terça-feira, 1 de junho de 2010

alicerce do paraíso vol 05

Publicamos, a partir da página 181 deste volume, o Índice geral por ordem alfabética onde encontram-se listados todos os ensinamentos contidos nos cinco volumes da Coletânea Alicerce do Paraíso.

ÍNDICE

Capítulo 1
AGRICULTURA NATURAL
Introdução à Agricultura Natural.......................11
A força do solo..............................................20
Princípio da Agricultura Natural...........................26
A grande revolução da agricultura........................30
Danos causados pelas pragas............................38
Danos causados pelas chuvas e ventos.....................39
O globo terrestre respira.............................40

Capítulo 2
ARTE
Paraíso Terrestre................................45
A respeito do Paraíso Terrestre.......................47
Considerações sobre o Paraíso Terrestre.................49
A arte de Deus......................................51
Religião e Arte....................................53
Religião e Arte...........................................54
Religião artística...................................55
Ciência e Arte.........................................57
A missão da Arte......................................59
Paraíso – Mundo da Arte................................60
O Paraíso é o Mundo do Belo.............................62
Características particulares da civilização japonesa.......65
A respeito do Jardim da Terra Divina.....................68
Significado da construção do Museu de Belas-Artes..................72
Obras-primas da arte ao alcance do povo.............................76
Por que as obras-primas chegaram às minhas mãos....................78
Campanha de formação do Paraíso por meio das flores................82
As plantas têm vida........................................84
A respeito da coletânea de poemas
“yama to mizu” (monte e água)....................86

Capítulo 3
SOCIEDADE
3.1 - O Homem e a luta entre o bem e o mal
Ateísmo é superstição......................................89
Por que o mal se revela..................................91
O homem mau é ignorante..................................93
O homem mau é enfermo.....................................95
Como acabar com os crimes..................................97
O verdadeiro homem forte.................................99
O hábito de resignação dos japoneses....................101
Vencer o mal.....................................102
Sejam fortes os virtuosos........................104
Acabar com os perversos...........................106
Indignação ao mal...................................107

3.2– A sociedade e a luta entre o bem e o mal
Espírito de justiça...................111
O mundo dominado pelo mal......................113
Eliminação do mal...............................116
A fonte da corrupção...........................118
A origem dos males sociais.........................122
A verdadeira causa da intranqüilidade social.............124
O mal social é ou não é causado pelo meio ambiente?.....................126
É possível solucionar os males sociais?........................128
O mau comportamento dos filhos.................................132
Jornal que enaltece o bem...................................133
Os virtuosos bem-sucedidos na vida..........................135
A Terceira Guerra Mundial pode ser evitada................137

3.3 - A nação
A bússola da reconstrução do Japão......................140
A palavra “Su”.................................144
Novo conceito de amor à pátria.....................145
O Japão é um país civilizado ou selvagem?...............148
O caráter dependente dos japoneses.....................150
Os japoneses não têm ambição...........................155
Nação regida pelo Caminho...............................157
Obediência ao Caminho Perfeito..........................159
Precisamos ser universais.............................162

3.4 - Religião, Educação e Política
Religião, Educação e Política...........................165
Religião e Política......................................167
As leis e o caráter selvagem do homem.................168
Poder revogante ou poder constituinte?.............171
A tolice do controle da natalidade.................172
Não menospreze os cálculos.......................173
A instrução prematura é prejudicial................176
Por que surgem crianças-prodígio.................177
Índice geral por ordem alfabética................181



INTRODUÇÃO À AGRICULTURA NATURAL

Em geral as pessoas não conseguem aceitar minha tese sobre a Agricultura Natural. Ficam pasmadas com ela, pois acham que é uma visão completamente diferente em relação à agricultura. Mas a verdade é que não só os produtos agrícolas, mas o próprio homem se encontra intoxicado pelos adubos.
Muitos depositam confiança na tese por ser minha. Apesar disso, colocam-na em prática meio temerosos, experiência confessada em todos os relatórios. Antes, porém, da colheita, ocorre uma surpreendente mudança na plantação e conseguem-se excelentes resultados, superando todas as expectativas.
É desnecessário afirmar que “mais vale um fato que cem teorias”. Creio que, em conseqüência dessa importante descoberta, não apenas ocorrerá uma grande revolução na agricultura japonesa, como também poderá haver, um dia, uma revolução na agricultura em escala mundial. Sendo assim, esta grande salvação da humanidade será uma boa-nova sem precedentes; para a nossa Igreja, entretanto, cujo objetivo é a construção do Paraíso Terrestre, não passará de algo mais do que óbvio.
Para explicar o que é a Agricultura Natural, vou partir do seu princípio básico. Em primeiro lugar, o que vem a ser o solo? Sem dúvida, é uma obra do Criador e serve para a cultura de cereais e verduras, importantíssimos para a manutenção da vida humana. Por conseguinte, sua natureza é misterio¬sa, impossível de ser decifrada pela ciência da matéria.
A agricultura atual, sem saber, acabou tomando o caminho errado e, como conseqüência, menosprezou a força do solo, chegando à errônea conclusão de que, para se obterem melhores resultados, deveria haver interferência humana. Com base nesse raciocínio, passou a utilizar estercos, adubos químicos, etc. Dessa maneira, a natureza do solo foi pouco a pouco se degradando, sofrendo transformações, e a sua força original acabou diminuindo. Contudo, o homem não percebe isso e acredita que a causa das más colheitas é a falta de adubos. Assim, utiliza-os em maior quantidade, o que reduz ainda mais a força do solo. Atualmente o solo japonês está tão pobre, que todos os agricultores lamentam o fato.
Vou mostrar como são temíveis os adubos artificiais:
1 – O maior problema, talvez, é o aparecimento de pragas. Sem pesquisar as causas dessa ocorrência, concentra-se todo o empenho no sentido de combatê-las. Mas é provavelmente por desconhecerem a causa das pragas que os agricultores se empenham na sua eliminação. Na verdade, elas surgem dos adubos, e o aumento das espécies de pragas é decorrente do aumento dos tipos de adubos. Os agricultores desconhecem, também, que os pesticidas, ainda que consigam eliminá-las, infiltram-se no solo, causando-lhe prejuízos e tornando-se a causa do aparecimento de novas pragas.
2 – Absorvendo os adubos, as plantas enfraquecem bastante e tornam-se facilmente quebradiças ante a ação dos ventos e das águas. Como ocorre a queda das flores, os frutos são em menor quantidade. Além disso, pelo fato de as plantas alcançarem maior altura e suas folhas serem maiores, os frutos acabam ficando na sombra, o que, no caso do arroz, do trigo, da soja, etc., faz com que a casca seja mais grossa e os grãos sejam menores.
3 – A amônia contida no estrume e o sulfato de amônia e outros adubos químicos são venenos violentos que, absorvidos pelas plantas, acabam sendo absorvidos também pelo homem; mesmo que seja em quantidades ínfimas, não se pode dizer que eles não façam mal à saúde. A própria Medicina tem afirmado que, se suspendessem por dois ou três anos a utilização de esterco como adubo, o problema de lombrigas e outros parasitas deixaria de existir. Também nesse aspecto verificamos o fabuloso resultado da Agricultura Natural.
4 – Ultimamente, o preço dos adubos tem aumentado muito, de modo que a despesa que se tem com eles quase empata com a receita oriunda da venda da colheita, o que acaba forçando a sua venda no mercado negro.
5 – O trabalho que se tem com a compra e a aplicação de adubos e inseticidas é excessivo.
6 – Os produtos obtidos através da Agricultura Natural são mais saborosos e apresentam melhor crescimento, sendo maiores que os produtos obtidos com adubos. Sua quantidade também é maior.
Com o que acabamos de expor, creio que os leitores puderam compreender como são temíveis os tóxicos dos adubos e como é melhor o cultivo que não os utiliza. Não seria exagero afirmar que se trata de uma revolução jamais vista na agricultura japonesa.
Vou, agora, mostrar em que consiste o método e os resultados que obtive através da minha própria experiência e dos relatos feitos por pessoas que já experimentaram esse tipo de cultivo. Antes, porém, gostaríamos de perguntar: quantas pessoas conhecem realmente o sabor das verduras? Diríamos que pouquíssimas. Isso porque não há verduras em que não tenham sido utilizados adubos químico e esterco. Absorvendo esses elementos, os produtos acabam perdendo o sabor atribuído pelos Céus. Se, ao invés disso, fizermos com que absorvam os nutrientes da própria terra, eles terão seu sabor natural e, portanto, serão muito mais saborosos. Como aumentou o meu estado de felicidade após conhecer o sabor das verduras cultivadas sem adubos! Além do dinheiro e da mão-de-obra que se poupa, fica-se livre do mau cheiro e da transmissão de parasitas, as pragas diminuem e o sabor e a quantidade dos produtos aumentam. Enfim, matam-se sete coelhos numa só cajadada.
Não posso me calar diante de problema tão grave. Gostaria de comunicar esta boa-nova a todos e compartilhar dos seus benefícios.
Qual é a propriedade do solo? Ele é constituído pela união de três elementos – terra, água e fogo – os quais formam uma força trinitária. Evidentemente, a força básica responsável pelo crescimento das plantas é o elemento terra; o elemento água e o elemento fogo são forças auxiliares. A qualidade do solo é um fator importantíssimo, pois representa a força primordial para o bom ou mau resultado da colheita. Portanto, a condição principal para obtermos boas colheitas é a melhoria da qualidade do solo. Quanto melhor for o elemento terra, melhores serão os resultados.
O método para fertilizar o solo consiste em fortalecer sua energia. Para isso, é necessário, primeiramente, torná-lo puro e limpo, pois, quanto mais puro o solo, maior é a sua força para o desenvolvimento das plantas. Acontece, porém, que até hoje a agricultura considera bom encharcar o solo com substâncias impuras, contrariando frontalmente o que foi exposto acima, donde se pode concluir o quanto ela está errada. Para explicar esse erro, usarei a antítese, o que, penso eu, ajudará a compreensão dos leitores.
Desde a antigüidade os adubos são considerados como elementos indispensáveis ao plantio, mas a verdade é que quanto mais os agricultores os aplicam, mais eles vão matando o solo. Com a adubagem, conseguem-se bons resultados temporariamente; pouco a pouco, no entanto, o solo vai ficando intoxicado, tornando necessário o uso de mais adubos, para a obtenção de boas colheitas. Assim, quanto maior for a quantidade de adubos, mais contrários são os resultados.
Quando a colheita do arroz começa a declinar, os rizicultores acrescentam-lhe terra tirada de locais onde não foram utilizados adubos. Com isso, a colheita melhora durante algum tempo. Nessas ocasiões, eles se baseiam num raciocínio errado, interpretando que, como cultivam ano após ano, a plantação absorve os nutrientes do solo, causando o empobrecimento deste. Esquecem, entretanto, que isso ocorreu devido à utilização de adubos. Como nas novas terras a força vital é mais intensa, podem-se obter bons resultados. Deixando de lado as teorias, vou explicar, na prática, as vantagens da Agricultura Natural.
Em primeiro lugar, uma das características desse tipo de cultivo é a menor estatura das plantas. Nn cultivo com adubos, elas crescem mais e têm folhas maiores; tratando-se de plantas leguminosas, como dissemos antes, isso faz com que os frutos fiquem à sombra e não tenham bom crescimento. Ocorre, também, a queda das flores, trazendo como conseqüência a menor quantidade de frutos. No caso da soja, quando não se utilizam adubos consegue-se o dobro da colheita, e nenhum grão se apresenta bichado; além disso, seu sabor é incomparável. Evidentemente, em outras espécies como ervilhas e favas obtém-se o mesmo resultado, e a casca é bastante macia.
Outro aspecto digno de observação é a não-ocorrência de nenhum fracasso. Muitas vezes um leigo resolve plantar batatas e colhe-as em pequena quantidade e tamanho reduzido. Nesses casos, é costume a pessoa se lamentar, dizendo que a colheita foi péssima, mas ela não percebe que isso resultou do uso excessivo de adubos. Interpretando os resultados de maneira errada, ou seja, atribuindo o fracasso à pouca utilização de adubos, passa a usá-los em maior quantidade, o que faz piorar ainda mais a situação. Quando indagados a respeito, os especialistas e os orientadores, que não percebem a verdadeira causa do problema, respondem de maneiras totalmente desconcertantes, como por exemplo: “A causa está nas sementes, que, ou não eram boas ou foram semeadas fora da época apropriada”. Ou então: “O problema foi causado pela acidez do solo”.
As batatas plantadas sem adubos, no entanto, são muito brancas e cremosas, possuem bastante aroma e agradam logo ao primeiro contato com o paladar. São tão saborosas que, a princípio, pensa-se que são de alguma espécie diferente. O mesmo acontece com o inhame e a batata-doce. Esta última deve ser plantada em canteiros altos e em fileiras, entre as quais deve haver uma boa distância, de modo que a planta receba bastante sol. Assim, conseguir-se-ão batatas enormes e deliciosas, capazes de impressionar qualquer pessoa. Aliás, parece que os próprios agricultores não costumam adicionar muitos adubos ao solo quando se trata de batata-doce.
Agora tecerei considerações a respeito do milho. Seu cultivo sem adubos tem apresentado ótimos resultados. Gostaria, portanto, de dar-lhe um destaque especial. No início, por um ou dois anos, a colheita pode não satisfazer as expectativas, visto que as sementes ainda contêm as toxinas dos adubos, mas no terceiro ano os resultados já começam a aparecer. Sem toxinas no solo nem nas sementes, o milho cresce com o caule bastante forte, e suas folhas apresentam um verde vivo. Caso cresça num local onde não falta água nem sol, apresenta espigas longas, com os grãos tão bem dispostos que não há espaços vazios entre eles; logo na primeira mordida se percebe que são macios e doces, apresentando um sabor inesquecível.
Quanto aos nabos, são branquinhos, grossos, consistentes e doces, o que os torna muito saborosos. A aspereza e a acidez dos nabos são decorrentes das toxinas dos adubos. Aliás, as verduras produzidas sem adubos apresentam boa coloração, maciez e um aroma que abre o apetite, sendo livres de pragas. Evidentemente, são mais higiênicas, pela não-utilização de esterco.
O que eu também gostaria de recomendar são as berinjelas. Elas apresentam excelente coloração e aroma, casca macia e realmente dão água na boca. Em minha casa ninguém consegue mais comer berinjelas produzidas com adubos.
Tratando-se do plantio de arroz, mistura-se palha cortada ao solo alagado, que, assim, se aquece, pois a palha absorve o calor. Há, ainda, outro detalhe, já bastante conhecido: a água fria das montanhas faz mal à plantação. Por isso, devem-se fazer as valetas o mais rasas e longas possível, a fim de aquecer a água. Não se devem, também, fazer lagos no trecho intermediário, pois nestes, devido à profundidade, a água não esquenta de forma adequada.
No caso do pepino, melancia, abóbora, etc., obtêm-se resultados como jamais haviam sido conseguidos. Quanto ao arroz e ao trigo, têm estatura baixa e apresentam excelente quantidade e qualidade. O arroz, sobretudo, tem brilho e consistência especiais, além de excelente paladar, sendo sempre classificado como arroz de especial categoria.
Eis, portanto, as vantagens da Agricultura Natural. Não poderia haver melhor boa-nova, principalmente para quem tem horta caseira. O manuseio de esterco não só é insuportável para os amadores, como também traz o inconveniente de indesejáveis larvas de parasitas acabarem se hospedando na pessoa. Até agora, por desconhecimento desses fatos, trabalhava-se muito e no fim se obtinham maus resultados. No meu caso, por exemplo, apenas semeio as verduras e não tenho maiores trabalhos a não ser, de vez em quando, remover o mato que começa a crescer. Assim, obtenho excelentes verduras, e não há nada tão gratificante.
Como eu já disse, não há necessidade de adubos químicos nem de estrume, mas é preciso usar compostos naturais em larga escala. O mais importante, em qualquer cultivo, é ter cuidado para que as pontas dos pêlos absorventes cresçam livremente; para isso, deve-se evitar o endurecimento do solo. O composto natural deve estar meio decomposto apenas, pois, se o estiver totalmente, acaba endurecendo. Aquele que é feito somente com capim decompõe-se rapidamente, mas o de folhas de árvores demora muito mais, devido às fibras e nervuras, que são duras; portanto, deve-se deixá-lo decompondo por longo tempo, até sua suficiente decomposição. A razão disso é que as pontas dos pêlos absorventes têm o seu crescimento prejudicado pelas fibras das folhas utilizadas como compostos orgânicos. Ultimamente dizem que é bom arejar a raiz das plantas, mas isso não tem sentido, pois se é um solo que até deixa passar o ar, nele se processa o bom desenvolvimento das raízes. Na verdade, o ar nada tem a ver com isso.
Outro ponto importante é o aquecimento do solo. No caso das radicelas e dos pêlos absorventes das verduras comuns, basta fazer uma camada de composto natural com mais ou menos 30 centímetros, numa profundidade aproximadamente igual. Tratando-se de nabo, cenoura, bardana ou outros vegetais em que se visam as raízes, a profundidade deve ser compatível com o comprimento da raiz de cada planta. O composto à base de capim deve ser bem misturado com a terra, utilizando-se o composto à base de folhas de árvores para formar o leito abaixo do solo, como já foi explicado. Esse é o ideal.
Ultimamente fala-se muito em solo ácido, mas a causa da acidez está nos adubos. Portanto, o problema desaparece quando se deixa de usá-los.
É muito comum evitar-se o uso do mesmo solo para culturas repetitivas. Entretanto, eu tenho obtido ótimos resultados através delas (1). E os resultados têm melhorado a cada ano. Pode parecer milagre, mas há uma boa razão para isso. Como tenho afirmado, para vivificar o solo e ativar sua força, é necessário fazer culturas repetitivas, pois, com elas, o solo vai se adaptando naturalmente à cultura em questão.
Quanto às pragas, com a eliminação dos adubos seu número poderá não chegar a zero, mas reduz-se a uma fração do atual. Os próprios agricultores afirmam que o excesso de adubos aumenta as pragas.
Com relação ao fumo para charuto, sabe-se que o melhor é o produzido em Manila e Havana. Não apresenta folhas bichadas e tem excelente aroma; certa vez eu ouvi um especia¬lista no assunto dizer que na sua produção não se utilizam adubos. A inexistência de insetos em folhas do mato e o excelente aroma que algumas delas possuem são decorrentes da ausência de adubos.
Há um aspecto que deve ser observado: quando se introduz a Agricultura Natural num local já tratado com adubos, não se obtêm bons resultados durante um ou dois anos, porque a terra está intoxicada. É como um beberrão que deixa de beber abruptamente e por algum tempo fica meio atordoado. O mesmo problema acontece com os fumantes inveterados quando, de repente, suspendem o fumo, ou quando os viciados em morfina ou cocaína ficam sem estes entorpecentes. Deve-se, portanto, ter paciência por dois ou três anos; nesse espaço de tempo e com a diminuição gradativa das toxinas de adubos no solo e nas sementes, o solo começará a manifestar sua força.
Com as considerações que acabamos de tecer sobre a Agricultura Natural, os leitores deverão ter compreendido o quanto a agricultura tradicional está errada. Evidentemente, o novo método não tem nenhuma ligação com a fé, bastando apenas utilizar-se os compostos naturais para se obterem resultados revolucionários. Devem, contudo, reconhecer que, somando-se a esse procedimento a purificação do solo através da Luz de Deus, conseguem-se melhores resultados ainda.
1o de julho de 1949



A FORÇA DO SOLO

O princípio básico da Agricultura Natural consiste em fazer manifestar a força do solo. Até agora o homem desconhecia a verdadeira natureza do solo, ou melhor, não lhe era dado conhecê-la. Tal desconhecimento levou-o a adotar o uso de adubos e acabou por colocá-lo numa situação de total dependência em relação a eles, tornando essa prática uma espécie de superstição.
No começo, por melhor que eu explicasse o processo da Agricultura Natural, as pessoas não me davam ouvidos e acabavam em gargalhadas. Pouco a pouco, porém, minhas explicações foram sendo aceitas e, ultimamente, de ano para ano, aumenta o contingente de praticantes do novo método, mesmo porque as colheitas, em toda parte, vêm dando prodigiosos resultados. Ainda que a maioria pertença à esfera dos fiéis de nossa Igreja, em várias regiões já está aparecendo, fora dessa esfera, um número considerável de simpatizantes e praticantes da Agricultura Natural, número este que tende a aumentar rapidamente. Já se pode imaginar que não está longe o dia em que a veremos praticada em todo o território japonês. Falando abertamente, a divulgação do nosso método de agricultura poderá ser definida como “movimento para destruir a superstição dos adubos”.
Não usando absolutamente nada daquilo a que se dá o nome de adubo, seja de origem animal ou química, pois é um cultivo que utiliza apenas compostos naturais, o método é, realmente, o que seu nome diz: Agricultura Natural. As folhas e capins secos formam-se naturalmente, ao passo que os adubos químicos e mesmo o estrume de cavalo ou galinha, assim como os resíduos de peixe, carvão de madeira, etc., não caem do céu, nem brotam da terra: são transportados pelo homem. Portanto, não é preciso dizer que são antinaturais.
Nada poderia existir no Universo sem os benefícios da Grande Natureza, ou seja, nada nasceria nem se desenvolveria sem os três elementos básicos: o fogo, a água e a terra. Em termos científicos, esses elementos correspondem, respectivamente, ao oxigênio, ao hidrogênio e ao nitrogênio. Todos os produtos agrícolas existentes são gerados por eles. Dessa forma, Deus fez com que possam ser produzidas todas as espécies de ce¬reais e verduras que constituem a alimentação do homem. Seguindo a lógica, tudo será perfeitamente compreendido. Não seria absurdo se Deus criasse o homem e não providenciasse os alimentos que lhe possibilitariam a vida? Logo, se determinado país não consegue produzir os alimentos necessários à sua população é porque, em algum ponto, ele não está de acordo com as leis da Natureza criada por Deus. Enquanto não se atentar para isso, não se poderá sequer imaginar uma solução para o problema da escassez de alimentos.
A Agricultura Natural proposta por mim tem como base o princípio citado. O empobrecimento e as dificuldades dos agricultores serão solucionados satisfatoriamente com a adoção desse método. Deus deseja corrigir a penosa situação em que eles se encontram, e por isso está se dignando, com Sua benevolência e compaixão, a revelar e fazer propagar o princípio da Agricultura Natural, através de mim, para todo o mundo. Urge, portanto, que os agricultores despertem o mais rápido possível e adotem esse novo método agrícola. Só assim eles serão verdadeiramente salvos.
Conforme dissemos, se os três elementos básicos – fogo, água e terra – são forças motrizes para desenvolver os produtos agrícolas, bastará que estes sejam plantados numa terra pura, expostos ao sol e suficientemente abastecidos com água, para se obter um grande êxito, jamais visto até hoje. Não se sabe desde quando, mas o homem cometeu um enorme equívoco ao usar adubos, pois ignorou, completamente, a natureza do solo.
Efeitos contrários dos adubos
No início, a utilização de adubos traz bons resultados, mas, se essa prática continuar por muito tempo, gradativamente começarão a surgir efeitos contrários. Entre outras conseqüências, as plantas vão perdendo sua função inerente de absorver os nutrientes do solo e mudam suas características, passando a absorver os adubos como nutrientes. Se fizermos uma comparação com os toxicômanos, poderão compreender isso muito bem. Quando alguém começa a fazer uso de tóxicos, sente uma sensação muito agradável e durante certo período seu cérebro se torna mais lúcido. Por não conseguir esquecer esse prazer, a pessoa cai, pouco a pouco, num vício profundo, do qual é difícil se livrar. Entretanto, quando o efeito do tóxico acaba, ela fica em estado de letargia ou sente dores violentas. Como a situação é intolerável, ingere tóxico novamente, embora saiba o mal que isso lhe faz. E chega até ao roubo, para obter os recursos com que comprá-lo. Histórias com este seguimento são constantemente noticiadas nos jornais. Aplicando tal esquema à agricultura, podemos dizer que, hoje, todos os solos cultiváveis do Japão estão sob os efeitos de tóxicos e, por isso, gravemente enfermos. Todavia, tendo-se tornado cegos adeptos dos adubos, os agricultores não conseguem libertar-se deles. Ao ouvirem minhas explicações, esperançosos, resolvem suspendê-los, iniciando o cultivo natural. No entanto, como nos primeiros meses os resultados são insatisfatórios, eles concluem, precipitadamente, que o mais certo é desistir da mudança e voltar à prática habitual.
O nosso método de cultivo está baseado na fé, e por isso muitos o praticam sem duvidar do que eu digo. Assim fazendo, chegam à total compreensão do verdadeiro valor da Agricultura Natural.
Descreverei agora a seqüência dos fatos que ocorrem com a mudança da agricultura tradicional para a natural. No caso do arroz, ao transplantar-se a muda para o arrozal alagado, durante algum tempo a coloração das folhas não é boa, e os talos são finos; geralmente o visual é bem inferior ao de outros arrozais. Isso dá ensejo à zombaria por parte dos agricultores das proximidades, o que leva o plantador a vacilar, questionando se está no caminho certo. Cheio de preocupação e intranqüilidade, ele começa a fazer promessas a Deus. Entretanto, passados dois ou três meses, os pés de arroz começam a apresentar-se com mais vigor, melhorando tanto na época do florescimento, que o agricultor se sente aliviado. Finalmente, por ocasião da colheita, estão com o crescimento normal, ou acima dele. Ao se proceder à colheita, a quantidade do arroz sempre ultrapassa as previsões; além disso ele é de boa qualidade, tendo brilho, aderência e sabor agradável. Geralmente é um produto de primeira ou segunda classe, podendo-se dizer que não aparecem tipos abaixo desse nível de classificação. E mais ainda: seu peso varia de 5 a 10% acima do peso do arroz cultivado com adubos, e, o que é especialmente interessante, devido à sua consistência é um arroz que não se reduz com o cozimento, antes duplica ou triplica seu volume. Sustenta tanto que, mesmo comendo 30% menos, a pessoa se sente plenamente satisfeita. Logo, há uma grande vantagem do ponto de vista econômico.
Se todos os japoneses comessem arroz cultivado pelo método da Agricultura Natural, teríamos um resultado igual ao que se obteria se a produção fosse aumentada em 30%, tornando-se desnecessária a importação de arroz. E como isso seria esplêndido para a economia nacional!

A superstição dos adubos
Esclareçamos melhor o assunto tratado anteriormente. O fato de a plantação, durante dois ou três meses, apresentar um aspecto inferior, pode ser explicado pela presença de tóxicos no solo e nas sementes, mesmo que sejam só resíduos. Com o passar dos dias, esses tóxicos vão sendo eliminados e o solo e a plantação tendem a melhorar, restaurando-se a sua capacidade natural. Isso me parece perfeitamente compreensível por parte dos agricultores, pois eles sabem que, após uma troca de água ou uma chuva muito forte, mesmo os arrozais alagados de pior qualidade melhoram um pouco. Em verdade, isso ocorre porque os tóxicos dos adubos foram lavados e diminuíram. Quando o crescimento dos produtos agrícolas não é bom, costuma-se acrescentar terra ao solo. Se eles melhoram, os agricultores crêem ver confirmada sua suposição de que o solo estava pobre devido a contínuas plantações que absorveram seus nutrientes. Isso também é errado, pois o enfraquecimento do solo é causado pelos tóxicos de adubos utilizados ano após ano. Assim, percebe-se facilmente que os agricultores se deixaram dominar pela superstição dos adubos.

Os efeitos do uso de compostos naturais
Vejamos, agora, de que maneira a Natureza colabora com a Agricultura Natural. Quando se trata do cultivo de arroz em terreno alagado, procede-se ao corte da palha em pedaços bem pequenos, os quais serão misturados ao solo, para aquecê-lo. No caso do cultivo em terra firme, misturar-se-ão folhas e capins secos, apodrecidos até que suas nervuras fiquem macias. A razão disso é que, quando o solo está endurecido, o desenvolvimento das raízes fica dificultado, porque as pontas encontram resistência. Atualmente, dizem ser bom que o ar vá até as raízes, mas não é verdade, pois não há nenhuma razão para isso. Apenas, se ele chega até elas, é porque o solo não está endurecido. No caso de produtos cujas raízes não se aprofundam muito no solo, o ideal seria misturar, a este, compostos de folhas e capins; para os produtos de raízes profundas, deve-se preparar um leito composto de folhas de árvores a mais ou menos 35 cm de profundidade. Isso servirá para aquecer a terra. Variando a profundidade das raízes, o leito será formado na proporção adequada.
Geralmente as pessoas pensam que nos compostos naturais existem elementos fertilizantes, mas isso não corresponde à realidade. O papel desempenhado por eles é o de aquecer o solo, não o deixando endurecer. No caso de ressecamento do solo junto às raízes, devem-se colocar os compostos naturais numa espessura apropriada, pois isso conserva a umidade do solo. São esses os três benefícios dos compostos naturais.
Como se poderá perceber pelo que foi dito acima, o mais importante na Agricultura Natural é vivificar o solo. Vivificar o solo significa conservá-lo sempre puro, não utilizando maté¬rias impuras como os adubos. Dessa forma, já que não existem obstáculos, ele pode manifestar suficientemente a sua capacidade original. É engraçado que os agricultores falem em ‘‘deixar o solo descansar”. Trata-se, também, de um grande erro. Quanto mais cultivado, melhor será o solo. Em termos humanos, quanto mais se trabalha, mais saúde se tem; quanto mais se descansa, mais fraco se fica. Os agricultores, ao contrário, acreditam que, quanto mais se cultiva o solo, mais fraco ele vai ficando, devido ao consumo dos seus nutrientes por parte dos produtos agrícolas. Assim, procuram beneficiá-lo dando-lhe repouso, ou seja, suspendem as culturas repetitivas, mudando sempre a área de plantio. Isto é uma idiotice.

Cultura repetitiva, colheita farta
De acordo com o nosso método, a cultura repetitiva é uma prática muito recomendável. Uma prova disso é que estou cultivando milho, pelo sétimo ano consecutivo, em Gora, Hakone, numa terra em que há mistura de pequenas pedras. Apesar da má qualidade da terra, as espigas são mais longas que o normal, e os grãos, juntinhos e enfileirados, são adocicados, macios e saborosos.
Para justificar a cultura repetitiva, basta lembrar a capacidade inerente ao solo de se adaptar ao produto que é plantado. Compreenderemos isso muito bem se fizermos uma comparação com o ser humano. As pessoas que executam trabalhos braçais têm seus músculos desenvolvidos; quando se trata de atividade intelectual, é o cérebro que se desenvolve. Por essa mesma razão, quem muda constantemente de profissão ou de residência não obtém sucesso, o que nos leva a concluir o quanto estiveram errados os agricultores até hoje.

