinência...........................................115
Apreciação das virtudes..................................117
Subjetivismo e objetivismo.............................119

Capítulo 7
HONESTIDADE E MENTIRA
Honestidade e mentira..............................123
O hábito da mentira.......................................123
Gananciosos sem ganância...................................125
Como identificar o homem mau..............................126

Capítulo 8
A RESPEITO DAS DÍVIDAS
A causa da pobreza................................131
A respeito das dívidas...............................135
Devemos ou não devemos fazer dívidas?.....................136
Dinheiro mal ganho, dinheiro mal gasto...................140
O dinheiro deve ser usado de maneira correta.............142

Capítulo 9
MORADIA
Fisiognomonia das casas e sua posição em relação aos pontos cardeais........145
A higiênica e agradável agricultura natural nas hortas caseiras........148



PRAGMATISMO

Na mocidade, apreciei muito a Filosofia. Entre as inúmeras teorias filosóficas, a que mais me atraiu foi o pragmatismo, do famoso norte-americano William James (1842-1910).
James achava que a exposição meramente teórica da filosofia constitui apenas uma espécie de distração; para ele, a filosofia só era válida se fosse colocada em ação. Acho interessante a sua teoria, cujo realismo autêntico é característico dos filósofos americanos. Aderi, portanto, às suas idéias e me esforcei por adotá-las em meu trabalho e na vida cotidiana.
O benefício que o pragmatismo me proporcionou naquela época, não foi pequeno. Mais tarde, quando iniciei meus trabalhos religiosos, julguei necessário aplicá-lo à Religião. Isto significa ampliar o campo religioso de modo que abranja a vida em geral. Então, o político não cometeria injustiças, porque, visando à felicidade do povo, promoveria uma boa administração, granjeando, assim, a confiança de todos. O industrial obteria a admiração da coletividade, pois exerceria a profissão honestamente; seus negócios progrediriam com segurança, porque ele mereceria a estima de seus empregados, que seriam fiéis no trabalho. O educador seria respeitado e teria notável influência sobre seus discípulos, educando-os com bases sólidas. Os funcionários e os assalariados em geral subiriam de posição, porque a Fé produz bom trabalho. A alma do artista irradiaria de suas obras, com grande elevação e força espiritual, exercendo influência benéfica sobre o povo. O ator, no palco, manifestaria nobreza, porque suas representações seriam baseadas na Fé, e os espectadores receberiam o reflexo de seus sentimentos elevados. Entretanto, isso não significa que as coisas se processassem com rigidez didática: tudo deveria ser agradável e atraente.
É fácil imaginar como melhoraria o destino dos indivíduos e como eles se tornariam úteis à sociedade, se seus atos fossem iluminados pela Fé, qualquer que fosse sua profissão ou situação.
Haveria, certamente, um cuidado especial: o pragma¬tismo religioso não deveria transformar-se em fanatismo, pois todo exagero é desagradável. A ostentação religiosa é uma das piores coisas que há. Existem muitas criaturas que exibem atitudes de religiosidade. Isso aborrece os outros. O ideal é ser natural, ser uma pessoa simples, pondo apenas mais gentileza e nobreza nos atos. Em uma frase: ser polido, eliminando a fé grosseira. Alguns devotos têm atitudes que lembram as dos psicopatas. São extremamente subjetivos, fazem do lar um ambiente triste, importunam os vizinhos e suscitam desconfiança sobre a religião que seguem. A culpa, no entanto, é de quem os orienta; por isso, o ato de orientar requer muita prudência.
25 de janeiro de 1949



RELIGIÃO PRAGMÁTICA

O pragmatismo, doutrina sustentada inicialmente por Charles Sanders Peirce, famoso filósofo americano (1839-1914), chegou a ser uma filosofia de âmbito mundial, propagada por William James, que hoje é considerado seu criador. Dizem que pragmatismo significa utilidade prática; creio, entretanto, ser mais adequado aplicar o termo “ativismo”.
Acho desnecessário falar muito a respeito, porque se trata de uma teoria conhecida por todos aqueles que se interessam pela Filosofia. O que desejo falar agora, é sobre o pragmatismo religioso. Já me referi uma vez a esse tema, mas torno a abordá-lo, para melhor compreensão.
Quando falamos em ativismo religioso, temos a impressão de que todas as religiões estejam praticando ações de Fé. Todos conhecem propagandas por escrito, sermões verbais, orações, cultos, rituais religiosos, ascetismo e mortificações; infelizmente, porém, as religiões ainda não atingiram a vida prática. Em verdade, não passam de cultura mental.
O pragmatismo filosófico introduz a Filosofia na vida prática, acentuando, neste ponto, o caráter americano. Pretendo fazer o mesmo, com uma diferença: fundir a Religião e a vida prática, tornando-as íntimas e inseparáveis. Deixemos, pois, de ostentar virtudes, de isolar-nos, de ser teóricos como foram até hoje os religiosos, e sejamos iguais às pessoas comuns. Para tanto, é preciso que eliminemos toda afetação religiosa e procedamos sempre de acordo com o senso comum, a ponto de tornar a Fé imperceptível aos outros. Isso vem a ser a apropriação completa da Fé.
Com essa explicação, creio que puderam entender o que vem a ser ativismo religioso.
30 de maio de 1951



FÉ É CONFIANÇA

Existem muitas pessoas que seguem uma religião, mas o homem de verdadeira fé é raro. O fato de alguém se considerar um verdadeiro religioso, nada significa, porque o julgamento está baseado num critério subjetivo. Só é de fato um verdadeiro religioso aquele que assim for reconhecido objetivamente.
É necessário distinguir claramente como age um autêntico homem de fé. Teoricamente é simples: que inspire confiança nos que convivem com ele; que todos confiem nas suas palavras; que, no contato com as pessoas, elas sintam que só lhes advirá o bem, porque ele é uma pessoa excelente.
Obter tal confiança não é difícil. O essencial é não mentir e favorecer primeiramente o próximo, deixando os interesses pessoais relegados a segundo plano. As pessoas devem comentar a respeito desse homem: “É alguém que me ajudou, que me salvou... É pessoa muito bondosa... Seria um grande prazer tê-lo como amigo. É uma criatura muito agradável...” Tal indivíduo certamente terá o respeito e a estima de todos, o que é muito compreensível. Nós mesmos, se encontrássemos uma pessoa assim, desejaríamos cultivar sua amizade, confiar-lhe nossos problemas e nos sentiríamos ligados a ela. Essa dedicação, entretanto, não pode ter caráter passageiro. Exemplifiquemos com o arroz: quem se habitua com ele, a cada dia o acha mais saboroso. O homem de verdadeira fé pode ser comparado ao arroz.
No mundo, predominam pessoas que contrariam tudo o que acabamos de dizer: suas ações comprometedoras levam-nas a perder a confiança do próximo, sem que isto as preocupe. Mentem de tal forma, que podem ser desmascaradas a qualquer momento. Embora possuam boas qualidades, suscitam desconfiança e se desvalorizam aos olhos dos outros.
Mentir é uma grande tolice; basta uma pequena mentira para se ficar desacreditado. Se investigarmos por que certas pessoas não melhoram de situação, embora sejam esforçadas e assíduas no trabalho, veremos que elas não merecem crédito, devido às suas mentiras.
A confiança é realmente um tesouro. Quem a merece jamais passará por dificuldades monetárias, pois todos sentirão prazer em lhe fazer empréstimos. Estou me referindo à confiança entre os homens; mas obter a confiança de Deus é algo de valor inestimável. Se a conseguirmos, tudo correrá bem e teremos uma vida repleta de alegrias.
18 de junho de 1949



FÉ É JUSTIÇA

Que é Religião?
Religião, evidentemente, não é uma interpretação complicada de doutrinas e filosofias religiosas. Seu objetivo é a formação de homens perfeitos. Estas palavras tão simples resumem a resposta, mas na prática isso é difícil de realizar. É exatamente como disse Confúcio (552-479): “Falar é fácil; fazer é que é difícil.”
Vou explicar qual é a dificuldade.
A maioria das pessoas pensa que ninguém consegue fama ou riqueza apenas com honestidade, julgando inevitável a utilização de alguns meios ilícitos. Além disso, quase todos preferem os maus divertimentos aos bons. Esse falso critério prevaleceu durante milhares de anos e acabou se transformando em senso comum. Embora houvesse muitas tentativas por parte da lei e da educação moral visando a melhorar a sociedade, os resultados foram insignificantes.
A Religião é o último recurso que possuímos; entretanto, devemos considerar que a diferença de força, no campo religioso, influi enormemente. Uma religião de pouco poder não consegue vencer o mal. Eis por que seus seguidores também não conseguem deixar de agir erradamente. Torna-se, pois, necessário o aparecimento de uma poderosa religião capaz de vencer o mal. Só assim teremos um mundo harmonioso e uma boa sociedade. Isso é o que chamamos de Justiça aliada à Fé.
3 de junho de 1950



VERDADEIRA FÉ

Chu-tzu, sábio chinês (1130-1200), afirma que a dúvida é o princípio da crença. É a pura verdade.
No mundo atual, existe um grande número de religiões, a maioria das quais baseada em falsidades. Muitas adoram ídolos e até animais, sem o saberem. Pouquíssimas dirigem sua adoração diretamente a Deus, o Criador do Universo.
Digo sempre que a crença deve ser precedida do máximo de dúvida. Há caminhos religiosos que, embora não possam ser considerados falsos, são crenças de tipo inferior, pois não têm Deus como objetivo da fé.
Quando estudamos seriamente as religiões, vemos que muitas apresentam falhas. Portanto, antes de seguirmos uma crença, devemos questioná-la bastante, desprender-nos de velhas ideologias e conceitos não comprovados e examinar tudo minuciosamente, de modo que possamos ingressar numa Fé que não apresente falhas. Assim, teremos certeza de que aquele é o nosso caminho.
Existem seitas que pregam a necessidade de primeiramente crer para depois alcançar graças. Ora, crer antes de ter certeza, é o mesmo que enganar a si próprio. A meu ver, o procedimento correto é, antes de mais nada, experimentar ou limitar-se à observação e análise dos princípios e ensinamentos: verificar se eles são corretos e se há milagres (o que prova a atuação da Força Divina), para sentir se o novo caminho é digno de ser seguido como Verdadeira Religião.
Sabemos de seitas que tentam impedir que seus seguidores conheçam outros cultos. Na minha opinião, isso revela temor de que suas falhas e a fragilidade de seus princípios se tornem patentes. Se fossem religiões de nível muito elevado, nada temeriam. O adepto que, ao examinar uma nova crença, se convence da excelência da que já adotou, mais solidifica sua fé.
É bom, contudo, estar ciente de que também os espíritos malignos podem promover milagres, a fim de iludir os menos esclarecidos, aprisionando-os com dogmas e superstições. Em tais casos, no entanto, os resultados logo se manifestam: sofrimentos sem solução, que muitos interpretam, erroneamente, como provações necessárias a que estão sendo submetidos. Estes sofrimentos persistem, apesar de todos os sacrifí¬cios e orações fervorosas. As promessas, os jejuns, as privações, as penitências, etc., revelam-se totalmente inúteis. Diante de tal situação, inúmeras pessoas julgam-se abandonadas por Deus e afastam-se da Fé, caminhando para uma infelicidade maior.
Na religião que cultua somente a Deus, Criador do Universo, os fiéis podem, inicialmente, ser atingidos por doenças e infortúnio; entretanto, vencida essa fase de purificação das máculas, a situação será sempre melhor do que a anterior. Deus recompensa aquele que obtém resultados ao trabalhar no sentido de beneficiar a humanidade.
Aproveito o ensejo para prevenir o leitor contra o velho conceito: “Não importa qual seja a crença, contanto que se creia”. Isso é completamente errado. O objetivo da Fé deve ser única e exclusivamente Deus. De Sua adoração provém a Luz que dissipa as máculas do ser humano. Se, mediante vantagens iniciais, o homem crê em qualquer coisa, há influên¬cias malignas que o pervertem e degeneram. Nessa questão fundamental, a maioria não distingue o certo do errado. Por isso, quase sempre as graças são passageiras e acarretam mais desgraças do que felicidade.
Tratei deste assunto para que aprendam a distinguir a Verdade, não se deixando iludir por falsas crenças.
25 de janeiro de 1949



LIBERDADE NA FÉ

No Japão, a liberdade religiosa só foi alcançada após a promulgação da nova Constituição. Não é disso, porém, que vou tratar; pretendo discorrer sobre a liberdade na própria Fé.
Há inúmeras religiões – grandes, médias e pequenas – no mundo inteiro. Entretanto, todos pensam que sua religião é a melhor e, logicamente, considerando as demais de nível inferior, advertem insistentemente os adeptos para não terem nenhum contacto com elas. Dizem que as outras religiões provêm do demônio, que se deve temer o castigo de Deus e, ainda, que não se obterá a salvação seguindo a dois senhores.
Essas atitudes dependem de cada religião. Existem as que são muito rigorosas e cujos missionários procuram impedir o relacionamento dos adeptos com outros credos. Algumas até intimidam as pessoas dizendo-lhes coisas atemorizantes, como, por exemplo, que, se mudarem de fé, lhes advirão grandes desgraças, sofrerão doenças graves, perda da própria vida ou da família inteira, etc. É a costumeira tática utilizada pelas falsas religiões. Se nos basearmos no senso comum, perceberemos que tudo não passa de tolice, mas geralmente as pes¬soas se deixam influenciar, ficando indecisas. E isso não ocorre apenas com as religiões novas; mesmo nas religiões antigas e dignas de respeito acontecem fatos semelhantes, o que é incompreensível. Analisando bem, podemos concluir que o pensamento liberal não se restringe às áreas políticas e so¬ciais. Parece-nos que os grilhões do pensamento despótico persistem também nas religiões.
Sendo como discorri acima, devo dizer, a respeito da liberdade em Religião, que promover vantagens para a Igreja em detrimento dos fiéis, cerceando sua vontade, é um abuso que atinge as raias do absurdo. Além do mais, empregar para isso a ameaça verbal, é algo que, a essas alturas, pode ser considerado uma imperdoável chantagem religiosa. Como ilustração, citarei o que tive ensejo de ouvir de uma pessoa: “Há muito tempo sou adepto fervoroso de determinada religião, mas vivo constantemente enfermo e não consigo livrar-me do sofrimento causado pela pobreza. Por esse motivo, fui perdendo a fé e resolvi abandoná-la. Entretanto, quando participei ao ministro a decisão que tomara, ele me disse coisas aterrorizantes. Sem saber como agir, venho pedir conselhos ao senhor.” Eu expliquei a essa pessoa que aquela religião, sem sombra de dúvida, era demoníaca e que o melhor seria deixá-la o quanto antes.
Exemplos como esses existem aos montes. O principal motivo que leva as religiões a tomarem tais atitudes é o medo que elas têm de ver diminuir o número de seus fiéis. Por outro lado, há uma razão que já se registra desde eras remotas. Quando a religião se torna atuante e conhecida, observa-se uma tendência para o aparecimento de imitações. Até mesmo com a nossa Igreja ocorre esse fato. Nessas oportunidades, eu explico que as religiões se assemelham aos cosméticos: quando são bem aceitos, surgem imitações. Ora, se isto acontece, é uma prova de que o produto foi bem aceito pelo povo. Portanto, ao invés de condenar o fato, devemos alegrar-nos com ele.
No cristianismo, parece que existe a mesma tendência, mas em outro sentido. Referimo-nos à advertência sobre a vinda do Anticristo ou falso salvador. Trata-se de uma advertência que apresenta não só pontos positivos como também negativos, pois, caso apareça o verdadeiro Salvador, será fácil confundi-lo com o falso, e muitas pessoas deixarão de ser salvas.
O mais grave, entretanto, é que muitos adeptos oferecem sua ardorosa fé acreditando que a religião que professam é a melhor de todas. Como são realmente sinceros, espiritualmente já estão salvos, e pessoalmente se sentem satisfeitos. Mas isso não é o certo. A verdadeira felicidade consiste em viver-se uma vida paradisíaca, em que a matéria esteja salva juntamente com o espírito. Embora sejam crentes fervorosos, muitos desconhecem esse particular; assim, é grande o número de pessoas que não conseguem se livrar da infelicidade.
A propósito, quero fazer mais uma advertência. O motivo pelo qual uma religião proíbe seus fiéis de terem contato com outras, talvez seja o receio de que eles possam encontrar uma religião superior. Isso significa que existe um ponto fraco nessa religião; portanto, os fiéis devem acautelar-se. Nesse ponto, nossa Igreja é realmente liberal. Todos os messiânicos sabem que até achamos muito útil o contato com outras religiões, porque, através das pesquisas, estamos ampliando nosso campo de conhecimentos. Por conseguinte, se acharem uma religião melhor que a Igreja Messiânica Mundial, podem converter-se a ela a qualquer momento. Isso jamais constituirá um pecado. Para o Verdadeiro Deus, o importante é a pessoa ser salva e tornar-se feliz.
8 de outubro de 1952



INCORPORAÇÃO E ENCOSTO

Embora eu esteja sempre alertando sobre o perigo da incorporação, muita gente continua praticando-a. Vou explicar detalhadamente por que isso não é recomendável.
Oitenta ou noventa por cento dos casos de incorporação são de espíritos de raposa, e noventa e nove por cento deles são maus. Enganam as pessoas instintivamente, fazendo-as praticar o mal, e divertem-se muito com isso. Entre eles, há os de nível superior, que, quando incorporam em alguém, dizem ser Nyorai, Bossatsu, Dragão, etc. Tais espíritos, ao mesmo tempo que fazem a pessoa crer, empenham-se, através dela, em que outras também creiam. Essa pessoa passa, então, a ser endeusada e a viver cercada de luxo. Freqüentemente vemos desses casos.
Entre os espíritos de raposa, os mais velhos possuem considerável poder. Ao visarem um homem, como conhecem tudo que ele pensa, traçam planos baseados nesses pensamentos. Se é pessoa que gostaria de ser venerada como se fosse uma divindade, dela se apossam sorrateiramente e começam a trabalhar nesse sentido. Tais pessoas dizem ser uma nova manifestação de determinada divindade muito conhecida. Não há quem não conheça casos semelhantes.
De maneira extremamente ardilosa, os referidos espíritos procuram formar um elo espiritual com a criatura visada e, como também manifestam alguns milagres, os ingênuos se deixam enganar. Isso acontece muito na sociedade. “Deuses da moda”, que surgem em vários lugares, são desse tipo; evidentemente, trata-se de espíritos extraordinariamente hábeis.
Tendo conhecimento de que uma pessoa deseja ser rica a todo custo, eles incorporam nela e trabalham com inteligência ardilosa, fazendo-a ganhar muito dinheiro. Porém não escolhem os meios, e em geral induzem-na a cometer crimes. Durante algum tempo as coisas vão bem com a pessoa, mas depois tudo começa a dar errado, havendo muitos que até vão presos.
Se um homem deseja conquistar uma mulher, esses espíritos, habilmente, fazem que ele se aproxime dela e, para despertar-lhe o interesse, utilize métodos e palavras galantes; às vezes até o levam a recorrer à violência. São, portanto, muito perigosos. Tratando-se de espíritos de animal, para eles não existe mal nem bem. Eles ficam contentes fazendo o homem dançar a seu gosto, como se fosse um boneco. Assim, o ser que é considerado superior a todos os outros encontra-se numa situação lastimável. Se pudesse entender isso, o homem não teria razão para se orgulhar.
Além dos espíritos de raposa, também os espíritos de texugo, de dragão, de “tengu”, etc. podem incorporar no ser humano e enganá-lo. Entre eles, o mais temível é o de dragão. Por sua grande inteligência e poder, lhe é muito fácil utilizar o homem à sua vontade e, conforme a situação, feri-lo ou até tirar-lhe a vida. Por ocasião daquele incidente ocorrido no ano passado, atuaram muitos desses espíritos perversos, que agiram com extrema crueldade. Como são muito inteligentes, também dominam o homem ideologicamente. Essa é a causa da maioria dos crimes hediondos, cometidos a sangue frio, em nome desta ou daquela ideologia, com influências maléficas sobre a sociedade.
Comparados aos espíritos de dragão, os de texugo e de “tengu” não têm grande poder. Entretanto, como a maioria destes últimos possui muita força e cultura, apoderam-se dos ambiciosos, manejam-nos, fazem-nos subir na vida e tornar-se renomados na sociedade. Além disso, eles gostam de se gabar. Desde a antigüidade, são muito comuns os casos de incorporação desses espíritos entre os sacerdotes Zen e entre cientistas e fundadores de religiões, mas raros são aqueles cujo poder tem longa duração.
Abordei vários aspectos concernentes à incorporação, mas é preciso saber que os demônios não realizam seus trabalhos maléficos como bem querem. Há um chefe que os dirige, e este é o mais temível. Perante sua força, a maior parte das divindades ficam sem ação. Clara ou ocultamente, ele estorva as atividades da nossa Igreja. Como ela representa uma grande ameaça para o mal, quem a combate é o chefe dos chefes. Essa luta é uma manifestação da grande guerra entre o bem e o mal.
Entretanto, existe algo importante do qual se devem precaver: ficar desprevenidos e tranqüilos, julgando que, como os messiânicos têm muita proteção, não há perigo de os espíritos de animal encostarem ou incorporarem tão facilmente. Se o fiel pensa dessa maneira eles aproveitam a oportunidade. Além disso, caso a pessoa pratique a Fé Shojo, quanto mais ardorosa ela for, mais fácil será a incorporação, razão pela qual estou sempre alertando sobre o perigo desse tipo de Fé. Quando tais espíritos se apoderam de um indivíduo, este procura mostrar que a Fé Shojo é um bem, apresentando razões persuasivas e exaltando suas qualidades. Eles enganam as criaturas com muita astúcia, e em geral elas acreditam piamente que a Fé Shojo é realmente um bem, passando a trabalhar com entusiasmo. No entanto, como a base está errada, quanto mais elas trabalham, mais negativos são os resultados. Então as pessoas vão ficando cada vez mais nervosas. Chegando a esse ponto, os conselhos dos outros nem entram em seus ouvidos, e elas vão se confundindo mais e mais. Não podendo avançar nem recuar, acabam fracassando.
Existem muitas criaturas assim, mas não há problema se elas despertarem logo; caso contrário, ficam completamente perturbadas e perdem a proteção de Deus. Creio, portanto, que entenderam como é temerário professar a Fé Shojo e por que eu sempre falo que o bem de Shojo é o mal de Daijo.
O que melhor distingue a pessoa de Fé Shojo é que ela sempre foge ao que é aceito por todos, e esse ponto fraco é visado pelos demônios. Seja lá o que for, nunca erramos quando julgamos de acordo com o senso comum. Como este é o ponto fraco dos demônios, eu sempre aconselho as pessoas a valorizá-lo.
Encontramos muitos exemplos na sociedade. Crenças que dão valor às atitudes excêntricas, teorias e ideologias também excêntricas, crenças mediúnicas, tudo isso gera problemas, e freqüentemente vemos e ouvimos falar de ocorrências que tumultuam a ordem social. Do ponto de vista espiritual, podemos compreender muito bem o porquê de tais ocorrências. Se o homem venera espíritos de baixa categoria, de animais como raposa, texugo, etc., é porque sua posição está sob a terra, abaixo, portanto, da condição dos quadrúpedes, cujo lugar é sobre ela. Isso significa que, no Mundo Espiritual, ele se encontra na “Esfera dos Animais”. Como todas as coisas do Mundo Espiritual se refletem no Mundo Material, essa pessoa está no Inferno.
Entretanto, nem todos os espíritos de raposa são maus. Embora raros, alguns são corretos e pertencem ao Mundo Divino, do qual são mensageiros. São espíritos de raposa branca e estão se esforçando no trabalho daquele mundo, sendo muito úteis. Há, por conseguinte, dois tipos de espíritos de raposa: os maus e os bons. Estes últimos também possuem muita força e fazem bons trabalhos.
5 de dezembro de 1951



A BEBIDA E A RELIGIÃO

Há um estreito relacionamento entre bebida e Religião, mas parece que pouca gente tem conhecimento disso. Passarei, em seguida, a tecer considerações sobre o assunto.
A bebida ingerida em quantidade normal dispensa comentários, mas o hábito de beber em demasia é causado por um fator de ordem espiritual. Os espíritos de “tengu” (Ser misterioso que, segundo a crença popular, habita as montanhas. Tem forma humana, asas, rosto vermelho e nariz comprido, sendo possuidor de poderes extraordinários. Porta sempre um grande leque. É orgulhoso e amante de discussão e jogo.), texugo e, mais raramente, o espírito de dragão, que apreciam muito a bebida, instalam-se no ventre dos beberrões e, como absorvem a energia da bebida, a quantidade desta reduz-se a uma fração da que foi ingerida. É comum dizer-se que ninguém consegue beber um garrafão (1,8 litro) de água, mas há quem consiga tomar a mesma medida de saquê, como se houvesse esponjas em seu ventre.
Quando um indivíduo se embebeda e põe-se a esbanjar argumentos e críticas, tornando-se arrogante, está dominado por espírito de “tengu”. Quando fica alegre, dando gargalhadas, e, em seguida, mostra-se sonolento, é por influência do espírito de texugo. O espírito de dragão, por sua vez, costuma fazer com que a pessoa fique de olhar alterado e comece a importunar insistentemente os que estão à sua volta. De maneira geral, observando-se a fisionomia dos bêbados, poder-se-á notar que apresentam jeito de “tengu” ou rosto de texugo; tratando-se do encosto de espírito de dragão, animal cuja imagem conhecemos através de desenhos e esculturas, os indivíduos são magros, de olhos fundos, ossos da face salientes e testa angular. Há, ainda, o caso de pessoas que, quando bebem, perdem a razão e tomam atitudes violentas, típicas de certos portadores de anormalidade mental. Geralmente, são pessoas que, em outra vida, tiveram suas células cerebrais danificadas pelo excesso de bebida. Devido a isso, elas são possuídas por espírito de animais; os tipos perversos tornam-se violentos e causam transtornos àqueles que os rodeiam.
Assim, o hábito de beber demais deve ser corrigido, pois, como todos sabem, a pessoa não só prejudica a si própria, mas também é motivo de constante sofrimento para os seus familiares, destruindo a harmonia do lar e causando transtornos à sociedade; seu fim geralmente é muito triste. Por outro lado, por mais que o indivíduo tente corrigir-se, não o consegue, porque a causa do problema está no hóspede invisível que habita o seu ventre. Torna-se, então, evidente que, para corrigir o vício da bebida, deve-se utilizar o método espiri¬tual, pois só através da Religião é possível alcançar tal objetivo. Entretanto, parece que pouquíssimas religiões têm esse poder; aliás, o método empregado por elas – abstinência pelo rígido autocontrole – torna-se muito penoso, de modo que não é o mais aconselhável.
Talvez achem que se trata de auto-elogio, mas a Igreja Messiânica Mundial não recomenda absolutamente abstinência nem redução da bebida. Se a pessoa quiser beber, pode fazê-lo à vontade. A princípio, os que têm esse vício ficam contentes, mas, com o tempo, costumam dizer que pouco a pouco passaram a achar um gosto ruim nas bebidas, embriagando-se mesmo com doses pequenas; por fim não conseguem beber mais do que a quantidade normal.
Há inúmeros exemplos semelhantes em nossa Igreja. A explicação é que o espírito do animal alojado no ventre da pessoa se enfraquece ao receber a Luz de Deus e, conseqüentemente, ela começa a beber menos. Assim, seja qual for a religião, se ela possui o esplendor da Luz Divina, conseguirá eliminar os beberrões do seu quadro de fiéis.
5 de setembro de 1948