As boas novas para a sericultura
Finalizando, gostaria de dizer que, se cultivarmos o bicho-da-seda com folhas de amoreira tratada sem adubos, ele não adoecerá, seus fios serão de muito boa qualidade, resistentes, brilhantes, e a produção aumentará. Tal prática ocasio¬naria uma grande evolução no mundo da sericultura e traria incalculáveis benefícios à economia do país.
5 de maio de 1953



PRINCÍPIO DA AGRICULTURA NATURAL

Para que todos entendam realmente o princípio da Agricultura Natural, proponho-me explicá-lo através da ciência do espírito – da qual tomei conhecimento por meio da Revelação Divina – pois é impossível fazê-lo através do pensamento que norteia a ciência da matéria. No início, talvez seja muito difícil compreender esse princípio; todavia, à medida que o lerem várias vezes e o saborearem bem, fatalmente a dificuldade irá diminuindo. Caso isso não aconteça, é porque a pessoa está muito presa às superstições da Ciência.
O que eu exponho é a Verdade Absoluta. Os próprios fatos o comprovam. Como todos sabem, o método agrícola utilizado atualmente consiste na fusão do método primitivo com o método científico. Julga-se que houve um grande progresso, porém os resultados mostram exatamente o contrário, conforme podemos constatar pela grande diminuição da produção no ano passado. Os pés de arroz não tinham força suficien¬te para vencer as diversas calamidades que ocorreram, e essa foi a causa direta daquela diminuição. Mas qual a causa do enfraquecimento dos pés de arroz? Se eu disser que o fenômeno foi causado pelo tóxico chamado adubo, todos se surpreenderão, pois os agricultores, até agora, vieram acreditando cegamente que o adubo é algo imprescindível no cultivo agrícola. Devido a essa crença, ao pouco conhecimento dos agricultores e à cegueira da Ciência, não foi possível descobrir os malefícios dos adubos.
E inegável o valor da Ciência em relação a muitos aspectos; entretanto no que se refere à agricultura, ela não tem nenhuma força, ou melhor, está muito equivocada, pois considera bom o método criado pelo homem, negligenciando o Poder da Natureza. Isso acontece porque ainda se desconhece a natureza do solo e dos adubos. Há longos anos, o governo, os grandes agricultores e os cientistas vêm desenvolvendo um grande esforço conjunto, mas não se vê nenhum progresso ou melhoria. Diante de uma fraca produção como a do ano passado, podemos dizer que a Ciência não consegue fazer nada, sendo vencida pela Natureza sem oferecer nenhuma resistência. Não há mais nenhum método a ser empregado. A agricultura japonesa está realmente num beco-sem-saída. Mas devemos alegrar-nos, pois Deus ensinou-me o meio de sair dele – a Agricultura Natural. Afirmo que, além dessa, não existe outra maneira de salvar o Japão.
A base do problema é a falta de conhecimento em relação ao solo. A agricultura, até agora, tem negligenciado esse fator, que é o principal, dando maior importância ao adubo, algo acessório. Pensem bem. Sem a terra, o que podem fazer as plantas, sejam elas quais forem? Um bom exemplo é o daquele soldado americano que, após a guerra, praticou o cultivo na água, despertando grande interesse. Creio que ainda devem estar lembrados disso. No início, os resultados foram excelentes, mas ultimamente, pelo que tenho ouvido falar, eles foram decaindo, e o método acabou sendo abandonado.
Até hoje os agricultores fizeram pouco caso do solo, chegando a acreditar que os adubos eram o alimento das plantações. Com essa atitude, cometeram um espantoso engano. O resultado é que o solo se tornou ácido, perdendo seu vigor original. Isso está muito bem comprovado pela grande diminuição da safra no ano passado. Não percebendo seu erro, os agricultores gastam inutilmente elevadas somas em adubos, despendendo árduo esforço. É uma grande tolice, pois se está produzindo a própria causa dos danos.
Empregarei agora o bisturi da ciência espiritual para explicar a natureza do solo. Antes, porém, é preciso conhecer seu significado original.
Deus, Criador do Universo, assim que criou o homem criou o solo, a fim de que este produzisse os alimentos para nutri-lo. Basta semear a terra que a semente germinará, e o caule, as folhas, as flores e os frutos se desenvolverão, proporcionando-nos fartas colheitas no outono. Assim, o solo, que produz alimentos, é um maravilhoso técnico ao qual deveríamos dar grande preferência. Obviamente, como se trata do Poder da Natureza, a Ciência deveria pesquisá-lo. Entretanto, ela cometeu um grande erro: confiou mais no poder humano.
Mas o que é o Poder da Natureza? E a incógnita surgida da fusão do Sol, da Lua e da Terra, ou seja, dos elementos fogo, água e solo. O centro da Terra, como todos sabem, é uma massa de fogo, a qual é a fonte geradora do calor do solo. A essência desse calor, infiltrando-se pela crosta terrestre, preenche o espaço até a estratosfera. Nessa essência também existem duas partes: a espiritual e a material. A parte material é conhecida pela Ciência com o nome de nitrogênio, mas a parte espiritual ainda não foi descoberta por ela. Paralelamente, a essência emanada do Sol é o elemento fogo, que também possui uma parte espiritual e uma parte material; esta última é a luz e o calor, mas aquela também ainda não foi detectada pela Ciência. A essência emanada da Lua é o elemento água, e a sua parte material é constituída por todas as formas em que a água se apresenta; quanto à parte espiritual, também ainda não foi des¬coberta. O produto da união desses três elementos espirituais ainda não detectados constitui a incógnita X através da qual todas as coisas existentes no Universo nascem e crescem. Essa incógnita X é semelhante ao nada, mas é a origem da força vital de todas as coisas. Conseqüentemente, o desenvolvimento dos produtos agrícolas também se deve a esse poder. Por isso, podemos dizer que ele é o fertilizante infinito. Reconhecendo-se essa verdade, amando-se e respeitando-se o solo, a capacidade deste se fortalece espantosamente. A Agricultura Natural é, pois, o verdadeiro método agrícola. Não existe outro. Através de sua prática, o problema da agricultura será solucionado pelas raízes.
Sem dúvida as pessoas ficarão boquiabertas, mas existe outro fator importante. O homem, até agora, pensava que a vontade-pensamento, assim como a razão e o sentimento, limitava-se aos animais. Entretanto, eles existem também nos corpos inorgânicos. Obviamente, como o solo e as plantações estão naquele caso, respeitando-se e amando-se o solo sua capacidade natural se manifestará ao máximo. Para tanto, o mais importante é não sujá-lo, mas torná-lo ainda mais puro. Com isso, ele ficará alegre e, logicamente, se tornará mais ativo. A única diferença é que a vontade-pensamento, nos seres animados, é mais livre e móvel, ao passo que, o solo e as plantas não têm liberdade nem movimento. Assim, se pedirmos uma farta colheita com sentimento de gratidão, nosso sentimento se transmitirá ao solo, que não deixará de corresponder-nos. Por desconhecimento desse princípio, a Ciência comete uma grande falha, considerando que tudo aquilo que é invisível e impalpável não existe.
27 de janeiro de 1954



A GRANDE REVOLUÇÃO DA AGRICULTURA

Parte I
Há mais de dez anos descobri e venho propondo o método agrícola que, dispensando o uso dos adubos químicos e do estrume de origem animal e humana, possibilita a obtenção de grandes colheitas. Naquela época, conquanto eu me esforçasse bastante, tentando convencer os agricultores, ninguém queria me ouvir. Entretanto, é minha convicção, desde o princípio, que o método natural de cultivo representa a Verdade Absoluta, e estou certo de que todos chegarão à mesma conclusão, compreendendo também que, se não se apoiarem nisso, não só os agricultores nunca poderão ser salvos, mas o próprio destino da nação ficará comprometido. É por esse motivo que venho insistindo no assunto até hoje.
Como a situação foi se tornando séria, exatamente como eu temia que acontecesse – não sei se feliz ou infelizmente sinto uma necessidade cada vez maior de fazer os agricultores japoneses e todos os povos entenderem a Agricultura Natural. Comecei, também, a enxergar luz no futuro da nossa agricultura, motivo que me leva a anunciá-la aqui, de maneira ampla, certo de que afinal chegou a hora.
O fato de eu ser um religioso favoreceu a implantação da Agricultura Natural. Com efeito, não foram poucos os fiéis que, embora não compreendessem bem as minhas explicações, passaram a praticar esse método de cultivo, podendo constatar seus resultados positivos num espaço de tempo relativamente curto. Pouco a pouco foi crescendo o número de simpatizantes, inclusive entre agricultores fora da esfera da Igreja.
Explicarei agora, minuciosamente, o princípio básico da Agricultura Natural, método que permite a obtenção de grandes colheitas utilizando apenas compostos naturais. Abordarei, em primeiro lugar, as vantagens do método: não serão necessários gastos com adubos, o dano causado pelos insetos nocivos diminuirá de forma considerável, ficarão reduzidos a menos da metade os prejuízos causados pelos ventos e pelas chuvas. Logo, é um método assombroso. Tudo isso refere-se ao arroz, mas aplica-se a qualquer tipo de produção agrícola. Resumindo, todos os produtos cultivados pela Agricultura Natural apresentarão maravilhosos resultados. No caso da batata-doce, por exemplo, obter-se-ão batatas enormes, de causar espanto; nas leguminosas os grãos serão grandes, e a quantidade maior; o nabo terá uma bela cor branca, textura fina, consistente e macia, e um excelente sabor; as verduras, não carcomidas pelos insetos, terão boa coloração, serão macias e de sabor esplêndido. Além dessas espécies, o milho, a melancia, a abóbora, enfim, todos os cereais, legumes, verduras ou frutas, serão de ótima qualidade.
Merece especial destaque o maravilhoso sabor dos produtos da Agricultura Natural; quem experimentar seu arroz, trigo e verduras, é provável que nunca mais tenha vontade de comer os que são produzidos através do cultivo com adubos. Atualmente eu me alimento apenas com produtos naturais e, como felizmente os praticantes do método vêm aumentando cada vez mais, ganho-os em grande quantidade, a ponto de não poder consumir tudo.
Quanto às frutas, são de qualidade muito boa, tendo tido sua safra aumentada após a suspensão do uso de adubos; como a receita decorrente de sua venda também aumentou, todos os interessados estão agradecidos. Do mesmo modo, as flores são maiores, de coloração mais bonita e viva; usadas em vivificações florais, por exemplo, duram mais tempo, contentando mais e melhor a muitas pessoas.
Logo em seguida à adoção da Agricultura Natural, ocorre uma acentuada diminuição de insetos nocivos. Estes surgem dos adubos artificiais e por isso é óbvio que, se os agricultores deixarem de usar tais adubos, eles não se criarão mais. Hoje em dia, entretanto, na tentativa de exterminá-los, utilizam-se intensamente os defensivos agrícolas, que, penetrando no solo, tornam-se a causa da proliferação dos insetos nocivos. De tal forma isso revela ignorância, que nos causa compaixão.
Nos últimos tempos, os produtos agrícolas mostram-se mais vulneráveis aos danos causados pelos ventos e pelas chuvas que ocorrem todos os anos; na Agricultura Natural, tais prejuízos diminuirão muito, porque, deixando de absorver adubos artificiais, que os enfraquecem demasiadamente, os produtos resistirão melhor às intempéries.
Descobri que tanto os adubos de origem animal como os adubos químicos, ao serem absorvidos pelas plantas, tornam-se venenos e que esses venenos vêm a constituir alimento para os insetos nocivos, os quais passam a se multiplicar ferozmente. Conforme o tipo de adubo, a partir dele próprio proliferam microorganismos que começam a carcomer as plantas. Se surgirem na raiz, carcomerão os pêlos absorventes e acabarão por enfraquecer o vegetal. Aí está a causa das folhas secas, caules quebrados, queda das flores, frutos imaturos e atrofiamento das batatas. Inúmeros outros tipos de microorganismos podem proliferar nas diversas partes da planta, mas, se esta for saudável, terá força para eliminá-los. Entretanto, devido ao enfraquecimento causado pela aplicação de adubos, as plantas acabam sendo vencidas por eles.
A planta sem adubos é mais resistente aos ventos e às chuvas, não se prostrando com facilidade; ainda que caia, logo se reerguerá, ao passo que a cultivada com adubos permanecerá caída, ocasionando um prejuízo enorme. Poderão compreendê-lo bem se observarem a ponta das raízes. Nas plantas cultivadas sem adubos, os pêlos absorventes são muito mais numerosos e compridos, e a ramificação é bem maior; portanto, o enraizamento é mais forte. Quer se trate de arroz, quer se trate de verduras, qualquer agricultor sabe que quanto menor é a estatura da planta e quanto mais curtas são as suas folhas, mais frutos ela dará. Em contrapartida, as plantas cultivadas com adubos são mais altas, têm folhas grandes, mas, embora à primeira vista sejam magníficas, sua frutificação não é tão boa.
Correlatamente, no caso do bicho-da-seda, se o cultivarmos com amoreira tratada sem adubos, ele será saudável, seu casulo terá mais resistência e brilho, e a produção será maior. Isso também se deve à não-proliferação de doenças no bicho-da-seda.
Conforme vemos, todos os produtos cultivados pela Agricultura Natural são incomparavelmente vantajosos em relação aos que são cultivados com adubos.
O que se deve conhecer em primeiro lugar, é a capacidade específica do solo. Antes de mais nada, ele foi criado por Deus, Criador do Universo, a fim de produzir alimento su-fi¬cien¬te para prover o homem e os animais. Por essa razão, a terra já está em si mesma abundantemente adubada – podemos até dizer que toda ela é uma massa de adubos. Desconhecendo isso até hoje, os homens se enganaram ao pensar que os alimentos das plantas são os adubos. Baseados nessa crença, vieram aplicando adubos artificiais e, conseqüentemente, foram enfraquecendo, de forma desastrosa, a energia original do solo. Não é um equívoco espantoso?
Para que a produção agrícola aumente, deve-se fortalecer ao máximo a própria energia do solo. E como se poderá fazer isso? Não lhe misturando nada a não ser os compostos naturais, fazendo-o permanecer puro e preservando-o o mais que se puder. Assim se obterão ótimos resultados, mas, com a mentalidade que tem vigorado até agora, jamais se conseguirá acreditar nisso.
Com base nas razões citadas, vemos que o princípio fundamental da Agricultura Natural é o absoluto respeito à Natureza, que é uma grande mestra. Quando observamos o desenvolvimento e o crescimento de tudo que existe, compreendemos que não há nada que não dependa da força da Grande Natureza, isto é, do Sol, da Lua e da Terra, ou, em outras palavras, do fogo, da água e da terra. Sem dúvida isso ocorre também com as plantações, pois, se a terra for mantida pura e elas forem expostas ao sol e abundantemente abastecidas de água, produzir-se-á mais do que o necessário para o sustento do ser humano. Dirijam seu olhar para a superfície do solo das matas e atentem para a abundância de capins secos e folhas caídas, cuja provisão é renovada em cada outono. Eles representam o trabalho da Natureza para enriquecer o solo, e ela nos ensina que devemos utilizá-los. Os agricultores acreditam haver elementos fertilizantes nesses capins secos e folhas caídas, que eles consideram adubos naturais, mas isso não é verdade. A eficácia do “adubo natural” consiste em aquecer a terra e não deixar que ela resseque e endureça; em síntese, fazer que a terra absorva água e calor e não fique dura.
Assim, para darmos “adubo natural” ao arroz, basta cortar a palha em pedaços pequeninos e misturá-los bem à terra. Esse é o processo natural. A palha é do próprio arroz e é eficaz para o aquecimento das raízes. A existência de bosques perto das hortas é bem significativa: devemos usar as folhas e capins secos para o cultivo de nossas verduras. O centro do globo terrestre é uma enorme massa de fogo da qual se irradia constantemente o calor, isto é, o espírito do solo. Aí está o nitrogênio – adubo que nos foi concedido por Deus – o qual atravessa as camadas do planeta, eleva-se a uma certa altitude e aí permanece, até que, com a chuva, desça para sua superfície e penetre no solo. Esse nitrogênio caído do céu é adubo natural e, sem dúvida, sua quantidade é a ideal, sem excesso nem falta.
Mas por que razão começaram a empregar adubos de nitrogênio? Por ocasião da Primeira Grande Guerra, devido à falta de alimentos e à necessidade de aumentar rapidamente sua produção, a Alemanha descobriu o meio de obter nitrogênio da atmosfera. Ao empregá-lo, conseguiu que a produção tivesse um aumento enorme. A partir de então, tal resultado foi difundido mundialmente, mas a verdade é que se trata de algo passageiro, que não se prolongará por muito tempo. Fatalmente o excesso de nitrogênio provocará o enfraquecimento do solo e acabará fazendo a produção diminuir. Entretanto, ainda não se compreendeu esse mecanismo. Em outras palavras, basta pensarmos que tudo isso é semelhante ao que ocorre com os toxicômanos.
Há um fato para o qual devo chamar atenção: embora se adote a Agricultura Natural, a quantidade de tóxicos existentes no solo e nas sementes em conseqüência do cultivo tradicional, exercerá uma grande influência. Por exemplo: em alguns arrozais, a partir do primeiro ano haverá um aumento de 10% na produção; em outros, no primeiro e no segundo ano haverá uma redução de 10 a 20%; finalmente, a partir do terceiro ano, haverá um aumento de 10 a 20%, e daí em diante os resultados gradativamente alcançarão os índices esperados. Contudo, enquanto os resultados se apresentarem demasiado ruins, é porque ainda restam tóxicos de adubos artifi¬ciais em grande quantidade; para amenizar a ação destes últimos é bom acrescentar ao solo, provisoriamente, terras isentas de adubos.
Existe outro fato muito importante: uma vez que o arroz absorve adubos químicos como o sulfato de amônia, esse violento tóxico é ingerido pelo homem diariamente e, mesmo em doses mínimas, de forma imperceptível, é óbvio que irá causar-lhe danos. Pode-se dizer que talvez seja essa uma das causas do aumento percentual das pessoas hoje acometidas por doenças.
A seguir, enumero, de forma rápida, as vantagens econômicas do cultivo natural:
1 – Os gastos com adubos serão dispensados.
2 – Os trabalhos diminuirão pela metade.
3 – A safra aumentará enormemente.
4 – Os produtos aumentarão de peso específico, não diminuirão de volume ao serem cozidos e terão um delicioso sabor.
5 – O prejuízo causado pelos insetos nocivos diminuirá muito.
6 – Problemas que preocupam o homem como o das larvas e parasitas intestinais desaparecerão.
Através das vantagens acima, poderão compreender a enorme bênção que é o nosso método de cultivo. Com a Agricultura Natural, o problema alimentar do Japão ficará solucio¬nado, o que, além de tudo, irá motivar ou exercer boa influência sobre outros problemas – principalmente o que concerne à saúde do homem. Se essa técnica for difundida pelo nosso país, incrementar-se-á sua reconstrução, e não há a menor dúvida de que, um dia, ele chegará a ser visto, por todos os outros países, como uma nação de cultura elevada. Trabalhando nesse sentido, desejo fazer que o maior número possível de japoneses leia esta publicação especial.
Por último, quero frisar que não tenho o mínimo propósito de divulgar nossa Igreja através do presente artigo, mesmo porque as pessoas alheias a ela poderão praticar a Agricultura Natural e alcançar bons resultados, conforme dissemos anteriormente.

Parte II
Examinando os relatórios provindos de várias regiões sobre os resultados da Agricultura Natural no ano passado, constatei que alguns agricultores, infelizmente, por ser ainda muito cedo, não puderam efetuar colheitas. Entretanto, como tenho dados suficientes, passo a relatar minhas impressões.
Visto que a Agricultura Natural, antes de tudo, dispensa os adubos, até agora considerados como a vida dos produtos agrícolas, todos os tipos de censura lhe foram feitos pelos próprios familiares dos agricultores e por pessoas de suas al¬¬deias, terminando por torná-la alvo de gozação e risos. Mas os praticantes do método suportaram tudo isso em silêncio e persistiram. Ao ler esses relatos, lágrimas de emoção me sobem aos olhos; sinto, também, um aperto no coração quando penso que, não fosse pela sua fé, eles nada teriam conseguido. Entretanto, partindo de pessoas que descendem de longas gerações totalmente dominadas pela superstição dos adubos, essa descrença de muitos é natural. Tudo isso me faz lembrar certos descobridores e inventores que a História registrou, cujas obras ainda hoje prestam serviços à humanidade, e que, mesmo sofrendo por mal-entendidos e opressões, continuaram lutando para ver reconhecidos os frutos de sua inteligência e trabalho. Esse difícil procedimento não poderia deixar de nos comover.
Com base nisso, eu estava certo de que a Agricultura Natural encontraria, por algum tempo, oposição e dificuldades, mas também acreditava que ela não tardaria a mostrar resultados surpreendentes, bastando ter paciência durante certo período. Como eu esperava, posso notar, através dos relató¬rios chegados às minhas mãos, que finalmente o cultivo sem adubos está despertando interesse em vários setores. No início, as circunstâncias eram muito desfavoráveis e, como os próprios agricultores não tinham muita confiança no novo método, foram poucos os que abertamente começaram a praticá-lo; a grande maioria começou a experimentá-lo naquele estado de “confiar, desconfiando”. Além do mais, como a terra e as sementes ainda estavam muito impregnadas de tóxicos, no primeiro ano as plantas apresentavam folhas amarelas e talos muito finos, de modo que os plantadores chegavam a achar que elas secariam. Segundo suas próprias informações, isso os deixava tão inseguros e impacientes, que só lhes restava orar a Deus por um milagre; entretanto, diante dos bons resultados na época das colheitas, eles ficaram mais tranqüilos, embora só viessem a receber a coroa da vitória depois de ultrapassada essa fase difícil.
5 de maio de 1953



DANOS CAUSADOS PELAS PRAGAS

São três as preocupações dos agricultores: o elevado preço dos adubos, os prejuízos causados pelas pragas e os danos decorrentes dos ventos e das chuvas. Como já expliquei, em capítulos anteriores, os malefícios dos adubos, passarei a falar agora sobre os danos causados pelas pragas.
É importante saber, de forma conclusiva, que as pragas se originam dos adubos. Aplicados ao solo, eles acabam tornando-o impuro, modificam suas características, fazem regredir sua capacidade e, ao mesmo tempo, deixam sujeiras como resíduos. É óbvio que todas as matérias sujas apodrecem. Aí aparecem larvas ou ovos,juntamente com bactérias. Se essa é a lei da matéria, nela se enquadram as plantas. O aparecimento de vermes nas fossas comprova o que dizemos. As várias espécies de pragas originam-se dos diversos tipos de adubos. Dizem que ultimamente surgiram novas espécies, mas isso nada mais é que uma conseqüência do aparecimento de novos adubos. O fato é evidenciado pela afirmação dos agricultores de que existem muitos insetos nocivos em locais próximos às fossas.
Outro ponto importante é que, quando aparecem pragas, utilizam-se defensivos agrícolas para combatê-las, o que é extremamente prejudicial. Os inseticidas são venenos e matam os insetos, mas, quando se infiltram no solo, acabam contaminando-o e enfraquecendo-o ainda mais. Assim, o que nele for cultivado sofrerá os danos causados por mais um veneno, além dos tóxicos dos adubos. O solo, da mesma forma que o homem, perde a resistência, e as pragas se multiplicam. É realmente um círculo vicioso. Nesse aspecto, inclusive, pode-se notar o quanto a agricultura tradicional está errada. Além do mais, ingerindo alimentos que absorveram substâncias venenosas como o sulfato de amônia contido nos fertilizantes, o corpo humano sofre os seus efeitos; e é óbvio que isso faça mal à saúde, pois suja o sangue. No caso do arroz, por exemplo, que se come diariamente, mesmo que a quantidade de veneno ingerido em cada refeição seja ínfima, ela vai se acumulando ao longo do tempo e torna-se a causa de doenças.
15 de janeiro de 1951



DANOS CAUSADOS
PELAS CHUVAS E VENTOS

Os danos causados pelas chuvas e ventos tendem a aumentar de ano para ano, e tanto o governo como o povo estão bastante preocupados em evitá-los. As obras preventivas são de altíssimo custo, de modo que, no momento, adotam-se apenas soluções improvisadas; todavia, alguma coisa deverá ser feita, já que os prejuízos se repetem a cada ano. Atualmente, não há outra alternativa a não ser procurar diminuí-los.
Com a nossa Agricultura Natural, entretanto, as raízes das plantas se tornam mais resistentes, a incidência de quebra dos caules é mínima, e não ocorre queda das flores nem apodrecimento dos caules após a irrigação. Mesmo quando as outras áreas de plantio são afetadas consideravelmente, as da Agricultura Natural sofrem danos irrisórios, o que as pessoas acham muito estranho. Observando as extremidades das raízes, vemos que elas apresentam formações capilares mais longas e em maior quantidade que as das plantações convencionais, circunstância que lhes proporciona enorme resistência nessas ocasiões.
Estabelecendo analogia com o homem, está comprovado que as pessoas que comem apenas alimentos frescos e sem tóxicos são sadias. O mesmo acontece com as plantas, e isso não se limita ao trigo ou arroz. Segundo os agricultores, as plantas de baixa estatura e folhas pequenas são as que oferecem as melhores safras, as que dão mais frutos. É justamente o que ocorre na Agricultura Natural; pode-se ver, portanto, como ela é ideal. Além do mais, seus produtos apresentam excelente qualidade e sabor, reconhecidos por todos aqueles que já a experimentaram. A razão disso é que, quando se utilizam adubos, os nutrientes são absorvidos na maior parte pelas folhas, o que as faz crescer demasiadamente, afetando a frutificação. Acrescente-se que a quantidade de arroz obtida através da Agricultura Natural é bem maior; já se conseguiram até cento e cinqüenta brotos com uma só semente, resultando em cerca de quinze mil grãos – recorde admirável. Outra característica do arroz produzido por esse método é que a sua palha se apresenta bastante forte e fácil de ser trabalhada.
15 de janeiro de 1951


O GLOBO TERRESTRE RESPIRA

Todos sabem que os seres vivos respiram. Na verdade, a respiração é uma propriedade de todos os seres até mesmo dos vegetais e dos minerais. Se eu disser que o globo terrestre também respira, muitos poderão achar estranho; todavia, com a explanação que farei a seguir, tenho certeza de que ninguém irá discordar.
O globo terrestre respira uma vez por ano. A expiração inicia-se na primavera e chega ao ponto culminante no verão. O ar que ele expira é quente, como no caso da respiração do homem, e isso se deve à dispersão do seu próprio calor. Na primavera essa dispersão é mais intensa, e tudo começa a crescer; as folhas começam a brotar e até o homem se sente mais leve. Com a chegada do verão, as folhas tornam-se mais vigorosas e, atingido o clímax da expiração, o globo terrestre recomeça a inspirar; daí as folhas principiarem a cair. Tudo toma, então, um sentido decrescente, e o próprio homem fica mais austero. O outro ponto culminante é o inverno. Essa é a imagem da Natureza.
O ar expirado pelo globo terrestre é a energia espiritual do solo, que a Ciência denomina nitrogênio; graças a ele as plantas se desenvolvem. O nitrogênio sobe às camadas mais altas da atmosfera junto com a corrente de ar ascendente e lá se acumula, retornando ao solo com as chuvas. Esse é o adubo da Natureza, à base de nitrogênio. Por essa razão, é um erro retirar o nitrogênio do ar e utilizá-lo como adubo. É certo que com a aplicação de adubo químico à base de nitrogênio consegue-se o aumento da produção, mas seu uso prolongado acarreta intoxicação e envelhecimento do solo, pois a força deste diminui. Como é do conhecimento geral, o adubo à base de nitrogênio foi elaborado pela primeira vez na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial. No caso de ser necessário aumentar a produção de alimentos devido à guerra, ele satisfaz o objetivo; entretanto, com o fim da guerra e o conseqüente retorno à normalidade, seu uso deve ser suspenso.
Outro aspecto importante é o que diz respeito às manchas solares, que desde a antigüidade têm servido de assunto para muitos debates. A verdade é que essas manchas representam a respiração do Sol. Dizem que elas aumentam de número de onze em onze anos, mas isso acontece porque a expiração chegou ao ponto culminante. Com relação ao luar, considera-se que ele é o reflexo da luz do Sol, mas convém saber que o Sol arde graças ao elemento água, proveniente da Lua. Esta possui um ciclo de vinte e oito dias, e isso também constitui o seu movimento de respiração.
5 de setembro de 1948



PARAÍSO TERRESTRE

“Paraíso Terrestre” é uma expressão que soa maravilhosamente. Não há nenhuma outra que inspire mais Luz e Esperança. A maioria das pessoas, no entanto, considera o Paraíso Terrestre uma utopia, algo sem qualquer possibilidade de realização. Quanto a mim, creio na sua chegada e sinto-a bem próxima.
Meditemos na grande advertência bíblica: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus”. Parece-nos impossível que o grande fundador do poderoso cristianismo, que influenciou metade do mundo, tenha proferido palavras sem fundamento.
É natural que todos queiram saber o que seja o Paraíso Terrestre. Vou descrevê-lo apelando para a imaginação.
O Paraíso Terrestre pode ser compreendido como o Mundo dos Felizes. Será um mundo de alta civilização, isento de doença, pobreza e conflito. Cabe a nós, entretanto, encontrar a forma de minorar o sofrimento humano e transformar em paraíso este mundo repleto de males.
Inicialmente, precisamos descobrir como eliminar a doença, pois, entre as três grandes desgraças que citamos, ela é a principal. Em seguida, temos de vencer a pobreza, cuja causa primária é a doença; os pensamentos errados, as falhas políticas e a deficiente organização social são causas secundárias. Quanto à inclinação para o conflito é motivada pelo estado selvagem de que a humanidade ainda não conseguiu se libertar. Portanto, é essencial eliminar as três grandes desgraças.
Como adquiri confiança na solução desses problemas, vou esclarecer a realidade da forma mais simples possível.
Todos aqueles que ingressam em nossa Igreja e seguem seus ensinamentos, para sua própria surpresa, vão sendo purificados espiritual e fisicamente, libertam-se pouco a pouco da pobreza e tomam aversão aos conflitos. Há inúmeras experiências de fé provando que a maioria dos fiéis, com o correr dos anos, goza de crescente felicidade.
É condenável salientar os defeitos alheios, mas, neste momento, devo fazer referência às pessoas que, embora possuam fé, tombam nas garras de doenças fatais ou continuam vivendo de forma miserável, porém satisfeitas e contentes. Comparando-as com os descrentes, pode ser que estejam salvas espiritualmente, mas não fisicamente. A salvação foi feita pela metade. A Verdadeira Salvação abrange o espírito e o corpo. Numa família, todos devem tornar-se saudáveis, libertar-se da pobreza e usufruir de alegria plena. Até hoje, porém, visava-se apenas à salvação do espírito, não havendo preocupação com o corpo físico; todos se resignavam, considerando que a Fé limita-se à salvação da alma.
Muitos religiosos afirmam que a Fé que busca obter graças imediatas é de nível inferior. Trata-se de uma concepção ilógica, pois não há quem não aspire a graças imediatas. Se alguém se queixa de dores físicas, é estranho retrucar que o homem deve superar a vida e a morte. Ora, ninguém é capaz de tal superação. Pensar que se conseguiu tal coisa é enganar a si próprio.
Um episódio relacionado à história do mestre Takuan é bem ilustrativo. Quando ele estava às portas da morte, cercado de pessoas, alguém lhe solicitou que escrevesse uma frase. Takuan, tomando da pena, escreveu: “Não quero morrer.” Imaginando algum engano, pois julgavam que um mestre tão notável não escreveria tal coisa, entregaram-lhe novamente a pena e o papel. E o mestre escreveu: “Não quero morrer de maneira alguma.”
Admiro essa atitude. Em igual circunstância, a tendência vaidosa seria escrever: “Acaso temerei a morte?” O mestre, porém, abandonou todo falso orgulho e revelou francamente seus sentimentos. Isso merece consideração, porque um simples bonzo não conseguiria agir assim.
Muitas pessoas que pretendem salvar o próximo, fazem autopropaganda, apesar de ainda não viverem livres das desgraças. A intenção pode ser boa, mas os meios são incorretos. Só devemos pensar em conduzir aqueles que são vítimas de sofrimentos e misérias, quando já tivermos conseguido a nossa própria salvação e felicidade; então, poderemos trazê-los ao nível em que estamos. Nossos semelhantes sentir-se-ão atraídos ao presenciar nosso estado feliz. É quando a propaganda surte cem por cento de efeito. Eu mesmo não ousei difundir meus ensinamentos antes de me encontrar em boas condições. Só o fiz quando me senti abençoado pelas Graças Divinas.
Se considerarmos que o Paraíso Terrestre é o Mundo dos Felizes, concluiremos que, no lugar onde as pessoas se reúnem e se tornam felizes, está estabelecido o Paraíso Terrestre.
25 de janeiro de 1949



A RESPEITO DO PARAÍSO TERRESTRE

Diariamente, através do rádio e dos jornais, tomamos conhecimento de que a sociedade está repleta de males. Numa visão a grosso modo, e excluindo a guerra, podemos enumerar a corrupção dos funcionários públicos, assassinatos, roubos, fraudes, suicídios, tuberculose e outras doenças contagio¬sas, falta de alimentos, crises habitacionais, dificuldades financeiras, opressão de impostos, etc. As coisas boas são tão poucas quanto as estrelas do amanhecer... Então surge a dúvida: por que a sociedade chegou até esse ponto?
Realmente, pode ser que existam muitas causas, mas, em poucas palavras, diríamos que a situação é decorrente da decadência moral e também da acentuada decadência do nível do homem. É por isso que, ultimamente, os entendidos no assunto e os educadores começaram a interessar-se por essa questão. Outra causa que pode ser levantada é que, após a Segunda Grande Guerra, o pensamento liberal passou dos limites. Parece que se discute a reforma e o incremento da educação, da moral e da educação cívica por não haver outra alternativa. Mas é interessante observar que, em tais ocasiões, o Japão nunca recorre à Religião, o que talvez possa ser explicado. As religiões antigas são fracas demais, e as novas, em sua maioria, são supersticiosas e falsas. É por isso que, como todos vêem, ainda não se conseguiu achar um caminho que levasse à solução radical do problema. Eu, porém, elaborei um plano concreto, objetivando solucioná-lo de forma diferente.
Para começar, baseei-me nas diversões populares. Naturalmente, em qualquer época, a grande massa popular necessita de diversões. Na sociedade atual, entretanto, as que existem são de baixíssima categoria. De fato, teatro, cinema, esporte, xadrez, dominó, etc., são diversões aceitáveis, mas acho que se fazem necessárias recreações de nível ainda mais elevado. É com esse objetivo que a nossa Igreja está construindo o protótipo do Paraíso Terrestre, nas terras de Hakone e Atami. Co¬mo já escrevi várias vezes, aí será construído o paraíso ideal, onde se acham perfeitamente harmonizadas a beleza natural e a beleza criada pelo homem. Um projeto grandioso como esse, não creio que já tenha sido elaborado por alguém. Encantada com a atmosfera tão diferente do mundo a que está acostumada, qualquer pessoa, nesses locais, esquece-se de tudo e até pensa estar em cima das nuvens. Visto que isso acontece antes mesmo de termos concluído metade da obra, todos ficam maravilhados.
O protótipo de Hakone já está próximo de sua conclusão, mas, como é uma obra de pequena escala, falarei a respeito do protótipo de Atami, em plena construção, atualmente.
No jardim de cem mil metros quadrados, com altos e baixos, estão sendo plantados arbustos e árvores que dão flores, como ameixeiras, cerejeiras, azaléias, etc., mescladas com árvores que estão sempre verdes. Também está em fase de preparação a construção de um jardim com as mais diversas variedades de flores. Pela sua beleza encantadora na primavera e pela paisagem da Baía de Sagami, que se pode avistar ao longe, não seria exagero dizer que o protótipo de Atami é um enorme e ideal “Jardim do Éden”.
Como localização, este protótipo do Paraíso Terrestre está situado no melhor local de Atami. Além do mais, para acrescentarmos maior beleza ao lugar, construiremos um magnífico museu de belas-artes, cuja conclusão certamente fará com que o protótipo do Paraíso Terrestre de Atami se torne alvo da admiração não só de japoneses como de estrangeiros. Por conseguinte, qualquer pessoa que visite esse local purificará seu espírito maculado pelas condições do mundo, e sua alma, completamente árida, será regada na própria fonte. Assim revigorada, seu trabalho renderá mais e, naturalmente, seu caráter também se elevará. Por isso, a contribuição do protótipo do Paraíso Terrestre para o espírito das pessoas da sociedade será inestimável.
1º de janeiro de 1952



CONSIDERAÇÕES SOBRE
O PARAÍSO TERRESTRE

O Paraíso Terrestre a que costumamos nos referir, é, em termos mais claros, o Mundo do Belo. Em relação ao homem, é a beleza dos sentimentos, o belo espiritual. Naturalmente, as palavras e atitudes do homem devem ser belas. Da expansão do belo individual nasceria o belo social, isto é, as relações pessoais se tornariam belas, assim como também as casas, as ruas, os meios de transporte e as praças públicas. Em grande escala, como é natural que a limpeza acompanhe o Belo, a política, a educação e as relações econômicas também se tornariam belas e limpas, da mesma forma que as relações diplomáticas entre os países.
Pensando desse modo, podemos perceber o quanto a sociedade contemporânea está cheia de fealdade e maldade. Nas classes baixas, principalmente, o Belo é escasso demais, em virtude das péssimas condições financeiras, que causam a decadência do ensino e a precariedade dos estabelecimentos e instalações de atendimento ao público. Daí, conseqüentemente, nasce a intranqüilidade social.
Agora, gostaria de falar em especial sobre a parte relativa às diversões. Nesse campo, o Belo precisa ser muito enriquecido, pois a consciência do Belo é o que de melhor existe para a elevação dos sentimentos humanos. Esse é um dos motivos pelos quais sempre incentivamos a Arte. Nem é preciso mencionar o quanto o baixo nível das artes, na época atual, está degradando a espiritualidade das pessoas.
Como se vê, o fator essencial para a criação do Mundo do Belo é o poder econômico. Enquanto o povo for pobre, não poderemos sequer sonhar em concretizar esse mundo. Mas como fortalecer o poder econômico? Se todos os indivíduos trabalharem com total empenho visando a elevar o poder de produção, estarão fortalecendo-o. A condição básica para tanto é a saúde de cada indivíduo. E a saúde é o principal objetivo de nossa Igreja, o que se torna evidente pelo grande número de pessoas perfeitamente saudáveis que estamos conseguindo criar unicamente com o poder de purificação por nós manifestado.
Portanto, devemos dizer que a Igreja Messiânica Mundial é a primeira religião à qual Deus atribuiu a qualificação para o estabelecimento do Mundo do Belo. Concretizá-lo, é questão de tempo. Para se certificarem dessa verdade, basta observarem atentamente a atuação de nossa Igreja daqui em diante.
3 de junho de 1950



A ARTE DE DEUS

Como seres contemporâneos, é chegada a hora de nos conscientizarmos da época em que estamos vivendo. Vou explicar o que isso significa.
A cultura material progrediu tanto que, através da invenção do rádio, da televisão e de outros meios de comunicação, podemos tomar ciência dos acontecimentos mundiais em poucos instantes. Se não compreendermos a importância desse fato, não poderemos falar sobre a civilização atual.
Nos Estados Unidos, começou-se a falar, há alguns anos, sobre a Nação Universal e Governo Universal. Tais expressões não estarão prenunciando, para um futuro próximo, o advento de um mundo ideal? Será, com efeito, um grande acontecimento. Quando raiar esse dia, naturalmente se escolherá um Presidente Mundial, e qualquer nação poderá apresentar seus candidatos. Entretanto, para o nascimento desse Novo Mundo, será necessário haver uma enorme revolução em todos os setores, especialmente no pensamento humano. Obviamente, todos os “ismos” serão varridos, e, ao mesmo tempo, haverá unificação dos pensamentos.
Para melhor compreensão, darei um exemplo. Suponhamos que um exímio pintor pinte um grande quadro representando o mundo. Ele o expressaria com a máxima beleza, através de linhas e cores variadas, sem nenhum defeito, com Técnica Divina. Como não é difícil imaginar, os preparativos para a pintura desse quadro levariam vários milênios. As primeiras linhas seriam o mais importante, pois representariam as fronteiras dos países, e levariam muito tempo para serem traçadas. Em seguida, viria a escolha das cores: vermelho, azul, amarelo, branco, violeta, enfim, uma variedade delas.
A título de experiência, tentemos aplicar isso aos diferentes povos e países. Quero, porém, alertar-lhes que se trata apenas de uma suposição. Cada país desempenharia uma função de acordo com a peculiaridade de sua cor. Desenhadas as linhas e usadas habilmente as cores, estaria pronto o quadro do mundo. E que mais poderia ser este quadro senão a Grande Arte de Deus Todo-Poderoso? Até hoje, entretanto, considerando a cor de seu país a melhor de todas, os homens quiseram pintar o quadro somente com essa cor, razão pela qual não foi possível obterem êxito. Naturalmente, outro fator que eles não levaram em conta foi o tempo. A derrota sofrida pelo Japão e pela Alemanha na última guerra ilustra muito bem o que estamos dizendo. Por analogia, os “ismos” ou ideologias podem ser comparados às tintas fabricadas por cada país. Conseqüentemente, uma nação não pode tentar pintar além da sua linha limite, porque isso provoca atritos com as outras, cujos objetivos são os mesmos. Como esses atritos constituem um estorvo para o quadro do mundo, elaborado por Deus com base no amor à humanidade, obtém-se apenas um sucesso temporário. Vejamos.
A maioria dos heróis que apareceram desde os tempos antigos, acabaram sendo derrotados por terem cometido o erro de criar obstáculos para a Arte de Deus. Baseadas nesse fato, as potências mundiais, ao invés de tentarem pintar os outros países com a sua cor, devem se esforçar para tornar mais viva e mais bela a cor de cada país. Se adotarem essa política, estarão concordes com a Vontade Divina, e assim se concretizará o Mundo Ideal.
Estes são os motivos pelos quais é necessário pensar na Religião. Entretanto, na forma como vêm sendo praticadas até hoje, cada uma querendo pintar a outra com a sua cor, as reli¬giões deixam de acompanhar a marcha do tempo, ficando em desacordo com o Plano de Deus. Por isso, precisamos entender a Vontade Divina que está por trás do progresso da civilização e, dando-nos as mãos, fazer de todas as religiões uma só força, para a construção do mundo Ideal que está prestes a surgir.
20 de dezembro de 1949