TIPOS DE FÉ

Em Religião, existem muitos tipos de Fé. Em linhas gerais, temos:
1º -Fé que visa à graça;
2º -Fé oportunista;
3º -Fé passiva;
4º -Fé interesseira;
5º -Fé mediúnica;
6º -Fé egoísta;
7º -Fé ostensiva;
8º -Fé ocasional;
9º -Fé volúvel;
10º -Fé superficial e caprichosa;
11º -Fé comodista;
12º -Fé farisaica.
Analisemos cada um desses tipos.
1º - Fé que visa à graça
O interesse concentra-se apenas nas graças que se deseja alcançar. Deus e o mundo ficam em segundo plano. As pes¬soas visam somente ao próprio bem. Sabem aproveitar-se da Fé, mas não sabem agradecer e retribuir os favores Divinos. Aproveitar-se da Fé significa colocar Deus em segundo plano, abaixo do homem. As graças se alcançam adorando a Deus. A fé que visa somente à graça, sobrevive por pouco tempo, acabando por perder-se.
2º - Fé oportunista
É a dos que se mostram indiferentes enquanto a religião que professam for desconhecida na sociedade, mas procuram participar das suas atividades quando ela se torna famosa e se expande.
3º - Fé passiva
É a daquele que vive agradecendo, dando a impressão de ter grande fé, mas não chega a pensar na salvação da humanidade, que é o objetivo de Deus. Como não há ação, por ser uma fé estritamente “Shojo”, sua existência é apenas figurativa.
4º - Fé interesseira
É a das pessoas sumamente astutas, que procuram aproveitar-se da religião para fazer um negócio, ou acalentam alguma outra ambição. Quem cultiva esse tipo de fé, abandona a religião assim que verificar a impossibilidade de tirar tais proveitos.
5º - Fé mediúnica
É a dos que se baseiam na incorporação de espíritos no homem e, aceitando-a, procuram conhecer o Mundo Espiritual. Isso não é condenável, mas eles acreditam facilmente nas palavras de espíritos de baixa categoria e alegram-se com falsas predições e com mistificações. Não deixa de ser uma heresia.
6º - Fé egoísta
É a das criaturas extremamente egoístas, que fazem oferendas e romarias a entidades muito conhecidas, tendo por única finalidade receber graças exclusivamente para si. São tipos vulgares, que nunca se interessam pelas desgraças so¬ciais e humanas.
7º - Fé ostensiva
É a daqueles que gostam de se mostrar, de receber elo¬gios, de ser apreciados e bem falados. Trata-se de fé superficial, que não consegue desligar-se do egoísmo. Também é de baixa categoria.
8º - Fé ocasional
É a das pessoas que comparecem à Igreja quando ninguém se lembra mais delas. Tais pessoas, afastando-se, dão a impressão de abandono da Fé, mas não é propriamente isso. Elas vêm à Igreja de vez em quando, como sonâmbulas, sem ao menos saber por quê. É preferível que abandonem a Fé.
9º - Fé volúvel
Seus adeptos não conseguem manter-se numa religião. Gostam de conhecer outras e vivem sempre mudando de crença. Portanto, jamais alcançam graças verdadeiras. Não passam sem Religião, mas vivem confusos. Aceitam opiniões com a maior facilidade. Não deixam de ser infelizes.
10º - Fé superficial e caprichosa
É a fé manifestada por pessoas essencialmente caprichosas, que não conseguem concentrar-se numa religião, como no caso dos possuidores de fé volúvel. Os adeptos vivem mudando de uma para outra crença. São peregrinos da Religião.
11º - Fé comodista
Os adeptos aproveitam-se de Deus e da Fé para satisfazerem seus interesses. Assemelha-se à fé egoísta e encontra-se na maioria das organizações religiosas, entre líderes e orientadores.
12º - Fé farisaica (impregnada de falsidade)
É quando o adepto aparenta fé, mas no fundo não reconhece a existência de Deus. É o tipo que engana facilmente os outros com sua lábia. Como Deus não permite tal abuso por muito tempo, a pessoa acaba sempre por se revelar e desaparecer.
Diremos que a fé é verdadeira quando não corresponde a nenhum dos tipos que foram citados.
30 de agosto de 1949



O PECADO E A DOENÇA

No setor da Religião, muito se tem falado sobre a relação entre o pecado e a doença. Essa relação é um fato, mas vou falar sobre o assunto do ponto de vista da Ciência Espiritual.
Como explanei anteriormente, na medida em que a pessoa tem maus pensamentos e persiste na prática do mal, suas máculas vão aumentando. Quando atingem certa densidade, surge o processo purificador natural, para a sua eliminação. É uma lei do Mundo Espiritual e, por conseguinte, a ela ninguém consegue escapar. Essa purificação, na maioria das vezes, manifesta-se em forma de doença, mas há ocasiões em que toma outra forma. Existem, pois, diferentes aspectos de desgraças. Na matéria, as máculas correspondem à acumulação de toxinas. Entretanto, a enfermidade de origem espiritual, ocasionada pelo pecado, é difícil de se curar e exige muito tempo. Doenças como a tuberculose, a osteoporose, o câncer etc., que apresentam sintomas persistentes e obstinados, contam-se entre esses casos.
Há dois meios para se redimir o pecado: sofrer ou praticar o bem. Escolhendo este último, tudo será muito mais fácil. Como exemplo, vou contar uma estória ocorrida na época em que eu estava pesquisando a religião Tenri-Kyo.
Um rapaz que sofria de tuberculose pulmonar e fora desenganado, ingressou na referida religião. Pensando na prática de uma boa ação, decidiu fazer a limpeza do escarro expectorado por outras pessoas nos passeios da cidade. Decorridos três anos, durante os quais fez isso todos os dias, o rapaz estava completamente recuperado; a doença tinha desaparecido sem deixar o menor vestígio.
A estória que se segue é famosa.
O Sr. Yamamoto Tyogoro, mais conhecido pela alcunha de Shimizu no Jirotyo, encontrou-se com um sacerdote budista de alta categoria, o qual lhe disse: “Sua face está marcada pelo estigma da morte. Será difícil o senhor viver mais de um ano”. Conformado, Jirotyo doou todos os seus bens para obras filantrópicas, entrou num templo budista e ficou aguardando.
Passaram-se dois anos, mas nada de extraordinário aconteceu. Ele estava muito zangado e, tendo casualmente encontrado o mesmo sacerdote, pensou em repreendê-lo severamente. Entretanto, foi o religioso quem falou em primeiro lugar: “Que coisa estranha... O estigma da morte que havia em sua face quando eu o encontrei naquele dia, desapareceu completamente. Deve haver alguma razão profunda para isso”. Então Jirotyo contou o que fizera, ao que o sacerdote budista disse: “O ato de caridade que o senhor praticou transformou sua morte em vida”.
Aplicando esse princípio à nossa realidade atual, compreende-se que o sofrimento da maioria do povo japonês, em conseqüência da derrota do Japão na Segunda Guerra Mun-dial, não é senão o processo de purificação decorrente da invasão a outros países durante longo tempo, e da exploração e matança de outros povos.
5 de fevereiro de 1947



JOHREI ATRAVÉS DAS LETRAS

Lendo o título acima, talvez os leitores nem façam idéia do que se trata. Com o que escreverei a seguir, entretanto, compreenderão perfeitamente o que pretendo dizer: ler os meus Ensinamentos é receber Johrei através dos olhos. Eis a explicação:
Todos os textos refletem o pensamento da pessoa que os escreveu; precisamos ter plena ciência disso. Espiritualmente falando, significa que as vibrações espirituais do escritor são transmitidas, através das letras, para o espírito do leitor. Como os meus Ensinamentos representam a própria Vontade Divina, o espírito de quem os lê se purifica.
A leitura pode exercer influência positiva ou negativa sobre a alma do leitor. É grande, portanto, a influência exercida pela personalidade do escritor. Quer se trate de artigo de jornal ou de obra literária, aconselho aqueles que os escrevem a pensarem muito, mas isto não quer dizer que eu lhes esteja recomendando escreverem sermões.
Naturalmente, se a obra não for interessante, as pessoas não a lerão com prazer, e por isso ela será inútil. É importante que o assunto atraia, fazendo os leitores se sentirem presos a ele. Todavia, analisando a literatura da atualidade, a grande maioria das obras nos faz pensar que os escritores se interessam apenas em vendê-las ou vê-las adaptadas ao cinema, e, com isso, ganhar fama. Os textos não passam de um amontoa¬do de palavras; terminada a leitura, sentimos que deles nada se aproveita. Em verdade, seus autores não passam de pretensos escritores. Tais obras poderiam ser comparadas a pessoas vazias de conteúdo: podem ser famosos por algum tempo, mas um dia cairão no esquecimento.
Quando observamos minuciosamente a sociedade atual, até nos assustamos com as numerosas falhas que ela apresenta. Se quisermos tomá-la por tema, não nos faltarão assuntos. Gosto muito de cinema, do qual sou freqüentador assíduo. Às vezes, quando vejo filmes que apontam as falhas da sociedade, fico muito interessado e contente, por saber que, de alguma forma, alguém pensa como eu; tenho até vontade de reverenciar seus autores e produtores. Obras desse tipo nunca deixam de ser reconhecidas pelo público, dando lucros vantajosos às livrarias e empresas cinematográficas. É como matar dois coelhos com uma só cajadada.
26 de novembro de 1952



LEIA O MAIS POSSÍVEL
OS MEUS ENSINAMENTOS

Para divulgar a nossa Religião, utilizamos até agora o Johrei e as publicações. Daqui em diante, também vamos difundi-la por meio de mesas-redondas e palestras em auditórios, nas mais diversas localidades. À difusão através da visão e da cura de doenças será acrescentado o método que alcança as pessoas pela audição. Utilizando esses três meios, poderemos operar grandiosos resultados.
O novo método consiste em transmitir explicações orais sobre a Igreja, procurando mostrar que se trata de uma religião realmente fora do comum. Entretanto, para que nos compreendam, é necessário nós próprios termos profundo conhecimento sobre a Fé que professamos. Só assim faremos com que os nossos ouvintes, conscientes de que a Igreja Messiânica Mundial é de fato uma grande religião, tenham vontade de ingressar nela.
Em tais ocasiões, muitos dizem que não sabem falar bem, ou coisas semelhantes, mas esse é um pensamento errado, pois não é com belas palavras que atingimos o coração do próximo. Como sempre digo, o que move as pessoas é a nossa sinceridade. É com ela que atingimos o seu espírito, que despertamos a sua alma; falar bem ou mal é um problema secundário. Todavia, para mover as pessoas com o nosso ardor e sinceridade, precisamos ter muita compreensão, e para isso devemos ler o mais possível os Ensinamentos, a fim de polir nossa inteligência.
Haverá muitas oportunidades em que nos farão perguntas às quais teremos de responder com bastante clareza, pois, do contrário, as pessoas não ficarão satisfeitas. Por mais difícil que seja a pergunta, precisamos dar uma resposta que elas aceitem. Devemos ter o máximo cuidado para não lhes responder de forma evasiva, por falta de conhecimento. Quando as pessoas vão se aprofundando muito, às vezes nós nos esquivamos, dando uma resposta qualquer, o que não deve acontecer de maneira nenhuma. Como seguidores de Deus que somos, não podemos usar do expediente de mentir. Se não soubermos responder, devemos dizê-lo francamente. No entanto, pelo receio de que, agindo assim, as pessoas nos menosprezem, costumamos fingir que sabemos. Isso é péssimo. Nesse caso, os resultados são desastrosos. Se confessarmos o nosso desconhecimento, as pessoas confiarão em nós, achando que somos honestos e sinceros. Por mais inteligente que alguém seja, é impossível saber tudo; portanto, não é nenhuma vergonha desconhecer alguma coisa.
Às vezes as pessoas me fazem perguntas sobre assuntos que estão bem claros nos meus Ensinamentos. Isso acontece porque elas estão faltando com o dever diário de os ler. Os Ensinamentos devem ser lidos tanto quanto possível; quanto mais o lerem, mais os fiéis aprofundarão sua fé e elevarão seu espírito. Aqueles que negligenciam sua leitura, vão perdendo a força gradativamente. Quanto mais sólida for sua fé, mais a pessoa terá vontade de ler, e é bom que o faça repetidas vezes, até que os Ensinamentos se fixem bem em sua mente. Na medida em que se lê, vai se compreendendo mais claramente a Vontade Divina.
Aproveito a oportunidade para acrescentar algo com relação ao Johrei. Alguns ministrantes, embora desconheçam a causa da doença, fazem de conta que o sabem. Isso não deve ocorrer de maneira alguma. Tais pessoas, quando o doente não consegue melhorar como elas desejam, dizem que o problema é de origem espiritual, para fugirem da responsabilidade. Em verdade, é difícil determinar se a causa de uma doença é espiritual ou material. Por princípio, o homem é uma unidade espírito-matéria, portanto, no caso do Johrei, não existe essa distinção. Se o espírito melhora, a matéria também melhora, e vice-versa. Por outro lado, quando o doente melhora rapidamente, alguns acham que se trata de uma purificação comum; se acontece o contrário, pensam que a causa é espiritual. Isso constitui um grande erro. É o mesmo que um médico diagnosticar tuberculose quando não está conseguindo curar a doença.
29 de novembro de 1950



TENTE AGRADECER A DEUS
POR TUDO O QUE FAZ

A essência da fé, em poucas palavras, é “Ser amado por Deus” ou “Estar no agrado de Deus”. Deste modo, devemos saber que tipo de pessoa é amada por Deus. Mas deixemos isso para depois; devemos, primeiramente, conhecer a missão da nossa Igreja. Ela está relacionada ao Juízo Final, de Cristo e à extinção do budismo, de Sakyamuni, fatos esses que estão prestes a acontecer.
Deus e as entidades búdicas estão manifestando seu grande amor misericordioso, fazendo com que um maior número de pessoas ultrapasse a grande transição do mundo. E como Deus atuará? Naturalmente, Ele utilizará os homens, e acredito que fui escolhido para assumir esta grande missão.
Como é uma grande missão, jamais vista ou ouvida, acabo até achando-a difícil demais de ser realizada; porém, como é o grandioso Deus Supremo que me outorgou essa missão, não tenho alternativa.
Inicialmente, duvidei e até resisti, mas não havia meio de recusá-la , pois estava acima das minhas forças. Deus me utiliza livremente. Não são poucas as vezes em que Ele me fez sentir alegrias extremas e aquelas em que me obrigou a enfrentar situações infernais. Porém, cada vez que isso ocorria, percebia Sua mão invisível, Seu indescritível poder de atração e experimentava o gratificante sabor da vida. Talvez seja uma sensação impossível de ser expressa em palavras que, provavelmente, somente eu tenha vivido na face da Terra.
O mais importante é procurar saber o que devemos fazer para sermos do agrado de Deus. Qualquer pessoa de bom senso sabe que o que desagrada a Deus é agir fora do caminho, mentir, fazer os outros sofrer, causar incômodo à sociedade. Contudo, atualmente, existem muitas pessoas que não se importam com ninguém, achando que basta o próprio bem-estar e manifestam esse egoísmo na prática. Por se tratar de uma atitude das mais condenáveis, não há como estar do agrado de Deus. Assim, cada um precisa saber se está sendo amado por Deus ou não. É algo extremamente simples:
“Para mim, nada vai a contento. Sofro de necessidades materiais; meu trabalho não progride; meu crédito é fraco; não consigo me rodear de pessoas; minha saúde também é insatisfatória; do jeito que trabalho, não entendo por que não dá certo.” As pessoas que fazem esse tipo de comentário não estão sendo do agrado de Deus. Basta estar no agrado d’Ele e o nosso trabalho se desenvolve satisfatoriamente; as pessoas juntam-se ao nosso redor a ponto de nos incomodar; os recursos materiais nos chegam em tão grande quantidade, que mal podemos utilizá-los em sua totalidade. O mundo, então, se torna um lugar agradável de se viver.
A fé só tem realmente valor quando somos felizes. Se a praticamos mas não alcançamos a felicidade, é porque o motivo, infalivelmente, se encontra em nosso próprio espírito.
25 de maio de 1949



A ATITUDE “DAIJO” VERSUS A ATITUDE “SHOJO” NAS DOAÇÕES

Um outro fato é que ouvimos diversas coisas de outras pessoas. Mas acreditar cegamente nelas também é perigoso. Por isso, mesmo que ouçamos algo e achemos que é bom, devemos analisar, primeiramente, se está em conformidade com os propósitos de Deus. No caso de encontrar pontos que acha que não estão de acordo, devem consultar os Ensinamentos; devem lê los. A maioria dos assuntos estão escritos em alguma parte; portanto, devem discernir baseados neles. Isso porque é comum cometer erros com tais coisas.
Recentemente, aconteceu o seguinte: um membro disse que, como a Igreja Messiânica Mundial irá construir o Paraíso, é preciso fazer do lar um paraíso também. E sendo assim, o dinheiro deve ser doado quando sobrar. Mesmo que faça doação, deve oferecer apenas a quantia que não prejudique financeiramente, pois assim fazendo, não haverá dificuldades e esse é o procedimento correto. O fato de doar dinheiro com dificuldade significa criar um certo tipo de sofrimento e isso não está de acordo com a Vontade de Deus. É como diz o antigo ditado: “A fé é a sobra da virtude.” Ao ouvir isso, certo membro ficou admirado. Isso foi se espalhando e começaram a dizer: “Pelo fato de doar dinheiro com dificuldade é que o lar não se torna um paraíso.”
Então, um outro membro começou a dizer que, no momento, Deus está precisando muito de dinheiro, portanto, mesmo passando por um pouco de aperto, o homem precisa fazer Lhe doações. E essas duas teorias se confrontavam. Mas não sei por que motivo, a segunda sempre perdia e a primeira ganhava. Como estava uma confusão, chamei as partes e expliquei lhes bem. O que disse foi o seguinte:
A primeira tese de fazer com que o lar não passe por dificuldades está certa. De fato, é isso mesmo. E a tese de que, como Deus precisa de muito dinheiro, é preciso doá lo por maior que seja o sofrimento, ofertando a todo custo pois é necessário construir logo o Paraíso Terrestre e salvar pessoas, também está certa. Ambas estão corretas. A diferença está entre Daijo e Shojo. A primeira é um pensamento Shojo; a segunda, um pensamento Daijo. Então, será que as pessoas da segunda tese sofrerão doando dinheiro? Não, jamais sofrerão. Se é um Deus que faz sofrer tanto assim a quem Lhe doa dinheiro, é melhor deixar de adorá Lo. Por isso, experimente doar. Ofereça de forma que irá passar por dificuldades. Retornará dez vezes mais. Ao invés de passar por aperto, receberá dinheiro em abundância. Disse lhes assim e ambas as partes entenderam. A parte Shojo compreendeu perfeitamente e, outro dia, veio pedir me desculpas. Essas coisas aconteceram. Por este motivo, referi me a esse assunto porque achei que deveriam saber isso também.
7 de junho de 1952



O HOMEM DEPENDE
DE SEU PENSAMENTO

É realmente verdade que gratidão gera gratidão e lamúria gera lamúria. Isto acontece porque o coração agradecido comunica-se com Deus, e o queixoso relaciona-se com Satanás. Assim, quem vive agradecendo, torna-se feliz; quem vive se lamuriando, caminha para a infelicidade.
A frase “Alegrem-se que virão coisas alegres”, expressa uma grande verdade.
3 de setembro de 1949



MISTÉRIO DO MUNDO ESPIRITUAL

O Mundo Espiritual é algo realmente extraordinário e misterioso, e pelo senso comum do homem da atualidade é difícil compreendê-lo. Vejamos como o pensamento do homem se reflete nele.
O Mundo Espiritual é o mundo do pensamento; ali, as existências surgem do nada e voltam ao nada. Tudo é extremamente mutável. Imaginemos, por exemplo, que dois escultores façam imagens da mesma divindade. De acordo com a personalidade de cada um, haverá diferenças entre as divindades que assentam nessas imagens. Se a personalidade de um deles for elevada, descerá um espírito Divino de alto nível, coerente com o autor. Entretanto, mesmo que o formato da outra imagem seja igual, se a personalidade do escultor for baixa, virá um espírito representante daquela divindade, ou uma partícula sua.
Outro exemplo: a divindade diante de cuja imagem as pessoas oram com sinceridade, manifesta seu poder, isto é, sua luz, com força total; ao contrário, se o pensamento das pessoas for apenas formal, faltando a elas respeito e convicção dos sentimentos, o poder do espírito Divino será reduzido proporcionalmente. Além disso, quanto mais gente estiver orando, mais aumentará esse poder, mais intensa se tornará a luz. Há um antigo provérbio que diz: “Se houver espírito de fé, até cabeça de sardinha fará milagres”. Expliquemos o sentido dessas palavras.
Suponhamos que uma pessoa vulgar, que não possui nenhuma qualificação, faça a imagem de uma divindade e comece a promovê-la utilizando-se de hábeis métodos de propaganda. Se durante algum tempo muitas pessoas a adorarem, por esse ato de fé criar-se-á uma imagem dessa divindade no Mundo Espiritual, manifestando-se, então, considerável poder, através da concessão de muitas bênçãos. É realmente espantoso, mas as coisas só irão bem durante algum tempo, pois não se trata de poder verdadeiro, e sim de produto da força do pensamento humano; é um poder temporário, que um dia acabará. O fato acontece freqüentemente, todos o sabem. Assim é que surgem os chamados “deuses da moda”.
Eu me referi aos espíritos Divinos, agora falarei sobre os espíritos satânicos.
O que mais existe no mundo são pessoas corruptas que, por ambição desmedida, aborrecem, fazem sofrer e levam os outros à desgraça. Isso é produto das idéias materialistas, que negam o invisível, mas, analisando do ponto de vista espiritual, é algo realmente terrível. Como tais pessoas fazem os outros sofrer, os que são atingidos ficam cheios de rancor, de ódio por elas e procuram retribuir-lhes o mal que receberam. Esses pensamentos são transmitidos à pessoa visada através do elo espiritual. A imagem espiritual do ódio e do rancor é tão pavorosa, que, se pudesse enxergá-la, qualquer perverso morreria instantaneamente. Entretanto, se as pessoas atingidas não são apenas uma ou duas, mas milhares ou milhões, forma-se um monstro ainda mais horripilante, que circunda esse perverso de diversas maneiras e tenta destruí-lo. A situa¬ção dele, portanto, é insuportável. Mesmo sendo um bravo ou um grande herói, terá um fim miserável. Relembrando os grandes personagens da História, desde a antigüidade, vemos que todos eles, sem exceção, tiveram esse destino. Observando, também, o drama dos políticos perversos, a ruína dos que se tornaram ricos repentinamente e, ainda, o fim dos que seduziram e enganaram muitas mulheres, poderemos compreender muito bem por que tiveram tal destino.
Ao contrário, se a pessoa praticar um grande número de boas ações e despertar em muita gente gratidão e alegria, estes sentimentos a envolverão em forma de luz, e ela, então, se tornará cada vez mais virtuosa. Como Satanás e os maus espíritos, amedrontados por essa luz, também não poderão se aproximar, a pessoa será muito feliz. A auréola que se vê nas imagens das divindades simboliza essa luz.
Com o que acabo de dizer, poderão compreender quanta importância o homem deve atribuir ao pensamento.
25 de outubro de 1949



SINCERIDADE

Só a sinceridade é capaz de resolver os problemas dos indivíduos, do país e do mundo. A deficiência política resulta da falta de sinceridade. A pobreza material e a corrupção moral também têm a mesma origem. Enfim, todos os problemas são gerados pela falta de sinceridade. Religião, Educação e Arte que não se alicerçam na sinceridade, passam a representar meras formas sem conteúdo.
Homens, a chave de todos os problemas está na sinceridade.
25 de janeiro de 1949