RELIGIÃO E ARTE

Sempre dizemos que o objetivo de Deus é construir o Paraíso Terrestre. Ora, se o Paraíso Terrestre é um mundo sem conflitos, um mundo de eterna paz e absoluta Verdade, Bem e Belo, a Arte terá um desenvolvimento extraordinário.
Segundo diz um antigo ditado, a Religião é a mãe da Arte; é óbvio, portanto, que ambas estão profundamente relacionadas. Todavia, é interessante notar que, entre os fundadores das inúmeras religiões que surgiram até hoje, foram poucos os que demonstraram interesse artístico. Dos religiosos que se destacaram nesse campo, podemos citar: no Ocidente, o pintor Leonardo da Vinci e os compositores Bach e Hendel; no Japão, a arte budista do príncipe Shotoku, Gyoki, as esculturas de Kukai, etc.; na China, durante a Era So-Guem, e no Japão, durante a Era Tempyo, as pinturas de alguns bonzos.
Vou explicar a causa do desinteresse dos religiosos pela Arte.
Como o mundo se achasse completamente mergulhado na Era da Noite e a Era da Luz estivesse longe demais, não havia necessidade de preparativos para a concretização do Paraíso Terrestre. Em outras palavras, estava-se na época infernal. Encontrando-se em condição infernal e não em situação celestial, os fundadores de religiões, para difundir seus ensinamentos, tiveram de percorrer caminhos espinhosos e passar por enormes sofrimentos. Sendo assim, não havia motivo para se falar em Paraíso ou Arte, e até podemos dizer que nenhum deles afirmou que iria construir o Paraíso Terrestre. Contudo, houve profecias sobre o advento de um mundo ideal, embora não se esclarecesse quando. Entre elas, podemos citar o “Mundo de Miroku”, anunciado por Buda; o “Reino dos Céus”, profetizado por Cristo; a “Agricultura Justa”, de Nitiren; o “Pavilhão da Doçura”, do fundador da Igreja Tenrikyo, e o “Mundo dos Pinheiros”, do fundador da Igreja Oomotokyo. Foi-nos revelado, porém, que finalmente o tempo é chegado. Como o Paraíso está prestes a nascer, queremos anunciar o seu advento para toda a humanidade.
Naturalmente, seria impossível imaginar que um projeto tão grandioso – que poderíamos considerar um sonho – pudesse ser concretizado com a força humana; entretanto, como se trata do Plano de Deus, Todo-Poderoso, não resta a menor dúvida que ele se tornará realidade. Atualmente, Deus está manifestando inúmeros milagres para demonstrar Sua Força e, dessa maneira, infundir-nos uma sólida fé. Poderão compreender isso ao ver que todos os messiânicos, experimentando tais milagres, vão adquirindo uma fé inabalável.
Visando à concretização do Plano Divino, a Igreja Messiânica Mundial não mede esforços para promover a Arte. E é para iniciar essa promoção que estamos construindo os protótipos do Paraíso Terrestre de Hakone e Atami, em locais de magnífica paisagem. Se as pessoas não estiverem conscien¬tes desses pontos, não conseguirão entender o verdadeiro significado do nascimento de nossa Igreja. Em resumo, as religiões existentes até hoje tiveram a missão de preparar os alicerces para a construção do Paraíso Terrestre, e a missão da Igreja Messiânica Mundial é concretizá-la.
6 de maio de 1950


RELIGIÃO E ARTE

O conceito atual de que Religião está desligada da Arte parece-me um grande equívoco. Enobrecer os sentimentos do homem e enriquecer-lhe a vida, proporcionando-lhe alegria e sentido, é a missão da Arte. Os entendidos no assunto sentem indizível prazer em apreciar as flores, na primavera, e as paisagens campestres ou marítimas. Não é exagero dizer que o Paraíso Terrestre, que temos por ideal, é o Mundo da Arte, o qual não é outro senão o mundo da Verdade, do Bem e do Belo, a que costumo me referir.
A Arte é a representação do Belo. Mas por que será que ela foi negligenciada até os nossos dias?
Monges antigos e famosos demonstraram notável genialidade no campo artístico, esculpindo e construindo templos. Entre esses artistas religiosos, sobressaiu o príncipe Shotoku. Dificilmente se pode crer, dizem todos, que a magnificência arquitetônica do Templo Horyuji, de Nara – obra-prima do príncipe – e as pinturas e esculturas que adornam o seu interior, tenham sido criadas há mais de mil e trezentos anos.
Por outro lado, como houve muitos monges que divulgaram doutrinas adotando a simplicidade e o ascetismo, certamente nasceu o conceito de que não há nenhuma relação entre a Arte e a Religião. Aqui impera a Verdade e o Bem, mas falta o Belo.
Pelas razões expostas, pretendo fazer uma grande divulgação da Arte.
25 de janeiro de 1949
RELIGIÃO ARTÍSTICA

Sempre se pensou que não há muita relação entre Arte e Religião. Entretanto, no Japão, as manifestações artísticas tiveram início com a arte budista, não obstante se limitassem a simples quadros, estátuas, tecelagem, etc. No que se refere à música, existiam instrumentos tais como “sho” (2), “hitiriki” (3), “mokugyo” (4) e “dora” (5) e os sons emitidos na leitura dos sutras budistas. Por isso, podemos dizer que se tratava de uma arte primitiva.
Mais tarde, estimulada pela introdução das artes chinesa e coreana no país, a arte japonesa passou por um período de imitações, até que conseguiu criar um estilo próprio. Atualmente, com a importação da cultura ocidental, também foi introduzida a arte do Ocidente. Principalmente após a Era Meiji (1868-1912), afluíram, com grande intensidade, as artes dos Estados Unidos e da Europa. Em conseqüência, no panorama artístico japonês da época atual, encontram-se as melhores obras de todo o mundo, as quais estão sendo absorvidas e assimiladas, de modo que, aos poucos, vai se criando uma arte universal. Por isso, talvez possamos afirmar que o Japão é um centro cultural.
Não existe, ou melhor, nunca existiu uma religião que desse tanta importância à Arte quanto a Igreja Messiânica Mundial. Isto porque o Paraíso Terrestre – nosso objetivo último – é o Mundo da Arte. Obviamente, se ele é um mundo isento de doença, pobreza e conflito, isto é, o mundo de perfeita Verdade, Bem e Belo, o homem seguirá a Verdade, amará o Bem e odiará o Mal; assim, todas as coisas se tornarão belas. Nesse sentido, a Arte não será apenas um deleite indispensável; ela constituirá a própria vida e se desenvolverá intensamente. Ou seja, o Paraíso Terrestre será o Mundo da Arte. Eis o motivo pelo qual tenho grande interesse por ela e pretendo incentivá-la bastante, no futuro. Como primeiro passo, estou construindo o protótipo do Paraíso Terrestre, em Atami; quando ele estiver concluído, atrairá ainda mais a atenção da socie¬dade, recebendo muitos elogios. Infalivelmente, merecerá consideração a nível mundial. Portanto, estamos dando prosseguimento aos planos sob essa diretriz.
6 de junho de 1951



CIÊNCIA E ARTE

O mundo contemporâneo pensa que tudo pode ser resolvido pela Ciência. Entretanto, embora quase ninguém chegue a perceber, existem diversas coisas importantes que a Ciência não consegue resolver. Analisemos a Arte, por exemplo.
A pintura e as mais diversas expressões artísticas, como a literatura, a música, o cinema e até o teatro, possuem algum teor científico, mas não é preciso dizer que estão quase totalmente fundamentadas no conjunto da genialidade, inteligência, consciência e esforço do homem. Todos sabem o quanto a Arte é necessária para a sociedade humana. Se ela não existisse, a vida seria seca e sem sabor, como se estivéssemos dentro de uma cela de pedra.
Exemplifiquemos: sempre que caminho pela cidade, sinto que, se não houvesse lojas, residências e prédios ao redor, e eu não pudesse ver o verde das árvores da rua ou dos jardins das casas, mas apenas uma parede semelhante à de um presídio de uma só cor sombria, prolongada em linha reta, talvez eu não suportaria andar sequer alguns quarteirões. Assim, a bela visão proporcionada pelo rico colorido das casas, pelas diferentes feições e expressões das pessoas, com sua maneira característica de se vestir e de andar – a exuberância dos jovens exibindo a moda; as pessoas de idade, os recém-chegados do interior – enfim, os infinitos aspectos que encontramos, cada um com algo de interessante, é que nos permitem andar pela rua sem entediar-nos. Quando nos distanciamos da cidade, dentro de um ônibus ou de um trem, não ficamos cansados porque a paisagem variada – montanhas, rios, plantas, árvores e plantações – nos faz passar o tempo. Além do mais, as diversas transformações ocasionadas pelo clima das estações enriquecem o nosso sentimento. O mundo é realmente uma arte criada pela Natureza e pela mão do homem. É por isso que vale a pena viver.
Pensando dessa forma, poderão concluir que até a Ciência é uma parte da Arte e entender, portanto, que ela tem uma função auxiliar. Assim, é por demais evidente que há uma ligação inseparável da Arte com a vida do homem. Ante essa evidência, a Igreja Messiânica Mundial interessa-se pela Arte e estimula-a como nenhuma religião o fez até agora.
Entretanto, até mesmo na Arte existem níveis. Se ela é de nível inferior, corre o perigo de abaixar o nível das pessoas, levando-as à degradação, motivo pelo qual é preciso muita cautela. Por isso, a Arte deve ser de nível elevado – uma arte que, deleitando a pessoa, eleve o seu sentimento.
A teoria é fácil, mas existirão organizações que se encarreguem disso? Quanto ao exterior, nada posso afirmar; porém, todos sabem que, nesse ponto, a situação do Japão é muito precária. Para corrigir essa falha, nossa Igreja está efetuando a construção do protótipo do Paraíso Terrestre, do qual faz parte o Museu de Belas-Artes. Há um sábio e antigo ditado que diz: “A Religião é a mãe da Arte”. Ele exprime muito bem a atividade de construção que estamos desenvolvendo.
30 de abril de 1952



A MISSÃO DA ARTE

Cada coisa existente no Universo possui uma utilidade específica para a sociedade humana, ou seja, uma missão atribuída pelos Céus. Naturalmente, a Arte não constitui exceção. Portanto, uma vez que o artista é um membro da organização social, ele deve conscientizar-se de sua missão e exercê-la plenamente, pois essa é a Verdadeira Arte e também a responsabilidade que lhe cabe.
Entretanto, quando observo os artistas da atualidade, não posso deixar de ficar decepcionado com as atitudes inconseqüentes da maioria. É claro que existem artistas excelentes, mas a maior parte se esquece da sua responsabilidade, ou melhor, não tem nenhuma consciência dela. Além do mais, eles constituem um problema, pois, tendo-se como criaturas superiores, fazem o que bem entendem sem a menor vergonha. Acham que, agindo de acordo com sua própria vontade, estão manifestando sua personalidade e seu caráter de gênio. A sociedade, por sua vez, os superestima, considerando-os pessoas especiais, e aprova quase tudo que eles fazem. Por isso, sua mania de grandeza torna-se ainda maior.
É preciso, todavia, que o caráter dos artistas seja muito mais elevado que o das pessoas comuns. Explicarei isto com base na Religião.
Inegavelmente, nos primórdios da sua história, a humanidade possuía muitas características animais, mas não há dúvida de que, após a era selvagem, ela veio progredindo gradativamente, construindo-se, pouco a pouco, a civilização ideal. Neste sentido, o progresso da civilização consiste na eliminação do caráter animal do homem. Alcançar esse nível é alcançar a Verdadeira Civilização. Ainda hoje, porém, a maioria das pessoas está sujeita ao terror da guerra, prova de que persiste no homem uma grande parcela de características animais. Assim, cabe ao artista uma grande missão: ele é um dos encarregados da eliminação de tais características.
Torna-se necessário, portanto, elevar o caráter do homem por meio da Arte. Naturalmente, esse objetivo será alcançado através da literatura, da pintura, da música, do teatro, do cinema e de outras artes. O espírito dos artistas, comunicando-se por esses veículos, influenciará o espírito do povo. Falando mais claro, as vibrações espirituais emitidas pela alma do artista tocarão a sensibilidade das pessoas através das obras literárias, da pintura, dos instrumentos musicais, dos cantos, das danças, etc. Em outras palavras: haverá uma sólida ligação entre o espírito do artista e o espírito de quem apreciar suas obras. Se o caráter daquele for baixo, o das pessoas também se degradará; obviamente, se for um caráter elevado, terá o efeito contrário.
Eis a importância da Arte. O artista deve funcionar como orientador espiritual do povo. Neste sentido, não seria exagero afirmar que uma parte da responsabilidade do aumento do mal social cabe aos artistas.
Vejamos: erotismo cada vez mais vulgar, literatura cada vez mais grotesca, quadros cada vez mais monstruosos; as opiniões dos artistas, assim como também a música, o teatro e o cinema, cada vez piores. Se analisarem minuciosamente tais fatos, certamente compreenderão que a minha tese não é errada.
15 de outubro de 1949



PARAÍSO – MUNDO DA ARTE

Costumo dizer que o Paraíso é o Mundo da Arte, mas isso não deixa de ser um conceito bastante resumido. Naturalmente, o aperfeiçoamento da Arte é desejável, seja a pintura, a escultura, a música, as artes cênicas, a dança, a literatura, a arquitetura, etc., entretanto, para se poder falar em Paraíso, é preciso que todas as artes estejam reunidas, ou melhor, que tudo seja artístico.
Segundo o meu princípio, a solução dos sofrimentos pela Graça Divina não é outra coisa senão a magnífica Arte da Vida, isto porque a Arte, na sua essência, deve satisfazer as condições da Verdade, do Bem e do Belo.
Em primeiro lugar, no sofredor não há, fundamentalmente, Verdade. O homem deve ser sadio por natureza. Quando ele perde a saúde espiritual ou material, significa que deixou de ser o que era: Verdade. Tomemos por exemplo uma jarra: se ela apresentar um defeito, perderá sua utilidade. Como objeto, nela não há Verdade se deixar vazar água, se cair quando a colocarmos em pé, ou quebrar-se quando tentarmos usá-la. Para que a jarra possa ser utilizada, é preciso consertá-la. O mesmo acontece com os homens. Se uma pessoa, por motivo de doença não puder cumprir as missões para as quais foi criada, tornar-se-á inútil para a sociedade. Deverá, pois, submeter-se à reforma que vem a ser o Johrei da nossa Igreja, prece a Deus em favor de quem sofre.
A seguir, consideremos o Bem. Se não houver, no homem, nenhuma parcela de Bem e ele praticar somente o mal, também deixará de ser um homem verdadeiro: será um animal. Tal espécie de homem prejudicaria a coletividade em que vive, e precisaríamos, ao invés de condená-lo, evitar sua existência. Mas isso compete a Deus, que possui o direito sobre a vida e a morte.
Inúmeras pessoas tornam-se vítimas do fracasso, da doença e da pobreza; algumas chegam até a perder a vida. Elas estão sendo julgadas por Deus. Entretanto, embora se fale no mal de forma genérica, existe aquele que é praticado conscientemente e aquele que é praticado inconscientemente. O sofrimento varia de acordo com essa diferença. A justiça é perfeita.
Dispenso maiores explanações sobre o Belo, por ser assunto do domínio de todos; mas, como temos dito, a condição fundamental para transformar este mundo em paraíso está na concretização da Verdade, do Bem e do Belo. Assim, tanto a eliminação das máculas causadoras das doenças, como a reformulação dos métodos agrícolas, são, logicamente, artes. A primeira é a Arte da Vida, e a segunda, a Arte da Agricultura. Acrescentemos, ainda, a construção do protótipo do Paraíso Terrestre, que é a Arte do Belo. Com a junção das três, construiremos o Mundo da Luz, consubstanciado na trindade Verdade-Bem-Belo. É o Paraíso Terrestre, ou a concretização do Mundo de Miroku.
4 de outubro de 1950



O PARAÍSO É O MUNDO DO BELO

Os fiéis da nossa Igreja estão bem cientes de que o objetivo de Deus é a construção do mundo ideal, de perfeita Verdade, Bem e Belo. Sendo assim, o objetivo de Satanás, Seu antagonista, é obviamente a Falsidade, o Mal e a Fealdade. Falsidade e Mal não necessitam de explicações; portanto, falarei a respeito da Fealdade.
Neste mundo, existem coisas erradas. Há casos, por exemplo, em que a Fealdade se associa à Verdade e ao Bem. Ao ver tais fatos, muitas vezes as pessoas fazem deles alvo de admiração e respeito. Em termos mais claros, desde tempos remotos, não são poucas as pessoas que, comendo e vestindo-se precariamente, morando em cabanas, enfim, vivendo uma vida miserável, realizam práticas virtuosas para o bem do próximo e da sociedade. Realmente, se suas condições de vida fossem desfavoráveis, isso seria inevitável para elas poderem sobreviver, mas algumas, mesmo tendo condições para viverem de modo diferente, escolhem espontaneamente tal forma de vida, o que acredito não ser desejável. Entre elas, encontram-se muitos religiosos que escolhem uma vida de abstinência como meio de aprimoramento, achando ser um meio excelente. Quem vê isso, considera-os pessoas sublimes. Mas, para falar a verdade, esse pensamento não é correto, pois se negligencia um fator importantíssimo, que é o Belo; ou seja, temos Verdade, Bem e Fealdade. Neste sentido, desde que não ultrapassem as condições adequadas a cada indivíduo, as vestes, a alimentação e a moradia do homem devem ser utilizadas da maneira mais bela possível, porque isso está de acordo com a Vontade Divina. Além do mais, o Belo não é simplesmente uma satisfação individual, mas também o que causa uma sensação agradável aos outros; assim, podemos dizer que é uma espécie de boa ação. Na verdade, quanto mais alto grau de civilização a sociedade alcançar, tudo deverá se tornar mais belo. Pensem bem. Na vida dos selvagens não existe quase nenhuma beleza. Por isso, também podemos dizer que o progresso da civilização é, em parte, o progresso do Belo.
Naturalmente a nível individual, os homens também devem procurar manter uma beleza adequada, para causar boa impressão às demais pessoas; sobretudo as mulheres, devem procurar mostrar-se ainda mais belas. Talvez não seja da minha conta falar-lhes semelhantes coisas, mas é a pura verdade: dentro de casa, deve-se sempre ter o cuidado de não deixar teias de aranha no teto, de conservar o assoalho tão limpo que não haja nem um cisco, de arrumar logo os objetos desagradáveis à vista e deixar os utensílios bem organizados. Assim, tanto os moradores da casa como as visitas sentir-se-ão bem, o sentimento de respeito nascerá naturalmente, e o conceito do chefe da casa também se elevará. Devemos, ainda, cuidar do aspecto externo das residências. Mas não é preciso gastar dinheiro para isso; se procurarmos conservar nossa casa sempre limpa e em bom estado exteriormente, não só causaremos uma boa impressão às pessoas que passam pela sua frente, como também contribuiremos para influenciar positivamente o plano de turismo nacional. A esse respeito, existe um comentário sobre a Suíça, o qual, em parte, talvez se justifique pelo tamanho do país. De qualquer forma, dizem que, lá, tanto as ruas como as praças públicas são sempre conservadas limpas e por isso a sensação que se tem é realmente a melhor possível. Este é um dos motivos pelos quais o país recebe tantos turistas; portanto, poderíamos tê-lo como exemplo a ser imitado.
As razões expostas mostram que nós, japoneses, também precisamos cultivar o senso do Belo. Através disso, exerceremos boa influência sobre os indivíduos e, em grande escala, muito mais do que pensamos, sobre a sociedade e a nação. E mais ainda; através desse ambiente belo, os sentimentos dos cidadãos também se tornarão belos, e os crimes e os acontecimentos desagradáveis diminuirão, o que, conseqüentemente, se tornará um dos fatores determinantes do Paraíso Terrestre.
Finalizando, escreverei a meu respeito. Desde jovem eu gostava de tudo que dissesse respeito ao Belo. Embora fosse muito pobre, cultivava flores em espaços vazios e, quando dispunha de tempo, pintava quadros. Sempre que me era possível, visitava museus e exposições. Na primavera, apreciava as flores, e no outono, o bordo. Agora, pela graça de Deus, minha vida se tornou mais afortunada, e, além de apreciar o Belo como desejo, isso constitui uma ajuda para a realização das atividades da Obra Divina. Entretanto, para terceiros, que desconhecem esse fato, minha vida parece exageradamente luxuosa, o que é inevitável. Desde tempos antigos, como sempre digo, os fundadores de religiões faziam a divulgação das doutrinas levando uma vida paupérrima e realizando penitências. Comparando-me com eles, talvez todos achem minhas atitudes um tanto estranhas, pela grande diferença observada. Na verdade, aqueles religiosos estavam na Era da Noite, e até mesmo a Religião era divulgada por meios infernais. Chegou, porém, a Época de Transição e, atual¬mente, quando o mundo está para se tornar Dia, a salvação é efetuada num estado paradisíaco, de modo que é necessário refletir profundamente sobre esse ponto.
11 de julho de 1951



CARACTERÍSTICAS PARTICULARES
DA CIVILIZAÇÃO JAPONESA

Tenho muito a dizer sobre as características peculiares do Japão e do seu povo. Se os japoneses tivessem profunda compreensão a esse respeito, jamais precisariam ter experimentado o amargo destino de povo vencido na guerra, nem ter visto seu país em ruínas. Existe uma expressão que nos aconselha a conhecermos bem a nós mesmos, mas é necessário estender esse pensamento aos limites do conhecimento de nossa pátria. Na época do isolacionismo (séc. XVII – séc. XIX), ainda seria admissível os japoneses desconhecerem seu próprio país; atualmente, porém, quando tudo se processa em âmbito mundial e internacional, é de vital importância conhecermos profundamente o país em que nascemos. Em termos de Japão, esse conhecimento consiste em estarmos perfeitamente cientes da missão que ele deve cumprir.
É evidente que, se não compreendermos o motivo da existência do Japão, não poderão ser consolidadas as grandiosas metas nacionais. Para melhor entendimento, basta lembrar a situação do país até o fim da Segunda Guerra Mundial. Havia uma classe militar dominante, chamada “Gumbatsu”, que era detentora de poderes absolutos. Escolhida por um pequeno número de pessoas, governava o país como bem entendia. Por isso, no que se relacionava aos governantes, o povo não tinha direito ao uso da palavra, acomodando-se à condição de serviçais. Esta situação ainda está bem gravada em nossas mentes. A partir da Era Meiji (1868-1911), instituiu-se a Constituição e foi criado o Sistema Representativo. Com isso, embora desse a impressão de que se estavam respeitando as idéias do povo, na verdade a política encontrava-se nas mãos de uma minoria, que acabou por fazer aquela terrível guerra. Foi a mesma coisa que vender gato por lebre.
Vamos refletir sobre a história do Japão. Desde a remota época do imperador Jinmu, este país não teve um período sequer de paz, sendo contínuas as guerras internas. A política sempre esteve totalmente dominada pelo regime de força. Disfarçados sob o belo nome “Código de Ética do Samurai”, bárbaros assassinos recebiam condecorações heróicas. O vencedor das guerras assumia a hegemonia desse tempo.
Até o fim da Segunda Guerra Mundial o Japão veio sendo arrastado sob esse regime de brutalidade, só interrompido após o grande choque da derrota. Se os japoneses não se conscientizarem profundamente do significado de tudo isso, será impossível surgir uma verdadeira política nacional, digna de uma nação pacífica. Para tanto, o mais importante é uma nova conscientização do país. Em verdade, o Japão deveria ser o oposto da nação violenta e despótica a que costumamos nos referir; assim, é preciso que ele se torne uma nação pacífica e artística. Esta é a missão que Deus lhe concedeu.
Fala-se muito sobre a reconstrução do país, mas isso por si só não tem grande significação. Se analisarmos com imparcialidade, veremos que não passamos de uma nação democrática sem preparo bélico, o que, naturalmente, constitui motivo de alegria. Entretanto, o Japão precisa compreender sua missão peculiar em relação ao mundo e empenhar-se pelo bem-estar de todos os povos: eis o verdadeiro papel do Novo Japão. Vou enumerar algumas das razões que me levam a fazer essa afirmativa.
Em primeiro lugar, as maravilhosas paisagens da terra japonesa. No mundo, talvez não haja outras que se lhe comparem; estamos sempre ouvindo elogios por parte daqueles que nos visitam.
No que se refere ao tempo, as estações do ano são bem definidas, o que é muito significativo. Há uma contínua renovação dos aspectos da Natureza: as montanhas, os rios, a grama, as árvores, etc. Isso está bem claro nas palavras do famoso poeta Kyoshi Takahama, que, após ter viajado pelo mundo inteiro, disse o seguinte: “Não existe país onde as estações sejam tão bem definidas como no Japão. O haicai (6) canta as estações do ano, de modo que, em outros países, não é possível compor um haicai autêntico”. Além disso, ouve-se dizer que a nossa riqueza em variedade de grama, árvores, flores, folhas, frutos e produtos do mar é realmente incomparável.
Outra característica marcante do povo japonês é a habilidade manual, o que justifica o seu pendor artístico. A prova disso é o número elevado de magníficas obras de arte criadas no Japão, não obstante o seu passado de constantes guerras internas. Ainda hoje nos surpreendemos com essa técnica e dom admiráveis.
Com tudo que foi explicado, creio que se pode entender a missão do Japão e do seu povo. Em resumo, é preciso transformar todo o território japonês no Jardim do Mundo e empreender contínuos esforços no sentido de promover a Arte, até que ela atinja o seu mais elevado nível. Ou melhor, deve-se estabelecer uma política nacional baseada no turismo, na Arte e no artesanato, empregando todo o empenho na sua concretização. Como resultado, é natural que isso contribuirá para a elevação do pensamento de toda a humanidade, proporcionando, também, um nível mais alto de recreação e distração. Em poucas palavras, é importante fazer do Japão um país de elevadíssimo nível artístico e cultural.
Podemos afirmar que nunca se temeu tanto a guerra e se desejou tão ardentemente a paz como na época atual. A causa da guerra, como sempre dizemos, é substituir nos homens uma forte disposição para a luta. Logicamente, essa disposição tem origem no pensamento selvagem, o que significa dizer que, embora os homens se considerem civilizados, na rea¬lidade ainda lhes falta muito para se despojarem da selvageria. O meio para solucionar o problema é fazer com que a humanidade mude o objetivo pelo qual está vivendo. A meta dessa mudança deve ser a Arte, isto é, deve-se transformar o mundo infernal, repleto de lutas, num mundo paradisíaco, repleto de Arte. Através da ameaça armada, podemos obter uma paz momentânea, mas a paz duradoura só poderá ser conseguida pela renovação do pensamento. Essa renovação, eu afirmo, só se efetivará por meio da Religião e da Arte.
Não falemos, portanto, em reconstrução do Japão, e sim na construção de um Novo Japão. Para que isso possa se tornar realidade, só há um meio: transformá-lo numa nação artística.
1º de janeiro de 1950



A RESPEITO DO JARDIM DA TERRA DIVINA

O Jardim Sagrado que estou construindo há cinco anos, em Gora, na cidade de Hakone, só está cerca de oitenta por cento pronto. Mesmo assim, comparado aos famosos jardins existentes em todo o Japão, desde os tempos antigos, não deixa nada a desejar. Talvez soe como auto-elogio, mas há uma grande diferença de nível entre este jardim e os demais. É claro que existem muitos jardins maravilhosos, cada um com suas características; porém, seja ele qual for, não possui aspectos tão relevantes quanto o de Hakone.
A Terra Divina, como podemos ver, é totalmente diferente de outros locais. Possui tal abundância de pedras e rochas naturais, que chega a espantar. Estou dispondo-as conforme a Orientação Divina, não me submetendo às tradicionais formalidades relativas a jardins. Não me baseio em modelos; estou construindo este jardim num estilo totalmente novo. Até no que diz respeito às árvores, juntei várias espécies, combinando-as bem, para que possam estar em harmonia com as pedras e rochas. As cascatas e correntes d’água foram aproveitadas para expressarem, ao máximo, o sabor da natureza. Assim, somando a beleza das montanhas e das águas com a beleza dos jardins, tentei expressar o que há de melhor e mais elevado na arte natural. Meu objetivo é fazer aflorar, através dos olhos da pessoa que vê esse quadro, o sentimento do belo latente nos seres humanos, elevar seu caráter e eliminar as impurezas de seu espírito. Por esse motivo, tanto as pedras como as árvores e plantas foram selecionadas e combinadas cuidadosamente, colocando-se amor em cada uma delas. É como se fôssemos pintar um quadro utilizando materiais “in natura”. Gostaria, portanto, que o admirassem com esse espírito.
Construí esse jardim de modo que, visto de perto ou de longe, parcialmente ou em conjunto, ou de qualquer ângulo, sobressaia cada uma de suas características. Além disso, com o passar dos meses e dos anos, vão nascendo vários musgos típicos de Hakone, plantinhas de nome desconhecido, minúsculas flores graciosas e brotos de árvores que crescem nas reentrâncias das pedras como “bonsai” (7), as quais, por si mesmas, parecem querer atrair a atenção das pessoas. No ano passado, o jardim todo ficou mais “maduro”, assumindo um aspecto mais tranqüilo: melhorou tanto que nem o reconhecíamos. Eu mesmo cheguei a percorrê-lo diversas vezes, sem ter coragem de afastar-me.
Após a chuva, quando a água é abundante, temos a impressão de estar vendo, de lugar bem alto, uma correnteza no meio da mata. O som da água escorrendo pelas pedras, a corrente quebrando-se, lançando gotas para todos os lados, mais adiante descrevendo graciosas curvas e terminando em duas cascatas... Visão panorâmica deslumbrante! A cascata do lado direito, chamada “Ryuzu no Taki” (Cachoeira Cabeça de Dragão), é maravilhosa, e a do lado esquerdo divide-se em vários fios d’água, para mais abaixo quebrar-se e espirrar para todos os lados. Vejo de relance até uma andorinha voando rápido, bem rente às cascatas. Realmente, a harmonia da beleza natural com a beleza artificial está expressa muito melhor do que eu esperava. Fico satisfeitíssimo. Ao contemplar essas cascatas, sinto-me como se estivesse nas profundezas de montanhas e vales ou diante de um quadro magnífico. Geralmente, as cascatas artificiais têm certo sabor mundano que as prejudica, mas isso não acontece com as deste jardim, plenamente identificadas com as cascatas naturais. O vermelho e o amarelo dos bordos, que nelas se refletem esplendorosamente, as cores de cada árvore e a forma tridimensional de plantio fazem com que eu me sinta no meio de densas matas.
Mas deixemos aqui as explanações a respeito do que já foi concluído. Também no terreno baldio, bem espaçoso e próximo à parte posterior do jardim, estou pensando em construir outro jardim muito diferente, e já dei início à sua construção. Também para este tenho um plano bem diferente, inaudito; quando ele estiver terminado, talvez cause assombro a todas as pessoas.
Vim escrevendo à proporção que as idéias me afloravam à mente, e talvez me achem orgulhoso demais por estar elogiando o que eu mesmo fiz. Sem dúvida, na opinião das pessoas comuns, isso está errado. Mas este jardim da Terra Divina foi construído por Deus; eu sou apenas o Seu Instrumento. Portanto, como ele foi construído pela técnica, ou melhor, pela Arte Divina, não seria nada de mais elogiá-lo. É o mesmo que louvar a Deus; por conseguinte, um ato muito justo. Há algum tempo, o Sr. William W. Shudler, professor de Geografia de um colégio dos Estados Unidos, veio apreciá-lo e, com visão de profissional, assim exprimiu sua admiração: “Já vi jardins do mundo inteiro, mas nenhum tão raro e artístico como este. Talvez possamos afirmar que ele seja único em todo o mundo”.
A seguir, falarei sobre o Museu de Belas-Artes, que será construído por último.
A construção está planejada até o verão do ano que vem e, quando ela estiver concluída, o Jardim Sagrado da Terra Divina ficará ainda mais magnífico. Quanto às obras artísticas a serem expostas, já tenho algumas e já andei pesquisando as que são avaliadas como Tesouro Nacional, existentes em museus históricos e de belas-artes de várias regiões, em coleções particulares, em templos, etc., com os quais, pouco a pouco, estou fortalecendo meu relacionamento. Assim, tenho certeza de que o Museu de Belas-Artes de Hakone nada ficará devendo a outros do gênero. Minha intenção é expor poucas obras históricas e arqueológicas, tendo como critério meu senso estético, independente de ser arte oriental ou ocidental, antiga ou moderna. Pretendo selecionar somente as obras-primas de artistas famosos de cada época. Isso porque o significado do Museu de Belas-Artes deixará de ser alcançado se todas as pessoas, entendidas ou não em Arte, não se sentirem tocadas e extasiadas com a beleza das obras expostas.
Naturalmente, este museu, a começar pela sua arquitetura, instalações internas, decoração e tudo o mais, será construído de acordo com a orientação de Deus; por isso, quando ele estiver concluído, apresentará resultados absolutamente especiais. Com a sua conclusão, praticamente estará terminada a construção do protótipo do Paraíso da Terra Divina. No momento em que isso se concretizar, a Obra Divina entrará em sua verdadeira fase de expansão. Mas não pararemos aí. A construção do protótipo do Paraíso de Atami também terá rápido progresso. Deus faz com que tudo se processe de acordo com a Ordem, esta é a Verdade.
19 de setembro de 1951



SIGNIFICADO DA CONSTRUÇÃO
DO MUSEU DE BELAS-ARTES (8)