NÓS É QUE TRAÇAMOS O DESTINO

O homem costuma resignar-se a tudo, atribuindo ao destino o desenrolar dos acontecimentos.
É comum definir-se destino como “algo que não pode ser mudado”. Mas eu desejo ensinar que todos podem mudá-lo de acordo com sua própria vontade, ou melhor, cada um pode traçar o seu destino. A consciência desse fato permite transformar o pessimismo em otimismo.
A não ser um louco, ninguém deseja um destino infeliz. Todo mundo almeja a boa sorte, mas são poucos os que a conseguem, não obstante o enorme esforço que fazem para consegui-la. Entre cem pessoas, talvez não se encontre uma que seja feliz. Triste realidade!
Buda afirmou: “Todas as coisas são efêmeras”. Mas há cria¬turas inconformadas, que, atraídas pela presença de um homem afortunado entre milhares que não têm sorte, continuam perseguindo tenazmente o sucesso. Por outro lado, existe gente conformada, que aceita tudo na vida.
Seria maravilhoso que o homem encontrasse realmente um meio de alcançar a boa sorte. Não o conhecendo, ele se confunde ao traçar seu destino, tornando-se infeliz. Sofre dentro do cárcere criado por ele próprio. O mundo acha-se repleto dessas pessoas ignorantes e dignas de compaixão.
Assim, está mais do que evidente que, para ser afortunado, o homem precisa semear o bem. É costume dizer-se que o bem produz bons frutos, e o mal faz o contrário. A semente do mal tem origem no egoísmo, que leva as pessoas a quererem tudo para si, não se importando com o sofrimento e o prejuízo que possam causar ao próximo. A semente do bem origina-se no sentimento fraterno de querer alegrar ou favorecer os semelhantes. Parece simples, mas é difícil de praticar.
A vida é bem complicada. Para viver, é preciso criar um espírito capaz de aceitar e aplicar o princípio acima. Todavia, isso depende unicamente da Fé que se pratica, a qual deve ser selecionada entre as muitas que existem. Modéstia à parte, a Fé Messiânica é a que está mais concorde com essas condições. Por isso aconselho aqueles que estão sofrendo a ingressarem o mais breve possível na nossa Igreja.
27 de fevereiro de 1952


TREINO DE HUMILDADE

Na vida, o treino de humildade é importante, constituindo uma prática tradicional entre os religiosos. Observamos, entretanto, que falta humildade a muitos pregadores. Os velhos axiomas “O falcão inteligente oculta as garras” e “Quanto mais carregada de grãos, mais se curva a espiga de arroz” referem-se à humildade.
Orgulho, mania de grandeza, pedantismo e vaidade produzem efeitos negativos. O ponto fraco do ser humano é gostar de se exibir, tão logo comece a se elevar socialmente. Por exemplo, quando um homem que exerce uma profissão comum passa a ser respeitado dentro da vida religiosa, recebendo uma função de destaque, sendo chamado de “professor”, “ministro”, etc., poderá indagar a si próprio: “Será que sou tão importante?” De início, ele se sentirá emocionado, feliz, agradecido. Com o tempo, no entanto, terá ânsia de ver reconhecida sua importância. Até então tudo ia bem, mas, com esse novo pensamento, a pessoa começará a se tornar impertinente e desagradável, embora não tome consciência do que lhe ocorre.
Deus desaprova a presunção. Empurrar as pessoas nas conduções, no meio da multidão, enfim, em qualquer lugar, para obter situação privilegiada, é falta de humildade, é uma atitude desprezível, que revela feio egoísmo.
Formar uma sociedade harmoniosa e agradável foi, em todas as épocas, ideal da verdadeira Democracia.
25 de janeiro de 1949


SATISFAÇÃO E INSATISFAÇÃO

Todos almejam viver satisfeitos, mas é difícil consegui-lo. Assim é a vida. Entretanto, dependendo da maneira de encarar este fato, veremos, nele, algo de interessante.
Pensando bem, a causa do progresso social é a insatisfação humana. Por conseguinte, o mundo não é tão fácil de ser compreendido. O desenvolvimento, as reformas e as descobertas são decorrentes da insatisfação. Em contrapartida, quando esta é exagerada, surgem conflitos, desarmonia nos lares, desavença entre amigos e conhecidos, discussões, desespero, casos de polícia, etc. A insatisfação dá origem a grupos sociais extremistas que praticam atos de violência e destruição, como a provocação de incêndios e o arremesso de bombas improvisadas e outros objetos. Às vezes, chega-se até à guerra civil.
Como vemos, a insatisfação exige cautela.
Por outro lado, as pessoas bondosas ou simplórias, que pouco se queixam, parecem satisfeitas, mas, na verdade, são criaturas incapazes e improdutivas.
Ora, se tanto a satisfação como a insatisfação apresentam aspectos condenáveis, que fazer? A resposta é simples: devemos evitar os extremos; o certo é manter o equilíbrio entre as duas posições. Sei que falar é fácil e fazer é difícil, mas a vida é assim mesmo. O essencial é ser flexível, tendo por base a sinceridade. A pessoa que assim proceder, tornar-se-á útil à sociedade e, dessa forma, será bem sucedida e feliz.
18 de março de 1953
DOMINE O “GA”

Na vida cotidiana do homem, não há coisa mais temível do que o “ga” (eu, ego). Isso pode ser bem compreendido se atentarmos para o fato de que, no Mundo Espiritual, a eliminação do “ga” é considerada o aprimoramento fundamental.
Quando eu era da Igreja Omoto (1), encontrei, no “Ofudessaki” (2), as seguintes frases: “Não há coisa mais temível do que o ‘ga’; até divindades cometeram erros por causa dele.” E também: “Devem ter ‘ga’ e não devem ter ‘ga’; é bom que o tenham, mas não o manifestem.” Fiquei profundamente impressionado, pela perfeita explicação da verdadeira natureza do “ga” em frases tão simples. É escusado dizer que elas me induziram a uma profunda reflexão.
Havia, ainda, esta frase: “Em primeiro lugar, a docilidade.” Achei-a extraordinária. Isto porque, até hoje, para aqueles que seguiram docilmente os meus conselhos, tudo correu bem, sem fracassos. Há pessoas que não são bem sucedidas por terem um “ga” muito forte. É realmente penoso ver os constantes fracassos decorrentes do “ga”.
Como foi exposto, o princípio da Fé é não manifestar o “ga”, ser dócil e não mentir.
18 de fevereiro de 1950



EGOÍSMO E APEGO

Notamos que todas as pessoas manifestam em seu caráter dois traços irmãos – egoísmo e apego – e que nos problemas complicados há sempre interferência desses sentimentos.
Temos casos de políticos que acabaram na miséria porque o apego às posições os fez perder a melhor oportunidade de se afastarem da vida pública. Eis um bom exemplo da inconveniência do egoísmo e do apego.
Há industriais que, devido ao apego que têm ao dinheiro e ao lucro, irritam seus fornecedores, prejudicando as transações comerciais. Momentaneamente, o negócio se lhes afigura vantajoso, mas, com o tempo, mostra-se contraproducente.
Na vida sentimental, quem muito se apega geralmente é desprezado; muitas vezes os problemas nesse terreno surgem do excesso de egoísmo.
O passado nos revela como os egoístas provocam conflitos e se atormentam, pelos sofrimentos causados ao próximo.
Já dissemos que o principal objetivo da Fé é erradicar o egoísmo e o apego. Tão logo me conscientizei disto, empenhei-me em exterminá-los. Como resultado, meus sofrimentos se amenizaram e tudo corre normalmente em minha vida. Há um ensinamento que diz: “Não sofra antecipadamente pelo que ainda não ocorreu, nem pelo que já passou”. São palavras de grande sabedoria.
A finalidade do aperfeiçoamento no Mundo Espiritual é a extinção do apego. A posição do nosso espírito se eleva à medida que o apego se reduz.
No Mundo Espiritual, é raro que marido e mulher permaneçam juntos. A razão do fato está na diferença da posição que o espírito de cada um alcançou. O convívio dos dois só lhes será possível quando estiverem nivelados, como habitantes do Reino do Céu. Entretanto, aqueles que alcançarem certo grau de aperfeiçoamento, terão licença de se encontrar, embora estejam em camadas espirituais inferiores. Mas o encontro durará apenas um instante, e a licença lhes será concedida pelas divindades que superintendem os níveis em que eles estão situados. Não haverá permissão para que, levados pela saudade, os cônjuges se abracem; à mínima intenção de teor mundano, seus corpos ficarão rijos e perderão o movimento. Isso demonstra como o apego é condenável.
A posição do espírito vai se elevando de acordo com a redução do apego, mediante o aprimoramento no Mundo Espiritual. Sendo assim, o encontro de marido e mulher irá sendo facilitado conforme eles forem subindo de nível.
Creio que, com o que acabamos de dizer, demos ao leitor uma clara noção da diferença entre o Mundo Material e o Mundo Espiritual.
Outro aspecto negativo do apego refere-se às pessoas que se mostram insistentes quando convidam outras a participarem de sua crença, dando a impressão de serem muito dedicadas. Isso não dá bom resultado. Impingir a Fé é um sacrilégio aos olhos de Deus. Quem prega uma religião, só deve insistir se observar que o outro está interessado. Se a pessoa não demonstra interesse, é melhor desistir e esperar o tempo oportuno.
25 de janeiro de 1949



ENTREGUE-SE A DEUS

Freqüentemente aconselho às pessoas: “Entreguem-se a Deus”.
Entregar-se inteiramente a Deus é jamais se preocupar com o que possa acontecer. Isso parece fácil, mas na realidade não o é. Eu mesmo faço um grande esforço para agir assim; entretanto, as preocupações surgem-me involuntariamente. Neste mundo cheio de perversidade, é quase impossível viver sem preocupações. Mas o homem de fé torna-se diferente dos demais: tão logo lhe surge um problema, lembra-se de entregá-lo a Deus. Sente-se, pois, aliviado.
Gostaria de salientar um ponto que a maioria das pessoas desconhece. Se interpretarmos espiritualmente o ato de preo¬cupar-se, verificaremos que ele representa uma forma de apego. É o apego à preocupação. Isso constitui um grave problema, porque influi maleficamente sobre todas as coisas.
O apego apresenta-se como desejo de fama, dinheiro e satisfação de todas as vontades. Entretanto, ainda há outros apegos de caráter maligno. Por exemplo, referir-se a alguém dizendo: “Fulano não merece perdão, é um insolente. Eu o detesto, vou dar-lhe uma lição”. Esse pensamento expressa o desejo obstinado de que aconteça algo mau à pessoa.
Mas não me prenderei a essas conhecidas formas de apego; pretendo analisar aquelas que nem todos percebem, tal como a preocupação em relação ao futuro e o sofrimento pelo que já passou. Quando se trata de um religioso, embora Deus queira protegê-lo, o apego forma espiritualmente um obstáculo. Quanto mais forte o apego, mais fraca é a proteção Divina; daí nem sempre as coisas correrem como gostaríamos. Vejamos.
É difícil conseguir de imediato aquilo que se deseja intensamente, mas todos sabemos, por experiência própria, que é comum esse desejo se concretizar a partir do momento em que, considerando-o inviável, a pessoa se resigna.
Às vezes, querendo obter algo, tudo nos parece fácil, mas nada conseguimos. E, mais uma vez, o desejo se concretiza repentinamente, quando já o tivermos esquecido.
Na prática do Johrei acontece o mesmo. Se houver intensa vontade de curar alguém “de qualquer maneira”, a recuperação torna-se mais difícil. Entretanto, quando o ministramos com desprendimento, ou quando a pessoa o recebe com certa desconfiança, inesperadamente sobrevêm bons resultados. Freqüentemente, apesar do esforço de toda a família, o doente em estado grave acaba morrendo. Observa-se que é relativamente mais fácil a cura de um enfermo, quando este e sua família se preocupam menos, ficando um tanto indiferentes ante a idéia da morte.
Temos, ainda, o caso de o doente e seus familiares, ansiosos pela cura, verem a doença ir se agravando sempre, até chegar ao ponto em que, ante a perspectiva do inevitável desenlace, todos se resignam. É então que sobrevêm melhoras rápidas, e firma-se a cura. Aquele que reage, confiando somente no poder de sua força de vontade, certo de que vai se curar, quase sempre morre. É um fato curioso. A causa principal está no apego à vida.
Esses exemplos mostram a perigosa influência do apego.
Ao nos depararmos com um doente desenganado, é bom insinuar-lhe, bem como à sua família, que, diante da improbabilidade da cura, vamos pedir a Deus pela sua infalível salvação no Mundo Espiritual. A partir daí, com a ministração do Johrei, muitas vezes a doença começa a ceder.
O mesmo se aplica no relacionamento entre pessoas de sexos opostos. O demasiado interesse de uma afasta a outra. Pode parecer irônico, mas é o apego que esfria o coração. Aliás, a maioria dos acontecimentos tem, realmente, caráter irônico. Por isso, são complicados e curiosos.
Considerando que quase sempre o apego é a causa do insucesso, tenho por hábito aconselhar às pessoas que provoquem o efeito contrário. É a ironia das ironias, mas é a pura verdade.
28 de novembro de 1951



SABOR DA FÉ

Cada coisa tem seu sabor. A matéria, o homem, a vida cotidiana com suas múltiplas facetas, tudo, enfim, tem um sabor peculiar. Se excluirmos da vida o sabor, ela perderá sua atração e o homem não terá mais vontade de viver.
No campo religioso também existem religiões que têm sabor e as que não o têm. Pode parecer estranho, mas há religiões que despertam verdadeiro pavor. Nelas os adeptos vivem sob o constante temor das divindades, aprisionados pelos dogmas, não gozam da menor liberdade. A esse tipo de Fé, eu denomino “Fé Infernal”.
O objetivo da Fé é alegrar a vida, dar-lhe tranqüilidade e permitir que se desfrute do sabor de viver. Então as coisas da natureza se transfiguram: as flores, o vento, a lua, o cântico dos pássaros, a beleza das águas e das montanhas passam a ser vistos como dádivas de Deus para alegria das criaturas. E passamos a agradecer os alimentos, o vestuário e a casa em que vivemos, considerando-os como bênçãos, e a simpatizar com todos os seres, mesmo os irracionais e os inanimados. Sentimos que até o pequenino verme da terra se acha próximo de nós... É o estado de êxtase.
A Religião deve levar o homem à despreocupação, que é o estado ideal. Se ele enfrenta um problema, que aprenda a deixá-lo nas mãos de Deus, tão logo sejam aplicados os recursos humanos para a sua solução. Eu procedo assim: aquilo que me parece difícil e incompreensível, remeto aos cuidados do Absoluto – e dou tempo ao tempo. Numerosas experiências minhas demonstraram que tal prática dá resultados além dos esperados. Mais ainda: eles ultrapassam todos os desejos formulados. Por isso, quando surge algo desagradável, confiando em Deus, eu logo admito que é prenúncio de bons acontecimentos. Acho interessante quando compreendo, depois, que o mal aparente determinou a vinda do bem. Então as preocupações se tornam ridículas, sinto-me grato e percebo que minha vida é um contínuo milagre...
Eis o que chamo de maravilhoso Sabor da Fé.
25 de janeiro de 1949



ATITUDE MENTAL

Existe um único ponto de vital importância: é a forte vontade de crescer e expandir custe o que custar. Esta atitude é fundamental.
O pior pensamento a seu próprio respeito é pensar “não tenho capacidade”. Pense assim: “eu também sou um ser humano. Se aquela pessoa está fazendo, eu também serei capaz de fazer.”
Aquele que nunca desiste, com uma forte determinação para realizar o seu trabalho – mesmo cometendo falhas ou sendo ridicularizado pelos outros – certamente crescerá bastante. Eu próprio trabalho com essa atitude. Entretanto, aquelas que desistem após o primeiro fracasso não servem, de fato, para o trabalho.
Há um provérbio que diz: “a resignação é importante.” Em algumas circunstâncias isso é verdadeiro mas, neste caso, a “não resignação” é fundamental. Em resumo, devemos desistir quando a causa não for boa e, pelo contrário, ter força de vontade para as boas causas.
1950




A RESPEITO DO ESPÍRITO DA PALAVRA

Na Bíblia está escrito: “No princípio era o Verbo. Todas as coisas foram feitas por ele”. Isso se refere à ação do espírito da palavra. Começarei explicando o significado fundamental dessa expressão.
A palavra, naturalmente, é constituída e emitida pela ação da voz, da língua, dos lábios e do maxilar inferior, mas a origem dessa emissão, não resta dúvida, é o pensamento, que se manifesta em forma de palavras. O pensamento é a manifestação da vontade. Suponhamos que surja no homem alguma vontade. Para manifestá-la através de palavras, o pensamento entra em ação. Naturalmente, na ação do pensamento ocorre o discernimento do correto e do incorreto, do bem e do mal, do sucesso e do insucesso, etc. O conjunto disso é a inteligência, e sua manifestação é o espírito da palavra; a materialização do espírito da palavra é a ação. Baseados nesse princípio, não estaremos equivocados se dissermos que existem três níveis: pensamento, espírito da palavra e ação. Assim, o pensamento está ligado ao Mundo Espiritual; o espírito da palavra, ao Mundo do Espírito da Palavra; a ação, ao Mundo Material. Isto é, o espírito da palavra fica entre o oculto e o manifesto. Pode-se dizer que ele é mediador entre o pensamento e a ação. Através disso, poderão compreender quão importante é o seu papel.
O espírito da palavra é semelhante a uma marionete: a manifestação da alma ou do espírito fica à sua mercê. Irritar as pessoas ou fazê-las rir, preocupá-las ou tranqüilizá-las, entristecê-las ou alegrá-las, provocar conflitos ou paz, obter sucesso ou insucesso, tudo depende do espírito da palavra. Usá-lo de forma leviana é muito perigoso.
Por outro lado, apenas manejar habilmente o espírito da palavra, não passaria de uma simples técnica. A pessoa se assemelharia a um humorista, comediante ou comentarista. Se na base do espírito da palavra não houver força para a manifestação de um grande poder, não há qualquer sentido. Mas, tratando-se de força, existe a benigna e a maligna. Ou seja, o espírito das palavras malignas constitui pecado, e o espírito das palavras benignas constitui virtude. Assim, o homem deve se esforçar para usar o espírito das palavras benignas. Nestas, evidentemente, o fundamental é o “makoto”, que se origina de Deus. Portanto, não há outro recurso senão reconhecer a existência de Deus. Se a pessoa não for religiosa, não conseguirá manifestar o verdadeiro makoto, e por isso não se manifestará a força benigna no espírito da palavra.
1950



FILOSOFIA DA INTUIÇÃO

Quando jovem, fui simpatizante da teoria de Henri Bergson, o eminente filósofo francês (1859-1941). Ainda me lembro dessa teoria e vou expô-la, nesta oportunidade, por considerá-la de grande proveito do ponto de vista religioso.
Segundo minha interpretação, a filosofia de Bergson baseia-se nestes três princípios: “Todas as coisas se movem”, “Teoria da Intuição” e “O eu do momento”. Dentre eles, o que mais me impressionou foi a “Teoria da Intuição”, a qual diz o seguinte: “É algo dificílimo ver as coisas exatamente como elas são, captar o seu verdadeiro sentido, sem cometer o mínimo engano.” Estudemos o porquê dessa afirmativa.
Os conceitos formados pela instrução que recebemos, pela tradição, pelos costumes, etc., ocupam o subconsciente humano formando como se fosse uma barreira, e dificilmente o percebemos. Tal “barreira” constitui um obstáculo quando observamos as coisas. Quando dizemos, por exemplo, que todas as religiões novas são supersticiosas, heréticas ou falsas, devemos esse julgamento à “barreira”, que está servindo de estorvo.
Os homens de hoje, através dos jornais, das revistas, do rádio e dos comentários públicos, constantemente tomam conhecimento de idéias e opiniões que concorrem para aumentar e solidificar essa “barreira”. Devido ao conceito de que as doenças só podem ser curadas pela medicina, a realidade é deturpada quando ocorre um milagre: dizem ser ação do tempo ou buscam mil explicações. Presenciamos tal fato com freqüência.
A “Teoria da Intuição” encarrega-se de corrigir tais erros, comuns entre os homens. Libertando-os, completamente, de preconceitos, ela os ensina a fazerem uma fiel observação dos fatos. Para isso é necessário ser “o eu do momento”, isto é, fazer com que a impressão instantânea, captada pela intuição, corresponda à verdadeira substância do objeto de observação. Caso presenciamos uma cura realmente milagrosa, devemos crer, pois essa é a verdadeira observação. Se, ao contrário, julgamos impossível que uma doença seja curada sem o auxílio de aparelhos ou remédios, significa que estamos sendo bloqueados pela tal “barreira” de preconceitos. Na hipótese de alguém acrescentar: “Isto é superstição, não pode ser verdade”, é porque a “barreira” do próximo está contribuindo para aumentar o obstáculo, e devemos ficar de guarda contra isso.
O outro princípio – “Todas as coisas se movem” – significa que tudo está em eterno movimento. Por exemplo: nós não somos os mesmos de ontem, nem mesmo o que fomos há cinco minutos atrás; o mundo de ontem não é o mesmo de hoje. Isso abrange também a sociedade, a civilização e as relações internacionais. Precisamos, portanto, fazer uma observação fiel, isto é, uma observação clara, do homem e de suas transformações.
Ao invés de modificarem seus pontos de vista e pensamentos, para acompanharem o constante movimento evolutivo, as religiões antigas criticam as religiões novas, servindo-se de conceitos religiosos milenares. Eis por que não conseguem ter uma idéia exata a respeito delas.
Esta é a teoria de Bergson aplicada ao campo religioso.
30 de janeiro de 1950



NOVAMENTE A RESPEITO DE BERGSON

Sinto-me dominado pelo desejo de escrever novamente sobre Henri Bergson, o famoso filósofo moderno da França, a quem já me referi anteriormente. Muitas pessoas me dirigem perguntas por não entenderem o sentido de minhas palavras, que me parecem bem simples, mas que elas acham de difícil assimilação. Embora se trate de pessoas cultas, sou obrigado a dar-lhes uma explicação minuciosa, servindo-me de exemplos, para que elas possam compreender. Nesta oportunidade, lembro-me da própria filosofia de Bergson.
A razão pela qual as pessoas não entendem coisas tão fáceis é que elas não ficam no estado do “eu do momento”, talvez por não terem conhecimento, ou melhor, consciência disso. Segundo a teoria de Bergson, mal o homem começa a ter noção do mundo à sua volta é cercado de comentários, imposições de lendas e instruções, que lhe criam uma espécie de “barreira mental”, antes de atingir a maioridade. Essa “barreira” o impede de assimilar novas teorias. Uma mente desimpedida as compreenderá com facilidade, pois tem livre arbítrio; por isso aconselhamos que a mente seja aberta como uma página em branco. Entretanto, são raros os que percebem a “barreira”.
Quem já leu o princípio de Bergson, comece a ser, agora, o “eu do momento”. Este “eu do momento” refere-se à impressão instantânea, captada no momento em que se observa ou se ouve alguma coisa. É agir como uma criança, sem dar tempo para a intromissão de “barreiras”. Muitas vezes admiro certas palavras usadas pelas crianças para se certificarem de algo que um adulto lhes disse. Bergson chamou a isso de “Teoria da Intuição”. Através desta, ele também queria nos mostrar que uma observação fiel consiste em ver a coisa tal qual ela é, sem torcê-la, relacionando-a ao “eu do momento”.
Dentro de sua filosofia, Bergson emite um conceito muito interessante: “Todas as coisas se movem.” Isso significa que tudo está em contínuo movimento. Este ano, por exemplo, difere do ano passado em tudo. O mesmo podemos dizer a respeito do mundo, da sociedade e dos nossos próprios pensamentos e circunstâncias. Somos diferentes até mesmo do que fomos ontem, ou há cinco minutos atrás. Aqui, podemos aplicar o velho ditado: “Trevas a um palmo do nariz.” Assim, se aplicarmos a teoria bergsoniana ao homem, em todas as circunstâncias, notaremos o seguinte: diante de um fato, as nossas observações e pensamentos de hoje devem ser diferentes das observações e pensamentos do ano anterior.
Em sentido mais amplo, observemos a radical diferença entre o período anterior e o período posterior à guerra. É surpreendente a mudança que ocorreu em tão breve espaço de tempo. Mas a maioria dos indivíduos não conseguem captar, com exatidão, a realidade atual, bloqueados pelos métodos e conceitos antigos, que eles herdaram de seus antecessores e que constituem um verdadeiro obstáculo. Classifico esses indivíduos de conservadores e antiquados, porque mantêm a mente estagnada, enquanto tudo obedece à lei do movimento perpétuo. Eles sofrem o abandono do mundo e vão ao encontro de um trágico destino.
Basta uma reflexão sobre a teoria de Bergson, para compreendermos o insucesso das religiões.
A ação de Kannon consiste em ceder às transformações constantes, acompanhando o movimento das coisas sem cometer o mínimo desvio. Essa divindade é conhecida, também, como “Oshim-Miroku”, encarnação da ação livre e desimpedida. Em outras palavras, ação livre em relação às coisas do mundo exterior. O nome “Mugue-ko-nyorai” tem o mesmo significado.
Em resumo, devemos escolher assuntos adequados para falar com as pessoas idosas, ser delicados com as senhoras, teóricos com os intelectuais e simples com o povo em geral. Devemos proceder de modo que todas as pessoas com quem conversamos possam compreender-nos e interessar-nos pelo que dizemos, ouvindo-nos com prazer. Se professarem a Fé dessa maneira, poderão obter ótimos resultados.