Sou Mokiti Okada, Líder Espiritual da Igreja Messiânica Mundial.
Meus sinceros agradecimentos aos senhores pela sua presença no dia de hoje, apesar de estarem tão atarefados. Convidei-os especialmente, antes da inauguração deste museu, para ouvir suas impressões de abalizados “experts” das belas-artes, e, também, para expor, em rápidas palavras, os meus propósitos.
O objetivo primordial da Religião é a criação do mundo da Verdade, do Bem e do Belo. A Verdade e o Bem são coisas espirituais, mas o Belo expressa-se por meio de formas, elevando o espírito do homem pela sua contemplação.
Como é do conhecimento geral, no Ocidente, desde a antigüidade greco-romana até aproximadamente a Idade Média, e também no Japão, desde a época Shotoku (574-622) até a Era Kamakura (1192-1333), a arte sacra era muito próspera. É incontestável que a Religião foi o corpo materno de todas as artes, seja da pintura, da escultura, da música, etc. Na era contemporânea, todavia, esse elo entre Religião e Arte foi enfraquecendo pouco a pouco, de tal modo que elas acabaram se dissociando por completo. Por influência da Ciência, fala-se muito, hoje em dia, em estagnação da Religião. Entretanto, pelo motivo exposto acima, acho que a Religião e a Arte têm de caminhar tal como as rodas de um carro.
Desejo falar agora sobre as características do Japão.
Tal como os indivíduos, cada país possui uma ideologia cultural particular. A do Japão consiste em contribuir para a elevação da cultura, deleitando a humanidade através do Belo. Poderemos compreender isso observando a magnificência da paisagem desse país; a abundância e variedade de suas flores, plantas e árvores, a sensibilidade aguçada de seu povo em relação ao Belo, a excelência de seu artesanato, etc. Todavia, por desconhecimento da natureza de sua missão e por sua ambição demasiado imprudente, o Japão acabou sofrendo aquela amarga derrota na Segunda Guerra Mundial. Nem seria preciso dizer que o fato de ter sido despojado até de armamentos para não provocar novas guerras, foi Obra de Deus a fim de despertar os japoneses para a sua verdadeira missão. Ultimamente, tem-se falado muito sobre rearmamento, mas trata-se apenas de uma medida de defesa, sendo evidente que não contém outro significado.
Está claro, portanto, o caminho que o Japão deve seguir daqui para a frente. Tendo isso como objetivo, infalivelmente lhe advirá eterna paz e prosperidade. Consciente dessa verdade, venho me esforçando para concretizá-la, embora, no contexto geral, talvez seja insignificante o meu esforço. Como método concreto, primeiramente construí um pequeno Paraíso do Belo, com a intenção de mostrá-lo ao mundo. Os locais que preenchem este requisito, sem dúvida alguma, são Hakone e Atami, pelas facilidades de acesso, pela beleza das paisagens, pelas fontes termais, pela excelência do clima e do ar. São lugares plenamente satisfatórios. Escolhendo um local particularmente belo, nessas duas cidades, e unindo a beleza natural à beleza criada pelo homem, para formar um ambiente artístico ideal, consegui, finalmente, concluir o protótipo do Paraíso Terrestre de Hakone e este Museu de Belas-Artes.
Como é do conhecimento de todos, até hoje não existia, no Japão, nenhum museu de belas-artes tipicamente japonês. Existe museu de belas-artes chinesas, de belas-artes ocidentais, o de arte sacra, nas dependências do Museu Histórico, e outros museus, mas nenhum de arte japonesa. Sendo assim, nem mesmo os próprios japoneses podiam admirar as belas-artes de seu país. Se, por acaso, um estrangeiro nos visitasse e desejasse apreciar obras de arte tipicamente japonesas, era impossível satisfazer sua vontade. Isso não constituiria uma grande falha do Japão, o país das belas-artes? Portanto, se este museu for capaz de suprir pelo menos uma parte dessa falha, será para mim uma grande e inesperada felicidade.
Também gostaria de que os senhores tomassem conhecimento de outro fato.
Desde tempos remotos, o Japão possui um grande número de verdadeiras obras-primas da Arte, das quais poderia vangloriar-se perante o mundo inteiro. Entretanto, até o término da Segunda Guerra Mundial, elas eram propriedades intocáveis, guardadas com todo o zelo pelas famílias milionárias e nobres e raramente expostas ao público. Creio que isso foi motivado pela ideologia monopolista e feudalista. Hoje, porém, tendo-se tornado o Japão uma nação democrática, o fato ficou apenas como imagem do passado. Pela sua própria natureza, as obras-primas da Arte existem para serem mostradas o mais possível ao povo, a fim de deleitá-lo e fazê-lo, inconscientemente, elevar sua espiritualidade. Assim sendo, é preciso, antes de mais nada, erradicar a ideologia monopo¬lista e liberar as belas-artes.
Felizmente, por ocasião da grande mudança ocorrida em nível nacional, após a guerra, muitos tesouros culturais que estavam escondidos foram lançados no mercado, sendo evidente o quanto isso foi útil para a constituição do nosso Museu de Belas-Artes. É um museu pequeno; entretanto, tenciono fazer dele um modelo, pois acredito que, doravante, surgirão, seguidamente, vários museus, tanto no Japão como no exterior. Por isso, o seu conjunto e até os mínimos detalhes foram objeto de minha especial atenção; naturalmente, os jardins – cada árvore e cada planta – também são projetos meus. Como é obra de amador, esse museu pode ter muitos defeitos, mas, se puder ter alguma utilidade, sentir-me-ei muito satisfeito. Além disso, pensando em possíveis bombardeios aéreos, incêndios, roubos, etc., tomei precauções suficientes tanto no que concerne ao ambiente como às instalações. Creio, portanto, que ele também preencha condições para a conservação de Tesouros Nacionais.
Acredito que os senhores tenham compreendido meus propósitos; mas, repetindo, não tenho outro objetivo senão o de fazer aflorar a natureza intrínseca do Japão, ou seja, a de País do Belo e Paraíso do Mundo. Também tenho planos de, num futuro próximo, construir protótipos do Paraíso Terrestre, e seu indispensável museu de belas-artes, em Atami e Kyoto. Aproveito o ensejo para expressar meu desejo de poder contar com o apoio de todos os senhores.
9 de julho de 1952



OBRAS-PRIMAS DA ARTE
AO ALCANCE DO POVO

Vou explicar o significado fundamental da construção do Museu de Belas-Artes de Hakone.
Como sempre digo, o objetivo da nossa Igreja é construir um mundo de perfeita Verdade, Bem e Belo. Para expressar este último, construí uma obra de arte inédita, unindo a beleza natural à beleza criada pelo homem. Que pretendo atingir com isso?
Embora o Japão, desde um passado bem remoto, sempre tivesse possuído grande número de magníficas obras de arte, que nunca deixaram nada a desejar em relação às de qualquer outro país, até hoje elas estavam nas mãos da classe dominante, bem guardadas nos seus palácios. Só de vez em quando essas obras eram expostas e, assim mesmo, a um limitado número de pessoas. Portanto, em termos mais claros, vigorava, até algum tempo atrás, o monopólio das belas-artes, produto do pensamento feudalista dos japoneses.
Já há muito tempo eu vinha me rebelando contra esse mau costume. Pensava modificá-lo de alguma forma, colocando as belas-artes ao alcance de todos. Enfim, queria libertá-las e, com elas, deleitar o povo. Acreditava que, dessa maneira, também daria um novo sopro à vida da Arte. Como sou líder religioso e, conseqüentemente, pude contar com a dedicação dos fiéis, o Museu de Belas-Artes foi concluído em curto espaço de tempo. Vendo concretizada uma aspiração de longos anos, estou imensamente feliz.
Atualmente, existem museus de Arte particulares, mas o objetivo destes é muito diferente do meu. São museus organizados por milionários, com os inúmeros objetos que eles colecionaram para preservação e segurança de seu futuro. Esses milionários dispendem grande soma de dinheiro para satisfazer seus próprios “hobbies”, proteger sua fortuna, receber honrarias, etc. Entretanto, como existe uma lei regulamentando que, num determinado número de dias do ano, as peças dos museus particulares devem ser expostas ao público, esses museus abrem suas portas durante um curto período, na primavera e no outono, apenas para cumprirem a exigência da lei. Por isso, devemos dizer que seu significado social ainda é muito limitado.
Em contraposição, o nosso Museu de Belas-Artes fecha somente durante os três meses de inverno – dezembro, janeiro e fevereiro – devido ao clima impróprio de Hakone. No restante do ano, ele está aberto, podendo ser visitado quando se desejar. Assim, também nesse aspecto podemos dizer que ele é um museu ideal. Além disso, os objetos nele expostos são tão famosos e raros, que as pessoas interessadas em Arte desejam admirá-los pelo menos uma vez. Imagino, pois, quão grande seja sua satisfação. Acrescente-se que o preço do ingresso é bem acessível; dessa forma, estamos contribuindo grandemente para o bem da sociedade.
Outro aspecto positivo é que, quando os artistas da atualidade queriam ver um objeto de arte como ponto de referência para os seus estudos, não encontravam um museu de arte japonesa no verdadeiro sentido da palavra. Como todos sabem, os museus históricos possuem grande número de objetos históricos e arqueológicos, mas trata-se, principalmente, de arte budista, ao passo que outros, como os particulares, por exemplo, expõem sobretudo arte chinesa e ocidental. Assim, poderemos contribuir para a preservação dos valiosos patrimônios culturais que tendem a se dispersar facilmente.
Outro dia, em visita ao museu, o Sr. Assano, diretor do Museu Nacional do Japão, e o Sr. Fujikawa, chefe do Departamento do Conselho de Desenvolvimento do Patrimônio Histórico e Artístico Japonês, disseram que esse tipo de museu preenche as condições de que a nação mais necessita atualmente, razão pela qual eles nos manifestavam seu irrestrito apoio e o desejo de que alcançássemos um êxito cada vez maior. Isso veio firmar mais ainda a minha convicção.
Por fim, quero dizer em especial que, no futuro, virão turistas ao Japão, uns após outros e, como não existem turistas que não passem por Hakone, sem dúvida eles visitarão o nosso Museu de Belas-Artes. Também nesse aspecto ele será de grande utilidade, contribuindo para que os visitantes se conscientizem do elevado nível da cultura japonesa. A propósito, estrangeiros de grande influência tal como o Professor Langdon Warner (1881-1955) nos solicitaram permissão para visitar o museu, de modo que, um dia, ele também será conhecido no exterior; creio mesmo não estar muito longe o tempo em que se tornará uma das atrações do Japão. No desejo de corresponder a essa expectativa, estou me esforçando ao máximo para o aperfeiçoamento de todos os seus detalhes.
6 de agosto de 1952



POR QUE AS OBRAS-PRIMAS
CHEGARAM ÀS MINHAS MÃOS

Como as pessoas que já visitaram o Museu de Belas-Artes de Hakone devem saber, temos inúmeras peças que não se conseguem facilmente. Por isso não há quem não se espante. Vou contar, desde o início, como ocorreram os fatos.
Comecei a comprar objetos de arte logo após o término da guerra. Naquela época, o Japão estava passando por uma transformação até então nunca vista. Os nobres, os milionários, os senhores feudais, os grandes grupos econômicos, enfim, todos aqueles que ocupavam posições privilegiadas foram despojados delas de uma só vez. Premidos pelas dificuldades financeiras, eles viram-se obrigados a desfazer-se das caligra¬fias, quadros e antigüidades de valor artístico que eram tesouros de família desde a época de seus ancestrais. Por conseguinte, surgiram no mercado muitas peças famosas e raras, e a preços baixos. Fiquei com muita pena, pois essas pessoas precisavam vendê-las mesmo a contragosto, para poderem pagar os altíssimos impostos lançados sobre seus bens. Assim, ao comprar os objetos, eu também fui levado por uma grande vontade de ajudá-las, de modo que não pedi desconto, tendo comprado a maioria pelo preço ofertado. É óbvio, porém, que fiz um balanço dos ganhos exorbitantes de vendedores ambiciosos. Dessa forma, as peças foram sendo colecionadas pouco a pouco.
Como tenho dito várias vezes, desde jovem eu gostava muito das belas-artes. Entretanto, minha capacidade de avaliação ainda era de amador; além disso, eu não tinha experiência em compras desse tipo, nem entendia de preços do mercado. Conseqüentemente, só comprei as obras de que gostava. E parece que esse método não falhou; posso até dizer que não comprei nenhuma peça falsa.
Os especialistas no assunto que visitaram o Museu de Belas-Artes de Hakone, teceram-lhe elogios sinceros e não apenas para serem gentis: “Em todos os museus de belas-artes que visitei até hoje, as peças expostas são de valor duvidoso, mas as deste museu não. É um conjunto de objetos de primeira classe!” O Sr. Alan Priest, Curador do Setor de Belas-Artes Orientais do Museu Metropolitano de Nova Iorque, também elogiou especialmente esse ponto.
Enquanto fazia isto e aquilo, fui colecionando muitos obje¬tos, e minha capacidade de avaliação tornava-se cada vez mais aguçada. Comecei, então, a pensar que, um dia, deveria construir um museu de belas-artes. Isso ocorreu há mais ou menos três anos. A partir daí, misteriosamente, superando todas as expectativas, começaram a aparecer peças que vinham ao encontro desse objetivo, e eu então compreendi claramente que, por fim, Deus começara a executar a construção do Museu de Belas-Artes. Os milagres ocorridos nesse sentido foram muitos, e, como não conseguiria enumerar todos, citarei apenas os mais relevantes.
Foi logo no começo. Certo vendedor, especialista em “makiê”, misteriosamente me trazia, uma após outra, obras de alto nível. E não era só eu que me espantava: o próprio vendedor dizia que, para ele, o fato também era realmente um mistério. Além disso, a época era propícia e consegui obje¬tos valiosos por preços incrivelmente baixos; em termos de mercado atual, custaram várias vezes menos. Todas as peças de “makiê” que atualmente estão expostas no Museu de Belas-Artes são dessa época, tendo sido colecionadas em apenas meio ano. Entre elas, destacam-se duas do extraordinário artesão Shossai Shirayama, e ainda tenho algumas outras guardadas, que pretendo expor um dia. Hoje, quase já não existem à venda obras desse artista; restam muito poucas, e seus proprietários não abrem mão delas.
Há muito tempo aprecio os objetos de estilo Rin e as cerâmicas Ninsei. Com o passar dos anos, eles foram ficando cada vez mais caros; ultimamente, já não existe quase nenhum à venda, e dizem que os interessados estão desapontadíssimos. Entretanto, na confusão do período logo após a guerra, os preços eram baixíssimos e eu pude adquirir muitas obras; podemos, pois, entender que isso foi obra do Poder de Deus. É por esse motivo que eu nunca deixava de conseguir as peças que gostaria de possuir ou que necessariamente deveriam existir no Museu de Belas-Artes. Todas as vezes que isso acontecia, o vendedor exclamava: “É um mistério! É um milagre!”
A esse respeito, ocorreu um fato interessante. Eu estava querendo adquirir a famosa xilogravura “Tokaido Gojusantsugui”, de Hiroshigue, quando me apareceu um vendedor especializado em xilogravuras, que me ofereceu algumas obras desse artista. Eu lhe disse que, se fosse a impressão original da “Gojusantsugui”, eu a compraria a qualquer hora. Qual não foi o meu espanto quando, no dia seguinte, ele a trouxe para mim, dizendo: “Não há nada mais misterioso. Ontem, assim que voltei para casa, uma pessoa me levou exatamente o que o senhor queria. Fiquei muito surpreso, pois estava à procura dessa obra há mais de quarenta anos, e justamente ontem apareceu alguém para vendê-la. Não consigo entender!”
É claro que eu também exultei com o grandioso milagre. Examinando atentamente, vi que era de fato a obra original, que estava sendo guardada por um lorde feudal. Percebi, inclusive, que a encadernação parecia ter sido feita por um ancestral seu; por isso, fiquei duplamente maravilhado em poder adquiri-la. Além disso, o preço era muito baixo, o que me deixou mais contente ainda.
A seguir, falarei sobre a cerâmica chinesa.
Anteriormente, eu não sentia nenhuma atração nem entendia nada sobre o assunto, mas, quando pensei que essas peças seriam necessárias ao Museu de Belas-Artes, não tardou que elas se fossem acumulando. São estas que agora estão expostas, e as pessoas não acreditam que tenham sido colecionadas em apenas um ano. No princípio, eu não entendia absolutamente nada, como disse, mas fui escolhendo-as com base nas explicações dos vendedores e no meu sexto sentido. Hoje, os especialistas dizem que ficam impressionados em ver como se conseguiu reunir tantos objetos de valor. Por isso não tenho palavras para exprimir a grandiosidade das graças concedidas por Deus.
Ainda poderia contar muitos outros fatos, mas gostaria que imaginassem o restante. Agora, explicarei por que ocorreram tais milagres.
Os espíritos dos autores dessas obras, que, obviamente, estão no Mundo Espiritual, assim como os espíritos das pessoas que as apreciavam e os daqueles que tinham alguma relação com elas, pensando em praticar um ato meritório, faziam com que as peças chegassem às minhas mãos por diversos meios. Isto porque, através desse mérito, eles se salvariam e subiriam de nível no Mundo Espiritual. Não é preciso dizer que foi pelo mesmo motivo que conseguimos este esplêndido Museu de Belas-Artes em tão pouco tempo. Pensem bem. Até agora, para se conseguir um museu de belas-artes, era necessário o empenho de uma geração inteira de milionários; se este foi conseguido num piscar de olhos, qualquer pessoa poderá ver que não é obra humana.
8 de outubro de 1952


CAMPANHA DE FORMAÇÃO
DO PARAÍSO POR MEIO DAS FLORES

O objetivo da Igreja Messiânica Mundial é a construção do Paraíso Terrestre. Mas o que significa isso?
Obviamente, o Paraíso Terrestre é o mundo de perfeita Verdade, Bem e Belo. O método para obtenção da saúde – o Johrei – que é a vida de nossa Igreja, e a Agricultura Natural, são meios de que nos utilizamos para materializá-lo, mas o Johrei, além de promover a renovação do corpo físico, visa também à renovação do espírito. Independentemente de tais métodos, é de extrema urgência elevar o espírito das pessoas através do Belo. Esse é um novo projeto da Igreja Messiânica Mundial, que agora estamos colocando em prática. Para falar a respeito, vou expor, em primeiro lugar, a situação atual do Japão.
Numa classificação sumária, o Belo situa-se no domínio da audição, da visão e do paladar. No que se refere à audição, talvez nunca tenha havido época tão próspera em música como a época atual, em virtude, principalmente, do rádio, sendo muito significativo, também, o progresso do toca-discos, dos discos, etc. No tocante à visão, entretanto, a situação é muito precária, existindo apenas o teatro, o cinema e coisas do gênero. Em verdade, queremos algo que toque nosso sentimento pela beleza, que seja mais simples, mais próximo de nós, e que não esteja limitado pelo tempo. Ora, o teatro e o cinema são excelentes meios para deleitar os olhos, mas, como implicam limitação no tempo, questões financeiras e meios de transporte, não podem ser aceitos integralmente.
O que propomos aqui, é o cultivo e distribuição das flores, excelente forma de propagação do Belo. Consiste em ornamentar com flores não só as residências como outros locais. Hoje em dia, as flores ornamentam, geralmente, as residências de pessoas acima da classe média, mas isso é insuficiente. Nosso objetivo é adornar com elas todos os lugares e classes sociais, colocando-as à vista de qualquer pessoa. No canto do escritório, em cima da escrivaninha, onde quer que seja, não é nem preciso dizer o quanto uma flor nos reanima e nos faz sentir um toque de pureza. Em termos ideais, desejamos ornamentar até mesmo prisões e locais de execução. Quão boa influência isso exerceria sobre os detentos! Se chegarmos ao ponto de existirem flores onde quer que haja pessoas, a força para tornar ameno este mundo infernal será bem grande. Atualmente, porém, isso é impossível, dado o alto preço das flores; por conseguinte, precisamos fazer com que elas possam ser adquiridas a preços bem baixos. Para tanto, devemos intensificar o seu cultivo, mas de modo a não prejudicar a produção de alimentos.
O Japão é considerado o primeiro país do mundo no que se refere à variedade de flores. Quanto aos métodos de cultivo, também parece atingir o nível mais alto, e todos sabem que a tulipa, que era produzida exclusivamente na Holanda, começou a ser cultivada, antes da última guerra, não só no Estado de Niigata, com exceção da Ilha de Sado, mas também no Estado de Kanagawa. Está sendo exportada para a Inglaterra e para os Estados Unidos, e a produção vem aumentando a cada ano.
Pela pesquisa que fizemos, constatamos, por exemplo, que os americanos admiram muito as flores existentes no Japão, interessando-se pelas raridade que não possuem em seu país. Assim, doravante, devemos fazer das flores mais um recurso para a obtenção de divisas, cultivando-as em larga escala. Até hoje essa prática veio sendo negligenciada, mas de agora em diante deve ser estimulada ao máximo. Além do mais, como a flor é um produto cuja exportação não sofre limitações de quantidade, torna-se objeto de enorme expectativa.
8 de maio de 1949



AS PLANTAS TÊM VIDA

Gosto muito de cuidar das plantas do jardim e sempre corto seus galhos, arrumando-lhes o formato. De vez em quando, porém, sem perceber, acabo cortando demais ou deixando de cortar onde é necessário. Às vezes, quando vou plantar uma árvore, não havendo outra alternativa, por causa do espaço, planto-a num lugar que não é do meu agrado e deixo a parte da frente para trás, ou meio de lado, o que me incomoda, toda vez que a observo. Mas é engraçado, pois, com o passar do tempo, vejo que a árvore vai se acomodando aos poucos, por si mesma, até que acaba se harmonizando perfeitamente com o lugar. Acho isso interessantíssimo e não posso deixar de pensar que ela está viva. Certamente, as árvores também possuem espírito. Nesse ponto, assemelham-se ao homem que cuida de sua aparência para não passar vergonha perante os outros.
Temos atrás, ouvi um velho jardineiro contar que, quando uma planta não dava flores como ele queria, dizia-lhe estas palavras: “Se este ano você não der flores, vou cortá-la.” Assim, ela não deixava de florir. Ainda não experimentei fazer isso, mas o fato parece-me verossímil. Não há erro em lidarmos com qualquer elemento da Grande Natureza acreditando que ele possui espírito. Num livro que li, de autor ocidental, dizia-se que uma árvore que geralmente leva quinze anos para crescer, tendo sido cuidada com amor e dedicação, cresceu da mesma forma na metade do tempo, isto é, em sete ou oito anos.
O mesmo pode ser dito em relação às vivificações florais. Eu próprio vivifico as flores de todos os compartimentos de minha casa; entretanto, ainda que elas não estejam do meu completo agrado, deixo-as assim mesmo. No dia seguinte, noto que elas estão diferentes, com um aspecto agradável, como se realmente estivessem vivas. Nunca forço o formato das flores; vivifico-as da maneira mais natural possível. Por isso, elas ficam cheias de vida e duram mais. Se mexermos muito, as flores perdem sua graça natural, o que não acho bom. Assim, quando vamos vivificá-las, devemos, primeiramente, imaginar como iremos fazê-lo, para depois cortá-las e fixá-las rapidamente. Isso porque, tal como os seres vivos, quanto mais mexermos, mais fracas elas ficam. Esse princípio também se aplica ao homem. Com os pais, por exemplo: quanto mais cuidados tiverem na criação dos filhos, mais fracos eles serão.
Como vivifico as flores dessa maneira, minhas vivificações duram mais do que o dobro do normal, e todos se admiram. Em geral não se usa bambu e bordo – certamente porque não duram muito – mas eu gosto de vivificá-los, e eles sempre duram de três a cinco dias; às vezes o bambu dura mais de uma semana, e o bordo, quase duas. Além disso, qualquer que seja a flor, não mexo em seus cortes, deixando-as ao natural.
5 de agosto de 1953


A RESPEITO DA COLETÂNEA DE POEMAS “YAMA TO MIZU” (MONTE E ÁGUA)

Como sempre digo, o objetivo da Fé é polir a alma e purificar os sentimentos. Existem três maneiras para conseguirmos isso: pelo sofrimento oriundo não só de abstinência ou penitências, mas tambem de danos e catástrofes; pela soma de méritos e virtudes e pela elevação da alma por influência da arte de alto nível. Dentre elas, o caminho mais rápido é este último. E não existe nada melhor, pois nossa alma vai sendo polida imperceptível e prazerosamente.
Neste sentido, sempre que dispusermos de tempo, é bom lermos a coletânea intitulada “Yama to Mizu” (Monte e Água), poemas escritos em estilo “waka” (9). Por intermédio deles, nossa alma se eleva sem que o percebamos. Quando isso ocorre, a Inteligência da Percepção da Verdade é polida e, assim, o cérebro se torna mais claro e a fé se eleva mais facilmente. Isso acontece porque os referidos poemas são repletos de Verdade, Bem e Belo.
De acordo com o exposto, tenho como objetivo desenvolver a fé também por meio do poder do espírito das palavras.
6 de maio de 1950



O HOMEM E A LUTA ENTRE O BEM E O MAL



ATEÍSMO É SUPERSTIÇÃO

O problema do suborno de funcionários públicos tem ocupado os noticiários jornalísticos. Surge um caso após o outro e parece que a coisa não tem fim. Isto nos mostra que o serviço público está completamente corrompido. Assemelha-se a um sifilítico purulento em terceiro grau. Jamais vi, até hoje, tanta corrupção. A polícia estuda novos meios para prevenir o problema, mas não encontra solução, embora venha aplicando severamente os recursos legais. Todas as medidas revelam-se provisórias, pois não se conhece a raiz do mal, e por isso é impossível evitar que surjam problemas dessa espécie.
Dentro da mesma ordem de fatos, temos os aproveitadores dos serviços públicos, cujas atividades obscuras vêm se tornando notórias nos últimos tempos. Tais indivíduos convidam funcionários para reuniões em restaurantes ou casas noturnas e, após oferecer-lhes magníficas recepções, conseguem concluir negócios altamente vantajosos para si próprios. Desse modo, enfraquecem todas as resistências. As despesas que isso acarreta são geralmente consideráveis, e é o povo que vai pagá-las através do aumento do preço das mercadorias e dos impostos.
O problema em questão exige solução radical e urgente. Infelizmente, nada poderá ser feito enquanto a polícia e os especialistas ignorarem as causas do fato. Vou sugerir um meio infalível para solucioná-lo.
De início, parece-nos contraditório que pessoas de cultura superior ou, pelo menos, de nível médio, cometam crimes. Entretanto, o povo se engana, julgando que os homens mais instruídos sejam incapazes de praticá-los. Talvez o homem culto não use métodos violentos, mas recorre às sutilezas da inteligência. Conseqüentemente, seus delitos serão mais graves, pois ele exerce maior influência social. E qual é o motivo que o leva à prática de crimes revoltantes?
A causa principal é uma falha psicológica: sua visão materialista, que o faz crer no êxito da ação culposa executada com habilidade, às ocultas, sem o testemunho de outrem. Acontece, porém, que, quando menos se espera, o crime é descoberto. Então, o culpado se surpreende e se põe a pensar. O que se passa em seu íntimo deve ser mais ou menos o seguinte: “Infelizmente fui descoberto, apesar de minha habilidade. Conhecendo a lei como conheço, não deixei nenhuma pista. Como vieram a saber? É inútil ficar me lamentando. Farei o possível para fugir às conseqüências e, da próxima vez, serei mais esperto.” Esta é a tendência geral. Há, também, os que caem em si e refletem: “Eu não devia ter burlado a lei. Vou cumprir a pena e me regenerar.” Entretanto, com o decorrer do tempo, tal decisão poderá enfraquecer e o culpado reincidir no erro. Isso acontece porque ele não crê em Deus.
O único meio de resolver estes problemas é a Fé. É através dela que vislumbramos a existência de Deus. Creio na força da Fé para resolver tais casos, porque a psicologia do delinqüente se baseia na convicção de que Deus não existe. Quase todos eles acreditam que, acima da Terra, existe apenas o ar, e mais nada. É um conceito simplista. Além disso, julgam-nos supersticiosos, por crermos num Deus invisível. Embora crentes, não somos nós os supersticiosos. Só há uma perigosa superstição: a do ateísmo, que se oculta sob a obstinada negação da existência de Deus. Os ateus merecem realmente piedade. Se destruirmos a base da psicologia do criminoso – a descrença em Deus – teremos solucionado o problema.
Mas por que tantos homens da atualidade caíram nas garras desse fanatismo? O fato se deve à educação materialista que desde o berço lhes veio sendo ministrada. Nossa missão é convertê-los, isto é, reeducá-los. Não há outro meio para formar cidadãos honestos. Se os políticos e educadores não tomarem consciência da base do problema, tudo o mais que fizermos será provisório. É nossa tarefa fazer os delinqüentes compreenderem que, embora ocultem seus crimes aos olhos do mundo, jamais poderão enganar a Deus.
12 de dezembro de 1951



POR QUE O MAL SE REVELA

Como já me referi em “ATEÍSMO É SUPERSTIÇÃO” (10), a causa das injustiças que infestam o mundo reside na própria mente humana.
O pensamento que admite a possibilidade de se manterem despercebidos os delitos, sejam eles quais forem, acha-se enraizado entre os que não crêem verdadeiramente em Deus. Segundo tal raciocínio, é muito mais fácil e vantajoso ganhar dinheiro de modo ilícito.
Claro está que esse conceito é largamente seguido entre os que praticam o mal, mas o fato é que o crime sempre é descoberto. No fundo, o próprio culpado sabe disso, porém, como desconhece a razão dessa verdade, não consegue abandonar a senda do mal.
Considera-se que todo cidadão é independente, apesar de ser um membro da sociedade, e que, portanto, ele é livre para praticar quaisquer atos. Atualmente, “viver com inteligência” significa empregar a habilidade exclusivamente no que possa proporcionar benefícios à própria pessoa. O homem, simulando admiração pelas palavras dos seus superiores ou reli¬giosos, no íntimo zomba delas, achando que são tolices. Prende-se a formalidades, tornando-se nulo não apenas espiri¬tual¬mente, mas também quanto ao seu valor humano.
Esse é o pensamento moderno da maioria dos homens, os quais, longe de conseguirem a almejada felicidade, acabam fracassando. E fracassam porque, embora o mal não seja descoberto pelos outros, a própria pessoa sabe que o cometeu. Aí é que está o problema, pois o conteúdo do consciente e do subconsciente reflete-se num local do Mundo Espiritual que corresponde, na Terra, ao nosso Palácio da Justiça. Pode ser chamado de Fórum do Mundo Espiritual.
Infelizmente, é difícil para o homem, vítima do materialismo, crer na existência do Mundo Espiritual, que ele nega sumariamente. A ignorância da existência desse mundo é a fonte do mal. Assim, para extirpar o mal pela raiz é necessário pregar esta verdade e convencer o homem; não há meio mais eficiente.
Vejamos como é feita a comunicação ao Fórum do Mundo Espiritual.
Há um elo espiritual semelhante ao telégrafo sem fio que estabelece uma ligação entre cada homem e esse Fórum, no qual as nossas ações são registradas com assombrosa exatidão. O registrador anota tudo minuciosamente num livro, e os delitos são julgados de acordo com o grau de perversidade. Por esse julgamento do Mundo Espiritual, o delito é revelado no Mundo Material, de forma hábil, para a pena correspondente.
Quando o homem tomar consciência desse fato, deixará de cometer qualquer espécie de mal. Se, ao contrário, praticar bons atos, será recompensado também, segundo o próprio mérito. Esta é a realidade dos dois mundos, o Espiritual e o Material. Deus construiu-os sabiamente. Sendo esta a Verdade Absoluta, não há outra solução a não ser aceitá-la.
Atualmente, a maioria dos homens cultos é cega a essas questões espirituais e menospreza o ato de revelá-las ao povo. Inclusive mostram-se prevenidos contra a pregação desse princípio fundamental, considerando-o superstição, quando, na realidade, são eles que se portam como verdadeiros supersticio¬sos. A maior prova do que dizemos é que, apesar de intenso empenho nesse sentido, os delitos não têm diminuído. A justiça terrena tenta evitá-los punindo-os com medidas provisórias e superficiais, depois que eles vêm à tona. Estabelece leis que podem ser transgredidas, deixando de tocar no ponto vital, e a humanidade, imatura, chega a orgulhar-se do que denomina “Civilização”. Digamos, antes, pela evidência dos fatos, que estamos vivendo, atualmente, a era da “cultura selvagem”.
26 de dezembro de 1951
O HOMEM MAU É IGNORANTE

Sabemos que o homem mau é aquele que sacrifica o próximo para satisfazer os seus interesses, dando a impressão, muitas vezes, de estar agindo apenas por uma espécie de capricho.
Passarei a uma análise psicológica desse tipo de pessoas.
É costume dos homens maus expressarem o desejo de gozar a vida enquanto podem. Ora, os delitos não ficam ocultos por muito tempo, e esses infelizes, receosos de tal fato, preparam-se para o fim iminente do seu breve gozo.
Os delitos não se restringem aos de banditismo, roubo ou homicídio, como se costuma supor. Homens de elevada posição social também cometem desonestidades sumamente lamentáveis. Os jornais de após-guerra alardeavam repelentes delitos, como desvio de mercadorias, contrabando, sonegação de impostos e fraudes. Surpreendia-nos a prisão de personagens que jamais poderíamos imaginar em semelhante situação. Eles supunham que seus crimes passariam despercebidos, por terem sido habilmente executados, esquecendo-se de que a maldade é sempre descoberta, porque Deus tudo observa do invisível Mundo Espiritual. A nossa constante afirmação de que o homem descrente é perigoso, está fundamentada justamente nisso. Trata-se de um ponto importantíssimo e difícil de ser compreendido até por pessoas inteligentes.
Uma vez descobertas e condenadas as más ações, as pessoas caem no conceito público, levando anos para recuperarem a confiança perdida. Muitas, caindo em descrédito, ficam relegadas para o resto da vida. Reflitamos um pouco. O prejuízo será muitas vezes superior aos lucros obtidos por meios ilícitos.
Na Era Meiji (1868-1912), o famoso ladrão Sadakiti Shimizu, quando foi preso, assim expressou seu arrependimento: “Não há coisa pior do que roubar. Se eu dividisse o dinheiro que roubei até hoje pelo número de dias que se passaram, o resultado seria de apenas 45 centavos por dia.” Concordo que não deve ter sido compensador, por mais baixos que estivessem os preços na Era Meiji.
Praticar o mal, além de não ser compensador do ponto de vista religioso e material, também não o é pela inquietação de que o criminoso se torna vítima até ser descoberto. O maior ignorante é o indivíduo que comete o mal e sacrifica o próximo para satisfazer os seus próprios interesses.
30 de abril de 1949



O HOMEM MAU É ENFERMO

O título acima suscitará dúvidas em inúmeras pessoas, pois há muitos homens maus com aparência sã. Entretanto, eles são sadios apenas aparentemente; na realidade espiritual, são autênticos enfermos.
Conforme venho asseverando, os homens maus são vítimas dos maus espíritos. Estes dominam o Espírito Primordial, afastam o Espírito Guardião e agem a seu bel-prazer, como se fossem a própria pessoa. Podem ser de animais como raposa, texugo, dragão, etc., e praticam atos não muito diferentes daqueles que esses animais praticariam. Nessas condições, sem nenhum constrangimento e até com satisfação, fazem coisas impiedosas e cruéis, que o homem jamais faria. Pode-se compreender, portanto, como esses espíritos são desumanos, porque escapam à compreensão pelo senso comum.
Como sempre afirmo, o homem é constituído de Espírito Primordial, de natureza Divina, e de Espírito Secundário, de natureza animal. Este último incorpora-se ao homem por permissão de Deus, pois comanda todos os desejos materiais indispensáveis à existência humana.
Analisando um homem mau, constatamos que ele está revelando o seu instinto animal, inerente ao Espírito Secundário, ou manifestando o instinto de um espírito animal “encostado”. Isto acontece devido às máculas existentes no seu corpo espiritual, sendo que o grau de encosto é proporcional à densidade dessas máculas. O Espírito Guardião será então dominado pelo espírito animal e agirá sob suas ordens.
As máculas espirituais são a causa do homem mau. Como elas se refletem no sangue, de acordo com a Lei do Espírito Precede a Matéria, infalivelmente sobrevirá, algum dia, uma intensa ação purificadora, proporcional, em sofrimento,
à densidade das máculas, causando acidentes imprevistos, doen¬ças e outras desgraças.
É curioso o fato observado muitas vezes entre os grandes criminosos: são presos só depois que se arrependem e desejam aproximar-se de Deus. É a ação da Lei da Purificação pelo sofrimento, decorrente das máculas do corpo espiritual.
Observamos, assim, que o homem mau é um autêntico enfermo, porque a causa da maldade reside nas máculas do espírito. Quanto maior o crime, mais intensa a ação purificadora, que transforma o culpado em enfermo gravíssimo, submetido a dores infernais.
As máculas surgem porque falta força, isto é, Luz ao Espírito Primordial, de natureza Divina. Portanto, para livrar-se delas, o homem precisa contar com o apoio da Religião, ter fé e manter sempre em vista o Todo-Poderoso. Se ele agir dessa forma, a Luz de Deus penetrará na sua alma, através do elo espiritual, diminuindo-lhe as máculas. O espírito mau padecerá com isso e, intruso que é, abandonará imediatamente sua vítima, fazendo com que o Espírito Secundário se retraia e fique sem ação para o mal.
Quem não reverencia Deus, está sujeito a transformar-se em mau elemento, em qualquer oportunidade ou a qualquer momento. Podemos afirmar que os indivíduos afastados de Deus, cujo número é elevadíssimo na sociedade atual, são elementos perigosos. Assim, o mal social tende a não diminuir. Por mais honesto que o homem seja, não será autêntico, se estiver afastado de Deus; será apenas um homem superficial, cuja má índole, em estado latente, não permite que nele se possa confiar.
Lamentavelmente, muitas pessoas, incapazes de compreender essa simples verdade, negam a Religião e contam somente com o apoio da lei humana para o extermínio do mal. O que foi exposto, no entanto, demonstra o quanto elas estão equivocadas.
21 de novembro de 1951