SINCERIDADE

Para sabermos se uma pessoa age com sinceridade ou não, temos um meio muito simples: ver se ela respeita seus compromissos. Deixar de cumprir os compromissos, parece – à primeira vista e em certos casos – coisa de pouca importância. Mas, na verdade, significa enganar, e isso constitui uma espécie de pecado. Portanto, é assunto que merece a máxima atenção.
Um dos compromissos mais sujeitos a ser desrespeitado é o que se refere ao horário.
Pensemos no que ocorre quando somos impontuais. A pessoa que nos espera sujeita-se a todo tipo de aborrecimento e preocupações. Há um ditado que afirma: “É melhor ser esperado do que esperar”, mas pense de modo contrário. Devemos considerar o estado de ânimo daquele que nos aguarda. Quem não o leva em conta, não é sincero, e isso anula qualquer outra qualidade.
Como instrumentos de Deus, os messiânicos devem cumprir rigorosamente seus compromissos e respeitar pontualmente os horários. Não serão aprovados na Fé os que assim não procederem. Gravem isto na mente e jamais se esqueçam desta advertência.
28 de janeiro de 1950



AURA

Já falei a respeito do Johrei como transmissão da Luz Divina, mas darei agora uma explicação mais profunda.
O corpo espiritual do homem possui a mesma forma do corpo carnal; a única diferença é que no corpo espiritual existe aquilo que denominamos “aura”.
O corpo espiritual irradia incessantemente uma espécie de ondas de luz. É como se fosse a veste do corpo espiritual, daí a denominação “aura”. Sua cor é geralmente branca, porém, conforme a pessoa, poderá ser amarelada ou roxa. Também há diferença de largura: normalmente tem cerca de três centímetros, mas no enfermo é fina; à medida que a enfermidade se agrava, a aura vai afinando cada vez mais, e na hora da morte desaparece. A expressão popular “Fulano está com a sombra da morte na face” justifica-se pela percepção de que a aura de pessoas nesse estado é quase inexistente. Nas pes¬soas saudáveis, ao contrário, ela é larga. Essa largura torna-se ainda maior nos virtuosos, cujas ondas de luz também são mais fortes; nos heróis, a aura é mais larga do que nas pessoas comuns; nas personalidades ilustres do mundo, é ainda mais, sendo extraordinariamente larga nos homens santos.
Entretanto, a largura da aura não é fixa; varia constantemente, de acordo com os pensamentos e atos da pessoa. Quando esta pratica ações virtuosas, baseada na justiça, sua aura é larga; em caso contrário, é fina. As pessoas de sensibilidade comum em geral não conseguem enxergar a aura, mas existe quem o consiga. Mesmo aquelas, se observarem atentamente, poderão vislumbrá-la.
A largura da aura tem relação direta com o destino do homem. Quanto mais larga ela for, mais feliz ele será. Os que têm aura larga são mais calorosos, causam uma boa impressão e atraem muitas pessoas, porque as envolvem com sua aura. Ao contrário, aqueles cuja aura é fina, causam uma impressão de frieza, desagrado e tristeza, e temos pouca vontade de permanecer em sua companhia.
Em face do que dissemos, o esforço para aumentar a largura da aura é a fonte da felicidade. Mas de que forma devemos agir? Antes de responder a essa pergunta, darei uma explicação sobre a natureza da aura.
Já sabemos que todos os pensamentos e atos humanos se subordinam ao bem ou ao mal. A largura da aura também é proporcional à soma do bem ou do mal. Isto significa que, na ocasião em que a pessoa pensa ou pratica o bem, surge-lhe o sentimento de satisfação na consciência, o qual se transforma em luz e soma-se ao seu corpo espiritual, aumentando-lhe, assim, a luminosidade; ao contrário, o mal transforma-se em máculas, que também se acrescentam às já existentes no corpo espiritual da pessoa. Ao mesmo tempo, quando se faz o bem, a gratidão do beneficiado torna-se luz, e esta, através do elo espiritual, é transmitida para o praticante do bem, aumentando-lhe, conseqüentemente, a luz; em contraposição, pensamentos de vingança, ódio, inveja, etc., transformam-se em máculas, que são transmitidas à outra pessoa pelo elo espiritual, somando-se às que ela já possui. Sendo assim, é importante que o homem pratique o bem, alegre o próximo e dele jamais receba pensamentos como os que mencionamos.
O fracasso e a ruína daqueles que rapidamente conseguiram fortuna ou posições elevadas têm origem no que acabo de expor. Atribuindo a causa do sucesso à sua capacidade, inteligência e esforço, a pessoa cai na presunção e na vaidade, torna-se egoísta e arrogante, vive uma vida de luxo, passando a ser alvo de sentimentos geradores de máculas. Em conseqüência disso, a sua aura vai perdendo luz e afinando, e acaba sobrevindo a ruína. Esse é o fim de muitas famílias nobres e de muitos milionários. Socialmente, ocupam posição superior e recebem da sociedade e do País os favores correspondentes a essa posição, razão pela qual deveriam retribuí-los adequadamente, isto é, fazendo o bem em abundância. Dessa forma, suas máculas estariam sendo eliminadas constantemente. A maioria das pessoas, entretanto, só pensa em proveito próprio; em decorrência disso, avolumam-se-lhes as máculas e o seu espírito desce a um nível muito baixo, apesar de conservarem as aparências. Por fim, pela Lei do Espírito Precede a Matéria, essas pessoas acabam arruinadas.
Um pouco antes do grande terremoto ocorrido em 1923 na Região Leste, o qual arrasou Tóquio, um vidente me disse que, ao invés da cidade de prédios grandes e magníficos, vira uma cidade cheia de casebres. E qual não foi a minha surpresa, ao constatar que realmente a cidade ficara como ele havia visto!
Ainda podemos citar outro exemplo. Refere-se ao industrial americano John D. Rockfeller (1839-1937) e ocorreu quando ele era jovem e ainda não havia acumulado sua fabulosa fortuna. Rockfeller tinha começado a trabalhar numa loja e, baseado no conceito de que o homem deve fazer o bem, começou a dar donativos para uma igreja. Inicialmente dava cinco centavos por semana, mas, conforme o aumento de sua renda, foi aumentando o donativo, até que acabou instituindo o famoso Rockfeller Research Center. Ele registrava as quantias doadas no verso de uma caderneta que, segundo dizem, é considerada tesouro familiar.
Falam, também, que Andrew Carnegie (1835-1919), fundador da Bethlehem Steel Corp., a maior firma do gênero na América do Norte, fez prevalecer, quando morreu, a tese que sempre defendera, destinando a obras de assistência social quase toda a sua fortuna, avaliada em bilhões de dólares. Para o seu herdeiro deixou apenas um milhão de dólares e educação universitária garantida. A propósito, o grande psicólogo alemão Hugo Munsterberg (1863-1916) elogia os milionários que não deixam heranças.
Só em 1903, segundo dizem, as doações de milionários americanos a universidades, bibliotecas e institutos de pesquisas somaram mais de dez milhões de dólares, sendo que as doações anônimas teriam superado várias vezes essa quantia. Logo após a Primeira Guerra Mundial, Andrew Carnegie doou uma quantia muito elevada à International Peace Foundation, e com uma parte dessa importância a Ciência e a Educação na Alemanha foram grandemente beneficiadas. A edição de volumosa obra de pesquisa – a primeira do mundo – sobre guerra e crime, realizada por uma equipe de mestres liderada pelo professor Lipmann (1857-1940), foi possível graças a essa ajuda, e dizem ser inestimável a contribuição que ela trouxe para a felicidade mundial. Ao pensar em tais fatos, posso compreender por que os Estados Unidos prosperaram tanto. Os grandes grupos econômicos do Japão, entretanto, foram excessivamente egoístas, e julgo que a isso se deva sua queda, e nunca a uma coincidência.
Quanto mais fina é a aura, mais sujeita está a pessoa a infelicidade e desastres. A razão é que, em virtude das máculas, o intelecto fica entorpecido, o raciocínio falha, a força de decisão diminui, e não se pode ter uma previsão correta das coisas; por conseguinte, a pessoa se impacienta, pois deseja o sucesso rápido. Tais criaturas podem conseguir sucesso passageiro, mas nunca duradouro. Nesse sentido, se a política de uma nação é ruim, é porque a aura de seus governantes é fina, assim como também a do povo, que sofre as conseqüências dessa má política.
Aqueles que têm grande quantidade de máculas geralmente passam por muitas purificações; facilmente são vítimas de doenças ou acidentes. Quem sofre acidente de trânsito é porque tem aura fina; quem tem aura espessa, em qualquer situação livra-se do perigo. Por exemplo, na iminência de alguém ser apanhado por um veículo, o espírito deste se chocará com a pessoa se ela tiver aura fina, mas não ocorrerá o choque se a sua aura for espessa. Nesse caso a pessoa é arremessada para longe e nada sofre, graças à elasticidade da sua aura.
Refletindo sobre o princípio aqui exposto, podemos concluir que o único meio para nos tornarmos felizes é aumentarmos a espessura da nossa aura praticando o bem. Existem criaturas que se resignam diante da má sorte; elas me causam pena, pois não conhecem esse princípio. Também, quanto mais espessa for a aura dos ministros desta Igreja, mais pessoas eles salvarão, e, quanto mais pessoas salvarem, mais agradecimentos receberão, o que fará aumentar a espessura de sua aura. Simultaneamente, melhores serão os resultados do seu trabalho de difusão. Tenho muitos discípulos assim.
5 de fevereiro de 1947



BONDADE E CORTESIA

Bondade e cortesia são as qualidades que mais faltam ao homem da atualidade.
Há um método que nos permite avaliar o nosso progresso na Fé e o nosso aprimoramento espiritual. Primeiro, devemos evitar as desavenças; depois, desenvolver a bondade; por fim, nos tornarmos mais corteses. Se conhecermos alguém com tais atributos, veremos logo que é pessoa polida, que se aprimorou e que possui o intrínseco valor da Fé. Essa pessoa será estimada e respeitada por todos; suas atitudes valerão como uma silenciosa divulgação de Fé; servirá como exemplo de Fé concretizada em atos.
Mas o mundo atual mostra-nos, a todo instante, como é carente dessa bondade e cortesia. Por toda parte, o ser humano vive a esmiuçar os defeitos alheios, odiando e recriminando a toda gente, salientando sempre os seus aspectos desagradáveis. Podemos afirmar que quase não existe cortesia no homem moderno. Há, nele, um requinte de egoísmo, grosseria, espírito calculista e constante desculpa para todos os erros que comete. Não lhe importa ser desagradável aos outros.
Tal procedimento jamais foi liberdade democrática; é um exagero nocivo, um abuso de egoísmo. Em tudo isso, o mais desprezível é que o homem se transforma em delator e perseguidor de seu próprio irmão, porque escasseia o sentido de amor humano. O aumento desse tipo de gente obscurece a sociedade, esfria o relacionamento entre os homens e engrossa a fileira dos desiludidos. Por isso é que os suicídios aumentam cada vez mais.
A verdadeira civilização resultará do crescente número de pessoas que agem conforme o cavalheirismo inglês ou a filantropia americana. Ser fiel às regras morais permite a formação de uma sociedade agradável, onde reina o conforto. Se tal sociedade puder ser criada, o Paraíso será uma realidade para o homem.
No Japão, há um assunto que tem interessado a muitos: a necessidade econômica de desenvolver o turismo. As instalações materiais são importantes; mais importante, no entanto, é a boa impressão que possam ter aqueles que nos visitam. Bondade, higiene e cortesia não custam dinheiro e são elementos essenciais, que atraem os turistas.
A formação desse homem bondoso e cortês depende unicamente da Fé e constitui a diretriz de nossa Igreja, que, nesse sentido, vem se desenvolvendo cada vez mais.
25 de outubro de 1950

PESSOA SIMPÁTICA

Talvez não exista nenhuma palavra que soe tão agradavelmente quanto “simpatia”. Pensando bem, a simpatia é muito mais importante do que imaginamos, pois tem muita relação não só com o destino do indivíduo, mas também com a sociedade. Se alguém se tornasse simpático graças ao relacionamento com uma pessoa simpática e isso fosse se propagando continua¬mente, é óbvio que a sociedade se tornaria bastante agradável. Por conseguinte, diminuiriam os problemas, principalmente o conflito e o crime; espiritualmente, criar-se-ia o Paraíso. Não existe meio melhor do que esse, pois não requer dinheiro, não é trabalhoso e pode ser posto em prática imediatamente.
Falando, parece muito simples, mas todos sabem que, na realidade, não é tão fácil assim, pois não basta que a simpatia seja apenas aparente. A verdadeira simpatia aflora do inte¬rior; é indispensável, portanto, que a pessoa seja sincera de coração, o que depende de cada um. Em suma, a base da simpatia é o espírito de Amor ao Próximo.
Vou contar um pouco de minha experiência a esse respeito.
É engraçado eu mesmo falar destas coisas, mas desde pequeno, onde quer que eu fosse, quase nunca era malquisto ou antipatizado. Pelo contrário, era respeitado e amado na maioria das vezes. Então, pensando bem, concluí que tenho uma característica que me parece ser o motivo disso: sempre deixo meus próprios interesses e minha própria satisfação em segundo plano; procuro fazer, em primeiro lugar, aquilo que satisfaz aos outros, aquilo que os deixa felizes. Ajo assim não por razões morais ou religiosas, mas naturalmente. Talvez seja da minha própria natureza. Em outras palavras, é até uma espécie de “hobby” para mim. Por essa razão, muitos dizem que tenho uma natureza privilegiada, e é possível que tenha mesmo.
Depois que me tornei religioso, esse sentimento aumentou ainda mais. Quando vejo uma pessoa sofrendo por doença, não consigo ficar tranqüilo; tenho vontade de curá-la a qualquer custo. Então, ministro-lhe Johrei, e ela fica curada e feliz. Ao ver sua alegria, esta se reflete em mim e eu me sinto feliz também. Por esse motivo, criei inúmeros problemas no passado e sofri muito. Mesmo quando achava que nada poderia fazer por uma pessoa e que deveria parar de dar-lhe assistência, a pedido insistente e até súplicas da própria pessoa e de sua família, eu cedia e continuava indo visitá-la, ainda que fosse longe. Gastava tempo e dinheiro, e, no final, o resultado era ruim, desapontando os familiares do doente. Muitas vezes, cheguei até a ser odiado. Toda vez que isso acontecia, eu me censurava, achando que deveria tornar-me mais frio.
Como essa minha característica também foi de muita ajuda para a construção do protótipo do Paraíso Terrestre e do Museu de Belas-Artes, creio que ela me tenha sido atribuída por Deus. Quando vejo uma magnífica obra de arte ou uma paisagem maravilhosa, não sinto vontade de apreciá-las sozinho e até fico melindrado; nasce em mim o desejo de mostrá-las a um grande número de pessoas, para alegrá-las. Dessa forma, minha maior satisfação é alegrar o próximo, o que me faz ficar alegre também.
21 de abril de 1954

TEORIA SOBRE OS EFEITOS CONTRÁRIOS

Os homens que não obtêm resultados satisfatórios naquilo que executam com esforço, ou no que julgam ser uma boa ação, desconhecem a teoria dos efeitos contrários, ou melhor, falta-lhes discernimento a respeito de sua razão transcendental. Vou explicar essa teoria dando alguns exemplos. Quem a entender, não deixará de lucrar com isso.
Dentre os líderes dos fiéis, há os que procuram mostrar-se mais elevados, mais importantes do que realmente são. Tais líderes acabam recebendo o que merecem e, conseqüentemente, são menosprezados. Aqueles que sempre mantêm uma atitude discreta e moderada, atraem maior consideração.
Existem, também, os que gostam de contar seus sucessos, o que não é agradável para os ouvintes. A exibição é condenável. Quem expõe os fatos tal qual eles se apresentam, granjeia maior simpatia, e sua palavra discreta o enobrece perante o ouvinte. Ao prestar um auxílio, evitem falar como estivessem vendendo favores, pois isso só serve para diminuir o sentimento de gratidão das pessoas.
Como vemos pelos exemplos acima, em tudo há efeitos contrários. Se procederem levando esse ponto em consideração, obterão bons resultados.
Certa vez cedi à insistência de um visitante a quem vinha evitando, e concedi-lhe uma entrevista. Ele perguntou-me: “Quem é o deus da Igreja Messiânica Mundial?” “Ignoro-o completamente”, respondi. O visitante tornou a interrogar-me: “O senhor prevê todos os acontecimentos futuros, não é?” Retruquei: “Eu nada sei, porque não sou Deus.” Parece-me que ele se decepcionou, pois não voltou mais.
Antigamente, apareciam muitas pessoas que queriam me enganar, levando-me dinheiro. Nessas ocasiões, antes que tocassem no assunto, eu lhes indagava se não conheciam alguém que pudesse emprestar-me determinada quantia, porque eu estava muito necessitado. Então elas acabavam se despedindo sem falar nada a respeito do seu intento.
Também há ocasiões em que, quando acho que uma pessoa tem qualidades e futuramente pode ter um grande desempenho na Obra Divina, intencionalmente eu a trato sem consideração. Aí, ao invés de se mostrar desinteressada e negligente, ela dedica ainda mais e realiza ótimos trabalhos. Procuro utilizar tais pessoas em tarefas importantes, como elementos capazes e dignos de confiança.
Muitos outros exemplos poderiam ser citados, mas é
de grande importância ter em mente a teoria dos efeitos contrários.
3 de outubro de 1951



NÃO SE IRRITE

Diz um velho ditado: “Tolerar o que é fácil está ao alcance de todos, mas a verdadeira tolerância significa tolerar o que é intolerável”. Outro ditado aconselha: “Carrega sempre contigo o saco da paciência e costura-o toda vez que ele se romper”. Encontro boas razões nesses conselhos.
As pessoas me perguntam: “Que práticas ascéticas o senhor realizou? Subiu alguma montanha para banhar-se numa cachoeira, jejuou ou fez outras penitências?” Então esclareço que jamais pratiquei tais coisas. Todas as minhas “penitên¬cias” consistiram em tolerar a tortura das dívidas e reprimir a ira. Quem ouve, fica espantado, mas é a pura verdade. Creio que Deus determinou aperfeiçoar-me mediante purificações desse tipo, pois continuamente têm aparecido fortes motivos para eu ficar irritado. Por natureza, detesto irritar-me, mas há sempre alguma coisa que me afeta nesse sentido.
Certa vez, passei por tanta vergonha devido a um desentendimento, que mal conseguia encarar as pessoas. Minha indignação atingia o auge e eu não conseguia reprimi-la. Foi quando me fizeram um convite para comparecer a uma festa. Nas circunstâncias, o convite era irrecusável. Lá, entretanto, permaneci desligado, sem poder concentrar meu espírito. Tomei até uma dose de saquê, para me descontrair. Isso demonstra como eu estava perturbado. Somente após alguns dias consegui recobrar a tranqüilidade.
Mais tarde, vim a saber que a minha ida àquela festa salvou-me de uma grande desgraça. Se não fosse a indignação daquele momento, eu não teria comparecido a ela, e teria recebido um golpe fatal. Realmente fui salvo pela ira e não pude conter minha gratidão.
Quem tem missão importante, é submetido por Deus a muitos aprimoramentos. Creio que ter de reprimir a raiva, é uma das maiores provas. Aqueles que têm muitas razões para irritar-se, devem compreender que sua missão é grandiosa. Se conseguirem resistir a todo tipo de provocação, mantendo calma absoluta, terão concluído uma etapa do seu aprimoramento.
Há um episódio interessante que eu gostaria de relatar.
Na Era Meiji, houve um homem famoso pela sua paciência, o Sr. Buei Nakano, presidente do Conselho Privado de Comércio. Uma vez lhe perguntaram qual era o segredo de seu espírito de tolerância. Ele respondeu: “Por natureza, eu era irascível. Mas, certo dia, ao visitar o grande industrial Eiichi Shibuzawa, ouvi-o discutindo com a esposa no cômodo contíguo àquele em que eu estava. Informado de minha presença, ele abriu a porta corrediça e veio sentar-se junto a mim. Trazia a fisionomia serena de sempre; nem parecia vir de uma discussão. Admirei-me e, ao mesmo tempo, tive a revelação de algo importante: o poder de controlar a ira. Compreendi que aquele era o segredo de seu prestígio no mundo industrial, e que eu devia seguir seu exemplo e esforçar-me para reprimir a cólera com facilidade. Desde então passei a disciplinar-me nesse sentido, e tudo começou a correr normalmente em minha vida, até eu atingir a condição atual.”
Lembrem-se, pois, de que Deus treina e disciplina aqueles que têm uma grande missão a cumprir.
Gostaria de voltar ao assunto das dívidas.
Baseado na minha própria experiência, concluí que as dívidas são motivadas pela precipitação, que nos faz forçar situações.
Jamais devemos forçar uma situação. Se o fizermos, talvez obtenhamos um êxito passageiro; entretanto, mais cedo ou mais tarde, seremos colhidos pelas conseqüências, enfrentando obstáculos inesperados. É possível que, após um rápido sucesso, nos vejamos forçados a voltar ao ponto de partida. Examinando as causas da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, veremos que houve quem forçasse muito a situação.
Impor soluções e precipitar providências, provoca desequilíbrio mental e impede as boas inspirações. Pior ainda é agir à força, de qualquer maneira, na falta de idéias. Só devemos tomar resoluções depois que surge a idéia apropriada, isto é, quando houver certeza de que o plano concebido não vai falhar. Em outras palavras, é preciso aplicar o método: “Pense duas vezes antes de agir”.
Quase sempre é muito difícil o pagamento das dívidas. Se elas se prolongarem, os juros aumentarão, causando grande sofrimento moral.
Existem dívidas ativas e dívidas passivas. As ativas, fazemo-las para investir em negócio rendoso; as passivas, para cobrir prejuízos. Embora muitas vezes estas últimas sejam inevitáveis, não devemos contraí-las. Se formos vítimas de prejuízos, devemos abandonar toda ostentação e falsa aparência, reduzir os nossos gastos e esperar que surjam novas oportunidades.
Também desejo chamar a atenção para um ponto importante: a ganância. Consideremos o velho ditado: “Quem tudo quer, tudo perde”. Os prejuízos geralmente são causados pela ambição de ganhar demais. Não existe, neste mundo, o pretenso “negócio-da-china” que tantos vivem a propor. Desconfiemos desse tipo de negócio. O empreendimento que não parece grande, oferece melhores perspectivas. Exemplificarei com minha própria experiência.
Certa ocasião, eu precisava de dinheiro para saldar dívidas e impulsionar a obra religiosa. Não foi fácil consegui-lo; enquanto eu o desejava muito, não entrava dinheiro algum. Por fim, resignei-me, deixando o problema nas mãos de Deus. Quando eu já estava esquecido de tudo, comecei a receber inesperadamente grandes somas. Percebi, então, que o mundo não pode ser explicado em termos de raciocínio comum.
25 de janeiro de 1949



VENCER A IRA

Não faz muito tempo que Deus me ensinou a vencer a ira. Agora pretendo transmitir-lhes esta boa-nova, pois não há nada que nos cause tanto sofrimento.
Existem indivíduos que nunca ficam irados, dando a impressão de que sempre estão felizes. Eles pertencem a um tipo excepcional de pessoas; entre as criaturas comuns, podemos afirmar que não há uma sequer que não seja atingida pela ira. Os antigos já ensinavam várias maneiras de controlar esse sentimento, mas, em geral, elas não produzem o efeito verdadeiro, porque apenas servem para contê-lo e não para eliminá-lo. Contendo a ira, podemos fugir ao sofrimento causado por ela; no entanto, isso traz em si um novo sofrimento. Portanto, não é a solução. Quanto maior a ira, maior o sofrimento para controlá-la. Fica isso por aquilo. Só a forma ensinada por Deus pode eliminá-la com facilidade. Mostrarei como é maravilhosa.
A parte superior do estômago, situada no centro do corpo humano, é uma região muito importante, tradicionalmente chamada de plexo solar. Dizem que o centro do corpo é o umbigo, mas este é o centro da região abdominal, onde está a sede da vontade, tal como a coragem e a decisão. Conforme digo sempre, a parte frontal da cabeça governa a razão, ou seja, a inteligência, a memória, etc; a parte posterior comanda os sentimentos: a alegria, a ira, a dor, o prazer e outros.
Como a região abdominal é o que foi explicado, o fruto global da trilogia vontade – razão – sentimento constitui o plexo solar; assim, por ocasião da ira, o pensamento concentra-se nessa região. Quando alguém fica irado, sente como se fosse uma massa ou um nó na parte superior do estômago; todos já experimentaram essa sensação e sabem disso. Se, nesse momento, a pessoa recebe Johrei no plexo solar, aquela massa ou nó se dissolve e, em alguns minutos, ela tem a impressão de que um laço está se desatando e de que seu peito está se abrindo. É, então, invadida por uma sensação muito agradável. Aos poucos, sentir-se-á aliviada e até com vergonha de ter se zangado. Daí a expressão: “A raiva se derreteu”. E acontece isso mesmo. Além do mais, como o Johrei possibilita não só a cura de outras pessoas, mas também do próprio ministrante, não há nada melhor do que essa prática. Ora, torna-se desnecessário dizer que a ira é a causa dos conflitos pessoais e familiares e, numa escala maior, dos conflitos so¬ciais e da quebra da paz entre os países. Sendo assim, podemos afirmar que é realmente uma grande salvação essa forma maravilhosa de eliminá-la.
30 de maio de 1951



NÃO JULGUEIS

Há muitos religiosos que interpretam erradamente esta sentença. Lembro-me de já haver tratado do assunto, mas estou insistindo em virtude de encontrar pessoas que ainda não o entenderam.
Costuma-se definir uma pessoa como boa ou má, e um dos piores comentários é dizer: “Fulano está com o diabo no corpo”. Gravíssimo engano. Quem se acha sob má influência é aquele que faz tal comentário.
O homem não deve emitir opinião sobre o próximo, pois não tem capacidade para julgar o bem ou o mal, a sinceridade ou a falsidade. Isso compete a Deus. Quem se arroga o poder de julgamento está infringindo os direitos Divinos, porque é apenas um ser humano. É excesso de presunção, é uma atitude altamente condenável. Esse tipo de pessoa acha-se sob a ação do demônio; deve, portanto, acautelar-se. Obviamente não possui verdadeira fé. Geralmente assume ares de grande seriedade, condena as crenças alheias e preconiza reformas na Igreja. Ora, se de fato houver maus elementos entre os fiéis, eles devem ser deixados aos cuidados de Deus, para que sejam convenientemente julgados. A preocupação humana é perfeitamente dispensável. Confiar no poder humano mais que no Divino, é o cúmulo da pretensão, pois cabe ao Supremo Deus o governo de tudo. Aquele que erra, recebe primeiramente avisos Divinos; depois, se não se corrige, pode ser chamado de volta ao Mundo Espiritual.
Os antigos fiéis de nossa Igreja conhecem bem certos casos que confirmam o que estou dizendo. Portanto, todos devem procurar seguir esta norma: “Não julgue o próximo, mas julgue constantemente a si próprio”. Quem age assim, compreende Deus.
21 de maio de 1952