COMO ACABAR COM OS CRIMES

Dentre os crimes cometidos ultimamente, os mais graves são os crimes praticados por indivíduos que, para roubar uma pequena soma em dinheiro, não hesitam em tirar a vida de seu semelhante. Para eles, isso é mais simples do que matar um cão. Quando analiso esse tipo de pessoa, fico pasmado com sua estupidez, inconcebível por meio do senso comum. Que situação tenebrosa! Tais indivíduos não pensam no sofrimento da vítima e de seus familiares. Além disso, não passa pela sua cabeça que, no caso de serem presos, a pena de morte seria fatal, ou que, na melhor das hipóteses, não escapariam à prisão perpétua. Seja como for, com uma vida pela frente, eles não poderiam mais integrar a sociedade e estariam jogando fora a sua própria existência. Esse é o pensamento que deveria ocorrer-lhes, mas parece que tal não acontece, o que revela um estado psicológico realmente de se estranhar. Os atos dessas cria¬turas estão à mercê dos seus instintos e não passam de satisfações momentâneas; seu objetivo é divertir-se por curto espaço de tempo. Uma vez que terão de pagar bem alto – um prejuízo talvez dezenas ou centenas de vezes maior do que o lucro obtido – não podemos considerá-las como seres humanos. São exatamente como os quadrúpedes. As “pessoas de quatro pés”, como todos sabem, não têm nenhuma percepção para ver que, após o crime, poderão ser condenadas à morte. Por isso mesmo, é difícil lidar-se com elas.
Com base no que acabamos de dizer, talvez se pense que não há uma explicação para os crimes, mas na realidade eles são perfeitamente explicáveis. Do ponto de vista espiritual, podemos compreendê-los muito bem. Segundo os Ensinamentos de nossa Igreja, o homem possui três espíritos: o Espírito Primordial, atribuído por Deus; o Espírito Guardião, escolhido entre os Ancestrais, e o Espírito Secundário, responsável especialmente pelos desejos físicos e seculares do homem. Naturalmente, o Espírito Primordial é a fonte dos bons sentimentos, e o Espírito Guardião incentiva a pessoa para o bem. Quando o Espírito Secundário predomina, quem está dominando é o quadrúpede. Por isso, embora tenha aparência humana, a pessoa torna-se semelhante a um animal. Nestas circunstâncias, não se justifica o sentimento de pena ou compaixão; ela demonstra caráter perverso do princípio ao fim.
Esta é a causa básica dos crimes sem escrúpulos. Por isso é muito perigoso o homem deixar que sua alma seja dominada pelos animais, pois basta qualquer estímulo para lhe surgirem desejos maléficos e ele se tornar um criminoso. Mas o que é que se deve fazer? Não há outro meio para solucionar o problema a não ser a força da Religião. E por que deve ser através da Religião? Como eu disse anteriormente, o homem é dominado pelo espírito animal, isto é, pelo Espírito Secundário. Portanto, é preciso enfraquecer a força de domínio deste último. Em termos mais claros, aumentar a força do bem numa proporção muito maior que a do mal, fazendo com que o Espírito Secundário se torne o dominado. Afirmo que não existe método mais eficaz.
Antes de mais nada, é necessário ingressar na fé, voltar-se para Deus, adorá-Lo e orar. Uma vez que a pessoa esteja ligada a Deus pelo elo espiritual, através deste a Luz Divina será derramada em sua alma; à medida que a alma for sendo iluminada, o Espírito Secundário se retrairá e a força que ele tem para utilizar a pessoa a seu bel-prazer irá enfraquecendo. No íntimo de todo ser humano, há uma luta constante entre o bem e o mal. Isso acontece em virtude do princípio exposto acima. Assim, por mais minuciosas que se tornem as leis e por mais que se fortaleça o sistema de policiamento, será o mesmo que combater o crime com uma força estranha. Sem dúvida é melhor do que nada, mas, enquanto não se for ao âmago do problema, os resultados serão insignificantes, apresentando-se situações sociais nefastas, como acontece hoje em dia.
É incompreensível que nem o governo nem os educadores percebam algo tão óbvio. Eles se limitam a suspirar, dizendo que, atualmente, há muitos crimes inescrupulosos e que a delinqüência juvenil aumenta dia a dia. Não conseguem libertar-se de idéias anacrônicas, que cheiram a mofo, e só a muito custo determinam o restabelecimento deste ou daquele princípio ético ou moral; a reforma de métodos educacionais, etc. Achamos isso muito triste. Pode parecer ironia, mas é o mesmo que colocar água numa peneira e, notando que ela vaza demais, fazer uma peneira de furos menores.
25 de julho de 1951



O VERDADEIRO HOMEM FORTE

Atualmente, fala-se muito sobre os erros sociais, mas, esses erros são causados pela existência de um grande número de criaturas corruptas. Uma rápida visão do passado mostra-nos que sempre houve necessidade de combater os perversos.
Se examinarmos a psicologia dos que vivem a prejudicar o próximo, veremos que eles têm plena noção do que fazem, com exceção dos grandes criminosos, destituídos da menor parcela de discernimento. Quase todos se encaminham para o mal em busca de riquezas, bebidas e sexo, embora saibam que isso é condenável. Sustentam a idéia medíocre de que é impossível a regeneração para os que já trilharam o caminho do erro. Naturalmente, eles temem a lei; mas, como lhes é difícil satisfazer honestamente suas ambições, usam de todos os meios para fugir à punição e esconder seus malfeitos. Mentem e ludibriam com crescente habilidade; enganar os outros acaba se tornando, para eles, algo extremamente fácil.
Os ludibriados se resignam porque são honestos e não têm experiência dos ardis utilizados pelos perversos. Isso ajuda a intensificação do crime, e os corruptos passam a auferir grandes vantagens. Quando o mal compensa, é muito difícil a reabi¬litação. Então, pouco a pouco, eles começam a se afundar na lama do pecado. Geralmente, o tipo que obtém muito proveito de seus delitos é um criminoso intelectual, pertencente à classe superior ou média.
Dizem os antigos que todas as pessoas têm sete manias, ainda que não tenham consciência disso. Creio que as manias do homem malvado não o impedem de passar por tormentos de consciência ao prejudicar os outros, criando máculas e infelicidade para si mesmo, nem de reconhecer que o hábito de beber, de gastar em excesso e afligir a família, é uma fonte de padecimentos. Mas ele não consegue se dominar e continua agindo de maneira errada. Sabe que o relacionamento extra-conjugal custa dinheiro e que se arrisca a contrair doenças malignas, causando preocupação aos familiares; entretanto, persiste em seu modo perigoso de viver. Entrega-se a jogos de azar, que sempre lhe acarretam prejuízo, mas teima em arriscar a sorte.
Acredito que quase todos nós temos conhecimento de casos semelhantes, tão comuns hoje em dia. Eis por que me detive nesses aspectos da questão.
Quem não consegue se dominar, apesar de compreender que deve abandonar as práticas viciosas, é um ser destituído de força, isto é, de verdadeira coragem, o que há de mais precioso no homem. Costumo dizer: “Quando o homem enobrece, identifica-se com Deus”. Manter vigilante esforço contra o mal, dominá-lo e superá-lo, significa tornar-se Divino. Esta é a força autêntica, proveniente de Deus. Portanto, para mim, o perverso não passa de um homem fraco.
29 de outubro de 1949



O HÁBITO DE RESIGNAÇÃO DOS JAPONESES

Dizem que não há país civilizado cujo povo seja tão resignado quanto os japoneses. E não é para menos. Como diz um antigo ditado, é impossível ganhar de autoridades e crianças que choram. Assim, ainda hoje restam heranças do feudalismo.
Vejamos. Mesmo que uma pessoa seja prejudicada por um artigo difamatório de jornal ou revista, desiste de reclamar, com medo do que o jornalista possa publicar no artigo seguinte. No caso de não ficarem satisfeitos com resoluções tomadas pelas autoridades, os japoneses se resignam, porque têm medo das conseqüências que lhes podem advir se expressarem sua insatisfação. Se acham que os impostos estão sendo cobrados injustamente, eles não se rebelam, por temor de serem visados daí em diante. Também não denunciam pessoas que tomam empréstimos forçados nem chantagistas, pelo medo de represálias. E todos sabem que, aproveitando-se dessa resignação, os chefões do submundo, que ainda existem em todos os lugares, vivem atormentando e ameaçando o povo.
Dizem que nos Estados Unidos, se os direitos humanos não são respeitados, ou se as pessoas são tratadas de maneira inconveniente, elas protestam e jamais recuam até que seja feita justiça. Só quando todos os homens tiverem essa coragem é que as injustiças sociais serão eliminadas, respeitando-se a justiça. Com isso, realizar-se-á uma verdadeira sociedade democrática. Por conseguinte, se o povo japonês quiser construir uma sociedade feliz e democrática, é preciso que ele não se dobre de maneira alguma quando vir a justiça desrespeitada. Ou seja, é preciso que o bem vença o mal. Quando esse pensamento se estender a toda a sociedade japonesa, o Japão começará realmente a se tornar um país democrático.
31 de maio de 1949


VENCER O MAL

Desde a antigüidade, as religiões têm se desenvolvido com base no princípio da absoluta “não-resistência”. Cristo falou: “Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda.” Quando se achava na cruz, no Gólgota, ele disse: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem.” Esses fatos evidenciam Cristo como a personificação do Amor.
Também Sakyamuni, interpretando como uma provação para o seu próprio aperfeiçoamento as insistentes perseguições de seu primo Daiba, que pretendia destruí-lo a fim de herdar seu poder e sua glória, não assumiu nenhuma atitude de resistência.
Entretanto, ao analisarmos os resultados, embora estejamos convencidos de que o amor cristão e a misericórdia búdica cativam a alma humana, tornando-se a fonte da fé, não podemos concluir se esses resultados foram ou não benéficos, pois, decorridos mais de dois mil anos da morte de Sakyamuni e de Cristo, o mal continua a aumentar, ao invés de diminuir. O fato de homens bons viverem molestados por maus elementos e de homens honestos serem ludibriados, é uma realidade que tem resistido aos séculos, dando-nos a impressão de que não tem nada a ver com o progresso da cultura. Este, pelo contrário, serviu para esmerar a técnica na execução do crime, em nada alterando sua natureza.
Reflitamos: por que o mal não é exterminado? Indubi¬ta¬vel¬mente, a causa está na passividade do bem. Os indivíduos maus aproveitam a situação e perseguem constantemente os bons, que são ridicularizados e tidos no baixo conceito de tolos e co-vardes. Os bons, por sua vez, superestimam os maus, deixando de oferecer-lhes resistência; temendo prejuízos ou inesperadas agressões, preferem tolerá-los, como se essa resignação fosse sensata. Isso contribui para aumentar o ânimo dos maus, que afiam suas garras na intensificação do mal, não deixando, porém, de precaver-se, a fim de escaparem à lei.
Infelizmente, vivemos numa sociedade onde o povo é sempre a vítima. A esperança da realização de um mundo onde os bons possam viver tranqüilos, ainda se perde no horizonte. Nós, religiosos, pregamos que o bem não deve, em momento algum, sucumbir ao mal, pois sua derrota evidenciaria que não é um bem verdadeiro, e sim, covardia. Cabe-nos provar que o mal não conseguirá vencê-lo. Acredito ser este o modo correto de agir, numa religião autêntica e sincera.
Os maus elementos consideram os religiosos como seres diferentes dos indivíduos comuns, encarando-os da seguinte maneira: “Eles são seguidores do princípio da não-resistência; não nos causarão, portanto, grande perda, ainda que os maltratemos.” Aqui reside a fraqueza dos religiosos, ou melhor, a razão pela qual eles são julgados assim. Por conseguinte, precisamos verdadeiramente, e a todo custo, erradicar o conceito satânico dos maus elementos, lutando incansavelmente contra o mal.
Creio ser do conhecimento de todos que, por ocasião do ataque à nossa Igreja feito por um jornal de grande circulação, lutamos sem nenhum temor de sua maldade. Lutamos destemidamente, ainda que o nosso adversário tentasse esmagar-nos pela força, e até que ele se arrependesse dos seus atos. Não seria essa a verdadeira Vontade de Deus? Conseqüentemente, cabe-nos despertar os seres humanos para a melhor solução, que é o abandono do mal pela conversão ao bem, pois, de forma alguma, este poderá ser vencido pelo mal. Penso ser este o procedimento correto de uma religião autêntica e sincera.
Mantive-me, até hoje, fiel a esse princípio e creio que jamais sucumbirei à injustiça. Uma prova disso é que venho lutando, na condição de réu, por um caso de propriedade que, por incrível que pareça, não foi resolvido no espaço de quatorze anos. Toda vez que ocorre a mudança ou a substituição de um magistrado, quem vem para o seu lugar tem de recomeçar o estudo de todo o processo, afligindo-se ante a obrigação de ler um relatório processual cada vez mais extenso, razão pela qual me sugere um acordo. Como meu objetivo é combater a injustiça, coloco a questão pessoal em segundo plano, evitando a reconciliação, enquanto meu adversário não tomar consciência de seu erro.
O objetivo da Religião é incentivar o bem e combater o mal. Este jamais deve derrotar o bem. A razão está no fato de que o mal decresce à medida que o bem triunfa, contribuindo para o melhoramento da sociedade. Assim surgirá o Paraíso Terrestre.
18 de abril de 1951



SEJAM FORTES OS VIRTUOSOS

O mundo atual está fortemente dominado por maus elementos. A opressão e o sofrimento causados aos homens de bem, é fato que ninguém ignora. Esclarecerei a causa fundamental de semelhante situação.
Em todas as épocas, os honestos foram considerados fracos, e os perversos, fortes, conceito que facilita ainda mais o predomínio e o abuso dos corruptos e dos corruptores. Antigamente, os homens de bem eram forçados a resignar-se, impotentes contra a violência dos malfeitores, pela falta de leis e órgãos de policiamento. Dentre os civis, os mais fortes e arrojados sobrepunham-se aos demais. A História e os contos japoneses dão exemplos de maus elementos da classe dos samurais que abusavam da espada, impondo, assim, obediência aos civis indefesos.
Há uma diferença capital entre a sociedade antiga e a moderna. Após a reforma Meiji, em 1868, quando o imperador Meiji restaurou o poder monárquico que esteve nas mãos de governos militares durante trezentos anos, deu-se início à era da civilização, aperfeiçoando-se, paulatinamente, as leis e a sociedade em geral, até os dias de hoje. Após a guerra, aliviou-se o ambiente social, com o desaparecimento da oligarquia e a repressão quase total do banditismo.
Ultimamente, os maus elementos substituíram a violência por processos ardilosos, atormentando as pessoas honestas com interesses monetários, intimidações e ameaças que escapam sutilmente à Lei. São casos típicos de extorsão e exploração, mas outros fatores não mencionados aqui existem ainda para tormento dos homens. Sempre partem de criaturas inescrupulosas e astutas, que vivem abusando da Lei, através de trapaças e estratagemas engendrados para a satisfação de seus interesses. Lamentalvemente, tais elementos pertencem, muitas vezes, às classes média e alta. Os “chefões” não desaparecem e os escândalos burocráticos continuam, porque os inocentes não recorrem à Justiça, temerosos de vinganças descabidas. Ninguém ignora que uma das causas do mal social é a fraqueza dos homens honestos.
Sempre me mantive fiel ao princípio de que o honesto e virtuoso deve vencer o malvado. Graças a esse princípio, sempre recorri à Justiça para solucionar diversas questões. A mais longa batalha judicial que já enfrentei vem se prolongando há mais de dez anos, pois tenho por critério que o homem de bem, o homem justo, nunca deverá ser vencido pelo homem perverso, e que o autêntico bem é muito mais forte do que o mal. A principal razão de ainda não se ter conseguido exterminar o mal da sociedade humana, reside no fato de que os virtuosos se deixam vencer pelos desonestos e inescrupulosos, dos quais o mundo está cheio.
O indivíduo honesto, mas fraco, não é um honesto autêntico, e sim um pusilânime. É um honesto passivo, que não se insurge contra o mal. Embora não pratique más ações, não passa de um covarde, permitindo o alastramento do mal para poder manter-se em segurança. Se os indivíduos perversos chegassem a se convencer da inutilidade dos seus esforços e da conveniência de participar do mundo dos honestos, por serem estes invencíveis, poderosos e incontroláveis, certamente o mal social decresceria e teríamos um mundo mais confortável e alegre.
Aceita esta teoria, ainda que os honestos, apesar da maior boa vontade, nada possam fazer individualmente, o recurso seria formar uma entidade denominada, por exemplo, “Associação contra o Mal”. Sugiro este plano por considerá-lo uma excelente medida para a reforma social que precisa ocorrer urgentemente.
15 de outubro de 1949



ACABAR COM OS PERVERSOS

Talvez estranhem o título acima, mas acho que ele é o mais adequado. A explicação é a seguinte:
Estou cercado de indivíduos desonestos, que procuram enganar-me pelo fato de eu ser um religioso e parecer-lhes até mesmo um santo. Esses infelizes, dotados de grande astúcia e de inteligência maléfica, preparam-me ciladas incríveis. Alguns deles possuem posição social e são atrevidamente insistentes. Eu os deixo agir à vontade. Mesmo assim eles tentam ludibriar-me de várias maneiras. E não desistem, apesar de pressentirem o fracasso. Pelo contrário, aguardam um acordo, julgando-me constrangido pelo cerco, pois mantenho uma atitude calma e completamente indiferente ao assunto. Por fim, colocados em má situação, pelo esgotamento de recursos e de fundos, a afobação acaba por arruiná-los de uma vez.
Há, também, os astuciosos, que preparam ardilosamente as armadilhas e empregam mil táticas para me enredar. Pensando que a Igreja dispõe de muitos bens e que eu, seu fundador, talvez seja inexperiente em questões sociais, eles acham que acabarei entregando-lhes uma quantia considerável. Além disso, mostram-se despreocupados, na certeza de que, para evitar aborrecimentos, eu não vou processá-los, embora eles me tenham causado prejuízo. Ciente de suas intenções, deixo-os frustrados e perplexos, obrigados a desistir.
Deus nunca deixa de auxiliar o bem, jamais apoiando o mal, por mais insignificante que seja. É por isso que estou sempre insistindo sobre a necessidade de vencer o mal. Esse é o procedimento do homem verdadeiramente honesto, autêntico e sincero. Caso contrário, não se conseguirá melhorar o mundo corrompido em que vivemos. Convicto de que assim deve agir uma religião viva e atuante, faço questão de acabar com todos os perversos.
20 de fevereiro de 1952



INDIGNAÇÃO AO MAL (*)

Mediante observação cuidadosa, constatei que o homem de nossos dias é destituído de indignação ao mal. São poucos os que ficam indignados quando sabem que um inocente está nas garras de um perverso.
Imagino que muitas pessoas, ao lerem o que escrevi acima, refletirão assim: “Que adianta rebelar-me contra o mal que atinge os outros? Não fere meus interesses! É bobagem atormentar-me com tais fatos... Bastam-me as minhas preocupações! A vida já é tão cheia de problemas e sofrimentos, que o melhor é disfarçar e fingir que não vejo certas coisas”. Ora, quem pensa assim geralmente é considerado hábil e dotado de experiência. A seu respeito, costuma-se dizer: “É um sujeito vivido!” Esse tipo, pretensamente experiente, é tido como padrão, sendo respeitado e imitado por muita gente.
Na Política, que sempre funciona muito mal, o descalabro é evidente. A maioria dos políticos e funcionários públicos são corruptos. Ex-dirigentes de sociedades são denunciados por escândalos de suborno e prevaricação. A onda de crimes avoluma-se dia a dia. Segundo a opinião geral, urge dar fim à delinqüência juvenil, evitando-se, dessa forma, um futuro obscuro para o Japão e para o mundo.
Essas observações que fiz cuidadosamente, demonstram que não existe indignação ao mal.
Os funcionários públicos conservam o autoritarismo feudal. Esfriam-se as relações entre os familiares e aumenta a crise entre educadores e educandos, por ter-se abraçado a democracia de maneira deturpada. A bela capa da democracia oculta a exploração dos impostos e o sofrimento do povo sob a opressão do poder burocrático.
O número de problemas desagradáveis é tal, que se torna difícil relacioná-los.
A causa de tudo isto é uma generalizada despreocupação quanto ao sentido de justiça, acrescida do egoísmo de muitas criaturas, erroneamente consideradas “experientes”. Todavia, examinando os fatos, vemos que a sociedade atual não poderia possuir outras características. Chega a ser lógico.
Em todas as épocas, os jovens possuem vigoroso senso de justiça e repúdio ao mal. Ao deixarem os bancos escolares, no entanto, enfrentam uma realidade tão inesperada, que golpeia todas as suas convicções, dissolve seus velhos ideais e exige a reformulação de seus valores, para que eles adquiram a chamada “experiência da vida”. Qualquer manifestação do espírito de justiça cria mal-entendidos, suscita antipatia de superiores hierárquicos e dificulta-lhes o sucesso na profissão. Qualquer intenção de justiça é considerada como pedantismo ou inexperiência. A essa altura, o sentimento de justiça é posto de lado, num canto do coração, sendo substituído pelo “senso prático”. Considera-se, então, que o jovem se aprimorou na arte de viver em sociedade.
Não digo que isto seja propriamente mau; contudo, o aumento de pessoas acomodadas afrouxa a estrutura da sociedade e facilita o aparecimento de corruptos e criminosos. A nossa realidade social torna patente o que acabo de afirmar.
Para definir o valor de um homem, julgo importante verificar a sua dosagem de indignação ao mal. Quanto maior ojeriza tiver pelo mal, mais firme é a pessoa, mais sólido é o seu caráter. Mas não me refiro à indignação simplista, que geralmente traz complicações. Os jovens costumam exaltar-se facilmente, importunar o próximo, ameaçar a ordem social e causar uma sensação de desconforto à sua volta. Para evitar essa indignação nociva, precisam do apoio da Inteligência Superior. Quem abomina profundamente o mal, deve amadurecer seu pensamento, evitar atos impulsivos, dar bons exemplos à sociedade, praticando tudo que é bom e justo, virtuoso e útil.
Gostaria de contar a minha experiência sobre esse assunto.
Desde menino, desenvolvi um forte sentimento de justiça. Tinha uma profunda indignação pelas desigualdades que há no mundo e muito lutei para reprimir o furor que me dominava quando sabia de alguma injustiça ou desonestidade.
Esse autodomínio é difícil e doloroso, mas será facilitado se o encararmos como um treinamento Divino que nos aprimora espiritualmente. Sob esse aspecto, vemos que tal controle minora o sofrimento e lapida a alma.
Eis uma característica que conservo até hoje: continuo tendo horror pelo mal. Porém aceito os fatos, buscando ser tolerante, tomando tudo como provação. A boa norma de conduta determina a indignação ao mal, mas também prudência nas ocasiões em que ela se manifeste. Melhor dizendo, temos de ter cuidado para que esse sentimento não se mostre exagerado nem prejudique o próximo, que ele não fira o bom senso, não falte aos preceitos do amor e da harmonia e que nos permita caminhar com um sentimento semelhante ao de Deus.
25 de fevereiro de 1951










A SOCIEDADE E A LUTA
ENTRE O BEM E O MAL



ESPÍRITO DE JUSTIÇA

Vejo-me na obrigação de escrever sobre o tema em foco, demasiadamente comum, porque, nos dias de hoje, o espírito de justiça está sendo muito negligenciado. Se observarmos os diversos aspectos do mundo ao nosso redor, notaremos que ele é quase que destituído do espírito de justiça. Tão enormes são os interesses em jogo, de tal forma predomina a cobiça na mente humana, que, quando alguém se refere à justiça, é menosprezado.
Todavia, nem sempre as coisas ocorrem como os homens desejam; muito pelo contrário, os fracassos e desgraças são mais freqüentes que o sucesso. Apesar disso, nada lhes causa surpresa, como se fosse um estado normal da vida; assim, eles continuam a viver inconscientemente. Esta é a realidade do mundo moderno. Para tal situação, no entanto, existe, a nosso ver, uma causa evidente, que a maioria das pessoas não consegue perceber. É justamente a carência do espírito de justiça, do qual falarei em seguida.
A maior parte dos homens vive contaminada pelos maus pensamentos, que anuviam seu espírito. Esta cegueira espiritual os impede de descobrir a causa a que nos referimos. Tenho certeza disso pela observação que há longo tempo venho fazendo sobre a sorte dos homens.
A causa da falta do espírito de justiça acha-se relacionada com o Mundo Espiritual, cuja existência é absoluta, embora ele seja invisível. Naquele mundo, há uma lei de Deus, rigorosa e imparcial – diferente da lei humana – que julga as ações dos homens com perfeita justiça. Infelizmente o homem não compreende nem acredita nisso pela simples menção, e assim, com as próprias mãos, contribui para a sua infelicidade.
A maioria das pessoas é hábil no falar, no falsificar as aparências e simular um valor pessoal inexistente. Tudo, porém, será inútil, porque, como eu disse anteriormente, o olhar de Deus desvenda o íntimo dos homens, cuja sorte Ele decide, pesando o bem e o mal na mesma balança. Se uma verdade tão patente deixa de ser compreendida até por homens ilustres, cultos, com posição e fama, é porque eles só vêem a parte superficial do mundo, ignorando a existência da parte principal – o Mundo Espiritual. Conseqüentemente, forçam a inteligência para falsear a vida e lutam no sentido de enganar o próximo. Pobres de espírito os que julgam ser isso esperteza!
Não obstante a prova que se evidencia nas conseqüências sempre contrárias a essa realidade, a generalização de tal conceito faz aumentar o número de criminosos e a insegurança social. Assim, apesar dos seus desdobrados esforços, quando os homens procuram realizar algo na sociedade atual, são marcados pelo fracasso, resultante das pedras lançadas em seus caminhos. Alguns caem na desdita de figurar nos periódicos como vítimas de casos judiciais. Considero “espertos imbecis” os indivíduos desse tipo e estou tentando convencê-los dos seus erros. O recurso é fazer com que eles reconheçam a existência de Deus, e essa tarefa é bastante árdua. Para tanto, é necessário criar oportunidade para mostrar-lhes o milagre. Eis por que estou realizando surpreendentes milagres com o poder que me foi concedido por Deus, e sinto-me jubiloso em saber que o fato está sendo reconhecido pela sociedade.
Resumindo: a justiça é o próprio Deus; a injustiça pertence ao mal, sendo própria de Satanás. Deus é a própria justiça, e Satanás, a própria maldade. Por natureza, Deus promove a felicidade, e Satanás a desgraça. O essencial é nos convencermos desta verdade: tanto a felicidade como a desgraça dependem do comportamento humano. Para nos tornarmos felizes, é absolutamente necessário basear-nos no espírito de justiça.
Vemos, portanto, que o mal jamais compensa. Costumo afirmar que os homens maus são idiotas; se o sentido de minhas palavras for compreendido, eles tornar-se-ão aptos a percorrer o caminho da felicidade. Entretanto, para isso acontecer, existe uma condição. Quando se fala de justiça, três aspectos devem ser considerados: a justiça menor, de objetivos individuais; a intermediária, baseada no interesse da comunidade ou da nação; e ainda a justiça ampla, que visa a humanidade. O Japão foi derrotado, na última guerra mundial, porque se baseou numa pseudojustiça, que visava somente o seu próprio bem. A justiça menor e a intermediária são falsas; somente a justiça ampla, que augura benefícios para o mundo inteiro, é verdadeira, e apenas ela perdurará eternamente. Esta é uma verdade que se aplica também à Religião.
A Igreja Messiânica Mundial tem por objetivo a construção do Paraíso na Terra – isento de doença, pobreza e conflito. Isso beneficiará toda a humanidade e representará a concretização da verdadeira e integral justiça.
23 de dezembro de 1953



O MUNDO DOMINADO PELO MAL

Ninguém ignora que os povos do mundo atual estão submetidos a diversos sofrimentos, tais como guerras, doenças, insegurança, crises políticas, econômicas, etc. Tratarei, aqui, dos itens relacionados, sem me referir – é claro – a este ou àquele país, mas de um modo amplo e geral. Começarei pelos aspectos que constituem problemas mundiais.
Em primeiro lugar, salientarei o problema econômico, por representar um dos motivos de maior preocupação. A crise econômica, que atinge não só o governo, como também o povo, deixa de ser uma novidade, embora a maioria ignore a sua causa. Indubitavelmente, ela surge por influência do mal. Os governos, por exemplo, são prejudicados pelo mau procedimento dos funcionários. Que aconteceria se estes agissem conscienciosamente? Evitar-se-ia o esbanjamento de recursos, pois os funcionários teriam consciência de que tais recursos são provenientes dos impostos, que custaram o suor do povo. O número de funcionários poderia ser reduzido à metade, ou até menos, devido à eficiência do trabalho, motivada pela supressão do desperdício de tempo durante o expediente. A fidelidade dos funcionários no cumprimento dos deveres favoreceria o sucesso de todos os empreendimentos e cativaria a simpatia do público, que, por sua vez, os olharia com respeito, deixando de temê-los ou desprezá-los. Além disso, a extinção dos subornos impediria a prevaricação dos mesmos funcionários, tornando-os dignos da confiança do povo.
Se tudo isso acontecesse, não haveria mais necessidade de fiscalização, nem de processos jurídicos onerosos, resultando em incalculável benefício para a economia do país. Em relação à vida privada, o indivíduo adquiriria mais saúde, uma vida mais confortável e um lar feliz, pelo abandono do uso de bebidas alcoólicas e extravagâncias prejudiciais. Notaríamos, ainda, o lucro inesperado que adviria da baixa de todos os preços, pelo desaparecimento das negociatas, muito comuns nos empreendimentos.
Realizado o que foi exposto, o governo não necessitaria sequer da metade do presente orçamento, e o povo exultaria de alegria pela redução dos impostos.
O mesmo podemos dizer em relação às empresas particulares. Que sucederia se todos os empregados conseguissem vencer a sua má índole? A fiel execução do serviço dispensaria gastos supérfluos; a astúcia e a fraude tornar-se-iam uma raridade. Por conseguinte, facilitar-se-iam as boas transações, poupar-se-ia tempo, os negócios seriam efetuados em ambien¬te agradável, haveria aumento de produção e, conseqüentemente, baixa do custo e ampla saída dos produtos. No setor da exportação, nos tornaríamos imbatíveis mundialmente. O resultado mais agradável seria o desaparecimento de conflitos entre empregados e empregadores. O prazer com que todos se dedicariam à produção, a conciliação e a disposição saudável, dariam grande impulso ao serviço, o que, por sua vez, ocasionaria aumento da renda, extinguindo por completo a preocupação com problemas econômicas. As empresas prosperariam, sem dúvida, em ambiente saudável, desaparecendo bajulações e traições entre chefes e subordinados.
No setor político, as pessoas estão conscientes do habilidoso emprego do mal e do pequeno número de membros de partidos que têm por princípio velar pela felicidade do Estado e do povo. Certamente os políticos não deixam de levar em consideração o bem-estar da Nação e do povo, mas a realidade prova que eles são dotados de conceitos egoísticos e fazem tudo em benefício próprio e do partido a que pertencem, tendo por costume atacar as opiniões dos partidos opostos. Esse ataque, de caráter extremamente desprezível, que consiste no simples prazer doentio de criticar, hoje é tido como um ato comum. Nas assembléias, as sátiras, os termos indecorosos, os tumultos, que se convertem em vexame, assim como as agressões, dão a impressão de encontros de bandoleiros.
Vejamos, agora, o que está acontecendo com a sociedade.
Ninguém ignora que a corrupção é geral em todos os setores. É raríssimo encontrar um lar pacífico, pois em todas as famílias fomentam-se os conhecidos conflitos entre casais, entre pais e filhos, etc. Vemos, também, com freqüência, desavenças entre amigos e conhecidos. Ultimamente, os crimes contra parentes próximos entraram em moda, ultrapassando o limite do lamentável e causando terror. Além disso, os jornais estampam, diariamente, invasões domiciliares, assaltos, roubos violentos, fraudes, usurpações, furtos em lojas, ameaças e outros horrores. Em linhas gerais, esse é o aspecto da sociedade; podemos, pois, afirmar que este mundo é um atoleiro de pecados. É conforme disse Buda: “um mundo de sofrimentos”. Portanto, não há exagero em afirmar que a sociedade é constituída pelas vítimas do mal. Com efeito, entre milhares de pessoas, não existe uma só que possa viver um dia livre de preocupações. Dentre as preocupações, a maior, certamente, é a doença. O medo de ladrões resolve-se trancando-se as portas; com saúde, conseguimos livrar-nos da pobreza, porque podemos trabalhar; processos jurídicos são evitados com prudência. Mas é impossível evitar doenças e guerras. Uma análise minuciosa, entretanto, esclarece-nos sobre a possibilidade de evitá-las, unicamente através da Religião, já que toda desgraça tem sua origem no mal.
17 de setembro de 1952



ELIMINAÇÃO DO MAL

Que é o mal?
Mal, sem dúvida, é ameaçar o próximo, causar-lhe sofrimento e prejudicar a sociedade em busca de vantagens pes¬soais. Por causa dele, os prejuízos individuais e sociais são incalculáveis. Em todo relacionamento humano, não há ninguém que, em maior ou menor proporção, não seja vítima do mal.
As pessoas se vêem obrigadas a reforçar janelas, trancar portas, mantê-las fechadas em pleno verão e deixar alguém de guarda ao se ausentar, a fim de impedir a entrada de gatunos. Também somos levados a desconfiar de quem nos acena com negócios vantajosos; enfim vemo-nos forçados a descon¬fiar de tudo. Além disso, qualquer notícia relativa a roubos na vizinhança perturba o sono de muitos, e sair à noite – principalmente tratando-se de mulheres – é extremamente perigoso. Não podemos descuidar-nos dos batedores de carteiras nos transportes coletivos, nem dos empregados infiéis, nem da vigilância rigorosa que as casas comerciais têm de manter para evitar fraudes. Vivemos assustados, intranqüilos, pois estamos cercados de velhacos. Eis a realidade do mundo atual.
Mas ainda há coisas piores. Os pais se preocupam com os filhos adolescentes expostos às tentações. As esposas vivem alarmadas com a infidelidade dos maridos, e estes, com a infidelidade das esposas. Surgem fracassos imprevistos nas empresas, e os gastos do Governo para manter a polícia e as instituições de defesa social, são enormes. Casas e firmas constroem sólidos depósitos para resguardar seus bens contra os assaltantes. Nas fábricas, há dispendiosa vigilância contra o furto de matérias-primas. Exigem-se providências contra a desonestidade de empregados por ocasião de armazenagem e pagamentos. Instalam-se cofres, cria-se exagerado número de livros de registro, guias e recibos, que devem ser carimbados um por um. As mercadorias são de qualidade duvidosa, os profissionais negligenciam seus serviços, as greves são mal intencionadas e os ricos buscam lucros excessivos. Todas estas coisas têm raiz no mal.
A desonestidade dos funcionários realiza-se quase à vista do público. Fala-se que se podem obter matrículas nas escolas por meio de gratificações, e alvarás, nas repartições públicas, agindo-se nos bastidores. É raríssima a imparcialidade em qualquer setor social. Ninguém acredita que seja possível sobreviver sem alguma forma de transação ilegal.
Se quisermos calcular a proporção do bem em relação ao mal, nesta enumeração de fatos, veremos logo que a proporção do mal é bem maior. Não conseguiremos, sequer, avaliar os prejuízos que sofrem os indivíduos e a sociedade, por mais que relacionemos os danos e a insegurança do mundo atual.
O progresso da civilização e o advento de um mundo melhor só serão possíveis pela erradicação do mal que ora nos aflige. Todas as questões, mesmo os sucessos e os fracassos, dependem do grau de incidência do bem e do mal. Portanto, os políticos e os educadores devem empenhar-se para diminuir a porcentagem do mal. E eu estou certo de que o único recurso para isto é a Fé Verdadeira.
25 de janeiro de 1949