PRESUNÇÃO

Existem adeptos fervorosos que criticam os métodos dos dirigentes da Igreja a que pertencem, impacientando-se quando estes não ouvem seus conselhos relativos às reformas que lhes parecem necessárias. Como o número desses adeptos é muito grande, escreverei sobre o assunto.
Não condeno os fiéis que agem assim, pois sua atitude é ditada pela sinceridade; mas o fato exige muita reflexão, porque o pensamento deles está baseado na fé “Shojo”. A nossa Igreja caracteriza-se pela fé “Daijo” e por isso difere muito do pensamento comum da sociedade em geral.
Julgar o próximo é uma presunção. Se não reconhecermos esse ponto, não poderemos agradar a Deus. Somente Ele conhece a bondade e a maldade dos homens. Já escrevi a respeito uma vez e aconselho muita prudência. Caso o fiel estiver errado ou for má pessoa, Deus se encarregará de julgá-lo, sendo desnecessário qualquer preocupação de nossa parte. A preocupação não significa falta de confiança no poder de Deus? Isso é comprovado por inúmeras experiências de antigos fiéis que foram julgados por Deus, muitos deles perdendo até a vida por causa de uma fé errada. Portanto, devem conhecer a si próprios muito bem, antes de pretenderem julgar o próximo.
Não há fiéis com más intenções, já que ingressaram em nossa Igreja. Sei perfeitamente que todos são sinceros; entretanto, como há vários níveis de sinceridade, é preciso muita atenção. Isso nada mais é do que a minha costumeira frase: O Bem de “Shojo” vem a ser o Mal de “Daijo”. Qualquer bem ou sinceridade de caráter restrito resulta em mal.
Desde a criação deste mundo, nunca houve religião que tivesse um objetivo tão elevado quanto o nosso, isto é, salvar toda a humanidade. Por conseguinte, os problemas internos da Igreja devem ser confiados a Deus. Os fiéis precisam ter sempre em mente a sociedade, o mundo, ou melhor, dirigir a vista para fora, e não para dentro.
Desejo acrescentar que a Providência de Deus é demasia¬do profunda para ser compreendida pela inteligência humana. Nos ensinamentos da Igreja Omoto consta a seguinte passagem: “Aquele que considera o Mundo Divino inatingível pela sabedoria humana, é um esclarecido.” E também esta: “Pergunto se seria possível fazer a reconstrução dos três mil mundos (3) com uma Providência facilmente compreendida pelos seres humanos.” Estas palavras são realmente simples e bem claras.
12 de setembro de 1951




NÃO JULGUE

O fato de ainda haver, entre os fiéis, uma maioria que comenta: “Fulano é bom, beltrano é mau”, “isto é um obstáculo, aquilo não”, significa que os Ensinamentos não foram assimilados completamente.
Já repeti várias vezes que julgar o próximo é o mesmo que profanar a posição de Deus. É um erro gravíssimo, para o qual peço muita atenção. O homem é incapaz de discernir o bem do mal. Se ele julga ter conseguido esse discernimento, é porque atingiu, inconscientemente, o auge da presunção. Isso prova que ele nem ultrapassou o portão da Fé.
Devem também levar em consideração que a Providência Divina não é fácil de ser compreendida pelo raciocínio humano. Querer compreendê-la com a fé “Shojo”, é o mesmo que espreitar o céu através de um orifício. Já me cansei de repetir que não permaneçam nesse tipo de fé, porque só se consegue conhecer a Vontade de Deus com a fé “Daijo”. Mas isso parece ser difícil, pois, infelizmente, há pessoas que persistem no erro.
Observando a sociedade em que vivemos, notamos que ela apresenta um aspecto limitado em todos os setores. De vez em quando, os jornais anunciam escândalos pela disputa de poderes entre facções criadas dentro das organizações religiosas. Não constituem exceção os partidos políticos, as empresas e outras associações, sendo escusado falar sobre os prejuízos causados à eficiência e progresso dos empreendimentos.
Deus quer reconstruir este mundo justamente por causa de tais erros. Um estudo aprofundado mostra-nos que todos eles resultam dos princípios “Shojo”. Ora, se não partirmos dos princípios “Daijo”, jamais surgirá uma sociedade sadia e altruísta. Assim, espero que, se os nossos fiéis ainda possuem resquícios de pensamentos estreitos e vulgares, tomem consciência disso o quanto antes e procurem reformar sua mente, para se tornarem verdadeiros messiânicos. Com a intensificação gradual da purificação, o Juízo Divino se tornará mais severo, e, se não o fizerem agora, será tarde demais para arrependimentos.
São realmente verdadeiras estas palavras que aparecem insistentemente nos ensinamentos da Igreja Omoto: “A presunção e o engano são causas de grandes desgraças.” Têm o mesmo sentido as palavras de Jesus: “Não julgueis.” O importante é a pessoa julgar a si própria, não se intrometendo nos atos alheios.
Os nossos adeptos já sabem que ninguém deixa de ter toxinas no corpo. O mesmo acontece no terreno espiritual: ninguém deixa de apresentar máculas, razão pela qual Deus procura salvar-nos através da purificação. Eu sei tudo que se passa dentro das pessoas. Como não me manifesto, elas se preocupam, achando que não sei de nada. No entanto, eu permaneço calado, entregando tudo nas mãos de Deus.
13 de maio de 1953







O CONFLITO ENTRE O BEM E O MAL

O domínio de Deus é demasiadamente profundo para a compreensão do homem comum. Sendo especialmente difícil determinar o que é bom e aquilo que ele sente como mau, o homem vive num conflito sem fim.
Além do mais, o bem e o mal são relativos e não podemos tirar conclusões precipitadas a respeito do bom ou mau uso das coisas. As forças malignas, por mais devastadoras que sejam, servem freqüentemente como meio para disciplinar o espírito, desenvolver a força criativa e a capacidade das pessoas construtivas. Nesse sentido, essas forças constituem uma espécie de esmeril e servem a um fim benéfico.
O bem está destinado à vitória final caso contrário, a vida na Terra seria totalmente dominada pelo mal e tanto a humanidade como o planeta pereceriam.
Durante a Era da Noite, as forças destrutivas freqüentemente venciam as forças construtivas. Isso se refletiu no mundo físico sob forma de infortúnios, catástrofes e misérias de todos os tipos, prejudicando o bem-estar de pessoas aparentemente boas. Agora, entretanto, com o alvorecer da Nova Era, a natureza do mal será gradualmente evidenciada e perderá o seu poder. As forças Divinas conquistarão a supremacia e estabelecerão novas e benéficas condições sociais.
Uma das características das forças malignas é a sua persistência. Vencendo ou perdendo, jamais desistem. É justamente o que produz o contínuo aprimoramento e fortalecimento da parte construtiva. Na Nova Era, continuarão existindo forças negativas, mas estas terão pouco poder.
No que se refere à luta contra o mal, permitam-me insistir em dois pontos. Primeiro: não temam as forças das trevas. Segundo: não critiquem os outros como sendo instrumentos das forças malignas. Não podemos ter certeza de que o sejam e, ao tentar julgá-los, invadimos o domínio de Deus. Devemos usar a sabedoria e proceder de acordo com cada situação particular. Quando necessário, devemos retroceder e não avançar no caminho. Mesmo que o mal pareça triunfar durante algum tempo, acabará sendo derrotado.
Na Nova Era, quando as forças construtivas assumirem o controle total e tiverem desalojado as forças destrutivas, será concretizado o Paraíso na Terra.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”



CEDA PARA CONQUISTAR

“Seja flexível para conquistar” é uma regra de ouro. Pode ser difícil praticá-la, mas devemos treinar a nossa índole e educar a nossa mente nesse sentido. Em alguns casos, é preferível aparentar ignorância ou mesmo perder uma discussão. Qualquer possível humilhação ficará gravada apenas na mente e por um período temporário. Com o passar do tempo, a outra pessoa pode começar a compreender a verdadeira situação e mudar de atitude. Pode pensar: “Eis uma pessoa sincera”, começar a acreditar em você e até mesmo a admirá-lo. Tendo aparentemente vencido uma discussão, o seu adversário se torna inseguro por não fazer idéia do que você tem em mente. Assim, o derrotado se torna vencedor e é por isso que, às vezes, é preferível deixar que os outros persistam em suas idéias.
Tentar impor as nossas opiniões é uma psicologia inábil. Ainda que estejamos certos, não devemos desnecessariamente insistir em argumentos a nosso favor. Aprendendo a ceder em determinadas circunstâncias, acabaremos vencendo, porque nos ativemos ao que é justo e verdadeiro.
Algumas vezes, quando as pessoas se dedicam a algo importante, pensam que isso requer esforço, resistência e concentração. No entanto, quando opomos resistência, o nosso poder interno se restringe, ao passo que, quando assumimos uma postura descontraída, ele circula livremente. O mesmo princípio se aplica ao Johrei. Quanto mais relaxada mantivermos a mente e as mãos, mais sintonizados estaremos e mais eficiente será o Johrei.
Os grandes generais sabem como e quando retirar-se de uma batalha. Permanecer correndo risco desnecessário é uma tatica errônea e não constitui verdadeira coragem. O que importa é o resultado final.
Muitas pessoas obtêm resultados contrários à sua expectativa, porque o caminho do mundo é geralmente muito diferente do caminho da verdade.
Quando iniciei a Igreja Messiânica Mundial, costumava dizer aos membros que trabalhassem tão discreta e silenciosamente quanto possível. Alguns sugeriram que se fizesse propaganda na imprensa, mas nunca fiz muitas pessoas tendem a atingir os seus objetivos empregando os efêmeros sistemas materiais, assim como procuram nos remédios, alívio temporário para as enfermidades. Num trabalho verda-deiramente espiritual, devemos aspirar ao verdadeiro e eterno, e não ao falso e transitório.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”



SEJA UM BOM OUVINTE

Não subestime as pessoas, quando lhe falam”, disse um antigo filósofo chinês. Ele queria dizer que devemos ouvir com a mente aberta e não subestimar as idéias de uma pessoa antes de sabermos o que ela tem a dizer; que não devemos julgar pelas aparências. Às vezes, podemos aprender algo valioso com um operário analfabeto ou com um simples camponês.
Freqüentemente, ouvimos uma criancinha proferir uma verdade maravilhosa ou exprimir uma idéia original. Bergson, em seu livro “Intuição”, diz que as crianças são altamente intuitivas e que, muitas vezes, vão diretamente ao âmago da questão. Nas discussões entre mãe e filho, a verdade freqüentemente está do lado da criança.
Constitui para mim um dever ouvir as pessoas que trabalham sob minha direção e permitir, tanto quanto possível, que sigam os seus impulsos. Mesmo quando insistem num projeto absurdo, procuro aceitá-lo até certo ponto. Somente quando sinto que atitudes errôneas estão prejudicando a situação, é que me mostro inexorável. Há pessoas que receiam perder sua dignidade ou seu prestígio ouvindo os seus subordinados. Isso é um erro.
Mesmo quando alguém diz algo que pensamos ser inverídico, não convém rejeitá-lo imediatamente e insistir no nosso próprio ponto de vista, ou censurá-lo. Embora sabendo que a pessoa está mentindo, aparente não se perturbar. Isso é permitido, desde que sejamos sinceros e verdadeiros em nosso coração.
Às vezes, surge um vendedor de objetos de arte com uma imitação, esperando induzir-me a comprá-la. Ouvindo-o, logo encontro algo de útil e relevante em meio a suas obras falsificadas.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”



SENTIMENTO E REPUTAÇÃO

É do conhecimento de todos que o fato de se ter boa ou má reputação está relacionado ao destino do homem. Talvez nem possam imaginar o quanto influi no destino de uma pessoa o fato de confiarem nela, por ter boa fama, ou se acautelarem contra ela, por ter má reputação. Naturalmente, não há nada melhor do que se ter boa fama. E como isso tem grande importância também no âmbito da fé, falarei a respeito.
Satanás vale-se muito dessa situação, e a nossa Igreja vem sendo seu alvo até o momento. Seu método consiste em utilizar-se dos meios de comunicação, espalhando boatos para destruir a boa reputação de nossa Igreja. Ela sofre bastante com isso, no que se refere à sua expansão, motivo pelo qual não podemos nos descuidar. Principalmente em casos individuais, é preciso grande precaução.
Mais do que tudo, o homem é movido pelos sentimentos; portanto, mesmo que seja por algo mínimo, atingir seu sentimento é muito mais desvantajoso do que se pensa. Para que isso não aconteça, não devemos impor o nosso eu, isto é, precisamos ser tolerantes em relação às outras pessoas, entrando no ritmo de sua conversa, mesmo que elas estejam falando o que nos parece errado. Seja qual for a situação, nunca se deve pensar em ganhar, e sim em perder. O ditado “perder para ganhar” é muito significativo. Eu sempre me utilizo desse método, e os resultados são sempre os melhores. Entretanto, embora digamos que é preciso perder, existem ocasiões em que não se deve perder. Mas isso não vem ao caso, pois é muito raro. Se, em dez casos, a pessoa perder oito ou nove, sairá ganhando. Quando Cristo, prestes a ser pregado na cruz, disse: “Venci o Mundo”, creio que estava ensinando essa verdade. Exemplificando com a minha longa experiência, foi perdendo muitas vezes que eu consegui chegar ao que sou hoje. Todavia, os homens se esforçam ao máximo para ganhar, pensando sempre: “Não vou perder, jamais serei vencido”. Esse é um ponto em que eles precisam se corrigir.
28 de outubro de 1953



NÃO SEJA ODIADO

Já lhes falei que não devem odiar ninguém. Digo-lhes, também, que não devem ser odiados. Isso porque os maus pensamentos, o ódio, o ciúme, o desejo de vingança e outros sentimentos negativos chegam até nós através dos elos espirituais e nos atrapalham completamente. Ficamos mal humorados, perturbados e não podemos desempenhar corretamente nossas tarefas; nessas condições, o sucesso é impossível. Tomem, pois, o máximo cuidado.
Neste mundo, há muitas pessoas que não se incomodam de torturar o próximo e torná-lo infeliz. Apesar disso, são elogiadas pelo êxito que alcançam em suas profissões. Aqueles que procuram imitá-las, julgando ser esse o método certo para o sucesso, possuem vistas curtas.
Se o número dessas criaturas perversas aumentar, será difícil que o mundo melhore. O tempo nos revela, porém, que toda semente ruim produz mau fruto; os perversos serão infalivelmente destruídos.
Assim, para vivermos bem humorados, para os nossos trabalhos progredirem normalmente e para evitarmos grandes aborrecimentos, é preciso alegrar os nossos semelhantes, tornando-os felizes. Esse é um dos fundamentos da Religião. Quem age assim, merece ser qualificado de “inteligente”. Por isso costumo afirmar que os perversos são ignorantes. Esta é uma verdade eterna.
18 de julho de 1951



A AMPLA TOLERÂNCIA

A constatação de que o que é bom do ponto de vista “Shojo” é mau do ponto de vista “Daijo” e vice-versa, requer reflexão.
Objetivamente, a criatura de tipo “Shojo” pode chegar aos extremos limites da reflexão e do bom senso. Freqüentemente, é excêntrica e dogmática. Apressa-se em criticar os outros e classificar as coisas como boas ou más, enquanto as de tipo “Daijo” encaram as coisas de um ponto de vista bem mais amplo.
Sem o princípio horizontalmente equilibrado de “Daijo”, as pessoas de tipo “Shojo” podem confiar excessivamente em seu próprio discernimento e capacidade, e empenhar-se em seus empreendimentos, com grande entusiasmo e parcialidade. Podem mesmo esquecer que dependem do Poder de Deus e de Seu auxílio, o que as impedirá de serem realmente bem-sucedidas.
O mundo foi um exemplo de pensamento “Shojo” por ocasião das guerras mundiais. Todas as nações combateram desarrazoadamente, arriscando a vida de seus povos. O bem que os comandantes buscavam para as suas pátrias baseava-se na ambição e no amor-próprio. Eles se interessavam apenas por sua própria prosperidade, sem atentarem para os dos outros países.
Se as nações tivessem agido de acordo com o sensato ponto de vista “Daijo”, não se teriam envolvido numa guerra agressiva e teriam conquistado o amor e o respeito mundiais. Poderiam então gozar de paz e prosperidade. Somente o bem de amplitude mundial é duradouro.
Em contraste com o Amor Universal Divino, o amor do homem é limitado e, por vezes, decididamente nocivo.
Como as pessoas “Daijo” tendem a relacionar-se mais com os seus semelhantes, são freqüentemente vitoriosas, sem que para isso tenham de despender grandes esforços.
Compreendendo a diferença de pontos de vista entre o horizontal “Daijo” e o vertical “Shojo”, devemos conduzir ambos ao seu ponto central de equilíbrio, ou Izunomê.
Quando nos livramos do espírito crítico, e mostramos uma boa vontade envolvente, as pessoas se sentirão naturalmente atraídas por nós e desejarão cooperar conosco.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”



RESPEITE A ORDEM

O conhecido adágio “Deus é Ordem” deve ser lembrado como algo que exerce vital importância sobre tudo que existe.
Em primeiro lugar, observando o movimento de todas as coisas do Universo, verificamos que tudo se desenvolve dentro de perfeita harmonia. Tomemos como exemplo as estações do ano. Elas se repetem infalivelmente todos os anos, seguindo a mesma ordem: primavera, verão, outono e inverno. As flores desabrocham nesta seqüência: ameixeiras, cerejeiras, glicínias, íris... Assim, a Natureza nos ensina a ordem. Se o homem a desconhecer ou for indiferente a ela, nada lhe correrá bem. Os obstáculos serão freqüentes, resultando em confusão. Até hoje, no entanto, a maioria dos homens não têm respeitado a ordem, o que se pode desculpar pelo fato de não ter havido quem lhes ensinasse as más conseqüências desse desrespeito.
Vou expor, resumidamente, o que todos devem saber sobre o tema em questão.
Todos os fenômenos do Mundo Material são reflexos do Mundo Espiritual; ao mesmo tempo, os fenômenos do Mundo Material também se refletem no Mundo Espiritual. A ordem é o caminho e também a Lei. Perturbar a ordem, significa desviar-se do caminho; violar a Lei, é faltar à civilidade.
Na vida cotidiana, existem ordens que o homem deve respeitar. Entre os membros de uma família há diferenças de comportamento. Para nos sentarmos numa sala, por exemplo, devemos considerar como lugar de honra a parte mais elevada, onde se colocam objetos de adorno; faltando essa parte, o lugar de honra é o local mais afastado da entrada. Quando os membros de uma família ocupam os devidos lugares, sentando-se o pai próximo ao lugar de honra, depois a mãe, o primogênito, a primogênita, o segundo filho, a segunda filha, etc., cria-se um ambiente harmonioso. O desrespeito à Lei não trará boas
conseqüências, mesmo num regime democrático.
Suponhamos uma ponte sobre um rio, a qual só dá passagem para uma pessoa de cada vez. Se várias pessoas tentarem atravessá-la ao mesmo tempo, haverá confusão e todos se precipitarão no rio. É absolutamente necessário que as pessoas atravessem uma de cada vez, ou seja, é preciso que haja ordem.
Outro exemplo: quando recebemos visitas, as poltronas e os lugares variam de acordo com o grau de amizade e posição, o mesmo acontecendo com os cumprimentos. Se isso for observado, tudo correrá em perfeita harmonia e não se causarão impressões desagradáveis. Também há diferença de atitudes e diálogos entre moços, velhos e crianças. O essencial é causar sempre boa impressão ao próximo.
Em algumas famílias, os pais dormem no térreo, reservando o andar de cima para os filhos e empregados. Isso é um erro: nessas famílias, os filhos e os empregados tornar-se-ão desobedientes. Também a esposa deixará de ser dócil e submissa, quando dormir mais próximo ao lugar de honra do que o marido.
Falemos agora sobre as imagens religiosas.
Quem entroniza Deus ou Buda no térreo e dorme no andar superior, está colocando-os abaixo do homem. É preferível deixar de entronizá-los, porque, além de impedir as graças, isso constitui uma ofensa.
O mesmo se aplica ao Altar dos antepassados. Será uma grave ofensa colocar os descendentes acima dos antepassados, pois os fenômenos terrestres se refletem no Mundo Espiritual, destruindo a harmonia que deve ser mantida entre os dois mundos.
Este princípio também se aplica ao país e à sociedade. O maior problema é o conflito existente no setor industrial, entre patrões e operários. A administração da produção efetuada por estes últimos é o que há de mais reprovável, porque se afasta completamente da ordem.
Exemplifiquemos com uma indústria. Para administrá-la e desenvolvê-la, é preciso manter a ordem em tudo. O presidente deve assumir a direção geral; os membros da diretoria devem participar dos planos de maior importância; os técnicos se ocuparão com sua especialidade; os operários se esforçarão dentro do seu setor de trabalho. Se todos se unirem assim, em forma de pirâmide, a empresa não deixará de prosperar. Todavia, se a administração for efetuada pelos operá¬rios, a pirâmide virará de cabeça para baixo, provocando, infalivelmente, a sua queda. Desse modo, o conflito entre patrões e operários ocasiona a destruição de ambas as classes, o que representa uma grande tolice. É necessário, portanto, que a administração seja feita pacificamente, através do entendimento entre as duas classes, e respeitando-se a ordem. Não há outro meio para estabelecer a felicidade de ambas.
Creio que o primeiro passo para a prosperidade consiste em eliminar do mundo industrial a desagradável palavra “conflito”. O comunismo surgiu devido à administração excessivamente egoísta dos capitalistas, que vinham explorando a classe operária. Hoje, entretanto, ele caiu no extremismo, em conseqüência das reações que causou no mundo industrial, motivando o declínio das indústrias e da produção. Espero que tomem consciência disso o quanto antes, que despertem para o espírito de auxílio mútuo e se esforcem para a construção de um novo mundo. Eis o sentido das minhas palavras: “Respeite a ordem.”
A realização de atividades foi sempre conhecida pelo termo “keirin” (administrar, gerir), o que, em última análise, significa “girar a roda.” Os líderes correspondem ao eixo de uma roda. Quanto mais centralizado ele está, melhor ela gira. A percepção do seu girar é pequena perto do eixo e vai aumentando no sentido da periferia. Quanto mais afastado do centro está o eixo, mais difícil é o girar da roda.
De acordo com o exposto, isso significa o seguinte: o centro é ocupado por poucas pessoas; o número destas aumenta à medida que a distância em relação ao centro vai se tornando maior. O trabalho mais pesado, num automóvel, cabe aos pneus, que constituem a parte externa e têm contato direto com o chão. Por aí, devem perceber o que vem a ser a ordem. Portanto, para que a empresa progrida, basta que os líderes permaneçam no interior, trabalhando apenas com a inteligência e distribuindo as ordens.
25 de janeiro de 1949


ORDEM

Diz um antigo ditado: “Deus é ordem”. Há, também, um provérbio chinês que afirma: “Entre marido e mulher existem diferenças, e há ordem hierárquica entre velhos e jovens”. Concordo plenamente com ambos.
É surpreendente a desordem que reina ultimamente na sociedade. Quando as coisas não correm normalmente, a causa é a falta de ordem, principalmente tratando-se de problemas humanos.
Ordem e educação estão estreitamente relacionadas e isso exige especial atenção. Observemos a Grande Natureza. Nela tudo segue uma ordem predeterminada: o ano está dividido em quatro estações – primavera, verão, outono e inverno; os dias alternam-se com as noites; as plantas se desenvolvem obedecendo uma ordem: as flores da cerejeira jamais desabrocham antes das flores da ameixeira.
Podemos citar vários exemplos.
Não adianta fazer romaria às divindades depois de tratar de qualquer assunto, pois, nesse caso, a divindade foi posta em segundo plano. O mesmo se deve dizer em relação à ministração ou recebimento de Johrei. Quando se obedece à Lei da Ordem, o resultado é notável.
Tenho observado freqüentemente pessoas que constroem casas assobradadas e reservam para seus filhos os aposentos do primeiro andar, ficando com os do térreo. Com esse procedimento, os filhos tendem a desobedecer aos pais, pois ocupam uma posição superior. O mesmo se dá no caso de patrão e empregado. É preciso muito cuidado nesses assuntos.
Pode parecer insignificante, mas a disposição das pessoas à mesa tem grande influência. Em ordem de importância, o chefe da família deve ocupar o lugar de honra; a esposa, o segundo; depois virão sucessivamente o primogênito, o segundo filho, a primeira filha, etc. O ambiente se faz harmonioso quando os lugares são determinados de acordo com a ordem. Do contrário, surgem fatos desagradáveis. Muitas vezes participei de reuniões cujo ambiente carregado podia ser logo percebido por quem chegasse. Verifiquei que geralmente isso acontecia quando a disposição dos lugares não obedecia à ordem.
Para se estabelecerem os lugares, devem ser considerados de ordem inferior aqueles que ficam próximos à entrada, e de honra, os que estão mais afastados. Sabemos que o lugar de maior honra é o que fica em frente ao “toko-no-ma” (4). Portanto, quando se tratar de ordem nas reuniões, é preciso levar em consideração o “toko-no-ma” e a entrada. Tudo o mais deve ser decidido com bom senso.
Relacionando o lado direito e o lado esquerdo, vemos que este é o mais importante, pois representa a parte espiritual; o lado direito a ele se subordina, pois representa a parte material (note-se que o braço direito é o mais utilizado).
30 de agosto de 1949
AMOR CORRETO E AMOR INCORRETO

Dizem que a fé é amor, mas existem vários tipos de amor: amor correto, amor incorreto, amor amplo, amor limitado, etc. É por isso que os que possuem fé não podem deixar de ter um entendimento correto sobre o amor.
Em primeiro lugar, darei exemplos de amor correto. Nele se inclui o amor no lar – entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos, etc. – e o amor relativo às demais pes¬soas, tais como amigos, parentes ou conhecidos. Por mais que esse tipo de amor aumente, não há nenhuma censura a fazer. O problema é o amor incorreto.
Obviamente, o amor incorreto é o oposto do anterior: quebra a hamonia entre marido e mulher, esfria as relações entre pais, filhos e irmãos, causa desentendimentos entre amigos e parentes, distancia as relações, etc. Isso é muito freqüente na sociedade, sendo causado pelo amor incorreto, ou pelo amor escasso.
Essa é uma classificação genérica do amor correto e do amor incorreto. Entretanto, entre esses tipos de amor, o que talvez precisa ser mais analisado é o amor-paixão. Como já tive oportunidade de explicar, mesmo nesse tipo de amor existe o correto e o incorreto. Naturalmente, o amor de jovens puros, que objetivam o casamento, é um amor-paixão correto. Mas o amor-paixão muito freqüente na sociedade, motivado por um impulso momentâneo, fútil, isto é, amor intempestivo como uma febre tropical, é amor incorreto. Em suma, o amor-paixão não embasado na Inteligência Superior (5) é amor incorreto. Se ele progride demais, invariavelmente gera situações trágicas. Isto porque, apesar de a pessoa ter esposo ou esposa, o amor-paixão é dirigido para terceiros. Existem pessoas que acabam caindo num destino catastrófico para o resto de seus dias e até perdem a vida por causa de um prazer de pouca duração. É por isso que devem acautelar-se ao máximo, pois não há nada que cause tão grandes prejuízos como esse tipo de amor-paixão.
Fiz uma crítica bem simples a respeito do bem e do mal no amor-paixão. Agora desejo explanar sobre a amplitude do amor. Como eu disse anteriormente, o amor entre familiares e o amor pelas coisas que nos rodeiam é amor de caráter “Shojo” (restrito), que pertence ao grupo do amor-próprio, sendo mais freqüen¬te nas pessoas comuns. É inerente ao tipo comum das pessoas boas, existindo, também, nos agnósticos; quanto a estes, não te¬¬nho nada de especial a comentar, mas, em se tratando de ver¬dadeiras pessoas de fé, é totalmente diferente. O amor dos que têm fé é “Daijo”, ou seja, altruísta. Este amor “Daijo” ampliado ao máximo é o amor à humanidade, é o amor ao mundo.
Devemos atentar para o fato de que os japoneses, até o fim da Segunda Guerra Mundial, não conheciam o verdadeiro amor “Daijo”. Para eles, a mais ampla e elevada forma de amor era o amor à pátria. Como todos sabem, seu maior objetivo consistia em dar a vida por ela, mas, como se tratava de amor “Shojo”, resultante da crença de que isso era o que havia de mais importante, causou a lamentável situação em que o Japão se encontra atualmente. Portanto, como o amor limitado a um povo ou a uma classe não é verdadeiro, mesmo que se prospere por um momento, inevitavelmente acaba-se fracassando. Conseqüentemente, como eu disse antes, por mais que as pessoas se esforcem com um objetivo limitado, afirmando pertencer a esta ou àquela ideologia, não há possibilidade de grande sucesso. Tratando-se de ideologia, só o cosmopolitismo é verdadeiro. Nesse sentido, para que a religião seja aceita como a verdadeira salvação, ela também deve ser de caráter universal. É por esse motivo que a nossa Igreja teve seu nome completado com a palavra Mundial.
18 de outubro de 1950



PESSOAS MEDROSAS

Observando os trabalhos que estou realizando atualmente, as pessoas sempre se mostram espantadas, dizendo que me acham com muita coragem e classificando de grandioso tudo que faço. Concordo plenamente com elas. Como meu objetivo é salvar toda a humanidade e transformar este mundo em paraíso, construindo um mundo sem doença, pobreza e conflito, talvez, para as pessoas comuns, isso não passe de exagero e fantasia de minha parte. De fato, eu também me espanto por ver que estou planejando coisas tão grandiosas e, mais ainda, pela convicção que tenho de poder concretizá-las.
Entretanto, quando eu era jovem, nunca cheguei a pensar em tais coisas. Dos quinze aos vinte anos mais ou menos, era mais tímido que qualquer outra pessoa. Sem nenhum motivo, tinha receio de me encontrar com desconhecidos; principalmente quando achava que a pessoa era um pouco mais importante, nem conseguia falar direito com ela. Diante de moças, eu enrubescia, meus olhos ficavam perdidos e eu nem ao menos conseguia olhar para o rosto delas ou falar-lhes. Como fiquei pessimista por causa disso! Conseqüentemente, muito duvidei se conseguiria integrar-me na sociedade como cidadão adulto. Naquela época, quando me via frente a qualquer pessoa, sempre tinha a impressão de que ela era mais inteligente e importante que eu. Todavia, comparando o que eu era com que sou atualmente, eu mesmo estranho a enorme diferença.
Escrevi tudo isso levado pelo desejo de que, lendo minhas palavras, os jovens tímidos, tão freqüentes na sociedade, ganhem novo alento e passem a enfrentar a vida com maior otimismo e esperança.
30 de agosto de 1949



A IRRESPONSABILIDADE DOS SUICIDAS

Todos sabem que sempre existiram suicidas, mas parece que, ultimamente, o número deles é maior. Sendo assim, podemos perceber que não há relação entre suicídio e progresso da cultura.
Creio que os suicídios ocorridos no Japão têm motivos bem diferentes dos suicídios ocorridos em outros países. A nosso ver, o que leva os estrangeiros a esse ato extremo é o sofrimento espiritual, mas no Japão parece não ser assim.
Na época do feudalismo, havia motivos espirituais muito nobres para o suicídio. Muitos sacrificavam a vida como expressão de desculpas, como forma de advertência ao senhor feudal ou como prova de inocência. Por essa razão, chegava-se a ter certo respeito pelos suicidas, às vezes levando-se isso ao exagero, como aconteceu no caso do General Nogui (1849-1912), que foi consagrado como ser Divino.
Ultimamente, entretanto, podemos dizer que quase não existem motivos como esses. O estudante e agiota Yamazaki, por exemplo, que se suicidou não faz muito tempo, por um momento fez todo mundo vibrar com o sucesso econômico que obteve através da agiotagem, mas acabou num beco sem saída e, talvez para fugir do sofrimento ou então para se desculpar, não viu outro recurso a não ser o suicídio. Analisando bem, foi um ato de extrema irresponsabilidade. Depois de ter causado grande prejuízo ao próximo, ele fugiu para o Mundo Espiritual sem ao menos pagar um pouco pelo mal que fez. É o cúmulo. Pode-se até dizer que foi um ato condenável. Na verdade, Yamazaki deveria ter feito tudo para viver o mais possível e pagar, ainda que em pequena parte, o prejuízo que causou. Se não o fez, pode até ser chamado de covarde. No caso tão comentado, atualmente, do suicídio de um literato, também não há como fugir da acusação de irresponsabilidade. Talvez ele tenha praticado aquele ato para acabar com o sofrimento causado pela sua própria imoralidade; mas o caso é que sua morte causou muita infelicidade, muitos problemas aos seus familiares e às pessoas de suas relações.
Numa parte da sociedade, existem pessoas que até elogiam esse tipo de suicidas, mas podemos afirmar que elas estão criando um mal, uma espécie de pecado. Como prova, citamos o exemplo do Sr. Hidemitsu Tanaka, que se suicidou há pouco tempo em frente ao túmulo do Sr. Dazai. Talvez ele tenha feito isso pela admiração que este último lhe inspirava. Mas não foi apenas ele. Mais tarde, do mesmo local de onde o Sr. Dazai se jogou – no alto do Rio Tamagawa – dezenas de pessoas se atiraram também, o que nos deixa pasmados. Também podemos citar o caso de Missao Fujimura, que há vários anos se atirou da cascata de Kegon. Ainda hoje muitas pessoas seguem o seu exemplo, o que é uma prova evidente daquilo que estamos dizendo.
A seguir, falarei sobre a intoxicação por meio de drogas como a heroína e a cocaína, uma das principais causas dos suicídios da atualidade. O caso requer uma grande reflexão. É preciso fazer as pessoas entenderem perfeitamente que, embora elas comecem tomando pequenas doses, os narcóticos vão lhes custar a vida, no futuro. Atualmente, as autoridades estão percebendo a gravidade do problema e começaram a fazer proibições, infelizmente tardias.
Aconselho especialmente aos jornalistas que não façam o menor elogio ao suicídio; pelo contrário, frisem categoricamente que ele é um ato da maior irresponsabilidade e covardia. Na verdade, do ponto de vista religioso, não se deve criticar os mortos; mas, como eu estou advertindo sobre o mal representado pelo suicídio com o objetivo de evitar novos suicídios, creio que os espíritos daqueles que praticaram esse gesto também ficarão satisfeitos.
14 de janeiro de 1950





AGUARDAR O TEMPO CERTO

A minuciosa observação dos vários setores sociais mostra como é grande o número dos fracassados.
Se o fracasso representasse sofrimento apenas para o próprio indivíduo, este poderia resignar-se, atribuindo a culpa à sua inexperiência e má sorte. Mas não é assim; a família também é atingida, há prejuízo para parentes e amigos, e o fato isolado acaba constituindo uma espécie de mal social. Logicamente, a pessoa não tinha intenção de prejudicar ninguém; no entanto, em decorrência de seu fracasso, muitas outras foram prejudicadas.
O problema não deve ser menosprezado. É preciso examiná-lo profundamente, pois, quase sempre, sua causa reside em fatores que passaram despercebidos.
De início, a pessoa concebe um plano, prepara-o cuidadosamente (pelo menos imagina que está agindo assim), mas, quando se entrega à execução da obra, as coisas não correm como pensava. Começam a surgir dificuldades e obstáculos, que lhe impedem o discernimento e descontrolam suas perspectivas de futuro. Essa é a trajetória habitual dos que fracassam. Vejamos a causa de sua derrota.
Podemos resumi-la numa frase: eles não levaram em consideração o tempo. Este, de modo geral, é um fator absoluto. Flores, frutos, produtos agrícolas, tudo tem seu tempo certo. Mesmo que as condições sejam favoráveis, se não forem levadas em conta as exigências da estação, isto é, do tempo, não haverá bons resultados.
As flores silvestres desabrocham na primavera, porque seus bulbos são plantados no outono; as flores dos jardins nos encantam do verão ao outono, porque seus bulhos e sementes são plantados na primavera.
Os frutos também têm sua época de amadurecimento. Não podemos sentir o seu sabor enquanto estão verdes; quando bem maduros, são deliciosos. Mesmo os produtos agrícolas, têm seu tempo de amanho, semeadura e transplantação. E devem estar de acordo com a terra e o clima.
Como vemos, a Grande Natureza ensina ao homem a importância do tempo. Em seu estado original, ela é a própria Verdade, e por isso serve de modelo a todos os projetos do homem. Eis a condição vital para o sucesso.
O Johrei, a Agricultura Natural e outros princípios preconizados por mim, praticamente não fracassam; eles alcançam os objetivos almejados porque se baseiam na Lei da Natureza.
Nunca me afobo quando planejo algo. Encaro o assunto com objetividade, examinando-o sob todos os ângulos possíveis, e ponho-me a refletir calmamente. Só me entrego aos preparativos indispensáveis, após me convencer de que o plano é correto e útil à humanidade em todos os aspectos e possui sentido duradouro.
Acontece que a maioria das pessoas não têm paciência para esperar. Lançam-se à obra prematuramente, provocando desequilíbrio entre o projeto e o tempo. Por se afobarem, aumentam esse desequilíbrio, e daí sobrevém o fracasso. Portanto, em todos os empreendimentos, o essencial é ter paciência para aguardar a chegada do tempo exato. As coisas possuem, infalivelmente, uma ocasião propícia. Com toda razão dizem os velhos provérbios: “Se esperarmos, teremos bom tempo para navegar”, “A sorte se espera deitado” e “Mire cuidadosamente para acertar o alvo”.
Muita gente se impacientou com meu sistema. Houve quem me apresentasse idéias e planos que, às vezes, eu prometia realizar. Como tardasse a executá-los, as pessoas reclamavam ou estranhavam. Quanto a mim, estava à espera do tempo adequado.
Os conhecidos aforismos “Agarre a oportunidade” e “Não perca a ocasião”, confirmam o que estou dizendo.
Sentimos que estamos diante da ocasião propícia, quando, preenchidas todas as condições, passamos a sentir um forte impulso para executar o plano imediatamente. Tudo se processará, então, com facilidade, devido ao amadurecimento do tempo. Aguardando o tempo certo, estaremos poupando esforços e todas as coisas correrão bem. Em resumo, devemos refletir bem antes de agir. Por exemplo: se algo impede que uma pedra role morro abaixo, mas tentarmos empurrá-la, despenderemos muita força. Entretanto, se soubermos esperar pacientemente, o obstáculo irá sendo vencido pelo peso da pedra. Com o tempo, até o empurrão de um dedo a fará precipitar-se. É o que acontece com a oportunidade.
“Se o rouxinol não canta, esperarei até que ele cante”. Esta frase foi dita satiricamente por Ieyassu Tokugawa, o fundador da dinastia Tokugawa, a qual governou o Japão durante trezentos anos porque ele soube dar tempo ao tempo.
Creio que o que dissemos é suficiente para compreenderem a importância do tempo. Nao Deguti escreveu: “Com o tempo nem Deus pode”. Isso resume admiravelmente a verdade da questão.
25 de junho de 1949



TEMPO É DEUS

Tudo que existe, inclusive o que se relaciona ao homem, é regido pelo Tempo. A delimitação do apogeu e da decadência subseqüente, das mudanças históricas, das definições do bem e do mal, da justiça e da injustiça, tudo está subordinado a ele. Por esse motivo, o que agora é um bem daqui a alguns anos poderá ser um mal, e aquilo que hoje é considerado verdade poderá ser desprezado amanhã, por tornar-se falso. O passado nos mostra que as coisas que atualmente estão no apogeu um dia infalivelmente entrarão em decadência. Assim, pode-se dizer que não existe verdade nem mentira absolutas, havendo mesmo um antigo provérbio que afirma que a justiça e a injustiça são como se fosse uma coisa só. Ambos conceitos, sem qualquer sombra de dúvida, são verdades.
Antes do término da Segunda Guerra Mundial, acreditava-se que não havia nada superior ao amor e à lealdade à Nação e ao Imperador. Mas como vivem, presentemente, aqueles japoneses que fizeram da vida um brinquedo? O resultado foi completamente contrário ao que se esperava: eles vivem agonizando sob trágico destino, de modo que o povo deve ter compreendido o quanto eles estavam errados.
É claro que a reviravolta ocorrida no fim da guerra foi obra do Tempo. A História não muito remota nos mostra outros exemplos. Com o advento das inovações trazidas pela Era Meiji, todos os senhores feudais, assim como seus serviçais e outros elementos da Era Tokugawa perderam suas posições. Até o cargo de ministro de Estado foi assumido por um homem do povo, quase desconhecido, o que lembra muito a situação atual. Mas como deverá ser encarada a decadência das classes privilegiadas, como as famílias imperiais, os nobres e os milionários? Naturalmente, como obra do Tempo. Segundo os ensinamentos da fundadora da Igreja Oomoto, “nem Deus pode vencer o Tempo”. Esta frase encerra uma profunda sabedoria e diz tudo. Por isso pensamos não haver nenhuma inconveniência em afirmar que o Tempo rege tudo o que existe sobre a Terra.
Pelas razões aqui expostas, não posso deixar de pensar que os homens precisam ter muito mais interesse por essa categoria absoluta denominada TEMPO.
25 de junho de 1949



A ALEGRIA, O TEMPO E A ORDEM

Todo trabalho realizado com espírito de alegria é feito com facilidade e correção. Quando empreendemos alguma tarefa sem disposição, não só mal percebemos o que estamos fazendo como também pouco progresso alcançamos. Faço o meu trabalho com espírito de recreação com alegria e sempre com disposição. Espero que os membros da nossa Igreja adotem esse mesmo espírito em seus empreendimentos. Ele é bastante conveniente.
Muitas são as pessoas que nada vêem de errado ao expenderem grandes esforços naquilo que fazem. Elas acham natural e chegam mesmo a se envaidecer. Cada vez que trabalhei sem estar integrado completamente na tarefa, disse a mim mesmo, ao notar que as coisas começavam a parecer erradas: “É porque tenho tentado trabalhar arduamente”. Então, parava, e fazia qualquer outra coisa. O exagerado esforço raramente dá bons resultados. Quanto mais suave e facilmente procedermos, maior virá a ser a nossa eficiência. O mesmo acontece na ministração do Johrei. Quando o Johrei for ministrado com espírito de alegria, os seus resultados serão bons. E quanto melhores forem os seus resultados, mais felizes nos sentiremos.
Outro fator importante a considerar é o tempo. Nenhum projeto deve ser empreendido prematuramente. Se nos parecer que o tempo adequado ainda não chegou, devemos saber esperar, pois a despeito de sua possível importância, o projeto não poderá funcionar facilmente.
Ainda um outro aspecto que muito afeta o resultado de nossos empreendimentos é a ordem. Podemos iniciar um plano supondo que tudo já foi bem considerado e que a sua realização não terá impedimento. Mas, no entanto, contrariando a nossa expectativa, poderemos encontrar obstáculos.
Procurando refletir sobre o caso, verificaremos não termos procedido na devida ordem. Desde que a Lei da Ordem seja obedecida, tudo marchará suavemente.
A Inteligência da Percepção Verdadeira (Tie Shokaku) é da maior importância, pois ela afeta grandemente o resultado de todo empreendimento. Aqueles que alcançaram tal percepção vão rapidamente ao ponto vital das coisas.
Consideremos o Johrei. Quando os seus resultados não são encorajadores, o motivo deve repousar na postura com a qual ele foi ministrado ou recebido. Talvez o espírito de prece esteja faltando naquele que o ministrou. Talvez esteja sendo ministrado a uma pessoa cuja família se opõe ao recebimento do Johrei. Então, a atuação da Luz será mais fraca, pois a atitude de recusa, mesmo se apenas uma pessoa, pode modificar os seus resultados. Os elos espirituais que ligam os membros de uma família sempre são fortes e exercem poderosa influência.
Depois que o correto discernimento é atingido, os verdadeiros motivos das coisas que acontecem são projetados na mente da pessoa, como um espelho claro e límpido.
O Johrei e os Ensinamentos constituem o melhor caminho para a limpeza e clareza do espelho da mente. Muitas vezes, a pessoa, para a sua surpresa, na leitura destes Ensinamentos, vem a encontrar uma profunda sabedoria e a receber uma nova inspiração. Isto é devido ao fato que, inicialmente, o espelho de sua mente estava enevoado, mas à medida que o seu corpo espiritual for sendo purificado, o significado mais profundo dos Ensinamentos emerge.
Extraído do livro “Os Novos Tempos”



A PARÁBOLA DA ESPADA

Antigamente, para se fazer uma boa espada, era necessário esquentar o aço até a incandescência, batê-lo com martelo, sobre uma bigorna, e, a seguir, colocá-lo na água. Repetia-se várias vezes essa operação, isto é, caldeava-se e batia-se o aço em brasa, mergulhando-o, depois, na água.
O interessante é que esse princípio também se aplica à vida humana. A divulgação da nossa Igreja, com o decorrer do tempo, encontrou várias críticas e obstáculos, isto é, contratempos e ataques, para, em seguida, receber elogios e louvores. Experimentamos, portanto, do fogo escaldante ao mergulho na água fria.
Muitas vezes me perguntam: “Por que ocorrem fatos tão contrastantes?” Para essas perguntas eu dou como resposta o exemplo do caldeamento da espada, e as pessoas compreendem bem.
Desde os tempos mais remotos, quem executa uma obra fora do comum não só recebe louvores, mas também perseguições, oriundas do despeito. É nessa luta, porém, que reside o mérito de alcançarmos fortalecimento. É como a espada, que só adquire todas as qualidades graças à alternância do caldeamento e esfriamento e às fortes marteladas sobre a bigorna. Analisando sob o aspecto religioso, significa que Deus impõe maior sofrimento a quem tem maior missão, o que não deixa de ser motivo de alegria.
1949



BECO SEM SAÍDA

Tanto os descrentes como os religiosos vivem a falar em crise. Isso demonstra que eles desconhecem a realidade das coisas.
Se é a crise que abre caminho para o progresso, ela deixa de ser crise. Podemos compará-la à pausa para tomar fôlego, na corrida, ou aos nós do bambu. As varas do bambu se mantêm firmes devido à formação de nós no curso de seu desenvolvimento; se lhes faltassem nós, não apresentariam sua conhecida resistência. Quanto mais nós tem o bambu, mais forte ele é.
A natureza é sempre um bom exemplo. Observá-la minuciosamente facilita a compreensão da maioria das coisas.
Falávamos em crises que surgem naturalmente. Entretanto, existem muitas pessoas que entram em crise por falta de sabedoria e de capacidade para prever o futuro. Elas criam para si mesmas crises artificiais; ficam desnorteadas quando entram num beco sem saída. Aconselho que todos atentem bem para este assunto, porque terão nele boas inspirações nos momentos críticos. Basta descobrir a falha que motivou a crise.
O homem precisa polir constantemente a sua inteligência. É por isso que os Ensinamentos devem ser lidos tantas vezes quanto possível.
29 de outubro de 1952



DÚVIDA

A palavra “dúvida” não soa muito bem aos nossos ouvidos. Entretanto, representa o que há de mais importante. Com efeito, a dúvida pode ser considerada a mãe da civilização, pois foi ela que deu origem às novas filosofias, às novas doutrinas, assim como também à Ciência. O chinês Chu-tzu disse: “A dúvida é o princípio da crença.” De fato, entre as muitas palavras que, desde tempos antigos foram ditas a esse respeito, estas são bem significativas.
Eis alguns exemplos de dúvida: Por que razão a Igreja Messiânica Mundial, uma religião nova, expandiu-se tanto em tão pouco tempo? Por que será que acontecem os maravilhosos milagres que são relatados nas Experiências de Fé? Como se explica que a construção do protótipo do Paraíso Terrestre, cujo grandioso plano é absolutamente inédito, esteja conseguindo dar passos cada vez mais firmes?
É natural que surjam semelhantes dúvidas; contudo, duvidar apenas não significa nada. Se as pessoas se dispõem a encontrar a chave desses mistérios, aí sim, a dúvida se torna realmente válida, pois, com tal procedimento, elas entenderão a Verdade e aumentarão seu discernimento. Aqueles que sempre têm dúvidas são pessoas progressistas, e seu futuro é brilhante. Existem, porém, alguns que não têm sorte e que, embora sintam dúvidas, não encontram o lugar onde lhes possa ser mostrada a Verdade. Por essa razão, ficam perdidos a vida inteira, acumulando dúvidas em cima de dúvidas. Podemos dizer que isso acontece com a maioria das pessoas, e entre elas deve haver algumas que fazem pouco caso das verdades pregadas pela nossa Igreja, deixando-as passar despercebidas. São criaturas infelizes.
Ao pensar em todos aqueles que, cheios de dúvidas, chegaram à Igreja Messiânica Mundial e estão sendo salvos, vivendo atualmente banhados de alegria, concluímos que nada é mais construtivo que a dúvida. Assim, creio que puderam entender que, se o homem não tiver capacidade de duvidar, ele é um ser imprestável. Portanto, é necessário ter a coragem de esclarecer as dúvidas.
21 de março de 1951


LIBERTAÇÃO

Fala-se em libertação, mas não é fácil defini-la como algo bom ou mau. De acordo com a idéia geral, libertar-se significa sair de um estado de confusão e obter Iluminação, desapegar-se, ou ter desprendimento. Expressão muito usada no budismo, soa como fuga ou isolamento, e é um conceito característico dos orientais.
Em termos de prática cotidiana, há uma redução da atividade material à medida que aumenta a Iluminação. Isto é, perde-se o espírito de competição e os países entram em decadência. Exemplo disso é a Índia.
Geralmente, o homem tem entusiasmo pela vida graças à ilusão, mas o excesso de ilusões é perigoso. A resignação enfraquece o ritmo das atividades, mas a falta de resignação também gera tragédias, principalmente quando se trata do relacio¬namento amoroso. Portanto, a renúncia total é pouco aconselhável, porque elimina o sabor da vida. A pessoa se torna solitária, vive como se fosse um corpo sem alma.
Refletindo sobre o que acabamos de expor, logo percebemos que todo exagero é prejudicial. É bom ter noção de limites. Este mundo é realmente difícil e interessante; doloroso e agradável. Mal podemos distinguir as fronteiras da alegria e do sofrimento.
Creio que o homem deve se desapegar no momento adequado, e insistir quando o caso merece ser levado adiante. Quando procura forçar a situação, a pessoa fica indecisa, e esta indecisão mostra que ainda não é o momento propício e que é preciso esperar o tempo certo, de acordo com o tempo, circunstância e nível. O fundamental é saber ceder às circunstâncias, descobrindo os meios mais convenientes de agir. Isso exige Inteligência Superior. Ela é que gera a capacidade de correto discernimento, a qual aumenta na medida em que diminuem as máculas do espírito.
O essencial, portanto, é eliminar as máculas espirituais, o que requer sinceridade. E a sinceridade nasce da fé. Aquele que aceitar e praticar este princípio, será considerado homem íntegro.
25 de janeiro de 1951
INSTINTO E ABSTINÊNCIA