A FONTE DA CORRUPÇÃO

Todos já devem estar fartos dos casos de corrupção, os quais, como é do conhecimento geral, têm ocorrido uns após outros. Talvez nunca tenha havido tantos ao mesmo tempo, como acontece no momento. Naturalmente, com o julgamento feito pelas autoridades, um dia ficará esclarecido se a alma das pessoas implicadas é “preta” ou “branca”. Mas a importância do problema está no fato de que ele não pode ser resolvido apenas dessa forma. Excluindo o último acontecimento, no caso de tais escândalos, que se tornaram uma espécie de atividade anual desde os tempos antigos, não teremos uma solução definitiva se julgarmos apenas o que vem à tona. Urge erradicá-los de uma vez, pois eles são exatamente como larvas que proliferam num monte de lixo, e por isso é preciso fazer uma limpeza. Não há método mais eficaz e, com certeza, é o que o povo mais deseja. A única dificuldade é que não se tem consciência do ponto vital do problema.
Mas qual é esse ponto vital? É justamente o teísmo, aquilo que os intelectuais mais abominam. Na realidade, o ateísmo, ou seja, o contrário do teísmo, é a fonte da corrupção. Por isso é difícil lidar-se com esta. O ateísmo é o pensamento subversivo de que se pode praticar ações ilícitas, agir com esperteza, contanto que nada seja descoberto. Além disso, quanto mais se desenvolve a inteligência humana, mais hábeis se tornam os seus métodos.
Atualmente, pensa-se que o ateísmo é a principal condição para se obter sucesso, mas o interessante é que, quando se tenta colocá-lo em prática, nada corre como se esperava. Ainda que, momentaneamente, tudo corra bem, cedo ou tarde a pessoa acabará sendo desmascarada, como podemos constatar pelo caso a que nos referimos linhas atrás. Talvez as pessoas implicadas saibam disso até certo ponto; entretanto, uma vez que seu pensamento está fundamentado na sólida crença de que Deus não existe, elas não chegam a compreender de fato. Assim, é realmente duvidoso quantas pessoas conseguirão se arrepender e se regenerar, não obstante as conseqüências sofridas. A maioria deverá pensar: “Falhei porque o método empregado não foi bom e porque me faltou inteligência. Da próxima vez, agirei com mais habilidade e não serei apanhado de maneira alguma”. Provavelmente seja este o pensamento natural dos ateus. Portanto, para acabar de vez com essa tendência ruim, é preciso cultivar o teísmo por meio da Religião. Não existe método mais eficiente.
Além disso, enquanto os ateístas forem numerosos nas camadas superiores, como acontece hoje, será difícil a sociedade sair do atoleiro ao qual está presa. É o que se evidencia quando analisamos o transcorrer do caso a que aludimos. Pelo que ficou esclarecido até agora – e talvez isto seja apenas uma pequena parte de um “iceberg” – os prejuízos causados à nação e o incômodo sofrido pelo povo são bem grandes. Também não podemos menosprezar a grande influência exercida sobre o pensamento do povo. Obviamente, se as pessoas da classe dirigente praticam más ações às ocultas e gozam do bom e do melhor, e se o dinheiro gasto desordenadamente pelos partidos e pelos políticos provém dos impostos pagos à custa do sangue e do suor do povo, este não se sente motivado a trabalhar honestamente. Por conseguinte, passa a pensar que, por mais que os dirigentes falem de coisas brilhantes e magníficas, ele não mais se deixará enganar. O respeito que até então as pessoas sentiam se transformará em desprezo, sua consideração pelo país diminuirá, e a ordem social perderá sua força. São, pois, incalculáveis os danos que isso trará ao destino da nação.
A causa da corrupção, conforme dissemos, é o ateísmo. Assim, a erradicação do pensamento ateísta é a chave principal para solucionar o problema. Para tanto, é preciso fazer com que as pessoas se conscientizem da existência de Deus através das ações dos religiosos. É preciso semear nelas a sólida crença de que, embora consigam enganar o próximo, não conseguirão enganar a Deus. Dessa forma, tornar-se-á impossível acontecerem casos de corrupção e outros semelhantes. Os personagens principais do caso recentemente descoberto, são pessoas que receberam educação esmerada, que ocupam considerável posição social, que são respeitadas e inteligentes. Mas fica uma dúvida: por que elas agiram daquela forma? Exatamente por causa do seu pensamento ateísta. Daí se conclui que a educação e os estudos nada têm a ver com o senso de moral. Como os planos foram habilmente arquitetados por pessoas tidas como dignas pela sociedade, julgar-se-ia impossível que eles fossem descobertos. Mas o fato é que se acabou criando um enorme problema, em conseqüência de uma pequenina brecha, tal como um pequeno buraco feito por uma formiga. Diante disso, só podemos pensar em juízo de Deus.
Existe outro fator importante. O Japão orgulha-se de ser um país regido por leis, mas, pensando bem, isso é um grande disparate. Se um país é regido apenas por leis, basta os criminosos serem hábeis para escaparem delas e fugirem à condenação, de modo que os maus elementos é que saem ganhando. Deter o mal através de jaulas chamadas leis significa tratar os seres humanos como animais. O pobre homem – soberano das criaturas – perde todo o seu “status”. Se chamarmos a isso de nação civilizada, com certeza a civilização chorará de tristeza.
Sempre digo que a época atual é uma era semicivilizada e semi-selvagem, e provavelmente não há uma só pessoa que possa negá-lo. Suponhamos, por exemplo, que uma carteira esteja caída bem na frente de alguém. Tratando-se de uma pessoa comum, se ninguém estiver olhando, certamente ela a embolsará; quem não a embolsa de forma alguma é porque acredita sinceramente na existência de Deus. Formar pessoas desse tipo é a missão da Religião. Entretanto, as autoridades e os jornalistas mantêm-se indiferentes em relação a ela, tacham-na de supersticiosa e fazem tudo para que o povo se afaste dela, como se achassem sua existência desnecessária. Tal atitude é realmente incompreensível. Desse modo, eles se tornam aliados do ateísmo e, conseqüentemente, uma das principais causas da corrupção.
Por todos esses motivos, as autoridades devem, nesta oportunidade, abrir muito bem os olhos, numa visão espiritual, e tomar todas as providências que a situação requer. Caso contrário, esses problemas indesejáveis nunca serão exterminados, prejudicando enormemente o progresso da nação. Contudo, se elas lerem minhas palavras e, como de costume, não derem atenção ao problema, fazendo de conta que ele nem existe, provavelmente chegará o dia em que venham a se arrepender, mas então será tarde demais.
Atualmente, a nação está imprimindo um largo incremento à Educação e a outros setores, num esforço para desenvolver a inteligência do homem e reformar-lhe o pensamento. Todavia, enquanto não se exterminar pelas raízes o pensamento ateísta – que é a principal causa do problema – será como tentar encher uma peneira com água. Obviamente, os conhecimentos obtidos com tanto sacrifício viriam a ser mais utilizados para o mal do que para o bem. Seria, portanto, uma idiotice tão grande, que não há palavras para expressá-la. A melhor prova disso é o crescente aumento do número de crimes intelectuais à medida que a cultura progride.
Talvez seja inútil, mas, com esta explanação, desejo alertar os intelectuais do mundo inteiro.
3 de março de 1954



A ORIGEM DOS MALES SOCIAIS

Falarei a respeito dos males sociais, que, atualmente, constituem o maior problema do Japão. Antes, porém, é necessário analisarmos o método que os intelectuais e os governantes empregam para evitá-los.
Os males sociais estão sendo controlados de forma cada vez mais rigorosa, através de leis e regulamentos, mas, como essas medidas não atingem o ponto vital do problema, os homens maus só pensam nos meios de livrar-se delas habilmente. Se encontram alguma brecha, logo tentam aproveitar-se, de modo que as autoridades se esforçam por não lhes dar oportunidades, tornando as leis e os regulamentos cada vez mais rigorosos. É realmente uma competição entre a inteligência do Bem e a inteligência do Mal.
Geralmente pensamos que os violadores das leis são os criminosos, os delinqüentes, os chefes de bandos, etc. Na realidade, porém, o problema não envolve apenas as pessoas das classes inferiores; ele vem de cima, começando por ministros, políticos, deputados e funcionários públicos, e atingindo até famosos empresários. Podemos dizer que poucas são as pessoas que não cometem crimes. Acontece que os criminosos que se mostram abertamente como tal, são apenas uma parte; costuma-se mesmo dizer que os que foram agarrados pelas malhas da lei não tiveram sorte, o que prova a existência de muitos crimes submersos, que não vêm à tona.
Quando analisamos profundamente os criminosos, não temos dúvida em afirmar que eles não temem o crime. Não sabem que é uma vergonha causar danos à nação, prejudicar a sociedade ou fazer mal às pessoas. Os criminosos podem saber criticar os outros, mas não sabem criticar a si próprios. E não é raro sabermos, atualmente, de funcionários que fazem festas e gastam a rodo, enquanto o povo está sofrendo sob a pressão dos impostos.
Se o homem não tiver receio de cometer más ações, se não sentir vergonha de praticar atos impuros nem pena de fazer os outros sofrerem, esse homem já perdeu o valor como ser humano. Por mais que fale de teorias excelentes e se orgulhe de ter instrução, somente isso não lhe confere valor como ser humano. É um objeto, é um homem sem alma. Por haver muitas pessoas desse tipo atualmente, o mal social é intenso, apresentando-se o mundo em estado infernal. Resumindo, podemos dizer que no Japão existem doentes em estado gravíssimo.
Qual será o motivo de ocorrências tão aflitivas? Indubitavelmente elas são conseqüência da educação materia¬lista de que tanto falamos. Por isso, é muito fácil exterminar totalmente o mal social: basta destruir o pensamento materia¬lista. Mais nada. Mas de que maneira? Obviamente, através da educação espiritualista, isto é, do reconhecimento da existência de Deus, do Espírito e do Mundo Espiritual. Esta é a verdadeira e valiosa missão da Religião. Entretanto, é impossível fazer as pessoas reconhecerem a existência de Deus e do Espírito somente por meio de princípios religiosos, sermões e preces. É necessário manifestar milagres, conceder benefícios materiais, ou seja, Graças Divinas palpáveis. Não existe absolutamente outro meio, além desse, para eliminar o pensamento materialista.
14 de maio de 1949



A VERDADEIRA CAUSA
DA INTRANQÜILIDADE SOCIAL

Atualmente, ouve-se falar muito sobre as medidas que devem ser tomadas em face do aumento assustador da criminalidade. Vou dar minha opinião a esse respeito.
Falando abertamente, o homem contemporâneo não se completou como verdadeiro ser humano, pois ainda tem muitas características animalescas. Poder-se-ia dizer que é um ser meio-humano e meio-animal. Talvez achem que eu esteja me expressando de uma forma demasiado agressiva, mas não tenho outro recurso, já que essa é a pura realidade. Vou explicar por que faço tal afirmação, e estou seguro de que as pessoas que lerem minhas palavras hão de concordar comigo.
Existem, presentemente, várias organizações destinadas a prevenir os crimes: polícia, tribunais, presídios e um número incontável de funcionários que se encarregam de administrá-los, além de centenas de milhares de leis. Assim, aparentemente, a sociedade está aparelhada a ponto de quase não haver brechas para a ocorrência de crimes.
O método é idêntico àquele que se utiliza para defender os homens contra os animais ferozes que constituem uma ameaça para eles: fazem-se jaulas fortes para protegê-los do perigo. Mas, tal como animais que logo conseguem quebrar as jaulas, por melhor que elas tenham sido preparadas, os seres humanos vêm espremendo sua inteligência, desde os tempos antigos, para diminuir cada vez mais habilmente os pontos fracos dos métodos preventivos contra os crimes. Eis a situação atual desses métodos. E a cada ano aumenta o número de leis, o que é o mesmo que tecer redes com pontos pequenos. Torna-se necessário agir de tal forma porque os “homens-animais” afiam suas unhas e presas para romper as jaulas.
Esta é a causa da intranqüilidade social. Com efeito, ainda que, exteriormente, os homens tenham forma de seres humanos, interiormente são como animais. Se fossem verdadeiros seres humanos, a sociedade não necessitaria de jaulas. Quem jamais pratica o mal, esteja onde estiver, é que tem a qualificação de autêntico ser humano. Se a decadência moral continua, apesar do crescente progresso da cultura, é porque o método de quebrar jaulas está vencendo o método de fortalecê-las. Este é o motivo pelo qual sempre afirmamos que a cultura da atualidade é uma cultura desequilibrada, onde só houve progresso da parte material.
O mundo dos seres humanos é um mundo sem leis nem organizações anticriminais. O esforço que estamos empreendendo tem um único objetivo: construir esse mundo.
3 de setembro de 1949



O MAL SOCIAL É OU NÃO É CAUSADO
PELO MEIO AMBIENTE?
Desde os tempos mais remotos é costume dizer: “Se tiveres riqueza consolidada, terás espírito correto”. Isso significa que, quando o homem deixa de passar por dificuldades materiais, suas palavras e atitudes também melhoram. Assim, muitos intelectuais interpretam que a carência material é a causa dos males sociais que infestam o mundo atualmente. Em parte isto é verdade, mas não é o ponto vital do problema. Se essa fosse a verdadeira causa dos males sociais, as pessoas abençoadas materialmente deveriam ser corretas; todavia, a realidade nos mostra que nem todas o são. Existem muitas pessoas ricas que praticam atos ilícitos e às vezes perturbam e prejudicam a sociedade muito mais do que os pobres. Através do poder do dinheiro, apoderam-se de muitas residências e deixam-nas desabitadas, numa época em que estamos passando por séria crise habitacional; alvoroçam a moral; tiram a liberdade dos fracos e indefesos, impedindo-os de subir na vida; corrompem o mundo político; e tantas outras coisas, que chega a ser impossível enumerá-las.
Por esses fatos, fica evidente que o aumento dos males sociais não é causado unicamente pela carência material. Conclui-se, daí, que eles provêm da falta de fé, como sempre costumamos dizer. Esta é a sua verdadeira causa. Enquanto não solucionarmos essa questão, será impossível pensarmos na erradicação dos males sociais. A solução básica e incontestável do problema está no aparecimento de uma religião poderosa.
O maior erro que existe no pensamento dos homens civilizados da atualidade é a mania de atribuir ou transferir todas as culpas para terceiros. Creio que a influência do marxismo constitui o centro desse modo de pensar, pois, segundo sua teoria socialista, a infelicidade do homem é causada unicamente pelo péssimo mecanismo da organização social. De fato, torna-se necessário melhorar cada vez mais esse mecanismo, mas é um grande equívoco determinar que esta seja a causa única da infelicidade do homem. Mesmo que se chegue a uma organização ideal, se o modo de pensar e agir de cada indivíduo estiver errado, essa organização não poderá ser administrada com eficiência, e o resultado, infalivelmente, será a bancarrota. Portanto, a única forma de solucionar o problema é melhorar a natureza espiritual de cada indivíduo. Ou seja, deve-se considerar que o homem é o ponto principal, e a organização social, um ponto secundário.
É evidente que esse pensamento errado surgiu das teorias materialistas, que não reconhecem a natureza espiritual do homem. Tenta-se solucionar todos os problemas através dessas teorias e nisso está o grande erro. Como resultado, os homens da época atual julgam que suas próprias palavras e ações são corretas e procuram atribuir a culpa dos males sociais a terceiros. Na realidade, porém, a causa de quase todos esses males está no próprio indivíduo. Se os homens estiverem profundamente conscientizados disso, a humildade e o espírito filantrópico surgirão por si mesmos, nascendo uma sociedade feliz e pacífica. Jamais se conseguirá tal coisa por outro caminho que não seja a fé.
O pensamento de que a culpa dos males sociais está em terceiros – princípio da revolução socialista – baseado no qual se pretende destruir a organização social, faz com que o povo se rebele, transferindo a culpa à organização, ao invés de assumi-la. Gostaríamos, portanto, que os homens da atualidade, plenamente conscientizados do que estamos dizendo, reconsiderassem os erros cometidos até o presente e começassem tudo de novo.
25 de maio de 1949



É POSSÍVEL SOLUCIONAR
OS MALES SOCIAIS?
Nunca houve um número tão grande de criminosos, em nosso país, como atualmente. Vêm ocorrendo casos assustadores, como o roubo praticado por um grupo de mais de cem pessoas, causando prejuízo de quatrocentos milhões de ienes, e também casos de violência coletiva e aumento gradativo de crimes praticados por adolescentes. A situação social é tão calamitosa, que não pode continuar como está.
Analisemos a situação das classes situadas acima da média. Aí também é uma calamidade. Verifica-se o suborno de entidades públicas, especulações, negociatas e muitas outras irregularidades. Se fôssemos enumerá-las, não chegaríamos a um ponto final. Mas esses são apenas os casos que vêm à tona eventualmente, não passando da pequena parte visível de um “iceberg”. Os males sociais do Japão atual parecem não ter fim. É como se fosse um monte de lixo tão grande que não se tem lugar para pisar. Portanto, o grande problema com o qual nos defrontamos é encontrar o meio de eliminar esse lixo. Naturalmente, as autoridades e os homens conscientes estão preocupados com o problema, e reconheço que vêm fazendo o maior esforço para encontrar uma solução. Entretanto, por que não se conseguem vislumbrar ao menos uma pequena luz de esperança?
Em nossa opinião, essas pessoas partem de idéias totalmente erradas, estão completamente fora do caminho certo. Raciocinemos. Em primeiro lugar, é preciso descobrir por que as pessoas cometem crimes. Se isso não ficar bem esclarecido, não será possível tomar-se medidas apropriadas.
A causa fundamental do crime está na alma humana, em nenhum outro lugar. Dependendo de ter alma “branca” ou “preta”, a pessoa será boa ou má. Por conseguinte, o ponto vital para a solução do problema dos crimes é transformar o portador de alma “preta” em portador de alma “branca”. Acontece que as autoridades e os intelectuais da atualidade não percebem isso. Planejam todas as variedades de métodos, tendo como ponto de referência aspectos secundários e terciários, que aparecem externamente, e empenham-se na tomada de medidas anticriminais. Mas isso é o mesmo que estarem enchendo de água uma vasilha furada, motivo pelo qual jamais conseguirão extinguir os crimes, levem quantos anos levarem. Alguém disse: “Para exterminar o crime por completo, é preciso que haja um policial vigiando cada pessoa”. E com razão, porque, apesar do crescente aperfeiçoamento do sistema jurídico e do esforço cada vez maior empreendido pelos tribunais e pelos policiais, não se obtêm os resultados esperados.
Mas não existirá uma medida eficaz, uma medida que apresente resultados positivos? Sim, existe. Vou escrever a respeito.
Como eu disse antes, só há um meio de tornar “branca” a alma dos seres humanos: a Religião. Contudo, será que basta ser simplesmente uma religião? Isso também requer uma análise. Como todos sabem, religiões existem muitas. Começando pelas mais novas, as que realmente nos trazem tranqüilidade de espírito infelizmente são tão poucas quanto as estrelas do amanhecer. E as religiões tradicionais? Talvez todos concordem que nenhuma tem força suficiente para transformar o “preto” em “branco”. Portanto, em primeiro lugar, é preciso analisar as religiões com muita cautela, selecionar algumas que pareçam razoáveis e, mesmo que não se chegue a cooperar com elas, pelo menos tratá-las com simpatia. Não existe alternativa melhor.
As autoridades têm uma grande preocupação com os males sociais; todavia, não entendo por quê, não passa por suas cabeças a idéia de recorrer à Religião. Elas sempre se apóiam nos métodos materialistas, dos quais não querem se desapegar. Esta é a situação atual. Conseqüentemente, o povo é que sofre. Portanto, torna-se imprescindível e urgente curar esta cegueira e fazer com que as pessoas se conscientizem da verdadeira essência da Religião. Uma vez que o pensamento dos criminosos se fundamenta no princípio materialista de não acreditar no que é invisível, eles pensam que basta enganar as pessoas e, concentrando nisso toda a sua inteligência, empenham-se em fomentar o mal social. Assim, enquanto não exterminarmos esse pensamento, será inútil valer-nos de outros métodos, pois eles não passarão de paliativos momentâneos. É preciso tomar por base o pensamento espiritualista e fazer os criminosos se conscientizarem da existência de Deus. Se eles acreditarem que os seres humanos estão constantemente sendo observados pelos olhos de Deus e entenderem a Lei de Causa e Efeito, será facílimo eliminar o crime pela raiz.
Os intelectuais que lerem minhas palavras certamente dirão: “Não duvido de que seja exatamente como o senhor está argumentando, mas essa argumentação não é suficiente para fazer os criminosos reconhecerem a existência de Deus”. Ora, eles dizem isso porque seu pensamento também é materialista. Acham que forçar as pessoas a acreditar em Deus é, sem dúvida, coisa de religião supersticiosa. Mas sua interpretação é justificável, pois eles têm como ponto de referência as religiões surgidas até hoje.
Agora eu gostaria de que os intelectuais refletissem profundamente sobre a cultura científica. De fato, ela progrediu rapidamente. Surgiram descobertas umas após outras, e aquilo que há cem anos era considerado um sonho, hoje se tornou realidade. Entretanto, as religiões, e somente elas, não mudaram nem um pouco em relação à época de sua fundação, há milhares de anos. Seria impossível, portanto, não surgirem dúvidas quanto à causa dessa contradição. Conseqüentemente, analisando as religiões, os intelectuais da atualidade acham que elas não passam de simples relíquias. Sua visão é a mesma que se tem em relação às antigüidades. Assim, quando nós argumentamos que, para solução do mal social, é preciso recorrer à Religião, eles nem dão ouvidos. Eis aí o problema.
Conforme já tive oportunidade de escrever, assim como o progresso da civilização científica está construindo uma nova época, é preciso, também, que, no campo da Religião, surja algo equivalente. Ou melhor, não será nada estranho que surja uma religião de nível mais elevado que o alcançado pela Ciência. Também não será estranho que essa religião tenha um poder capaz de solucionar os problemas que a Ciência não consegue resolver. Se compreenderem e aceitarem o que estou dizendo, poderão entender a verdadeira natureza da Igreja Messiânica Mundial. Modéstia à parte, ela tem um poder grandioso, e, uma vez ingressando nela, qualquer pessoa reconhecerá isso facilmente. Raciocinem: por mais bela que seja uma coisa, se não nos aproximarmos dela, não conseguiremos ver sua beleza; por mais saborosa que seja uma comida, se não a provarmos, não saberemos seu sabor; se houver um tesouro enterrado, mas não cavarmos a terra, não o encontraremos. Da mesma forma, não adianta ficar do lado de fora apenas imaginando o que é a nossa Igreja. Pensar que ela não passa de mais uma religião supersticiosa e trapaceira, deixando-se influenciar por boatos e pelas falsas notícias publicadas nos jornais, será rejeitar a própria felicidade. Antes de mais nada, é preciso entrar em contato com ela. “Se não entrarmos na toca da onça, não conseguiremos agarrar seus filhotes”. É um sábio ditado, não acham?
25 de janeiro de 1951




O MAU COMPORTAMENTO DOS FILHOS

Atualmente, o mau comportamento das crianças é considerado um problema social, mas parece-me que ainda não lhe foi atribuída nenhuma solução adequada. As variadas teo¬rias preventivas ainda são muito superficiais, e é extremamente lamentável que nenhuma delas toque no âmago da questão. Vou mostrar o método que eu acredito ser a prevenção absoluta.
Antes de mais nada, é preciso deixar bem clara a causa fundamental do problema. Para isso, temos de pensar na relação entre pais e filhos. Em termos mais claros, se o pai é o tronco da árvore, o filho é o ramo; por conseguinte, tomar medidas para não deixar apodrecer o ramo, mas esquecer-se de cuidar do tronco, assemelha-se a colocar o carro na frente dos bois. A condição básica para solucionar o problema é ter plena consciência de que a causa do mau comportamento dos filho está nos pais.
Em primeiro lugar, façamos uma análise espiritual.
Como sempre digo, os pais e os filhos estão ligados por um elo espiritual. Conseqüentemente, se houver máculas no espírito dos pais, através desse elo o espírito dos filhos também ficará maculado. Esta é a causa do seu mau comportamento. Sendo assim, o método para evitar a delinqüência infantil é fazer com que o espírito da criança não adquira máculas. Para isso, é preciso, em primeiro lugar, fazer com que o espírito dos pais não fique maculado. Ignorando esse princípio, os pais têm preconceitos errados e, sem saber, cometem pecados que dão origem a máculas, as quais se refletem nos filhos. Portanto, é necessário que eles pensem constantemente no bem e tenham um comportamento correto, preocupando-se sempre em elevar o seu próprio caráter. Este é o único método eficiente; não existe outro.
A interpretação acima baseia-se no aspecto espiritual. Agora vou explicar materialmente.
Como todos sabem, os filhos aprendem com os pais e procuram imitá-los. Por isso, quando os pais pensam no que não é correto ou praticam o que não é bom, por mais habilmente que o escondam, é certo que um dia os filhos ficarão sabendo, uma vez que moram sob o mesmo teto. Então, é óbvio que a criança pense assim: “Se nossos pais fazem isso, que mal há em que nós façamos também ?”
Em síntese, não é errado dizer que o mau comportamento dos filhos é uma conseqüência do mau comportamento dos pais. Por conseguinte, não passa de uma forma para desmascarar a corrupção destes.
Pessoas que têm filhos! Saboreiem bem esta tese e, se desejam que eles sejam bons, tornem-se bons pais primeiro.
22 de abril de 1950


JORNAL QUE ENALTECE O BEM

Em todos os jornais da atualidade há um exagerado número de notícias relacionadas ao mal: roubos, assaltos, assassinatos, fraudes, mercado negro, contrabando, suicídios, adultério, etc. São tantas notícias desagradáveis, que chega a ser quase impossível enumerá-las. Se estivéssemos no exterior e soubéssemos de tudo isso, poderíamos pensar que não existe país tão horrível quanto o Japão. Entretanto, por pior situação em que ele se encontre, deve haver alguma coisa que se possa elogiar ou que seja motivo de orgulho. Acontece que as coisas boas ficam mais escondidas e são mais difíceis de aparecerem. Desde os tempos antigos, diz-se que as más ocorrências vão longe; de fato, parece que as coisas más logo se tornam conhecidas e se espalham. Também no que se refere aos noticiários dos jornais, o que está relacionado às coisas boas não atrai os leitores. Quanto pior é o assunto, maior é o interesse das pessoas. Principalmente os artigos que falam de fatos macabros, fora do comum, são do interesse de cem por cento dos leitores e por isso aparecem escritos em caracteres bem grandes. A melhor prova é que as manchetes dos jornais dizem respeito aos artigos que relatam notícias ruins.
De vez em quando, aparecem algumas notícias boas, como por exemplo a que saiu estes dias, sobre o Professor Yukawa. Mas isso talvez não passe da centésima parte, em comparação com o número de notícias más. Como podemos ver por esses fatos, os leitores que lêem diariamente jornais tão cheios de males, inconscientemente são influenciados por eles. Assim, a consciência do homem sobre o mal diminui e, devido ao seu próprio caráter, ele se acostuma até mesmo àquilo que, em estado psicológico normal, lhe pareceria terrível.
Em princípio, o objetivo pelo qual os jornalistas mostram apenas a parte escura das coisas é advertir a sociedade, num esforço para melhorá-la cada vez mais. É uma ironia, no entanto, pois esse esforço surte um efeito contrário. Talvez até a mente dos jornalistas acabe ficando entorpecida e eles comecem a achar que é muito normal relatar ocorrências criminosas com grande eloqüência. Como não conseguimos ficar calados diante desta sua tendência ao estado de torpor em relação ao mal, não temos outra saída senão adotar o método contrário ao deles. Observando a redação de nosso jornal, poderão compreender isso muito bem. Os crimes ou aspectos negativos da sociedade jamais são explorados de forma sensacio¬nalista. Dessa forma, despertamos a sociedade e reafirmamos a absoluta rejeição do mal. Talvez seja uma posição muito natural para um jornal religioso, mas, se publicações desse tipo contiverem simplesmente artigos semelhantes a sermões, como se estivessem mastigando vela, não atrairão a atenção das pessoas e por isso acabarão não sendo lidas. Como essas publicações são infrutíferas, o nosso jornal, mesmo que se trate de um pequeno comentário, publica artigos que toquem a fundo o coração dos leitores. Publica, também, teorias novas, que raramente são apresentadas. É assim que ele atrai as atenções. Além disso, através do “suntetsu” (sátira curta e incisiva), fazemos com que os leitores consigam captar o ponto vital das coisas. Principalmente os relatos de graças recebidas, que são artigos característicos de nosso jornal e representam fatos verídicos – recentes milagres de valiosas vidas que foram salvas – nunca deixam de ser lidos. Os leitores ficam maravilhados e talvez não haja um só que não se comova.
Como podemos ver, talvez não exista atualmente um jornal igual ao nosso, que rejeita o mal e inspira fortemente o bem. Podemos, portanto, dizer que, mesmo em pequena escala, ele é uma existência de caráter luminoso cujo brilho é único, destacando-se pelo seu objetivo de melhorar o sentimento das pessoas.
18 de fevereiro de 1950
OS VIRTUOSOS BEM-SUCEDIDOS NA VIDA

Este título parece um tanto estranho, mas trata-se de uma verdade que poucos percebem, e por isso vou escrever a respeito.
Até hoje, tanto no Ocidente como no Oriente, quando analisamos as pessoas bem-sucedidas na vida – não só as que realizaram empreendimentos que lhes valeram fama mundial, mas também as que obtiveram sucesso de alcance limitado – vemos que quase todas elas são pessoas más. Na realidade, é difícil o virtuoso ser bem-sucedido, pois ele difere muito do perverso. De fato, a maioria das pessoas que não hesitam em incomodar os outros ou em aumentar os males da sociedade, escapam habilmente das malhas da lei e vencem na vida; parece que, para elas, não existe outro método para galgar o sucesso. Assim, quando alguém vê um indivíduo bem-sucedido, logo lhe vem o preconceito de que seja um espertalhão, o qual, sem dúvida, está fazendo coisas desonestas às escondidas. E não está pensando errado, pois é isso mesmo que acontece. Conseqüentemente, as criaturas ávidas de sucesso os imitam, julgando ser um método hábil a pessoa não escolher meios para alcançar seus objetivos. Por isso, o virtuoso é prejudicado. Esta é a causa dos males sociais da época atual.
Esse ponto de vista está tão enraizado na cabeça dos homens da atualidade, que eles nos olham da mesma maneira. Pelo fato de nossa Igreja ter conseguido trezentos mil fiéis em apenas três ou quatro anos, logo de saída ela é incluída no grupo dos bem-sucedidos. Vendo-a através do preconceito dos “óculos escuros”, esses homens pensam que, embora se trate de uma religião, sem dúvida ela está fazendo coisas desonestas ocultamente e por isso vem obtendo sucesso. Eles acabam concluindo que, no mundo atual, não há motivos para se vencer na vida unicamente através do bem. Naturalmente, não é apenas o povo que pensa dessa forma; até as autoridades têm uma tendência, pequena ou grande, para tal pensamento. E não somos só nós que achamos isso. Além do mais, a soma de pessoas prejudicadas com a expansão da nossa Igreja e de materialistas que não simpatizam com as religiões novas, assim como as queixas e denúncias feitas em segredo por chantagistas que se deram mal conosco e os boatos espalhados pelos jornais de má-fé, confundem o pensamento das autoridades, muitas vezes levando-as a fiscalizar-nos, embora elas o façam mais pela responsabilidade que têm.
Esse é o motivo das críticas da sociedade em relação à nossa Igreja. Mas elas ocorrem justamente porque os que obtiveram sucesso através da prática do bem são muito poucos. Tais críticas representam uma prova do que estamos dizendo. Por conseguinte, precisamos varrer o pensamento errôneo de que só se consegue sucesso através do mal e mostrar que saímos vitoriosos quando caminhamos ao lado do Bem e da Justiça. É por isso, também, que estamos nos esforçando ao máximo. Se fizermos com que a sociedade se conscientize dessa verdade, é óbvio que isso trará uma influência muito positiva para ela e para cada indivíduo. E acredito que este também seja um meio para que a Religião possa cumprir a missão que lhe é inerente.
18 de março de 1950


A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL
PODE SER EVITADA

A maior ameaça que paira atualmente sobre a humanidade é, sem dúvida alguma, a eclosão da Terceira Guerra Mundial. Como é do conhecimento de todos, os intelectuais do mundo inteiro, cada um na sua posição, estão procurando evitá-la, discutindo o assunto oralmente ou por escrito e usando toda a sua inteligência. Entretanto, não sei por que razão, apenas entre os religiosos não há ninguém opinando sobre o assunto, o que é realmente incompreensível. Diante disso, eu gostaria que, antes de mais nada, refletissem sobre o objetivo da Religião.
Nem seria necessário dizer, de tão óbvio, que o objetivo da Religião é construir um mundo de paz, um mundo sem conflitos. Sendo assim, acho muito estranho o absoluto silêncio que, talvez por não saberem o que fazer, os religiosos mantêm atualmente, ante o perigo da Terceira Guerra Mundial. Naturalmente, sem o apoio do Governo e por não poderem pegar em armas, devido à idade, eles deveriam, através de métodos pacíficos, compatíveis com a sua condição de religio¬sos, trabalhar para que a guerra seja evitada. Assim, gostaria de mostrar as causas da guerra e como evitá-las, ou melhor, apresentar o princípio que possibilita a sua erradicação. Para compreenderem melhor, falarei sobre a doença e a saúde.
Sempre afirmo que a doença é um sofrimento que surge quando a eliminação das máculas acumuladas no espírito do homem se reflete no corpo. Seja qual for o tipo de sofrimento, a causa está nas máculas espirituais. No que se refere ao corpo material, é o processo de eliminação das impurezas; por conseguinte, se o homem quer se libertar desse sofrimento, só há uma forma: não acumular impurezas e, ao mesmo tempo, eliminar as que já estão acumuladas. Sofrimentos coletivos como os danos causados por vento, chuva, incêndio, terremoto, agitações sociais, etc., também são ações purificadoras. A guerra nada mais é que esse sofrimento em forma ampliada. Para evitá-la, está mais do que claro, é preciso eliminar as máculas espirituais de cada indivíduo.
Supondo-se que seja declarada a Terceira Guerra Mundial, isso aconteceria por ter aumentado demasiadamente o número de homens com espírito maculado, chegando-se a uma situação em que não havia outro recurso. Creio mesmo não ser exagero afirmar que atualmente o mundo está repleto de homens impuros. O ser humano acumulou máculas pela prática do mal, decorrente de uma educação baseada no materialismo, o qual ignora a existência de Deus. Sendo assim, o problema só poderia ser solucionado pela retificação das idéias materialistas. Com o espírito extremamente maculado por esse tipo de educação, o homem ficou cego, o que é um resultado muito normal.
Mas é preciso saber que, pela Lei do Universo, onde se acumulam impurezas, infalivelmente surge o processo purificador natural. O surto de epidemias, por exemplo, embora o aparecimento do vírus seja uma causa direta, deve-se ao fato de terem surgido homens com necessidade de purificar. Trata-se, pois, de uma ocorrência natural, baseada na Lei da Concordância, que se aplica a todas as coisas existentes sobre a face da Terra. As grandes metrópoles, as obras arquitetônicas da atualidade e, por assim dizer, quase todas as coisas mate¬riais, são produtos do mal, isto é, um conglomerado de máculas; conseqüentemente, estão fadadas à destruição.
Assim, através da guerra, o homem e todas as coisas onde se acumulem impurezas serão purificados de uma só vez. Essa é a imutável Lei do Universo; nada há a fazer. Portanto, para evitar a Terceira Guerra Mundial, o homem e todas as coisas existentes sobre a Terra devem ser purificados até que não haja mais necessidade de uma grande ação purificadora. Caso perguntem se existe um método para promover essa purificação geral, responderei que sim. Esta é a missão da nossa Igreja Messiânica Mundial; para isso é que ela nasceu. Em outras palavras: como o mundo é a soma de indivíduos, basta cada um tornar-se digno, a tal ponto que seja desnecessária a purificação.
17 de outubro de 1951



A NAÇÃO



A BÚSSOLA DA RECONSTRUÇÃO DO JAPÃO

Baseado na atual conjuntura, desejo tecer considerações a respeito da política nacional que o Japão precisa adotar daqui para frente. Antes, porém, tenho que falar sobre a missão da nação japonesa.
Deus, para governar o mundo, concedeu a cada país uma missão específica. Evidentemente, o Japão não constitui exceção. Como a missão que lhe cabe não estava esclarecida até o presente momento, foram praticados os mais gritantes erros, decorrentes da interpretação caprichosa do homem. O resultado foi a nação caótica que vemos atualmente.
Analisando a história do Japão, evidencia-se que, desde a antigüidade, têm surgido grandes heróis e guerreiros, a maioria dos quais, utilizando-se da violência chamada guerra, enfeixou o poder em suas mãos. Em quase todos os lugares, podemos ver os males e crimes que eles cometeram, devastando territórios e fazendo o povo viver na pior das agonias. Em poucas palavras, pode-se afirmar que a história do Japão não passa do registro de uma disputa de poderes entre os dominantes. É fato real, sem margem de dúvida, que a maior e a última dessas disputas foi a Segunda Guerra Mundial. Desde que o Japão foi instituído como nação, seu povo tem sido muito sacrificado, vítima dessa situação conflitante. Vê-se, portanto, que não houve absolutamente história do povo.
Todavia, durante esse longo período, também houve épocas pacíficas de tempos em tempos. Nos períodos Assuka (592-707), Hakuho (646-723), Tempyo (710-797), Heian (801-899), Ashikaga (1338-1573), Kamakura (1205-1333), Momoyama (1574-1600), Guenroku (1688-1704), Kyoho (1763-1782), Bunka (1804-1817), Bunsei (1818-1829) e Meiji (1868-1911), apesar de sua curta duração, desenvolveu-se uma cultura pacífica, da qual foram preservadas até hoje algumas heranças. São quadros que retratam sua época, esculturas, objetos artesanais, etc. O fato de haverem sido criadas tantas peças artísticas maravilhosas em tão curto período de paz – peças que ainda hoje podemos apreciar – mostra-nos a elevada tendência dos japoneses para o Belo.
Outro ponto a ressaltar é a natureza do Japão. Todos os turistas que o visitam ficam admirados, dizendo que nenhum país tem paisagens tão puras e lindas como as japonesas. É também um dos países mais ricos em espécies de ervas, árvores e flores. Além disso, dizem que, no Japão, a variação das estações é incomparável, evidenciando-se nas transformações das montanhas, rios, gramas e árvores, nas flores da primavera, no verde do verão, no bordo do outono, na queda das folhas durante o inverno e em outros aspectos, cada qual expressando a beleza de sua estação.
É também característica a arte e a técnica dos japoneses na utilização da beleza natural da madeira e outros materiais nas construções. As artes plásticas e o artesanato são muito aprecia¬dos pelos estrangeiros, seja a pureza e riqueza das pinturas, os característicos “makiê”, as cerâmicas e outros objetos.
Kyoto e Nara escaparam aos bombardeios aéreos durante a guerra graças ao trabalho do Professor Langdon Warner (1881-1955), que se empenhou na preservação das duas cidades pela compreensão que tinha da arte japonesa, não obstante ser estrangeiro.
No que se refere aos produtos alimentícios, a grande quantidade de alimentos provenientes do mar, as verduras variadas e a técnica da culinária também evidenciam uma cultura muito característica, que vivifica o sabor natural das coisas.
Refletindo sobre tudo isso, pode-se perceber qual é a missão inata do Japão: por meio da beleza natural e da beleza criada pelo homem, cultivar o espírito de nobreza do ser humano, dar-lhe tranqüilidade e fortalecer-lhe o desejo de desfrutar da paz. Em termos mais concretos, tornar-se o jardim público do mundo e a fonte de toda e qualquer expressão do Belo.
Entretanto, em que situação nos encontramos! Ao invés de cumprir sua verdadeira missão, o Japão viveu por longo tempo sob a bandeira do militarismo, sem voltar sua atenção para mais nada. Uma vez que despertem para o significado de sua missão e reflitam profundamente, os japoneses poderão compreender o quanto estavam errados. A situação inédita em que o país se encontra, obrigado a dispensar os armamentos militares em conseqüência da derrota sofrida na guerra, só pode ser determinação de Deus para fazê-lo entender sua verdadeira missão. A propósito da inexistência de forças armadas, talvez haja, entre os japoneses, pessoas que se preocupam com o futuro da nação, mas acredito que seja uma preocupação desnecessária. Isto porque, se o Japão se tornar o parque público do mundo, incorporando o Bem e o Belo e apresentando-se como um jardim paradisíaco, embora ocorra uma guerra, os inimigos, e muito menos os aliados, não teriam coragem de destruí-lo.
Também em nossa Igreja, como todos sabem, estamos preparando e executando a construção do protótipo do futuro Paraíso Terrestre, nas cidades de Hakone e Atami, em locais escolhidos pela sua paisagem pitoresca. Nele está expresso o máximo da beleza das construções arquitetônicas e dos jardins. Além disso, estamos instalando o que se poderia chamar de local de apresentação das belas-artes para o exterior. A propósito, gostaria de ressaltar que, dentre os muitos produtos exportados pelo Japão, dificilmente a exportação dos produtos têxteis, que são tão característicos, poderá ultrapassar certo limite. Quanto às maquinarias, construções navais, trens, bondes, automóveis, bicicletas, etc., restringem-se a artigos comuns, destinados à massa popular dos países altamente desenvolvidos; para os países cuja população é de baixo nível, são exportados produtos que apenas satisfazem suas necessidades. Em termos de maquinaria de alto nível, de mercadorias variadas e de material cultural, talvez ainda estejamos longe de alcançar países desenvolvidos como os Estados Unidos. Por esse motivo, a política nacional que o Japão deve adotar daqui para frente são os empreendimentos turísticos e a exportação de objetos de arte, obras artesanais e flores. Não seria exagero dizer que, além disso, quase nada tem futuro.
Existe, no entanto, um fator da maior importância: os problemas de saúde dos japoneses. Por mais perfeitas que sejam as instalações turísticas e por mais que nos tornemos alvo da admiração dos visitantes, se o Japão estiver infestado de doenças contagiosas, como a tuberculose, seria o mesmo que convidá-los para uma bela mansão de portas fechadas.
Outro ponto importante é o que se refere às verduras japonesas. O fato de, no Japão, se utilizar excremento humano como adubo, desde a antigüidade, constituiria por si só um grande obstáculo para atrair os estrangeiros, dado o perigo da transmissão de vermes. Assim, o ideal seria explicar o método de Cultivo Natural preconizado pela nossa Igreja. Com isso, todos os obstáculos mencionados anteriormente seriam eliminados.
Penso que, com estas explicações, possam ter uma compreensão geral dos nossos objetivos. Entretanto, quando chegar o dia em que os projetos e instalações a que nos referimos ficarem concluídos em todo o território japonês, verão realmente concretizado o Paraíso Terrestre que nós proclamamos, e acredito que nenhum país terá motivos para deixar de recebê-lo com alegria e satisfação.
30 de maio de 1949



A PALAVRA “SU”

Eu sempre aconselho manter a ordem em tudo, e a transcrição da palavra “SU” (chefe, senhor, dono) nos sugere a mesma idéia. Ela é transcrita da seguinte forma: (). Vamos analisá-la.
Os três traços horizontais significam: Céu, homem e Terra; ou Sol, Lua e Terra; ou os números sagrados 5, 6 e 7; ou Deus, espírito e matéria. Esses traços são completados por outro, vertical, que os atravessa no meio, e em cima de todos há um sinal.
A Política, a Economia, a Educação, a Religião, ou qualquer outra atividade humana, tudo, em suma, deve observar essa hierarquia. Se assim não for, nada poderá correr bem. Mas, até hoje, tudo que existe geralmente está separado, situando-se no plano vertical ou no plano horizontal. Uma das maiores conseqüências disso nós observamos no antagonismo entre o pensamento fundamental do Oriente e do Ocidente.
Finalmente chegou o tempo de cruzar os pensamentos e as atividades, como os traços e planos da palavra analisada, isto é, o tempo de seguir o exemplo da palavra “SU”, cujo significado, como já vimos, é “senhor”, “chefe”, “dono”.
Observemos que no meio da palavra forma-se uma cruz () e relembremos que o traço de cima representa o Céu, e o de baixo, a Terra. Isso quer dizer que o mundo dos homens está entre o Céu e a Terra; por essa razão ele tem forma de cruz. É essa a realidade do Paraíso Terrestre, ou Reino de Deus. A palavra que designa Deus (“Kami”) tem a mesma significação. “KA” () significa “fogo”; “MI” () significa “água”. O fo¬go arde verticalmente, e a água corre horizontalmente. Unindo “KA” e “MI”, obtemos “KAMI”, ou seja, Deus, cujo trabalho é unir, atar. Agora chegou o momento em que Deus quer unir o que está separado, porque está próximo o Reino dos Céus.
Os católicos fazem o sinal da cruz sobre o peito. A significação é idêntica à do símbolo dos budistas () e tem a mesma explicação. Na cruz búdica, entretanto, as pontas estão curvadas, o que significa que, após o cruzamento, a cruz começa a girar.
Pelo exposto, a Política também precisará estar estruturada em três camadas, para uma boa atuação. Se assim não for, haverá distúrbios e incompreensão, o que gerará conflitos. A cruz que se observa na palavra “SU” liga perfeitamente a parte de cima e a de baixo; assim, a classe média, entre o povo, tem a função de harmonizar as classes alta e baixa. Acima de todos, temos o Presidente ou o Primeiro-Ministro para governar. Desse modo, tudo que obedecer à forma da palavra “SU” () correrá bem, sem interrupções ou obstáculos, inclusive na administração de firmas ou de sociedades civis.
Obedecendo-se a essa ordem hierárquica, estará concretizado o mundo ideal, ou seja, o Mundo de Miroku – mundo da Luz.
3 de setembro de 1949



NOVO CONCEITO DE AMOR À PÁTRIA

O amor à pátria parece ser comum a todos os povos. Talvez não exista um só país que não o adote como regra de ouro e máxima do civismo. No Japão também, até o fim da guerra, um forte sentimento de amor à pátria tomava conta de toda a população. Uma das causas, naturalmente, era o regime imperialista, em que o Imperador era o símbolo do povo, adorado como encarnação de Deus. O fato está nitidamente gravado em nossa memória.
É óbvio que o respeito e a crença na eternidade da família imperial criaram esse sentimento no povo e que certo grupo de ambiciosos e de governantes exerceu enorme influência sobre o ensino e a propaganda, fazendo com que tudo saísse a seu favor. Como resultado, construiu-se uma nação singular, como jamais se viu outra igual. Considerando-se um país Divino, o Japão acabou caindo na auto-satisfação, fez-se de “filhinho mimado”, sem ao menos ser tão rico assim. Habilmente, os escolásticos insuflaram esse complexo de superioridade em termos lógicos e históricos, o que foi desastroso. Assim, o sentimento de lealdade e patriotismo assolou o país inteiro, e o povo acabou por achar muito normal fazer qualquer coisa em prol da nação e do Imperador, até mesmo sacrificar a própria vida. Isto era considerado o mais elevado ato moral.
Com a perda da guerra, o orgulho dos japoneses voou longe e, ao contrário, até nasceu neles um sentimento de inferioridade. Nessa ocasião, houve uma declaração do Imperador que deixou o povo perplexo: “Eu não sou Deus, sou um homem”. Nasceu, então, a nova Constituição, que dizia estar o poder político nas mãos do povo. Dessa forma, o Japão se tornou uma nação democrática. Foi realmente um acontecimento inédito desde o começo de sua existência histórica. Além disso, a mudança de posição do Imperador, que antes se colocava em posição Divina, determinou que, à exceção dos intelectuais, o futuro da grande massa popular, já sem razão de existência, ficasse totalmente obscuro. E todos sabem que o povo acabou por perder o rumo, situação que continua até os dias de hoje.
A propósito, houve um fato muito engraçado. Logo após o término da guerra, todas as pessoas que se encontravam comigo diziam, com expressão desapontada: “O `vento Divino’ acabou não soprando, não é?” Então eu respondia: “Não digam tolices. O `vento Divino’ soprou, mas vocês o estavam interpretando erradamente. Em verdade, a Vontade de Deus é ajudar o bem e castigar o mal. Já que o Japão é que estava errado, é natural que tenha perdido a guerra. Portanto, ao invés de nos lamentarmos, deveríamos agradecer e até comemorar. Como não podemos fazer isso, temos de ficar quietos, mas virá o dia em que todos compreenderão a verdade”. Ouvindo isso, as pessoas diziam: “Entendi perfeitamente”, e voltavam alegres para suas casas.
Através desse fato, podemos ver que os japoneses deixavam em segundo plano o que é bom e o que é mau, quando se tratava de assuntos relativos à nação. Pensando apenas no seu próprio bem, chegaram até a estabelecer e propagar o “slogan” “Hakko iti u” (o mundo sob a égide do Japão) e a julgar que, se o seu país estivesse bem, pouco importavam os outros países. Isso foi considerado lealdade e patriotismo, e assim os japoneses vieram avançando como cavalos refreados a cabresto. Desde essa época, portanto, estava sendo plantada a semente terrível da catástrofe.
Quando pensamos em tudo isso, compreendemos que o amor à pátria deve estar de acordo com a época. Além do mais, se não for com base no conceito do bem e do mal, do certo e do errado, é impossível formar um plano a longo prazo, em termos nacionais. Sendo assim, vou mostrar o sentimento de amor à pátria que está de acordo com a era vindoura.
Em termos mais claros, o fundamental é tornar “Daijo” o pensamento do Japão, que até então era “Shojo”. Sintetizando: criar o amor internacional, o amor humanitário, isto é, amar o mundo por amar o Japão. Atualmente, tudo está se tornando universal e internacional, e as aspirações independentes e transcendentais já se tornaram sonho do passado. Conseqüentemente, em termos concretos, o amor à pátria, daqui para frente, deve consistir, antes de mais nada, em tornar segura a vida de nossos irmãos – noventa milhões de pessoas – e fazer do Japão uma nação justa, baseada na moral, merecedora do respeito do mundo inteiro. A propósito, existe o problema do rearmamento, que está em ativa discussão. As teses favoráveis e contrárias acham-se em confronto há algum tempo e não se obtém nenhuma solução. Entretanto, acho que não é um problema tão difícil assim. Encarando-o como um problema real, logo compreenderemos a solução adequada, ou seja, abandonar o rearmamento se houver garantia de que não há absolutamente nenhum país que possa invadir o Japão; caso contrário, fazer uma defesa de acordo com a capacidade do país.
3 de dezembro de 1952



O JAPÃO É UM PAÍS CIVILIZADO
OU SELVAGEM?

Lendo o título acima, talvez duvidem da minha sanidade mental, pois, embora tenha perdido a Segunda Grande Guerra, incontestavelmente o Japão está situado entre os países ditos civilizados. Quando se fala em país selvagem, pensa-se logo nos países da África e em alguns outros, mas, refletindo bem, eles não devem ser considerados pura e simplesmente selvagens: seria mais correto dizer que são selvagens-subdesenvolvidos.
O Japão certamente não é subdesenvolvido, mas o fato é que ele continua selvagem como antes. O que me faz pensar assim é a observação da conjuntura atual. Vejo serem praticados inúmeros atos de selvageria, como violências de grupo, ameaças, brigas, roubos de armas, pessoas ferindo e sendo feridas, e muitos outros atos que assustam o povo e intranqüilizam toda a sociedade. Esta vive num estado de extrema aflição. Até os estudantes das escolas superiores, que deverão ser os futuros líderes da cultura, participam dessa agitação. É de fato desolador. Entre outras coisas, a título de roubar pequenas quantias, sufocam-se ou espancam-se motoristas de táxi até que eles desfaleçam, e matam-se pessoas por motivos insignificantes. Vemos, ainda, assassinatos e mutilações entre pais e filhos, ou entre irmãos. A sociedade é realmente selvagem, e não há um só dia em que não apareçam nos jornais manchetes sobre assaltos, estupros, batidas de carteira, incêndios provocados, brigas, assassinatos, etc. Se quiséssemos enumerar todos os atos selvagens, não chegaríamos ao fim; somos, portanto, levados a duvidar de que este mundo seja civilizado. Talvez fosse adequado dizer que ele é uma sociedade mais próxima à dos animais. Em vista disso, o homem contemporâneo parece ainda ignorar o que é civilização.
A civilização atual, com o desenvolvimento das máquinas, tornou-se muito prática, e a organização e estruturação social foram hábil e cientificamente formadas, de modo que, à primeira vista, tem-se impressão de um progresso espantoso. Diante dessa realidade, a maioria exulta de contentamento, achando que civilização é isso. Entretanto, ao nosso ver, não passa de uma civilização superficial; por trás dela, somos forçados a pensar que ainda resta muito de selvageria. Para melhor compreensão, farei um retrospecto histórico.
Em prosseguimento às eras primitiva e selvagem-subdesenvolvida, surgiu a civilização decorrente do progresso da Religião e da Educação. Paralelamente, deveria ter diminuído a selvageria, porém o que se vê na realidade é até o contrário. Pode parecer paradoxal, mas é mais apropriado dizer que estamos numa era semicivilizada. A era da verdadeira civilização só se efetivará no mundo que vai ser construído daqui para frente. Será o mundo de paz e felicidade tão esperado pelos homens. Para nossa grande alegria, esta época está dian¬te dos nossos olhos. A Igreja Messiânica Mundial surgiu para promover a concretização desse mundo. Todos poderão entender isso observando as atividades que ela vem realizando; a primeira consiste em apontar os muitos erros subjacentes na civilização atual e pregar o que é a verdadeira civilização.
Para que as pessoas acreditem nas minhas palavras, Deus está me permitindo realizar inúmeros milagres, através dos quais fica patenteada a Sua existência. Sendo assim, a nossa Igreja não é uma religião comum, que se possa aquilatar pelos critérios tradicionais. Podemos compreender que ela é a criadora de uma civilização inteiramente nova e, também, a encarregada de concretizar o majestoso plano arquitetado por Deus para esta época de grande transição na história do mundo.
4 de junho de 1952



O CARÁTER DEPENDENTE DOS JAPONESES

Nos japoneses da atualidade, nota-se uma característica muito forte: sua dependência. Em maior escala, a nível de governo, comércio e outros setores, eles estão na dependência dos demais países. Também existe subsídio do governo para diversos artigos de consumo e ajuda financeira do Banco do Japão. Médios e pequenos empresários afirmam que irão à falência se não obtiverem empréstimos bancários; algumas pessoas dizem não lhes ser possível viver sem pedir dinheiro emprestado a parentes e conhecidos; crianças não conseguem estudar se não tiverem ajuda dos pais. Além disso, existem os desempregados, viúvas, etc., que vivem na dependência da ajuda do governo, dos serviços sociais e da assistência de instituições. Onde quer que se observe, parece que nada é possível sem a ajuda de terceiros; conseqüentemente, não podemos deixar de ficar espantados com o caráter dependente dos japoneses.
Somos forçados a admitir que a causa fundamental dessa dependência é o fato de o Japão ainda não se ter libertado dos fortes laços do feudalismo. Naquela época, a classe predominante eram os samurais e os funcionários do governo; o restante era a classe dos cidadãos em geral. Os mais graduados viviam da pensão a eles concedida pelos senhores feudais; os menos graduados – excetuando os patronais – embora recebessem uma pequena quantia, tinham sua vida garantida durante muitos anos. Caso, por exemplo, o empregado de uma loja iniciasse uma atividade autônoma, era costume o patrão permitir que ele usasse o nome da sua loja e até recomendar a uma parte da freguesia que comprasse na loja do ex-empregado. Os operários não tinham direito de sociedade de classe, como hoje, e por isso viviam à custa dos senhores feudais ou da ajuda dos patrões mais ricos. Entre a maioria das pessoas, portanto, não havia independência nem igualdade. Elas dependiam da ajuda dos mais poderosos e, logicamente, não eram donas da sua própria vida. Uma vez que esta situação se prolongou por vários séculos, é perfeitamente justificável a dificuldade do povo em se libertar desse sentimento de dependência.
No que se refere às mulheres, nenhuma trabalhava fora como agora, mesmo que atingisse certa idade, de modo que elas não tinham outra alternativa senão depender dos pais, e, uma vez casadas, deviam prestar fidelidade absoluta à família do marido até a morte. Além disso, desobedecer ao marido ou à sogra era tido como trair os deveres de esposa, o que tornava a situação muito mais difícil. As mulheres estavam, pois, numa situação semelhante à de uma planta parasita, que não consegue sobreviver se .não se agarrar a algo bem forte.
Nos Estados Unidos, a situação é muito diferente. Entende-se isto analisando a história de sua formação. No começo do século XVII, centenas de puritanos da Inglaterra emigraram para a América sem levar quase nada. Desbravaram as montanhas e os campos desabitados e, com sacrifício e esforço, conseguiram construir, em pouco mais de duzentos anos, a nação civilizada que vemos atualmente. Por isso, é natural que haja uma diferença tão grande entre o pensamento dos americanos e o pensamento dos japoneses. Os americanos não tinham em quem se apoiar, mesmo que quisessem; não havia quem os ajudasse, além deles próprios. Por maiores que fossem as dificuldades, só dependiam de si mesmos. O único recurso era produzir algo a partir do nada, com a própria força. É por esse motivo que sinto realmente uma grande admiração pelos americanos.
Se o povo japonês, pelas críticas que tem sofrido, pretende reconstruir este país, precisa, antes de tudo, seguir o espírito desbravador do povo americano. Estou certo de que a introdução desse pensamento é muito mais eficaz que a introdução de capital. É o método fundamental, pois está baseado na Verdade de que o espírito domina a matéria. Entretanto, podemos dizer que, entre os intelectuais do Japão, quase ninguém percebe isso. Mesmo nos órgãos de comunicação, o que se faz é incentivar o espírito de dependência. Talvez eu esteja exagerando, mas essa característica é própria dos pedintes acovardados, que compram a compaixão das pessoas. Além disso, quando alguém não atende suas exigências conforme eles desejam, os japoneses reclamam, queixam-se, revoltam-se e, por fim, com a ajuda de terceiros, tentam até derrubar esse alguém. Parecem não perceber que, em conseqüência disso, também estão derrubando a si próprios. Com efeito, não há tolice igual. Pode-se até dizer que, com essa atitude, não só se torna difícil reconstruir o Japão, mas até mesmo manter a situação atual.
Quase sempre fazem-se greves como único meio de resolver os problemas existentes entre empregados e empregadores. Talvez seja algo inevitável, mas, pensando bem, o que pode acontecer é o seguinte: quanto mais se faz greve, mais a empresa regride, e o resultado é a diminuição da receita e, logicamente, do salário dos empregados. É o mesmo que a pessoa apertar o seu próprio pescoço. Obviamente, tanto os empregadores como os empregados têm por objetivo a felicidade. Se é assim, não tem fundamento que um lado esteja feliz e o outro infeliz. Uma vez que há uma relação de reciprocidade entre ambos, se os empregados não fizerem os empregadores lucrar, não receberão salários maiores. Não há coisa tão simples quanto essa. Conseqüentemente, os capitalistas estão errados em desejar lucros além do normal, e os trabalhadores também estão errados em pensar apenas em seus próprios benefícios. Além disso, quando se analisa imparcialmente o mundo empresarial da atualidade, vê-se que, na época anterior à guerra, os lucros dos capitalistas eram exagerados e a economia nacional também tinha uma disponibilidade incomparável em relação à época contemporânea. Mas qual é a situação atual? Poderíamos afirmar que quase já não existem verdadeiros empresários e capitalistas. Grandes grupos econômicos foram dissolvidos e a maioria dos milionários foi à falência. Como desapareceram os capitalistas e também os grandes proprietários de terras, que eram os inimigos dos comunistas, é difícil, para estes, continuar arquitetando suas lutas.
Quando se leva em conta essa situação, apesar de os grandes capitalistas serem um tanto indesejáveis na conjuntura atual, chega-se à conclusão de que, se não surgir um grande número de médios capitalistas, será quase impossível pensar-se no êxito dos empreendimentos. Esta é a necessidade imediata para os dias atuais. Talvez seja por esse motivo que, no ano passado, os Estados Unidos incentivaram o Japão a adotar a política de capitalização dos recursos. E isto se torna ainda mais evidente quando verificamos que, mesmo na União Soviética, devido ao exagerado empenho inicial para derrubar os capitalistas, os empreendimentos sofreram percalços e Stalin utilizou-se da política da abertura de meios para a formação de médios capitalistas.
Por esses exemplos, vemos que, no momento, é preciso haver um sólido aperto de mão entre os trabalhadores e os capitalistas japoneses, e não simples acordos. Somente assim poderemos aspirar ao aumento da felicidade e do bem-estar dos trabalhadores. Entretanto, é um terrível engano pensar que nada pode ser resolvido a não ser através de lutas. Caso isto não seja percebido, fatalmente haverá a auto-extinção não só dos empregados como dos empregadores.
Raciocinando dessa forma, fica bem claro que o método de fazer greves para resolver os problemas entre empregados e capitalistas não passa de simples manifestação do espírito de dependência, pois, se os empregados pedem aumento de salário aos capitalistas é porque dependem deles. Se trabalhassem dando o máximo de seu espírito de independência, os resultados do seu trabalho seriam muito melhores e certamente os capitalistas é que ficariam na sua dependência. Por conseguinte, primeiro os empregados devem fazer com que os capitalistas lucrem e, depois, exigir a justa distribuição dos lucros. Como isso é o certo e o justo, logicamente os capitalistas não poderiam recusar-se a atender às suas reivindicações. Seguindo-se essa diretriz, a solução dos problemas entre trabalhadores e capitalistas não seria tão difícil. Atualmente, porém, tenta-se apenas obter a elevação dos salários, sem levar em conta as dificuldades; portanto, só podemos julgar que está se tentando forçar a situação.
Sintetizando, nesta oportunidade eu gostaria de alertar que, para resolver esse problema, não há meio mais eficiente do que eliminar de vez o espírito de dependência que caracteriza o povo japonês.
25 de março de 1950



OS JAPONESES NÃO TÊM AMBIÇÃO

Sem dúvida, os leitores ficarão espantados se eu disser que não existe um povo tão desprovido de ambição como os japoneses. Entretanto, não posso deixar de dizê-lo, pois é a pura verdade. Acontece simplesmente que a maioria das pessoas não percebe isso.
Dando exemplos concretos, os japoneses da atualidade quase não se interessam em ganhar a confiança do próximo. Falam, sem a menor perturbação, mentiras que inevitavelmente serão descobertas, ou que estão mais do que evidentes. E o pior: mentiras que serão descobertas assim que eles virarem as costas. Mais do que tudo, existem muitas pessoas que não cumprem os horários combinados. Isso também constitui uma mentira, mas, achando que é algo muito natural, qualquer pessoa faz dessa prática uma rotina. Quando se vai fazer uma compra, o vendedor e o comprador mentem um para o outro. Como o vendedor não lucra se for muito honesto, talvez, até certo ponto, a mentira seja inevitável, mas em geral elas são exageradas. Em primeiro lugar, o tempo que os dois perdem nas negociações e complicações burocráticas é insuportável; além do mais, um perde a confiança no outro. Como o comprador pede desconto, o vendedor aumenta o preço, e vice-versa. Tratando-se de negócios de maior vulto, é preciso fazer-se ofertas e contra-ofertas, durante meio dia ou um dia inteiro, havendo até os que demoram dias ou meses. Assim, é um grande desperdício de tempo e dinheiro para ambos os lados.
Dar exemplo de si próprio é meio constrangedor, mas, quando vou fazer compras, sou do tipo que quase nunca pede desconto. Só quando os artigos são espantosamente caros ou quando percebo que vou ser enganado é que me vejo forçado a regatear, porém é muito raro. Ajo assim porque, se eu pechinchar, não há dúvida de que o vendedor aumentará o preço na próxima ocasião; aí eu vou pechinchar outra vez, e assim por diante. Isso dá muito trabalho e só causa experiên¬cias desagradáveis.
Os exemplos acima relacionam-se a compra e venda, mas o mesmo parece ocorrer com os funcionários de órgãos públicos e empresas privadas. Querendo subir rápido na vida, eles gostam de mostrar suas realizações, de contar seus feitos para todos e de se apresentar como benfeitores. Acham-se espertos por agirem dessa maneira, mas, como seus chefes têm percepção mais aguda, acabam descobrindo a verdade e pensando: “Este indivíduo mostra-se bom diante dos superiores, mas não deve ser leal de coração”. Assim, tais pessoas não se tornam dignas de confiança. Os empresários, por sua vez, gostam de mostrar que têm dinheiro, quando na realidade não o têm; querem mostrar que têm apoios poderosos atrás de si e anunciar que seus empreendimentos são muitíssimo vantajosos. Entretanto, ainda que eles triunfem momentaneamente, estas artimanhas nunca dão bons resultados.
O que acabamos de dizer também se aplica, freqüentemente, à propaganda feita pelos padrinhos de casamento. Quando alguém apresenta o proponente de casamento e o elogia além do que ele merece, mesmo que o casamento fique acertado, será um desastre, antes ou depois de realizado. Além disso, os noivos e seus familiares serão prejudicados, e o padrinho ou a pessoa que serviu de intermediário, daí por diante não será merecedor de confiança. Muitas vezes, também, acontece de ser feita uma intensa propaganda de remédios e cosméticos que, por um momento, são muito bem vendidos, mas que acabam não tendo mais saída, por seus efeitos não corresponderem à propaganda.
Os exemplos são tão numerosos que parecem não ter fim. Resumindo, em todos os nossos empreendimentos a confiança deve estar em primeiro plano. Se perdermos a confiança dos outros, será o nosso fim. Ainda que façamos tudo com perfeição, nada dará certo. Será o mesmo que tentar encher uma peneira com água. Todavia, parece que pouquíssimas pessoas percebem isso. Muitas, embora julguem ter feito algo com inteligência, visando a grandes lucros, acabam perdendo a confiança do próximo. Perdem todo o seu trabalho, restando-lhes apenas o cansaço. Quem age dessa maneira não possui ambição. Portanto, se agirmos honestamente, sem mentir, nos tornaremos pessoas de quem todos dirão: “O que essa pessoa diz não tem erro. Tratando-se dela, posso ter absoluta confiança”. Assim, é lógico que ganharemos dinheiro, subiremos na vida e seremos amados e respeitados pelos outros. Esse tipo de pessoa é que tem verdadeira e profunda ambição. Aliás, eu sempre costumo dizer que o homem deve ter grandes ambições, mas a ambição de bens eternos, e não de bens momentâneos.
1º de novembro de 1950



NAÇÃO REGIDA PELO CAMINHO

O Japão, assim como todos os países que se dizem civilizados, é regido por leis. Entretanto, a realidade nos mostra que essa não é a forma ideal para se governar uma nação. Através da História, vê-se que é difícil exterminar os crimes somente com o poder das leis. Como não se consegue eliminar todo o mal do homem, os crimes são inevitáveis; conseqüentemente, só a Religião poderá trazer a verdadeira solução para o problema. Contudo, casos que exigem soluções imediatas não poderão ser resolvidos apenas por meio dela. Por esse motivo, em primeiro lugar é preciso ensinar ao homem o Caminho. Refiro-me ao Caminho Perfeito e à lógica.
Embora o assunto se assemelhe à antiga moral oriental, o que agora desejo anunciar é uma moral nova e progressista. Sou levado a isso pela evidente decadência moral da sociedade contemporânea, onde saltam aos nossos olhos a corrupção dos jovens, o aumento do índice de criminalidade e outros fatos. Até mesmo os intelectuais já estão percebendo a situação, tanto assim que aconselham a volta ao ensino da Moral nas escolas e a elaboração de algo que preencha as falhas da Educação. O assunto tem servido de tema para várias discussões, e é muito animador constatar a existência de uma preocupação nesse sentido.
Após a Segunda Guerra Mundial, os japoneses ficaram sem qualquer apoio, não tendo a que recorrer. O resultado é que aumentou o número de criaturas desorientadas. Até o fim da guerra, em todas as escolas do país, o ensino tinha por base a Moral, as sábias palavras do Imperador e também a lealdade e o amor aos pais, profundamente enraizados no coração do povo japonês desde épocas antigas. É inegável, portanto, que a socie¬dade daquela época era muito mais honesta e sincera que a da época atual. Mas nem por isso devemos revitalizar essa velha moral; torna-se imprescindível criar uma ordem moral para a Nova Era. Após a guerra, estabeleceu-se a democracia no Japão, e assim nos libertamos do despotismo. Isso foi muito bom; pena é que se tenha ido além dos limites e chegado à situação presente, ou seja, a uma sociedade predisposta à desordem. Sendo assim, urge formar uma nova idéia moral que esteja em conformidade com a época, eliminando o que há de mau e aproveitando o que há de bom no antigo e no novo pensamento. É necessário construir um novo espírito japonês, semelhante ao do cavalheirismo inglês, por exemplo. Para tanto, como expus acima, a base é o Caminho, cuja noção deve ser intensamente apregoada, não só no ensino como na sociedade. Se conseguirmos, com isso, diminuir uma parte que seja do mal so¬cial, ficaremos muito satisfeitos.
Dando uma explicação mais compreensível sobre Caminho, isto é, o Caminho Perfeito, devo dizer que se trata de algo aplicável a todas as coisas; ou melhor, ele é a bússola orientadora da conduta humana. Seguindo o Caminho, o homem não terá insucessos nem desgraças, tudo lhe correrá bem. Gozará de maior confiança, será respeitado e amado pelo próximo e, logicamente, ficará em situação de harmonia e de paz. Na medida em que aumentar o número de indivíduos e de lares com tais características, o mal social irá diminuindo cada vez mais, graças à influência exercida por eles.
Por esse motivo, se continuarmos apoiando-nos apenas nas leis, como fazemos atualmente, crescerá o número de indivíduos espertos e malvados, os quais pensam que lhes basta agir de modo a não caírem nas mãos da Justiça. Em outras palavras, Deus, como sempre digo, é o Caminho Perfeito; adorar a Deus significa seguir o Caminho. Portanto, o homem que se submete ao Caminho Perfeito e por ele é regido, é um verdadeiro homem civilizado.
Este artigo, eu ofereço aos intelectuais do mundo inteiro.
7 de fevereiro de 1951