Segundo a tese do famoso filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o ser humano possui, desde o nascimento, vários instintos que lhe é quase impossível dominar, parecendo uma predestinação à qual ele está sujeito. À primeira vista, a teoria nos satisfaz; entretanto, explicada apenas nesses termos, ela seria uma forma de admitir a imoralidade, o que é um pensamento um tanto perigoso. Os intelectuais poderão admiti-la como tese digna de estudos, mas nós, religiosos, de forma alguma poderemos aceitá-la.
Existem teorias completamente contrárias à de Nietzsche, as quais vêm sendo praticadas desde épocas antigas. Algumas religiões, por exemplo, têm uma visão pecaminosa sobre os instintos. Por esse motivo, seus seguidores fazem abstinências extremamente rigorosas, achando que esse sofrimento é uma prática sagrada e até um meio de aprimoramento pessoal. Quanto a nós, não só discordamos de tal prática, como também achamos que as religiões que a adotam não se integram na sociedade, permanecendo isoladas. Entre os mais expressivos exemplos desse tipo de Fé, podemos citar o islamismo, o bramanismo da Índia e o puritanismo cristão. No Japão ainda existem algumas religiões com essas características, mas poucas.
Comparando a tese de Nietzsche com a das religiões citadas – teses que se opõem entre si – não podemos optar por nenhuma, pois elas tendem para o extremismo. Parece-nos muito fácil perceber esse erro, mas a maioria das pessoas não consegue percebê-lo, ou não o leva em consideração. Em relação a isso, Deus nos indica um rígido padrão. É a “Teoria do Caminho do Meio”, de Confúcio. Como tenho feito muitas explanações sobre o assunto, enfocando-o sob as mais variadas formas, creio que os fiéis já devem conhecê-lo. Todavia, como disse aquele filósofo, “falar é fácil, fazer é difícil”. A “Teoria do Caminho do Meio”, em verdade, é uma das bases que constituem o verdadeiro caminho da Fé. A Iluminação pregada por Sakyamuni também está ligada a ela. Vou procurar explicá-la da maneira mais simples possível.
Em primeiro lugar, darei um exemplo que pode ser facilmente compreendido, tomando por termo de comparação as estações do ano. Ninguém gosta do rigoroso frio do inverno nem do calor excessivo do verão, mas todos acham extremamente agradável a temperatura moderada da primavera e do outono. É natural, portanto, que, nessas estações, as pessoas sintam alegria. Como ilustração, direi apenas que, desde seus primórdios, o budismo realiza uma atividade muito importante nessa época do ano – o “Higan-E”– porque a temperatura está mostrando o estado real de “Gokuraku Jodo”, o mundo puro e paradisíaco dos budistas. Mas deixemos isso de lado. O que eu estou querendo falar é sobre o mundo em que vivemos. Nele também é imprescindível evitar os extremos e os excessos. A verdade, porém, é que o homem tem propensão a optar por um lado ou pelo outro, o que é um comportamento errado. A causa dos fracassos geralmente reside nisso. Há coisas, no entanto, que precisam ser decididas, mas sua escolha e dosagem são pontos realmente difíceis. Falando com mais profundidade, quando a pessoa pensa em não decidir, na verdade já está tomando uma posição. Por conseguinte, não podemos fazer definições nem deixar de fazê-las, mas nem por isso devemos abster-nos de ficar no meio-termo. É uma situação bastante ambígua, entretanto é a rigorosa Lei Divina; é ela que torna o mundo interessante. Com isso, quero dizer que as pessoas precisam alcançar o estado espiritual de “livre adaptação à situação do momento”, isto é, elas não devem prender-se a nada, por motivo nenhum.
Com a política e as idéias contemporâneas ocorre o mesmo. Os erros nascem das posições definidas – esquerda ou direita, capitalismo ou comunismo. Com essa definição, está se estabelecendo um limite e, decorrência disso, os choques serão inevitáveis. Algo que hoje parece insignificante, um dia poderá dar origem a desentendimentos. É esta, portanto, a razão da existência de conflitos em toda parte. Mesmo nas relações internacionais, os desentendimentos não têm fim. Esses choques foram inevitáveis até hoje porque graças a eles é que a cultura material progrediu. Contudo, uma vez que daqui em diante a situação será diametralmente oposta, é necessário haver uma mudança de pensamento.
A era da verdadeira civilização está se aproximando; assim, é preciso caminharmos tomando como padrão a temperatura do “Higan-E”, a festa budista. Esta é uma das características básicas da Igreja Messiânica Mundial.
24 de dezembro de 1952



ABSTINÊNCIA

A Natureza e tudo que nela existe, foram feitos para o homem: as flores da primavera, os bordos do outono, o cantar dos pássaros e dos insetos, a beleza das montanhas e dos lagos, as noites de luar, as fontes de águas termais... Pensemos no porquê de tudo isso.
Que poderá ser senão a Providência Divina, proporcionando alegria aos homens? Belíssimos cantos, bailados, obras literárias e artísticas em geral, enchem de alegria seus realizadores, como também seus ouvintes ou apreciadores. Alimentos deliciosos, primorosas construções arquitetônicas, jardins, vestimentas, além de suprirem as necessidades da vida humana, contêm elementos para realmente nos comprazer. O corpo se nutre e a vida é preservada com os alimentos que saboreamos. Se as nossas roupas e residências servissem unicamente para o indispensável, nunca iriam além de um aspecto vulgar. Na geração dos filhos, também, visa-se algo mais que uma simples necessidade.
Desde que o Altíssimo concedeu ao homem o instinto para alegrar-se com a Natureza e com tudo o que ela lhe possa proporcionar, devemos aceitar esse prazer. A abstinência que nega tal alegria e contenta-se com o mínimo necessário para a subsistência, vai contra as graças de Deus.
Por outro lado, a pobreza do amor ao próximo entre os homens privilegiados leva-os a julgar que os prazeres se destinam unicamente a eles e aos seus familiares. A indiferença que eles têm pelos seus semelhantes e a falta do desejo de compartilhar da alegria de todos, revelam como esses homens são destituídos do espírito de fraternidade. Isso significa querer monopolizar as graças de Deus. Creio que os milionários, franqueando seus jardins ao povo, expondo seus objetos de arte e participando da alegria geral, praticariam um ato que corresponde à Vontade Divina.
Paraíso Terrestre, portanto, é um mundo onde há progresso na vida de toda a humanidade e grande desenvolvimento das artes e demais prazeres de caráter elevado. Como a Verdade, o Bem e o Belo significam respectivamente, o que não é falso, o que é justo e o que é bonito, numa vida de abstinência há o Bem, mas não há Verdade nem Belo. Além disso, a abstinência poderá até ser obstáculo ao progresso da cultura. A decadência de certos países que outrora possuíram uma alta civilização, pode ser atribuída ao fato de seu povo ter levado a vida espiritual ao extremo.
25 de janeiro de 1949



APRECIAÇÃO DAS VIRTUDES

Se atentarmos para a preferência que as pessoas demonstram pelos maus divertimentos, veremos que a palavra “divertimento”, para muitos, é quase sinônimo de “mal”.
Quando alcançam estabilidade financeira, a maioria dos chefes de família passam a freqüentar lugares suspeitos e a sustentar amantes. As despesas que isso acarreta são pagas, geralmente, com dinheiro ganho de forma ilícita. Obviamente, essas práticas se enquadram no mal. Tais indivíduos, a par dos riscos que correm nos ambientes freqüentados, perdem a tranqüilidade no lar, causam preocupação aos fami¬liares e não vivem felizes. Julgam que êxito e divertimento são o objetivo da vida na Terra e aos poucos se afundam num inferno. Quase sempre pertencem à classe acima da média e são considerados pelos mais humildes como protótipos de vida ideal; são invejados pelos que se iludem com as aparências. Isto gera uma legião de imitadores, e assim a sociedade se afunda cada vez mais.
Fazem-se comentários sobre o lucro ilícito dos funcionários venais, a ganância excessiva dos assalariados desonestos e a renda fraudulenta dos políticos. Contam-se pelos dedos os que não têm de que se envergonhar perante a Terra e o Céu. Os fatos mostram que os bons vivem humildemente, enquanto que os perversos, se são audaciosos, triunfam e ostentam padrões luxuosos de vida. Esta é a origem do conhecido ditado: “O homem honesto sempre sai perdendo”.
Meu propósito é orientar o homem da atualidade sobre a apreciação das virtudes. Concretamente, virtude significa não freqüentar locais suspeitos, investir fundos em prol da comunidade, ajudar os pobres, servir às boas causas e professar a Fé. Também significa divertir-se na companhia dos familiares, assistindo a sadios espetáculos cinematográficos e teatrais e participando de excursões e viagens. Tal modo de vida une os membros da família: a esposa respeita o marido e lhe agradece os cuidados; os filhos são resguardados do mau caminho; a preocupação financeira diminui; preserva-se a higie¬ne e estimula-se a saúde. São estas coisas que asseguram vida longa, dias alegres e boa disposição de espírito.
O famoso milionário Kihatiro Okura, da Era Meiji, afirmou: “Se quiserem ter vida longa, não façam dívidas”. É algo que eu também recomendo, pois, durante vinte anos, as dívidas foram motivo de grande sofrimento para mim.
Há homens que ferem a lei, realizam negócios obscuros, ocultam atividades que eventualmente podem indispô-los com suas esposas, devem a agiotas e por isso vivem num angustio¬so clima de incertezas. Como fuga, buscam alívio na bebida. Eis por que é enorme o consumo de bebidas alcoólicas, não obstante seu alto preço. Ora, tudo isso afeta a saúde e encurta a vida, que se torna uma escravidão sob o jogo dos vícios, do qual é difícil a pessoa se libertar. A única saída é seguir uma verdadeira Religião.
Dei, acima, vários exemplos do bem e do mal. Quem aprecia o vício? Meus leitores, entre o vício e a virtude, qual escolher? Peço que reflitam.
25 de janeiro de 1949



SUBJETIVISMO E OBJETIVISMO

É tendência do ser humano prender-se aos seus próprios pontos de vista; isso acontece com mais freqüência entre as mulheres. Trata-se de uma tendência altamente perigosa, porque aquele que sustenta inflexivelmente as próprias opiniões, considerando-as verdadeiras, julga o próximo baseando-se nelas, de modo que as coisas não acontecem como se esperava. Geralmente essas pessoas torturam a si mesmas e aos seus semelhantes.
É necessário que o homem aprenda a se analisar objetivamente, isto é, crie em si uma “segunda pessoa” que o veja e critique. Tal prática lhe evitará muitos problemas.
O Sr. Ruiko Kuroiwa, ex-diretor do antigo jornal Yorosu¬tyoho e famoso tradutor de romances, também cultivava a Fi¬lo¬¬¬¬¬¬so¬fia. Fui ouvinte assíduo de suas palestras. Citarei um trecho que ouvi e muito me impressionou: “Todo homem nasce mes¬¬quinho. Para aperfeiçoar-se, deve cultivar uma segunda personalidade, ou seja, nascer pela segunda vez.” Estas palavras fi¬caram gravadas na minha mente e me esforcei no sentido de co-locá-las em prática na minha vida, o que me trouxe muitos benefícios.
18 de março de 1950



HONESTIDADE E MENTIRA

É melhor ser franco ou não ser franco? É claro que a franqueza é o melhor caminho. Entretanto, as coisas não são tão simples assim. Há ocasiões em que precisamos ser francos e outras em que não devemos sê-lo. As pessoas que conseguem distinguir tais situações são consideradas inteligentes, ou sábias. Quando temos de escolher entre uma situação e outra, devemos, tanto quanto possível, ter como norma a franqueza. Todavia, se esta for totalmente impraticável, como, por exemplo, quando visitarmos um doente desenganado, somos forçados a omitir a verdade. Ainda que estejamos contrariando a nossa vontade, esse é o melhor procedimento. Na sociedade, existem muitas pessoas de larga vivência que não gostam de usar de franqueza. Observando o mundo, constato que essa é a causa de inúmeros fracassos. Todavia, é difícil falharmos quando agimos de modo contrário.
30 de agosto de 1949



O HÁBITO DA MENTIRA

Entre as várias espécies de hábitos, existe um, pouco percebido, que é o da mentira. O homem moderno mente demais, baseando-se na idéia errônea de que será bem sucedido. A maioria, acostumada a esse mau hábito, nem sequer toma consciência de que está mentindo. Quando isso ocorre com os meus subalternos, costumo chamar-lhes a atenção, mas muitos deles parecem ter perdido a noção da diferença entre a verdade e a mentira. Só percebem haver mentido e pedem desculpas depois de eu lhes ministrar uma lição bem clara a respeito. O hábito faz com que o povo moderno se perca, incapaz de distinguir os limites entre a mentira e a verdade.
Deixarei de lado as mentiras inconseqüentes, que não merecem análise especial, para cuidar das maiores, mais graves, por serem conscientes e premeditadas. Entre elas, começaremos por analisar as mentiras proferidas pelos políticos. Estes, muitas vezes, são censurados por deixarem de cumprir as promessas de uma boa política e planejamento, feitas durante pomposas propagandas eleitorais. Há, também, muitos parlamentares que desprezam os compromissos assumidos com os seus eleitores, julgando essa atitude perfeitamente normal. Existem educadores cujos atos contradizem a grandeza de suas palavras, e é comum os jornais publicarem artigos de caráter duvidoso. As propagandas exageradas não constituem exceção.
Os impostos representam o maior problema. É uma competição de mentiras, entre fiscais e contribuintes, de caráter sumamente complicado e desagradável. Há médicos que mentem, dando esperanças a pacientes incuráveis. Também desaprovo os bonzos que fazem uso freqüente das “mentiras de ocasião”. As conhecidas táticas empregadas pelos comerciantes são mentiras aceitas pelo público. Com estas variedades, embora resumidas, podemos afirmar que o mundo é um complexo de mentiras.
Talvez achem incrível o fato de um promotor mentir, mas isso acontece de vez em quando. A prova se evidencia no notável esforço que o Ministério Público vem empregando, baseado em suposições, para criar criminosos, desde a ocorrência de um caso até o julgamento final. Sempre que isso se repete, penso insistentemente no motivo de tanto interesse em culpar cidadãos inocentes. É realmente um enigma, para o qual não existe explicação. A profissão de promotor exige a condenação de um criminoso, mas a condenação de um inocente foge ao nosso raciocínio. É difícil saber prontamente se um suspeito é ou não responsável por um crime, mas creio ser possível distinguir o branco do preto, após uma breve investigação.
O desejo de mentir parte do pensamento otimista segundo o qual é impossível a mentira vir à luz. A teoria da inexistência de Deus favorece o argumento de que a mentira perfeita é sinal de inteligência – o que constitui um erro gravíssimo, a existência de Deus é uma realidade, e a mentira, mesmo bem pregada, é passageira, estando sempre sujeita a ser descoberta. Isso acarreta um grande prejuízo a quem mente, porque, contrariando seu objetivo primordial, a pessoa se expõe à vergonha de ter o seu crédito destruído e ser-lhe imposto um castigo. O mentiroso pensa que Deus não existe, simplesmente porque Ele é invisível. Neste ponto, iguala-se aos selvagens, que não acreditam na existência do ar porque não o vêem. Pobre homem civilizado, completamente mergulhado no hábito da mentira!
5 de setembro de 1951



GANANCIOSOS SEM GANÂNCIA

Quando observo a sociedade atual, constato que existe um grande número de gananciosos. Entretanto, embora possa parecer estranho, não são pessoas verdadeiramente gananciosas, porque buscam apenas o sucesso momentâneo, não percebendo que mais tarde só terão prejuízos. Dizem mentiras bem arquitetadas, mas, como a mentira é sempre desmascarada, acabam perdendo totalmente a confiança dos outros. Quanto mais hábil for o mentiroso, mais tempo levará para ser descoberto. Por isso, durante algum tempo, ele pode pensar que teve vantagens; no entanto, a verdade sempre vem à tona. Criaturas assim enganam-se ao julgar que nunca serão desmascaradas e por esse motivo não se corrigem, continuando a enganar o próximo. Obviamente, são materialistas, não acreditam na existência de Deus. Quando são descobertas, é o seu fim: toda a confiança que nelas se depositava cairá por terra. Com isso terão perdas incalculáveis, pois ninguém mais lhes dará atenção.
Em tais ocasiões, fico com pena dessas pessoas e ponho-me a pensar que, se elas tivessem agido honesta e corretamente desde o início, agora seriam merecedoras de crédito e esta¬riam obtendo grandes lucros, ao invés das vantagens efêmeras que tiveram. Com esse procedimento, elas mostram não ser gananciosas de fato. A maioria dos indivíduos que estão em apuros por causa de dinheiro ou cujos empreendimentos não vão bem, são pessoas gananciosas, mas do tipo sem ganância.
Quaisquer que sejam as circunstâncias, o homem deve conquistar, em primeiro lugar, a confiança de todos. Não há riqueza maior. Da riqueza chamada confiança surgem “juros” sem limites, e mesmo que, socialmente, lhes faltem recursos, os “ricos” desta ordem nunca ficarão em má situação. Por esse motivo, enquanto as pessoas não crerem na existência de Deus, nada há de dar certo com elas. Para isso, só há um caminho: a fé. Aqueles que a têm, são possuidores de um tesouro sem limites e, além de verdadeiramente felizes, são criaturas da ganância mais autêntica.
11 de fevereiro de 1950


COMO IDENTIFICAR O HOMEM MAU

Durante longo tempo, tive contato com vários tipos de pessoas. Desse contato, concluí que, para viver, o mais importante é saber diferenciar o homem bom do homem mau, principalmente por existirem muitos chantagistas ultimamente, cada qual possuidor de características particulares. Vejamos.
Em primeiro lugar, os homens maus são incrivelmente “hábeis” no falar. Muitas vezes fico deslumbrado com essa habilidade, mas me acautelo contra ela. Nesse ponto, é difícil encontrarmos exceções. Em segundo lugar, eles falam muito alto e são persistentes. Outra coisa contra a qual devemos nos acautelar é que alguns nos pressionam, e outros, ao contrário, agem com gentileza, o que é muito curioso.
Em geral, imaginamos que as pessoas perversas têm aspecto horrendo, mas, na maioria das vezes, acontece o contrário, ou seja, elas se mostram bastante gentis e afáveis. De fato, pensando bem, veremos que, se os chantagistas tiverem “face de bandido”, as pessoas se acautelarão e por isso a possibilidade que eles têm de sucesso será pequena; entretanto, apresentando uma face delicada, será mais fácil ludibriar os incautos.
Agora falarei sobre o homem bom. Pela minha longa experiência, observei que, ao contrário dos homens maus, a maioria dos homens bons não é “hábil” no falar, mas seus trabalhos apresentam bons resultados. Isso é muito natural, pois uma pessoa que consegue enganar os outros por saber falar com habilidade, começa, instintivamente, a viver enganando o próximo, ao passo que quem não tem essa habilidade, não consegue enganar ninguém e por isso tenta obter bons resultados através do próprio esforço.
9 de julho de 1949



A CAUSA DA POBREZA

O objetivo da nossa Igreja é construir um mundo isento de doença, pobreza e conflito. Quanto às questões relacionadas à doença, tenho a impressão de já tê-las examinado e explicado detalhadamente, sob todos os ângulos; não obstante, pretendo continuar dando esclarecimentos a respeito, pois se trata da medicina indicada por Deus. Agora, porém, falarei sobre o problema da pobreza.
A pobreza é decorrente da perda da saúde. Contudo, existem outras causas importantes. Além de não poder trabalhar, por causa da doença, a pessoa tem de gastar muito dinheiro com tratamentos médicos. Se for pouco tempo, ainda é suportável, mas, quando a doença se prolonga por um longo período, acarreta desemprego. Assim, o sofrimento causado pela doença é acrescido das dificuldades financeiras, de modo que a pessoa, com seu sofrimento duplicado, fica envolvida pelas escuras nuvens da intranqüilidade em relação ao futuro, não conseguindo ir nem para frente nem para trás. Podemos dizer que esse sofrimento é um verdadeiro inferno.
Por toda parte existem inúmeras criaturas em tal situação. Esses infelizes, ao conhecerem a nossa Igreja, logo conseguem vislumbrar a luz da esperança em relação ao futuro e sair do inferno em que vivem, começando a ter uma vida alegre. São exemplos concretos, que podem ser vistos em quantidade nas Experiências de Fé.
A maior parte dos casos de pobreza podem ser solucionados dessa forma. Mas, aprofundando um pouco mais, abordarei outro aspecto importante. Para tanto, relatarei minha experiência sobre o assunto, com a qual desejo ensinar o segredo da solução definitiva do problema.
Quando eu era jovem, apesar de ser ateu, sempre tive o desejo de melhorar a sociedade. Achando que, para isso, não havia meio mais eficaz do que uma empresa jornalística, fiz várias pesquisas e fiquei sabendo que, naquela época, precisaria de mais ou menos um milhão de ienes. Ora, eu sou de família pobre e só pude me casar e ter um lar graças à pequena soma em dinheiro que me foi presenteada por meus pais. Abri, então, uma lojinha de miudezas a varejo, a qual tinha uma largura de 2,70 m. Como os resultados foram bons, em pouco mais de um ano comecei no comércio por atacado e, aproximadamente dez anos depois, era considerado um bem-sucedido na vida; meus bens somavam o equivalente a cento e cinqüenta mil ienes daquela época (1919). Precipitando-me em conseguir logo a quantia necessária para a abertura da empresa jornalística, estendi demais a mão, de modo que acabei falindo, com dívidas até o pescoço. Conseqüentemente, tive de desistir da idéia de abrir a empresa.
Desesperado, recorri à Religião. Durante mais ou menos vinte anos, passei por inúmeros percalços e dificuldades, tendo sofrido muito por causa de vultosas dívidas. Agora, entretanto, vejo que tudo isso constituiu a minha prática ascética. Em geral, os religiosos se isolam nas montanhas, banham-se em cascatas e fazem jejum, mas acho que a minha prática foi muito mais difícil e sofrida. E não foi apenas uma ou duas vezes que me vi afundando em problemas financeiros. Vou revelar a “filosofia da pobreza”, que adquiri nessa época, através do estado de Iluminação.
Além da doença, a causa da pobreza são as dívidas. Cheguei à conclusão de que, se não as contrairmos, jamais ficaremos pobres. Ora, quando se toma dinheiro emprestado, inevitavelmente chega o dia em que se tem de pagar a dívida. Entretanto, ainda que se disponha do dinheiro suficiente, geralmente a data determinada para o pagamento é adiada. Aí está o desencontro. Quando se faz uma dívida, correm juros todos os dias, sem falhar um só, até que ela seja liquidada completamente. Por conseguinte, ainda que a pessoa tenha calculado um lucro considerável, subtraindo-se os juros, quase não haverá lucro. Além do mais, a dívida provoca uma constante intranqüilidade espiritual, e, nesse estado, a inteligência se atrofia, sendo impossível surgirem boas idéias.
As dívidas são a causa da maioria dos fracassos ocorridos na sociedade, e da maioria dos casos de pobreza. Eu, que despertei para essa realidade, sempre digo às pessoas: “Se você tiver cem mil ienes, empregue num negócio apenas um terço dessa quantia, isto é, trinta mil ienes”. Esse empreendimento, à primeira vista, parece pequeno, mas, com o passar do tempo, tornar-se-á grande. Caso haja um fracasso, a pessoa poderá começar tudo novamente, com outros trinta mil ienes e um novo método, pois já tem experiência do fracasso. É assim que a maioria começa a percorrer o caminho do sucesso. Ocorrendo outro fracasso, ainda restarão à pessoa os últimos trinta mil ienes; se ela fizer nova tentativa, é certo que desta vez será bem sucedida.
A maior parte das pessoas, no entanto, se tiverem cem mil ienes, começam empregando essa quantia toda; às vezes até fazem empréstimo de mais cinqüenta mil. Assim, começam com cento e cinqüenta mil, o que é realmente uma aventura. Se o empreendimento falhar, é natural que elas recebam um golpe fatal, do qual nunca mais conseguirão se recuperar. Todavia, se as pessoas agirem como eu faço, haverá um superávit monetário. Por isso, quando aparecem negócios pouco dispendiosos ou de lucro certo, deve-se entrar logo em ação. Ao contrário, quando a pessoa está com todos os seus recursos empatados, muitas vezes pode surgir um imprevisto na hora do pagamento, obrigando-a a deixar passar o prazo determinado. Com isso, a confiança que depositaram nela diminui. Se há uma reserva de dinheiro, ela sempre pode cumprir com a palavra no prazo do pagamento e, assim, ganhar maior crédito. É dessa forma que se obtêm grandes lucros.
Darei maiores exemplos sobre o assunto.
O principal motivo da derrota do Japão na última guerra foi a política de empréstimos. Parece que quase ninguém percebe esse fato, mas é preciso que se atente bastante para ele.
Até o início da guerra, o Japão veio aumentando suas importações a cada ano. Como as dívidas se avolumavam, foi necessário fazer novos empréstimos para pagá-las. Com esses empréstimos, o país aumentou seu poderio militar, expandiu seu território e cada vez estendeu mais suas mãos para invadir outros países. Naturalmente, além de empréstimos externos, também se fizeram empréstimos internos, de modo que o Japão acabou expandindo a política das dívidas públicas até o fim dos limites. Os prejuízos que a Ferrovia Nacional está sofrendo, atualmente, também são herança dessa política. Caso não a tivessem adotado, talvez não surgissem pes¬soas ambiciosas, ávidas de invasões. E mais: a cada ano o comércio aumentaria as exportações, e, sem dúvida alguma, o Japão estaria numa ótima situação. Em conseqüência, a cultura de cunho pacífico expandir-se-ia amplamente, a moral do povo se elevaria e seríamos uma nação feliz, invejada pelo mundo inteiro. Além disso, o país poderia importar com facilidade tudo quanto precisasse em matéria de alimentos, dando aos demais países uma sensação de paz e tranqüilidade em relação ao seu povo. Como resultado, as nações possuidoras de grandes territórios receberiam com muito prazer os imigrantes japoneses, e tornar-se-ia desnecessário o controle da natalidade.
Se a política de empréstimos de uma nação tem essas conseqüências, nos casos particulares acontece o mesmo. Acredito que, através de minhas palavras, compreenderam o método que deve ser empregado para solucionar o problema da pobreza.
30 de junho de 1949



A RESPEITO DAS DÍVIDAS

Como tenho dito várias vezes, durante longo tempo sofri por causa das dívidas, e posso dizer que não há nada mais horrível. Talvez todos passem por essa experiência, pois, quando se contrai uma dívida, é muito difícil saldá-la.
Ao fazer um empréstimo, a pessoa pensa em pagar o mais rápido possível, mas, ainda que consiga o dinheiro suficiente, é próprio do ser humano não fazê-lo tão facilmente. Pensando em empregar esse dinheiro, ela deixa o tempo correr, acreditando que poderá pagá-lo depois de lucrar mais um pouco. Assim, arranja pretextos que lhe convêm. Se, por felicidade, a pessoa consegue pagar a dívida assim que obtém a quantia suficiente, ganha a confiança daquele que lhe emprestou o dinheiro, o qual se mostra disposto a conceder-lhe novo empréstimo. Então, ela pede mais dinheiro, elevando a quantia.
O dinheiro nunca entra de acordo com o previsto, mas sempre sai de acordo com o estabelecido, e é por isso que não se consegue devolvê-lo no prazo estipulado. Uma vez aprisio¬nada pelas dívidas, não é fácil a pessoa desvencilhar-se delas; por fim, torna-se um hábito pedir dinheiro emprestado. Existe até quem se sente mal quando não tem dívidas. Talvez, em dez pessoas, não haja uma só que, tendo feito uma dívida, consiga livrar-se desse hábito para sempre.
Atualmente, a maior parte dos problemas sociais tem origem nas dívidas contraídas. Dizem que a maioria, senão todos os casos judiciais, são causados por elas. Por conseguinte, a primeira condição para eliminar os conflitos que existem no mundo, é fazer todo o possível para não contrair dívidas. Quando elas forem inevitáveis, devemos saldá-las o quanto antes. Se todos agissem assim, formar-se-ia uma sociedade feliz e diminuiriam os problemas das pessoas.
Outro fato que eu gostaria de frisar é que as dívidas encurtam a vida. O falecido Sr. Kihatiro Okura sempre dizia isso, e realmente é a pura verdade. Nada obscurece tanto o espírito do homem como as dívidas. Tomando como exemplo a minha própria experiência, após libertar-me delas, senti-me como se tivesse saído de um longo período na prisão.
25 de fevereiro de 1950



DEVEMOS OU NÃO DEVEMOS
FAZER DÍVIDAS?

Durante mais de vinte anos, provei sofrimentos causados pelas dívidas. Para que possam fazer uma idéia, recebi várias intimações judiciais e sofri uma falência. A “filosofia da dívida”, da qual falarei a seguir, baseia-se nas conclusões que tirei de todas estas experiências.
Farei uma análise da pessoa que está para fazer um empréstimo.
Existem empréstimos ativos e passivos. O empréstimo ativo é aquele que se faz quando se vai começar um empreendimento, já calculando que uma quantia X vai dar um lucro Y; isto é, faz-se o cálculo de modo que sobre algum dinheiro mesmo depois de subtraídos os juros. Esse tipo de empréstimo, todos o conhecem. Entretanto, no caso dos empréstimos passivos, sai mais dinheiro do que entra, por isso ele está sempre faltando.
É comum a pessoa fazer dívidas por não haver outra alternativa. Quando as coisas começam a apertar, ela não consegue pensar no futuro. Diante de uma situação difícil, tenta livrar-se dos compromissos imediatos, sem levar em consideração se os juros são altos ou baixos; o importante, para ela, é conseguir o empréstimo. Muitos anúncios publicados atualmente nos jornais, sobre a concessão de empréstimos, são desse tipo. Podemos dizer que, a essa altura, entre dez dessas pessoas, oito ou nove estão a um passo do abismo.
Esta classificação dos empréstimos é uma classificação feita a grosso modo. Agora vamos analisar o caso de não se fazer o empréstimo.
Começa-se o empreendimento com o capital que se possui no momento. Mesmo que seja um negócio de pequeno porte, não há outro recurso. Suponhamos, por exemplo, que se tenha cem mil ienes. Inicialmente, emprega-se a metade ou um terço desse capital. Como o restante fica guardado, poder-se-á pensar que o negócio progredirá muito lentamente. Além disso, esses cem mil ienes devem ser obtidos com o esforço próprio, sem a ajuda de ninguém, pois assim estarão impregnados de suor e terão força. Depois, inicia-se o empreendimento, que deve ser do menor porte possível. Exemplifiquemos.
Comecei o método de terapia pela Fé no mês de maio de 1934, alugando uma casa de cinco cômodos por setenta e sete ienes. Estava situada na rua Hiraga-tyo, no bairro de Koji Mati (Tóquio). Achei que era uma casa boa demais; entretanto, como as condições eram ótimas, decidi alugá-la. Na época, eu ainda tinha muitas dívidas, mas fiz esse empreendimento pensando em praticar a filosofia para a qual despertara através delas. As idéias sobre esse princípio filosófico me foram fornecidas pela Grande Natureza. Podemos entendê-lo observando os seres humanos. A criança recém-nascida, com o passar dos meses e dos anos, vai crescendo cada vez mais, e a sua força e inteligência tornam-se adultas. O mesmo acontece com as plantas. Plantando-se uma pequena semente, ela germina, formando um broto; a seguir saem duas folhinhas e, depois das folhas propriamente ditas, o caule se desenvolve, os galhos se expandem, até que a planta se torna uma enorme árvore. Esta é a verdade. Portanto, os seres humanos precisam seguir esse exemplo. Eu tive a revelação de que, praticando fielmente o princípio acima, não deixaria de obter grande sucesso. Decidi, pois, em qualquer empreendimento, partir da menor forma possível.
A maior parte das pessoas, no entanto, tenta fazer coisas grandes e aparatosas desde o começo. Observando bem, vemos que a maioria acaba fracassando. Quase todos os empreendimentos da sociedade são assim. As pessoas começam por negócios de grande porte e só depois de fracassarem é que, forçadas pelas circunstâncias, seguem a ordem, ou seja, começam tudo de novo, fazendo pequenos empreendimentos. Só então é que conseguem sucesso.
A propósito, os negócios nunca se processam de acordo com a lógica ou com os cálculos. Existem vários motivos para isso, mas o mais importante é a influência da mente. Como o dia do vencimento da dívida nunca deixa de chegar, aconteça o que acontecer, essa preocupação está continuamente martelando a cabeça da pessoa. Naturalmente, a realidade nunca acompanha os planos. Com essa preocupação constante na mente, não surgem boas idéias. Esse é o ponto mais desvantajoso. Ora, com os bolsos sempre vazios, as pessoas não têm vitalidade. Mesmo que se enfeitem exteriormente, são pobres material e espiritualmente. Por isso, mostram-se inibidas em todos os seus empreendimentos, não têm força para crescer, estão sempre descontentes. Os comerciantes, por exemplo, não conseguem fazer compras mesmo que as mercadorias estejam baratas; conseqüentemente, deixam de lucrar. Como a maioria prorroga o prazo do pagamento da dívida, a confiança dos outros diminui. Se o prazo se prolonga por muito tempo, começam a correr juros em cima de juros. A essa altura, a pessoa começa a se afobar e força a situação. Quando isso acontece, é o seu fim. Eu sempre faço advertências sobre a afobação e as situações forçadas, mas a maioria das pessoas não percebe isso. Mesmo que momentaneamente os resultados sejam bons, eles nunca duram muito tempo.
Os famosos senhores feudais Nobunaga e Hideyoshi, por exemplo, fracassaram porque se afobaram e forçaram situações. Em contrapartida, o domínio da dinastia Tokugawa durou trezentos longos anos porque, nos métodos empregados por Ieyassu, seu fundador, não houve afobação ou situação forçada nem mesmo para ele assumir o poder. Ieyassu utilizava-se da famosa tática de “ceder para vencer”, quando achava que a situação estava um pouco difícil: esperava a oportunidade propícia, isto é, aguardava que o tempo ficasse a seu favor. Assim, fez com que o poder rolasse naturalmente para as suas mãos.
Eis o conselho de Ieyassu: “A vida do homem é como uma longa caminhada carregando um pesado fardo. Não se deve ter pressa”. Essas palavras expressam muito bem o seu caráter. A derrota do Japão, nesta última guerra, teve várias causas, mas não há dúvida de que a afobação e as situações forçadas foram fatores decisivos, embora, desde o início, o procedimento dos japoneses tenha sido errado.
Não se deve fazer empréstimos para pagar dívidas, mas foi o que aconteceu no período final da guerra, e pelo mesmo motivo foi emitido dinheiro de maneira bem desordenada. Essa foi, em grande parte, a causa da inflação.
A Inglaterra, logo após a formação do gabinete trabalhista, tomou dos Estados Unidos um empréstimo de três bilhões e setecentos milhões de dólares. Acho que seria uma boa iniciativa se, futuramente, não se tornasse motivo de problemas financeiros; mas, depois disso, foi preciso tomar empréstimos em cima de empréstimos. A desvalorização da libra também é uma conseqüência desse fato. Na época em que o Império Britânico era próspero, sua receita anual elevava-se a três bilhões de libras, provenientes de suas colônias e de outras fontes. Que diferença entre a situação atual e a situação antiga! O equilíbrio financeiro da Inglaterra, que até então era um dos seus motivos de orgulho, acabou em tal estado após o país passar por duas guerras. Foi um destino inevitável.
Pelo que foi exposto, fica evidenciada esta verdade: não se deve contrair dívidas, e, em todas as iniciativas, é preciso começar de forma pequena. Gostaria que fizessem disso um lema a ser seguido. Contudo, quando se tem absoluta certeza de poder saldar a dívida em curto prazo, é admissível contraí-la.
Esta é a minha filosofia da dívida, que eu recomendo a todos.
12 de novembro de 1949



DINHEIRO MAL GANHO,
DINHEIRO MAL GASTO

Há um antigo ditado que encerra uma grande verdade: “Dinheiro mal ganho, dinheiro mal gasto”. Vou interpretá-lo espiritualmente.
Existem vários tipos de investimentos, como a Bolsa de Valores, o aumento ou a diminuição do preço das mercadorias, as apostas em corridas de cavalos, etc. De todos eles, o mais representativo é a Bolsa de Valores, e por isso vou me deter em sua análise.
Na época em que eu era agnóstico, lancei mão desse investimento. Durante alguns anos vendi e comprei ações, mas acabei tendo um grande prejuízo. Naturalmente, esse também foi um dos motivos que me levaram a entrar para a vida religiosa. Além disso, os conhecimentos que adquiri sobre o lado espiritual da questão, mostraram-me que jamais se deve fazer tal tipo de investimento. Gostaria, portanto, que as pessoas interessadas na Bolsa de Valores não deixassem de ler este artigo.
É costume dizer-se que, na Bolsa de Valores, cem pessoas perdem para uma lucrar, e é exatamente assim. Não existe, entretanto, uma só pessoa que, tendo-se tornado multimi¬lionária da noite para o dia, consiga conservar essa fortuna por muito tempo. Além disso, quem tem grandes ganhos é quem mais perde; quanto mais a pessoa lucra, é como se em seu caminho existisse um precipício a esperá-la. Espiritualmente, a explicação é a seguinte:
A grande maioria das pessoas que perdem na Bolsa de Valores sente-se decepcionada, inconformada, querendo de qualquer jeito recuperar o dinheiro perdido. Conseqüentemente, esse ressentimento converge para a pessoa que lhes sugou o dinheiro, mas, como não sabem quem é, nem onde reside, acaba convergindo, naturalmente, para a Bolsa de Valores e se acumula nas notas de dinheiro. Analisando espiritualmente, no dinheiro que circula na Bolsa de Valores imprime-se, nesse momento, a imagem do ódio, do rancor, do ressentimento de milhares de pessoas. Como essas imagens e as próprias pessoas prejudicadas estão ligadas por um elo espiritual, o desejo que elas têm de recuperar o dinheiro perdido continua¬mente está puxando esse dinheiro. Por isso, ele nunca permanece muito tempo nos cofres da pessoa que o ganhou. Um dia, ele é puxado, e a pessoa sofre um grande prejuízo, ficando sem um vintém.
Isso não ocorre apenas nos investimentos, mas em tudo que se relacione com dinheiro. Por exemplo: quando as riquezas são obtidas de forma ilícita; quando não se dá a alguém, intencionalmente, o dinheiro que se deveria ter dado, quando não se paga uma dívida e em outras situações. Em tais oportunidades, a pessoa lesada fica furiosa, e, como no caso da Bolsa de Valores, aquele que a lesou fatalmente perderá dinheiro.
Outro fato que se precisa saber é que, desde os tempos antigos, muitos prédios religiosos ficaram reduzidos a cinzas em conseqüência de incêndios. Parece impossível que templos, relicários, santuários e outras construções realizadas com recursos puros sejam destruídos dessa forma. Mas existe um motivo. É que, por ocasião de se angariarem fundos para construí-los, forçou-se a situação. Às vezes, determina-se uma quantia para os membros ou igrejas filiais, que são forçados a colaborar. Mas é uma atitude errada. Tratando-se de ofertas em dinheiro para a Obra Divina, o correto é que a quantia seja determinada pela livre e espontânea vontade da pessoa. Só quando se faz uma oferta com alegria e satisfação é que o dinheiro se torna realmente puro. Outro fator importante é que as construções religiosas devem ser utilizadas de acordo com a Vontade de Deus; não se deve fazer coisas erradas, que as impregnem de máculas, caso contrário elas receberão o batismo do fogo.
Voltando ao caso da Bolsa de Valores, quando o objetivo não for o de lucrar com as cotações, trata-se de um bom investimento. Está muito certo comprar ações visando os juros, isto é, os dividendos; não representa “comprar” nenhuma espécie de rancor. Pelo contrário, é um investimento muito útil ao desenvolvimento da indústria e deve ser bastante incentivado.
25 de junho de 1949



O DINHEIRO DEVE SER USADO
DE MANEIRA CORRETA

É perigoso achar que os membros podem ser negligentes. Mesmo os não-membros que tiverem sentimento e atitude corretas, serão salvos. A questão é que como os membros aprendem o método para salvar os outros, seus pecados diminuem através da salvação às pessoas. É exatamente como o dinheiro. De nada adianta ganhar dinheiro e deixar guardado ou gastar em futilidades. Neste caso, ao contrário, o dinheiro acaba se transformando em algo prejudicial. É preciso usá-lo de maneira correta. Os messiânicos aprendem como fazê-lo. Utilizá-lo em prol da construção do Paraíso Terrestre é o meio mais eficiente. Portanto, aqueles que aprendem sobre a fé messiânica, devem colocá-la em prática. Caso contrário, de nada valerá.
Janeiro de 1950



FISIOGNOMONIA DAS CASAS E SUA POSIÇÃO EM RELAÇÃO AOS PONTOS CARDEAIS
Muitos me perguntam qual deve ser a direção e a posição das casas, por isso resolvi escrever este artigo.
Assim como existe fisiognomonia dos homens, também existe a das casas: ambas têm muita influência sobre o bom ou o mau destino. Mas a fisiognomonia das casas que vou divulgar, é muito diferente daquelas que foram feitas pelos que se dizem entendidos no assunto. Não aprendi com ninguém; quero deixar bem claro que se trata do resultado das minhas experiências e intuições espirituais.
Tal como a maioria dos fisiognomonistas, eu também enfa¬tizo a importância do nordeste; só que a minha interpretação é di¬ferente. Por definição, esse ponto cardeal está situado entre o norte e o leste. É uma direção muito importante, pois dela vem uma emanação espiritual puríssima. Daí os antigos dizerem que não se deve macular o nordeste. Por exemplo, se cons¬truírmos desse lado o banheiro, a cozinha, a entrada ou a saída da casa, a emanação espiritual impura proveniente desses locais contamina a que vem de lá e, como conseqüência, facilita a atuação de demônios e maus espíritos, que são os causadores de doenças e desgraças. Por isso, devemos conservar o mais pura possível a emanação espiritual que vem do nordeste. Nesse sentido, se possível, é bom fazer um jardim nessa direção; o ideal seria plantar um pinheiro macho e outro fêmea.
Ao nordeste opõe-se o sudoeste, o qual, como o nome indica, fica entre o sul e o oeste. Daí provém uma emanação que traz muita riqueza material, o que é importante para se alcançar fortuna e destaque social. Para isso, é recomendável fazer disposições com água e pedra; um lago, por exemplo, ainda que pequeno, ornamentado com pedras.
Quanto à entrada principal da casa, convém que fique no sudeste, isto é, entre o sul e o leste. É bom que, à medida que ultrapassamos o portão e nos dirigimos para a entrada, o terreno vá se elevando. No que concerne à localização, se a casa está numa ladeira, deve ficar do meio para cima: também não é aconselhável que esteja abaixo do nível da rua. Não se deve morar por muito tempo em casas que tiverem essa localização. Entretanto, quando falamos em lugares altos, referimo-nos à situação da casa em relação às proximidades, não sendo muito importante a existência de montanhas ou elevações por perto. A entrada deve estar em posição tal que, transpondo o portão, não tenhamos de recuar para atingi-la. Convém que a porta principal fique à direita ou à esquerda do portão e que em frente a ela não haja nenhuma saída; caso contrário, a sorte entra, mas não fica, vai embora. É muito bom que os aposentos do chefe da casa estejam dois ou três degraus acima do nível dos outros compartimentos.
Para determinarmos a posição da casa em relação aos pontos cardeais, devemos colocar a bússola no local correto. A maioria dos zodíacos toma como ponto de referência o centro da casa e marca as direções a partir daí, o que é muito errado. O homem não foi criado para a casa; esta é que foi criada para o homem. Ele é o senhor, ela é o súdito, pois sua construção ou destruição depende da vontade dele. Por conseguinte, como a pessoa mais importante da casa é o chefe da família, o lugar de seu descanso, isto é, seu quarto de dormir, deve ser considerado o centro, a partir do qual se tomam as direções.
No que se refere ao formato da casa, devem ser evitadas as reentrâncias, mas é bom que haja algumas proeminências. Também é muito boa a casa que, da entrada, estende-se para os dois lados, como uma ave abrindo as asas.
Com relação ao número de “tatami” (6), é aconselhável, para quarto do chefe da casa, o cômodo com dez “tatami”, pois, espiritualmente, esse número representa a junção da água e do fogo. Também é apropriado o aposento com oito “tatami”, porque o número oito representa o fogo, o qual é superior aos demais elementos. Os números seis e três representam a água, sendo adequados para os aposentos da esposa. Todos os números pares são bons para a quantidade de “tatami”, sendo que quatro e meio, sete, nove e outros números não são recomendáveis. Nesses casos, deve-se completá-los com tábuas, para que se tornem pares.
O “toko-no-ma” (7) deve ficar à direita, e o “tigaidana” (8) à esquerda; entretanto, dependendo da entrada, não tem importância que seja o inverso. Se não houver “toko-no-ma”, o lugar mais nobre é o que fica mais distante da entrada. Não é bom que o “toko-no-ma” esteja próximo desta, ou que, entrando no compartimento, a pessoa tenha de retroceder para chegar em frente a ele.
É desaconselhável que a sala de estilo ocidental fique situada no segundo andar (no caso de sobrado). Isto porque as pessoas entram aí com sapatos e, assim, ela se iguala à rua. Dessa forma, há uma inversão de posições, isto é, a rua fica em nível mais alto que a casa.
No tocante à localização da casa, não há muita relação entre os pontos cardeais e a idade das pessoas. Costumam dizer que a mudança em direção ao nordeste não é recomendável, mas acontece justamente o contrário, pois, como expus anteriormente, dali vem uma emanação espiritual puríssima. Mas aí surge um problema: quando alguém se muda para uma casa com essa localização, seus atos e sua profissão devem ser corretos. Isso porque aquela emanação tem uma grande força purificadora, e, quando os pensamentos são negativos e os atos não são corretos, os sofrimentos sobrevêm mais rapidamente, por causa da purificação. Até hoje, muitas pessoas temiam ou desprezavam o nordeste por terem procedimento e profissões incorretos.
25 de janeiro de 1949



A HIGIÊNICA E AGRADÁVEL AGRICULTURA NATURAL NAS HORTAS CASEIRAS

No primeiro número da revista “Tijo Tengoku “, publiquei um minucioso artigo sobre a Agricultura Natural, dirigido aos agricultores profissionais; desta vez, enfocarei as hortas caseiras.
Como tenho publicado, na referida revista e no nosso jornal, os excelentes resultados obtidos através desse novo método agrícola, acredito que os leitores tenham entendido, em parte, as suas vantagens. Posso afirmar que, no caso das hortas caseiras, feitas por amadores, a boa-nova da Agricultura Natural é como a luz que surge nas trevas. Nelas, utilizava-se principalmente o estrume, cujo manuseio é insuportável sob vários aspectos, inclusive olfativo. Adotando-se o cultivo sem adubos, esse sofrimento desaparece, e o trabalho, por ser higiênico, torna-se agradável. Além disso, os resultados são bem melhores e o trabalho é menor, matando-se dois coelhos numa só cajadada. Vou enumerar as vantagens do método:
1 – Sendo utilizados apenas compostos naturais, não há o mal-estar causado pelo uso do estrume, e o trabalho é menor.
2 – As verduras obtidas são da melhor qualidade, e o seu sabor nem se compara ao das verduras tratadas com adubos.
3 – O volume e a quantidade dos produtos são maiores.
4 – O aparecimento de pragas reduz-se a uma pequena fração do que acontece no caso do emprego de adubos; portanto, não há necessidade de defensivos.
5 – Não existe problema de transmissão de larvas e pragas. Muitas outras vantagens poderiam ser citadas: relacionei apenas as principais.
Como nas hortas caseiras normalmente não se planta arroz nem trigo, mas quase sempre verduras e legumes, vou explicar a experiência que tive com estes.
As batatas são brancas, consistentes, têm um forte aroma, e até dão água na boca. O tamanho reduzido e a pequena quantidade apontados pelos amadores são conseqüência dos adubos; sem estes, as batatas são maiores e em maior quantidade. Principalmente as batatas-doces são enormes; se demorarmos a arrancá-las, atingem proporções nunca vistas. Os pés de milho possuem caule grosso, folhas bem verdes, e logo à primeira vista se percebe que são maiores que o normal. Suas espigas são mais grossas e compridas, com os grãos bem juntos e enfileirados, macios e doces; todos ficam admirados com o seu paladar. Os nabos são brancos, consistentes, de textura fina e ótimo sabor, apresentando comprimento e grossura maiores que os nabos cultivados com adubos. A aspereza e a acidez de muitos nabos são causadas pelos adubos. A acelga, o espinafre e o repolho têm excelente aroma, são volumosos, macios e apetitosos. No final do ano passado, um amador trouxe-me três acelgas que pesavam 5,6 kg cada uma. Eu nunca tinha visto acelga daquele tamanho. Quanto à soja, é baixa, com folhas menores, mas colhe-se o dobro. As berinjelas apresentam boa coloração, casca macia e forte aroma; não só pela estética como pelo paladar, ninguém que já as tenha provado consegue comer as que são tratadas com adubos. A cebola, a cebolinha, o tomate, a abóbora e o pepino são de ótima qualidade; a abóbora é muito consistente e tem sabor adocicado.
Quanto às árvores frutíferas, também produzem frutos muito saborosos, principalmente as frutas cítricas, o caqui, o pêssego, etc.
Explicarei agora o princípio e a utilização dos compostos naturais.
A Agricultura Natural utiliza compostos naturais de dois tipos: o de capim e o de folhas de árvores. O primeiro é próprio para ser misturado à terra, e o segundo é indicado para fazer um leito abaixo do solo.
A diferença entre a agricultura tradicional e a nossa, é que esta considera o solo como uma matéria profundamente misteriosa criada por Deus para o desenvolvimento de alimentos vegetais. Por conseguinte, ativar ao máximo a força do solo significa alcançar o objetivo original com que ele foi criado. Desconhecendo este princípio, os antigos passaram, não se sabe quando e baseados numa interpretação errônea, a usar adubos, prática cujo resultado é a diminuição da produtividade e a morte do solo. Na tentativa de cobrir esse enfraquecimento, utilizam-se adubos em quantidade cada vez maior, o que leva à intoxicação das plantas. Dizem que o solo japonês empobreceu, e isso pode ser atribuído aos adubos; os adubos químicos modernos, principalmente, aceleram o processo de empobrecimento do solo. Uma boa prova disso é que há uma melhora temporária quando se lhe acrescentam terras virgens de outros lugares, em virtude da queda da produção. Os agricultores interpretam que esta caiu porque os cultivos efetuados por longos anos esgotaram os nutrientes da terra. Acham, portanto, que as terras virgens conseguirão suprir os nutrientes. Isso é um grave erro, pois na verdade o solo perdeu sua força devido à utilização de adubos. Com o acréscimo de terra isenta de tóxicos, ele em parte se recupera.
Por outro lado, os compostos naturais têm por finalidade impedir o endurecimento do solo e também aquecê-lo. O fundamental, para ativar o crescimento das plantas, é promover o desenvolvimento da raiz, sendo que o primeiro passo nesse sentido consiste em não deixar o solo endurecer; daí a necessidade de se misturar bem, a ele, o composto natural. Para incentivar o crescimento dos “cabelos” da raiz, deve-se utilizar o composto natural à base de capim, pois as fibras deste são macias e não atrapalham o crescimento. As fibras das folhas de árvores, no entanto, são mais duras, e por isso não convém misturá-las ao solo. O melhor é utilizá-las para fazer um leito abaixo do solo, a fim de aquecê-lo. O ideal seria uma camada de uns 30 cm de terra misturada com composto à base de capim e, abaixo dela, um leito da mesma espessura, à base de folhas de árvores.
No caso de verduras, soja, etc., o processo descrito é conveniente, mas tratando-se de nabos, cenouras e similares, devem-se dimensionar as camadas de maneira adequada, fazer montes de terra e plantá-los aí, para que suas raízes recebam bastante sol, pois assim o crescimento será excelente. Se a batata-doce, por exemplo, for plantada em montes de mais ou menos 60 cm, dispondo-se as mudas numa distância de 30 cm uma da outra, colher-se-ão batatas gigantes. Ouve-se dizer freqüentemente que o melhor é dispor os montes de terra em sentido norte-sul ou leste-oeste, de modo que as plantas recebam bastante energia solar. Para isso, entretanto, basta dispô-las segundo as condições locais, e levando em consideração a direção do vento. Quando este é muito forte, os caules se quebram; assim, é necessário plantar árvores em volta ou fazer cercas, a fim de diminuir a ação do vento.
Quanto mais limpo for mantido o solo, maior será a sua vitalidade. Portanto, a utilização de impurezas como o estrume traz resultados adversos. Devido ao desconhecimento desse fato, o trabalho não só tem sido infrutífero como contraproducente.
Os americanos não comem verduras produzidas no Japão, pois temem a presença de parasitas. No caso da Agricultura Natural, essa preocupação desaparece. Trata-se realmente de uma fabulosa revolução da agricultura, constituindo uma grande boa-nova dirigida aos nossos irmãos.
30 de março de 1949

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