OBEDIÊNCIA AO CAMINHO PERFEITO

A essência da fé, em última análise, é a obediência ao “Dori” (Caminho Perfeito). O termo “Dori” é constituído de “do” e “ri”: “do” é o mesmo que “miti”, ou seja, caminho; “ri” significa lógica.
Não existe palavra tão significativa quanto “miti”. Pela ciência do espírito das palavras “mi” é água, matéria, e “ti” é sangue, espírito; “mi” também significa negativo, e “ti”, positivo. Na representação gráfica da palavra “miti” entra a letra que, isoladamente, representa a palavra “kubi” (pescoço), e o sinal chamado “shinnyu”, que indica ligação. O pescoço é a parte mais importante do corpo; podemos viver mesmo que nos cortem os braços ou as pernas, mas, se nos cortarem o pescoço, morreremos. É muito expressivo aquilo que se costuma dizer quando uma pessoa é despedida do emprego: “Cortaram-lhe o pescoço”. O acréscimo do referido sinal a uma letra tão importante, torna extremamente significativa a palavra “miti”.
Caminho é também o meio pelo qual todas as coisas se ligam. Os meios de transporte, as ondas elétricas, os raios luminosos, o deslocamento das pessoas de um lugar para outro, tudo depende do caminho. Até o Sol, a Lua e as estrelas possuem uma órbita definida, isto é, um caminho. Sendo assim, o caminho é a base de todas as coisas e, conseqüentemente, podemos concluir como é errado desviar-nos dele.
A seguir explicarei o sentido espiritual da palavra “ri”. Ela faz parte da seqüência de “ra” (a seqüência é ra-ri-ru-re-ro), que significa espiral e cuja expressão concreta toma a forma de redemoinho. Este possui um centro, dependendo do qual se produzem movimentos de expansão ou de contração. Se o movimento for da esquerda para a direita, torna-se centrípedo; se for da direita para a esquerda, torna-se centrífugo. Exemplifiquemos:
O centro de nossa Igreja é Gora, na cidade de Hakone. “Go” significa cinco, e também fogo; “ra” é redemoinho. Isso quer dizer que o espírito do fogo se expande em movimentos centrífugos. O desenho chamado “tomoê” (11) encerra um significado que é realmente um profundo mistério: todo movimento para a esquerda transforma-se em movimento para a direita.
O sentido espiritual das sílabas da seqüência ra-ri-ru-re-ro caracteriza a atividade do dragão (“ryu-jin”). O termo “ryujin”, é constituído de “ryu” e “jin”; “ryu”, por sua vez, é constituído de “ri” e “u”. Quando o dragão está imóvel, toma a forma de redemoinho. O engraçado é que a maioria das pessoas cujo nome tem uma das sílabas ra-ri-ru-re-ro, apresentam características de dragão. Observando-as, poderemos constatar isso.
Se eu continuar explicando essas coisas, não acabarei nunca, por isso vou me deter na palavra “ri”. Ela é formada pela junção de duas letras que, sozinhas, representam palavras cujo sentido é, respectivamente, rei () e povoado (). A primeira compõe-se de três linhas horizontais paralelas, sendo que da linha superior, a qual representa o Céu e o Fogo, parte uma linha vertical; esta atravessa a linha mediana, que representa o Interregno e a Água, e termina na linha inferior, que representa a Terra e o Solo. A letra com que representamos a palavra que significa povoado () é constituída, por sua vez, de duas outras que, isoladas, representam palavras que significam, respectivamente, arrozal em campo alagado () e solo (). A primeira, originariamente, era uma cruz dentro de um círculo; a segunda é expressa da mesma forma que o número 11 em algarismos japoneses, ou seja, uma cruz sobre uma linha. O número 11 também tem o sentido de unificação; portanto, “ri” é a ação básica de todas as coisas e tem o sentido de PERFEIÇÃO. O nome da Igreja Tenrikyo, onde também entra essa palavra, é um nome muito bom.
“Riho” (lei) é uma palavra bastante usada e, a propósito, vou explicar o sentido espiritual de “ho”. “Ho” é fogo, e “o” é água. De acordo, porém, com a ciência do espírito das palavras, “o” está incluído em “ho”; isto quer dizer que o fogo arde continuamente por ação da água. Graficamente, “ho” compõe-se de duas palavras cujo sentido é: anular a ação da água. Como esta corre horizontalmente, há o perigo de gerar desordem; portanto, anulada sua ação, fica apenas o vertical, o que significa a imobilidade absoluta. Daí se conclui que não podemos infringir o “ho”, que é a Lei.
Se juntarmos tudo isso, entenderemos o profundo significado do “Dori”. Em resumo, podemos dizer que “Dori” (Caminho Perfeito) é Deus. Obedecer a ele é obedecer a Deus. O homem, em quaisquer circunstâncias, deve sempre respeitá-lo, obedecer-lhe e jamais desviar-se dele.
20 de novembro de 1950


PRECISAMOS SER UNIVERSAIS

Doravante, as pessoas precisam ser universais. A propósito disso, existe uma história interessante.
Logo após a Segunda Guerra Mundial, um ex-militar veio a mim muito nervoso e, com expressão de ressentimento, falou: “Não entendo de modo algum o motivo da rendição dos japoneses. É realmente algo inadmissível”. Impressionado por eu não ter dado importância às suas palavras, perguntou: “O senhor é japonês?” Respondi: “Não”. Ele ficou muito espantado e, trêmulo, insistiu: “Qual é a sua nacionalidade?” Eu disse: “Sou universal”. Ouvindo isso, o ex-militar ficou confuso e pediu que eu me explicasse melhor. O que vou escrever a seguir tem por base a explicação dada naquela oportunidade.
É errado distinguir um ser do outro identificando-os como japonês, chinês ou de outra nacionalidade qualquer. Os japoneses daquela época agiam assim. Tendo vencido as guerras contra a China e a Rússia, começaram a se orgulhar, por se verem incluídos entre os países de primeiro plano. Não só julgaram, como também fizeram os outros julgar que o Japão era um País Divino, todo especial. Tais pensamentos acabaram por gerar a Segunda Guerra Mundial. Por idênticos motivos, passaram a desprezar os outros povos, como se estes fossem meros animais, pondo-se a matar pessoas com a maior naturalidade e a invadir as outras nações como bem enten¬diam. No final, entretanto, acabaram recebendo uma lição, sendo derrotados.
A verdade é que enquanto cada povo tiver o pensamento de que, se o seu próprio país estiver bem, não interessa como estejam os demais, será impossível conseguir-se a paz mundial. Poderemos entender isso melhor imaginando, por exemplo, um conflito entre dois estados do Japão. Como o problema ocorre dentro de um mesmo país, tratando-se, portanto, de conflito entre irmãos, é lógico que será fácil resolvê-lo. Logo, basta aplicarmos esse conceito em amplitude mundial. É como diz o famoso poema do Imperador Meiji: “Na era em que consideramos todos os povos irmãos – inclusive os de além-mar – por que as ondas e os ventos se enfurecem?” É exatamente isso. Se todos pensassem assim, se a humanidade tivesse esse sentimento amplo, amanhã mesmo estaria concretizada a paz no mundo. Todos os países formariam uma só família, não havendo motivo para guerras.
Pensamentos egocêntricos que levam as pessoas a formar grupos que, dizendo-se defensores de determinada ideologia ou pensamento, consideram os demais como inimigos, não só geram erros para a Nação, como também constituem um obstáculo para a paz mundial. Com base no que estou dizendo, é preciso que pelo menos todos os japoneses, em comemoração à assinatura do Tratado de Paz, tornem-se universais, libertando-se do pensamento limitado que tiveram até agora e adquirindo um pensamento amplo, irrestrito. Doravante, entre os pensamentos que dominam a humanidade, este deverá estar à frente de todos, pois o mundo inteiro precisa de pessoas que pensem assim.
O assunto muda um pouco, mas também no que se refere à Religião o comportamento deve ser o mesmo. Já está fora de época criar alas dentro de uma religião ou de uma seita. Modéstia à parte, a nossa Igreja não é assim. Ela não nos proíbe contatar com as outras religiões. Ao contrário, esse contato é até motivo de alegria para nós, visto que, pacifista, ela tem por objetivo harmonizar toda a humanidade, fazendo dos seres humanos uma só família. Sendo assim, consideramos todas as religiões como companheiras e queremos dar-lhes as mãos, caminhando lado a lado com elas.
3 de outubro de 1951



RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E POLÍTICA


RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E POLÍTICA

Atualmente, a sociedade está repleta de males. Por toda parte ocorrem fatos desagradáveis, uns após outros; a intranqüilidade das pessoas alcança o auge. É urgente, portanto, meditar muito, para encontrar a causa dos males so¬ciais. De onde eles provêm? A quem responsabilizar?
Obviamente, a culpa não poderia deixar de ser da Religião, da Educação e da Política. A chave para a solução do problema é saber em que ponto está localizado o gravíssimo equívoco.
Em primeiro lugar tratarei da Religião.
Excetuando o cristianismo, as outras religiões tradicionais estão muito atrasadas. Inclusive o budismo, que nasceu há mais de dois mil e seiscentos anos, visando o povo hindu, já não condiz com a nossa época, por mais importante que tenha sido Sakyamuni e por mais profundos que sejam os seus ensinamentos. Naturalmente, a situação é ainda mais grave com a sociedade japonesa atual. Os hindus daquela época faziam meditações diárias no interior das matas e liam milhares de livros sagrados para encontrarem a Verdade. Para os homens atuais, no entanto, que precisam trabalhar da manhã à noite a fim de ganhar o pão de cada dia, isso é impraticável. É mesmo natural que, apesar de todos os seus esforços para se manterem ativas, as religiões tradicionais nada conseguiam fazer além de proteger os túmulos e lamentar a situação em que se encontram. Se elas se valem da assistência social como único meio para sobreviver, ninguém poderá negar que estão fora dos campos da atuação religiosa.
Quanto à Educação, também está muito distante do verdadeiro caminho. Seu real objetivo é formar homens íntegros, isto é, homens que façam da justiça o seu código de Fé e se esforcem para aumentar o bem-estar social, contribuindo para o progresso e a elevação da cultura. Na situação atual, porém, até mesmo os que se formam nas melhores escolas superiores praticam crimes e outras ações que prejudicam a sociedade. Urge fazer algo para modificar essas condições.
O maior erro da Educação é ser totalmente materialista. Estamos cansados de dizer que, se ela não evoluir juntamente com o espiritualismo, não lhe será possível nem mesmo sonhar em atingir seu verdadeiro objetivo. Entretanto, como esse erro vem de longa data, estamos conscientes de que enfrentaremos muitas dificuldades se tentarmos eliminá-lo bruscamente.
O ideal espiritualista é fazer reconhecer a existência do espírito, o que significa fazer reconhecer a existência de Deus. Sem isso, o espiritualismo não teria fundamento. Naturalmente, a Religião encarregou-se disso até hoje, mas não obteve resultado visível, porque não havia uma religião com força suficiente para tanto. Nasceu, então, a nossa Igreja, dotada de força para fazer com que todos reconheçam o espiritualismo e com que a Religião e a Ciência caminhem lado a lado. Dessa forma, nascerá um mundo de eterna paz, onde todos poderão viver uma vida celestial. Se o progresso da cultura, por maior que ele seja, não promove, paralelamente, o aumento da felicidade, a culpa cabe ao próprio homem, que ficou preso apenas à cultura material. A humanidade precisa perceber isso o quanto antes.
No que concerne à Política, sua situação também é calamitosa. Tomarei por base exclusivamente a política japonesa, que, mesmo sob domínio estrangeiro, é assaz medíocre. Sendo ela materialista, seu conteúdo torna-se mais medíocre ainda. Podemos afirmar que não existem muitos políticos de visão ampla e que a maioria se resringe às tarefas do dia-a-dia. Isso acontece porque seus espíritos estão maculados, de modo que, embora sejam políticos, eles não conseguirão, de maneira alguma, manter um desempenho desejável se não tiverem por base a Fé. Como as religiões tradicionais não têm força suficiente para modificá-los, a única solução é o aparecimento de uma religião nova e poderosa.
27 de agosto de 1949



RELIGIÃO E POLÍTICA

Apesar de haver uma estreita relação entre Religião e Política, é estranho que isso não tenha despertado muito interesse. Na realidade, até o término da Segunda Guerra Mun¬dial, a Política, longe de apreciar a participação da Religião, vivia oprimindo-a. Desde a antigüidade este fenômeno se fez notar em vários lugares, registrando-se não poucos casos da quase extinção de religiões devido à violência das perseguições. No entanto, por mais que a Religião tente realizar o seu objetivo, que é a construção de um Mundo Ideal, para incrementar a felicidade do homem, torna-se evidente que ela jamais atingirá essa meta se a Política não for justa. Sendo assim, uma Política escrupulosa requer políticos íntegros e, para preencherem essa condição, eles devem ser dotados de religiosidade.
No Japão – desconheço a situação no estrangeiro – um erro no qual os políticos têm inclinação para incorrer é a corrupção. Pode-se dizer que isso acontece porque eles são escravos do materialismo, cuja origem está na falta de religiosidade. É desejável o aparecimento de políticos dotados de espírito religioso, pois só assim poderemos alimentar esperanças quanto ao futuro, aguardando o bom desenrolar dos destinos da Nação. No que se refere à construção de um novo Japão, é necessário, sobretudo, incutir espírito religioso nos políticos, para que seja realizada uma Política arraigada no senso religioso.
Atualmente o povo vive criticando, e com razão, a degeneração da Política, as fraudes eleitorais, a prevaricação dos funcionários públicos, a degradação dos educadores, etc. Os próprios políticos, os órgãos competentes e o povo empenham-se com unhas e dentes na solução purificadora dos problemas dessa lamacenta sociedade. Infelizmente, na prevenção do crime, conta-se apenas com a força da Lei, mas esta não atinge o âmago da questão, pois a causa dos crimes está no interior do homem, ou seja, na sua alma. Purificar a alma é o método verdadeiramente eficaz. Estou convicto de que isso só poderá ser conseguido através de uma Fé verdadeira.
25 de janeiro de 1949



AS LEIS E O CARÁTER SELVAGEM DO HOMEM

No mundo atual, quanto mais civilizado é um país, mais complexo é o seu sistema legislativo. Como todos podem ver, os artigos das leis tendem a aumentar a cada ano; pode-se até dizer que a época contemporânea é a época da onipotência da legislação. Ora, a existência de muitas leis significa que é difícil os oficiais de justiça e os advogados de uma repartição memorizarem todas elas, mesmo utilizando a vida inteira. De fato, se eles não conseguem dar conta daquilo que lhes diz respeito, os efeitos das leis deveriam ser mais visíveis; entretanto, ao invés de diminuírem, os crimes tendem a aumentar cada vez mais com o passar dos anos. Por que será? Não é realmente incompreensível? É uma total contradição ao progresso da cultura. Por isso, desejo analisar a causa do problema.
Seria desnecessário dizer que o principal objetivo das leis é diminuir a criminalidade e construir um mundo sem crimes. Entretanto, o que se vê é justamente o contrário, como dissemos há pouco. No Congresso Nacional realizado anualmente, o assunto que mais se discute é o aumento dos artigos das leis. No entanto, se a cultura progredisse do modo previsto, o número de criminosos iria diminuindo cada vez mais e, com certeza, surgiriam artigos desnecessários nas leis. Sendo assim, não deveria ser discutida também, no Congresso Nacio¬nal, a eliminação de partes da lei? Mas o interessante é que, embora isso não aconteça, ninguém estranha o fato, pois as pessoas perderam as esperanças, achando que a situação não tem mais solução.
Compreendemos perfeitamente que é impossível eliminar os crimes somente com as leis. Todavia, no momento, se elas não existissem, haveria uma catástrofe: o mundo seria dominado pelos maus, e os bons não conseguiriam dormir tranqüilos. Por isso, as leis precisam continuar existindo, mas seria bom unir a elas um meio eficaz. Em princípio, só podemos valer-nos da Educação e da Religião, mas delas também não podemos esperar muito, pois, durante dezenas de séculos, viemos nos utilizando desses recursos e o mundo humano ainda se encontra na situação de que estamos vendo.
Já escrevi anteriormente que as leis têm quase o mesmo significado que o aprisionamento de animais ferozes em jaulas. Se estas não existissem, haveria perigo de que eles fizessem mal às pessoas e aos animais domésticos. Assim, as leis não passam de um rígido controle feito com redes e grades fortes. Como os homens tentam violá-las, se nelas houver brechas, elas vão se tornando cada vez mais fechadas. Para impedir essa violação, a cada ano se fazem leis mais complexas e policiamento mais rigoroso, o que, aliás, é uma vergonha para o ser humano. Por esse motivo, se os homens de hoje estão sendo tratados como se fossem animais, não é possível nos orgulharmos muito de nossa condição humana. Caso refletíssemos bem sobre esses pontos, despertaríamos o quanto antes. A antiga expressão “animal com aparência de homem” se adapta perfeitamente aos homens da atualidade. Em suma, o homem ainda não conseguiu se libertar do estado semicivilizado e semi-selvagem.
Naturalmente, existem diversos níveis de pessoas, isto é, as que merecem ser tratadas como gente e as que devem ser tratadas como animais. Do mesmo modo que existem países belicosos, existem países pacifistas, sendo que aqueles são selvagens, e estes, verdadeiramente civilizados.
A seguir falarei sobre a Educação. O tema já passou pelo crivo das experiências realizadas até hoje; portanto, não há necessidade de escrever muito a respeito.
Há muitos séculos, como todos sabem, inúmeros pedagogos vêm se esforçando nesse campo. Podemos reconhecer-lhes certo mérito, mas sua força não vai além disso. Não obstante, em relação à época selvagem, a sabedoria humana se desenvolveu bastante, e tanto a política como as organizações sociais e demais setores da sociedade conseguiram espantoso progresso, de modo que não podemos desprezar a contribuição da Educação. É inegável, entretanto, que faltou força na parte espiritual, ou seja, no aspecto referente ao melhoramento do espírito, visto que até agora não foi possível prescindir-se da jaula denominada lei.
Quanto à Religião, obviamente lhe reconhecemos certo mérito no sentido da salvação espiritual. Mas ela também não conseguiu fazer com que as leis se tornassem desnecessárias, apesar do aparecimento de inúmeros santos maravilhosos e personalidades relevantes, e dos esforços e sofrimentos de seus seguidores e até mesmo de fiéis, que chegavam a sacrificar sua vida. Conseqüentemente, não podemos esperar muito das religiões tradicionais.
Então, surge o problema: que fazer para eliminar verdadeiramente o caráter animal do homem e construir uma sociedade que não tenha necessidade de jaulas? Evidentemente, é preciso que surja uma força até agora nunca vista, que supere a cultura tradicional. Mas devemos nos alegrar, pois essa força nos foi atribuída por Deus – Senhor do Universo – e de fato nós a estamos manifestando. Como ela é a essência da nossa religião, podemos dizer que esta é realmente uma Ultra-Religião. Na qualidade de precursores do Mundo da Luz, que está para se concretizar, gostaria que considerassem minhas palavras como o primeiro alarme para despertar a humanidade da ilusão em que ela está vivendo.
22 de agosto de 1951





PODER REVOGANTE
OU PODER CONSTITUINTE?

Estes termos referem-se ao Congresso Legislativo. De fato, a cada ano, aprovam-se novas leis. Entretanto, isso não é motivo para orgulho, pois as leis são instituídas porque o mal social aumenta. Caso aumentasse o número de homens honestos, não haveria necessidade de leis; portanto, não seria necessário instituí-las. O verdadeiro progresso da cultura só terá sido alcançado quando a função do Congresso Legislativo consistir em revogar as leis.
6 de agosto de 1949



A TOLICE DO CONTROLE DA NATALIDADE

Em três oportunidades escrevi a respeito do controle da natalidade, mas volto a fazê-lo por ainda haver pontos em que não foi dito o suficiente.
Atualmente, o Japão está incentivando o controle da natalidade, devido à insuficiência de alimentos em relação ao elevado número de seus habitantes. Analisando bem, essa é realmente uma visão a curto prazo. Suponhamos que uma criança nasça agora. Para ela se tornar adulta, são necessários vinte anos; todavia, uma vez que estamos atravessando uma situação tão instável, não podemos imaginar como será o mundo daqui a vinte anos. Nem mesmo se pode ter idéia das grandes mudanças que poderiam ocorrer num prazo de cinco anos. Por conseguinte, ainda que entre em vigor neste momento o método para diminuir a população do país através do controle da natalidade, é impossível saber se daqui a alguns anos ainda será necessária essa preocupação. Isso não significa que devamos pensar em expandir nosso território, cometendo os mesmos erros do passado; nem em sonho deve-se pensar nisso. Mas quem pode dizer que não virá a época em que o problema da população será resolvido pacificamente?
Vejamos. Caso fosse concretizada a Nação Mundial de que falam certos intelectuais dos Estados Unidos, talvez fosse possível a política de contrabalançar a população dos países, isto é, fazer com que parte da população de um país superpovoado emigrasse para lugares onde a densidade demográfica seja baixa. Acredito que haja muita possibilidade de se colocar em prática essa política, pois o desequilíbrio populacional é um dos motivos de intranqüilidade para um país. Sendo assim, os que são a favor do controle da natalidade talvez precisem levar em conta esses pontos. Na minha opinião, a Nação Mundial provavelmente se concretizará mais rápido do que se imagina. Digo isso porque no dia em que, pacificamente ou por meio da guerra, for resolvido o grande problema do mundo atual, isto é, a ameaça representada pelas relações entre os Estados Unidos e a União Soviética, concretizar-se-á, obviamente, a Era de Paz eterna, e então nascerá a Nação Mundial.
20 de agosto de 1949


NÃO MENOSPREZE OS CÁLCULOS

Na minha opinião, o que mais falta aos políticos japoneses são conhecimentos sobre Economia. Em síntese, são os cálculos. Entretanto, isso não acontece somente na política; em qualquer empreendimento é impossível obter êxito quando se esquecem os cálculos. E estes não dizem respeito apenas às coisas relacionadas a dinheiro. Seja qual for a circunstância, para sabermos claramente as possibilidades de lucros e prejuízos, vantagens e desvantagens, não podemos menosprezar os cálculos.
É óbvio que, segundo a teoria política da democracia, deve ser respeitada a vontade da maioria da população, mas isso é conseguido através do número de votos, e estes só podem ser obtidos através dos cálculos. Não há qualquer probabilidade de sucesso ou progresso quando se negligencia esse aspecto.
O melhor exemplo do que dizemos é a última grande guerra. Talvez haja várias causas para a derrota do Japão, mas a principal foi o pouco caso que se fez dos cálculos. Com base nestes, os japoneses não deveriam ter iniciado a guerra, mas, uma vez iniciada, ainda que por um erro, deveriam ter-lhe colocado um ponto final o mais rápido possível. Deixando-se escapar essa oportunidade, à medida que a guerra prosseguia, mais desvantajosa ficava a situação, o que se torna evidente, ao relembrarmos aquela época.
Não é apenas para o mundo atual que os cálculos têm importância; eles sempre foram importantes. Um dos principais motivos pelos quais o senhor feudal de nome Yoritomo (1147-1199) conseguiu dominar o Japão foi a grande riqueza que ele acumulou utilizando um homem hábil em descobrir minas de ouro, chamado Kanebori Kitiji. O mesmo aconteceu com Toyotomi Hideyoshi (1536-1598), que se tornou poderosíssimo graças ao ouro obtido na mina de Sado. Podemos ter idéia da quantidade de ouro e prata que ele armazenou através de uma famosa história que contam a seu respeito. Quando Hideyoshi construiu a mansão Jurakudai, convidou, para uma festa, todos os senhores feudais daquela época, aos quais deu o seguinte presente: margeou com pepitas de ouro e prata o caminho que eles teriam de percorrer, desde o portão da casa até a entrada – um percurso nada pequeno – e deixou que eles levassem as pepitas que pudessem. O mesmo ainda se poderia dizer de Ieyassu Tokugawa (1542-1616), cuja dinastia conseguiu manter-se no poder durante trezentos longos anos graças ao ouro da mina de Sado. Segundo uma famosa história, com intenção de procurar ouro por todo o país, ele se valeu do célebre descobridor de minas Okubo Iganokami, o qual descobriu a mina de ouro de Izu Oohito.
Com o passar do tempo, entretanto, o ouro da mina de Sado foi escasseando. No fim da época feudal no Japão, tendo diminuído grandemente a exploração dessa mina, surgiu a ameaça de falência econômica; conseqüentemente, os soldos pagos até então aos vassalos tornaram-se inconstantes, o que os levou a passar dificuldades financeiras. É indiscutível que essa foi a causa da queda do regime feudal.
Como sou religioso, qualquer pessoa poderia pensar que não me interesso por Economia. Mas isso não corresponde à realidade. Talvez pelo fato de já ter sido empresário, estou seguro de que ninguém poderia me passar para trás em matéria de cálculos. Para falar a verdade, comendo e vestindo-me humildemente, e morando num barraco, como os religiosos antigos, não me seria possível salvar o homem contemporâneo. Os tempos são outros, e os terrenos e as construções devem estar de acordo com eles. Até para construir o modelo do Paraíso Terrestre é preciso uma enorme soma de dinheiro. Por isso, é óbvio que os recursos financeiros constituem uma das bases para a expansão de nossa Igreja. Nesse aspecto, a religião mais conhecida do mundo religioso atual é a Igreja Tenri-Kyo. Seu ponto forte, todos o sabem, é a grande importância que ela sempre deu à obtenção de capital desde os tempos antigos.
Por essa variedade de exemplos, pode-se entender que, desde o governo de uma nação até um empreendimento particular, nada vai bem se desprezarmos os cálculos. A esse respeito, convém lembrar os Estados Unidos. A maioria dos poderosos políticos americanos saiu do mundo empresarial. É famoso, também, o caso do Presidente Trumann, que há vinte anos era comerciante de miudezas. Fala-se, ainda, que muitos militares poderosos foram empresários. Por isso, a principal razão de os Estados Unidos ocuparem a posição que hoje ocupam é que a maior parte de seus governantes foram empresários hábeis nos cálculos.
Em contrapartida, observando os dirigentes do Japão, vemos que quase todos se tornaram funcionários do governo logo depois que saíram das universidades, só tendo conseguido posição após longo tempo no cargo. Por isso, além de não saberem nada sobre a sociedade, não têm o menor interesse pelos cálculos. Assemelham-se a filhinhos de papai, ou a principezinhos. A melhor prova são os empreendimentos governamentais. A Ferrovia Nacional, por exemplo. Enquanto as companhias ferroviárias particulares continuam distribuindo dividendos anualmente, embora irrisórios, a Ferrovia Nacional tem um déficit de vários milhões de ienes. O mesmo acontece com a venda de cigarros: eles são vendidos a um preço exorbitante, apesar de sua má qualidade. Realmente, os governantes não passam daquilo que o povo costuma chamar de “negociantes amadores”. Por conseguinte, seria desejável que, doravante, surgissem muitos políticos que atuem ou tenham atuado na área empresarial. Esclareço que esta é a condição fundamental para a reconstrução do nosso país.
10 de setembro de 1949



A INSTRUÇÃO PREMATURA É PREJUDICIAL

Talvez achem paradoxal eu falar que o homem da atualidade desenvolveu sua inteligência, mas prejudicou sua capacidade intelectual. O que eu quero dizer, no entanto, é que aumentaram as pessoas de inteligência limitada, superficial, ágil, e diminuíram as pessoas gabaritadas, dotadas de inteligência profunda.
Mas por que será que isso acontece? Segundo minhas observações, é uma conseqüência da instrução efetuada antes do tempo apropriado. A instrução prematura é maléfica porque se incutem conhecimentos sem que a mente esteja suficientemente desenvolvida, isto é, há um desequilíbrio entre as noções transmitidas e o desenvolvimento psicofísico. Em verdade, o homem tem que utilizar o corpo e a mente de acordo com sua idade. Dar a uma criança de sete ou oito anos um trabalho mental apropriado a um jovem de quinze ou dezesseis é uma tarefa excessivamente pesada. Qual será o resultado disso? Vou mostrá-lo através de um exemplo.
Quando eu estava no curso primário (entre sete e onze anos), quis aprender judô, mas disseram-me que antes dos quinze eu não poderia fazê-lo. Como eu perguntasse o motivo, responderam-me que, se a pessoa praticar judô ou qualquer outro esporte inadequadamente, poderá prejudicar seu crescimento e desenvolvimento. Naturalmente eles param por causa do excesso de esforço físico. Da mesma forma, no ensino atual, acha-se que é bom uma criança de doze ou treze anos fazer o que um adulto faz. Realmente, durante algum tempo, a capacidade intelectiva se desenvolve com grande rapidez, e por isso a instrução pode parecer boa, mas não há um desenvolvimento em profundidade, formando-se adultos com capacidade intelectiva inadequada e sem uma lógica profunda.
Na realidade, no Japão também está diminuindo cada vez mais o número de “grandes” políticos. Portanto, os que estão ligados à Educação (12) (13) devem pensar bastante sobre esse problema.
2 de julho de 1949



POR QUE SURGEM CRIANÇAS-PRODÍGIO

Há algum tempo, apareceu nos jornais a notícia de uma criança de seis anos que pintava quadros magníficos. Vou explicar por que nascem crianças assim.
Desde os tempos antigos, de vez em quando têm surgido crianças-prodígio. No Ocidente, segundo ouvimos dizer, existiram grandes músicos que, aos seis ou sete anos de idade, já tocavam muito bem piano ou violino, e, com pouco mais de dez anos, compunham esplêndidas melodias. Conta-se que o famoso Schubert, dos dez anos aproximadamente até sua morte, ocorrida quando ele estava com trinta e um anos, fez mais de quinhentas composições. Por isso, não há dúvidas de que tenha sido um gênio.
Mas há uma causa especial para o nascimento desses gênios. Naturalmente, através da ciência materialista é impossível imaginá-la, mas precisamos conhecê-la. Nós explicamos o fato pela ciência espiritual. No caso de um músico, por exemplo, as causas podem ser duas. Uma é a reencarnação do espírito de um grande músico; a outra, fenômeno de encosto.
Suponhamos que um grande músico morra. Mesmo no Mundo Espiritual ele não consegue esquecer sua tão adorada arte. Assim, em virtude desse forte apego, ele pode reencarnar prematuramente. Esta é uma das causas. Pode acontecer também que, não conseguindo esperar até a reencarnação, ele procure um descendente seu, de preferência uma criança, e nela encoste. Espera para encostar quando seus dedos começarem a ficar ágeis, por volta dos seis ou sete anos. Como é um grande músico, manifesta uma enorme capacidade. Entretanto, ele não consegue encostar em pessoas com as quais não tenha nenhuma ligação, mas apenas, em pessoas de sua linhagem espiritual, principalmente em crianças. Isto porque é mais fácil encostar em crianças do que em adultos; é também mais fácil manejá-las à sua vontade. Pensem bem. Uma criança de seis ou sete anos não pode ter a capacidade de um adulto. Conhecendo, porém, essas causas, não é nada estranho o aparecimento de crianças-prodígio. Entretanto, nem todas elas se tornarão grandes músicos, grandes pintores, etc. Algumas o serão até certa idade, depois se tornarão pessoas normais. É o que acontece no caso de encosto de espírito, porque ele só tem permissão de encostar até certa época, devido à missão dada por Deus ou ao desejo de seus ancestrais. Tratando-se de reencarnação, o espírito é da própria pessoa, de modo que é impossível haver mudança.
11 de março de 1950


“Deus é Luz.
Onde há Luz, existe paz, felicidade e alegria.
Onde não há Luz e Claridade,
Existe conflito, pobreza e doença.
Vós que desejais Luz e Prosperidade,
Vinde!
Vinde e Louvai o nome de Deus;
Assim sereis salvos!”

MEISHU-SAMA




ÍNDICE GERAL POR ORDEM ALFABÉTICA

ENSINAMENTO VOL. PÁG.
A advertência dos antepassados 3 116
A alegria, o tempo e a ordem 4 105
A ampla tolerância 4 87
A arte de Deus 5 51
A atitude “Daijo” versus a atitude “Shojo” nas doações 4 36
A bebida e a Religião 4 24
A bússola da reconstrução do Japão 5 140
A causa da pobreza 4 131
A causa das doenças e o pecado 3 109
A causa dos acidentes 3 90
A Ciência cria as superstições 1 82
A comédia da nutrição 3 122
A construção do Paraíso e a eliminação do Mal 1 66
A Cultura de “Su” 1 90
A dialética da harmonia 1 46
A dietética 3 120
A doença e o caráter do homem 3 116
A época semicivilizada e semi-selvagem 1 75
A existência do Mundo Espiritual 2 64
A fonte da corrupção 5 118
A força absoluta 1 124
A força do solo 5 20
A grande revolução da agricultura 5 30
A grande transição do mundo 1 99
A higiênica e agradável agricultura natural
nas hortas caseiras 4 148

ENSINAMENTO VOL. PÁG.
A instrução prematura é prejudicial 5 176
A irresponsabilidade dos suicidas 4 97
A lógica em religião 2 14
A Luz de Deus e a doutrina 1 32
A missão da Arte 5 59
A missão do homem 3 11
A Nossa Religião e o Universalismo 3 49
A origem dos males sociais 5 122
A palavra “Su” 5 144
A parábola da espada 4 109
A Reencarnação 3 74
A religião precisa ser universal 2 23
A respeito da coletânea de poemas
“yama to mizu” (monte e água) 5 86
A respeito das dívidas 4 135
A respeito do ateísmo 1 88
A respeito do espírito da palavra 4 53
A respeito do Jardim da Terra Divina 5 68
A respeito do Paraíso Terrestre 5 47
A respeito dos sonhos 2 114
A situação do mundo contemporâneo
e o Mundo Espiritual 2 65
A tempestade é uma calamidade humana 2 120
A Terceira Guerra Mundial pode ser evitada 5 137
A tolice do controle da natalidade 5 172
A transição da Velha Cultura para a Nova Cultura 1 63
A trilogia dos órgãos internos e o Johrei 3 103

ENSINAMENTO VOL. PÁG.
A verdade sobre a saúde 3 79
A verdadeira causa da doença está no “espírito” 3 106
A verdadeira causa da intranqüilidade social 5 124
A verdadeira causa das doenças 3 97
A verdadeira religião “Daijo” 2 21
A verdadeira religião 2 20
A verdadeira saúde e a saúde aparente 3 83
Abstinência 4 115
Acabar com os perversos 5 106
Aguardar o tempo certo 4 101
Alimentação e nutrição 3 118
Amor correto e amor incorreto 4 94
Análise das toxinas 3 86
Análise do milagre 2 50
Apreciação das virtudes 4 117
As cinco inteligências 3 36
As diversas expressões faciais após a morte 2 97
As leis e o caráter selvagem do homem 5 168
As plantas têm vida 5 84
As três grandes calamidades
e as três pequenas calamidades 2 116
Ateísmo é superstição 5 89
Atitude mental 4 53
Atuação dos demônios 2 84
Aura 4 61
Beco sem saída 4 110
Benefícios materiais 2 41

ENSINAMENTO VOL. PÁG.
Bom Senso 3 45
Bondade e cortesia 4 66
Camadas do Mundo Espiritual 3 14
Campanha de formação do Paraíso por meio das flores 5 82
Características da salvação pela Igreja Messiânica Mundial 1 18
Características particulares da civilização japonesa 5 65
Ceda para conquistar 4 83
Ciclos Cósmicos 1 98
Ciência e Arte 5 57
Como acabar com os crimes 5 97
Como encarar a Religião 2 11
Como identificar o homem mau 4 126
Concretização da profecia do Reino dos Céus
– o Paraíso Terrestre 1 100
Concretização da Verdade 1 37
Conheça a Vontade Divina 3 11
Considerações espirituais sobre os incêndios 2 123
Considerações sobre o Paraíso Terrestre 5 49
Constituição do Mundo Espiritual 2 71
Criação da Cultura 1 61
Daijo, Shojo, Izunome 1 59
Danos causados pelas chuvas e ventos 5 39
Danos causados pelas pragas 5 38
Derrota do demônio 2 87
Destino e liberalismo 3 43
Deus é Justiça 3 48
Deus existe? 1 137

ENSINAMENTO VOL. PÁG.
Devemos ou não devemos fazer dívidas? 4 136
Dinheiro mal ganho, dinheiro mal gasto 4 140
Doença e espírito 2 101
Domine o “Ga” 4 47
Doutrina da Igreja Messiânica Mundial 1 10
Dúvida 4 110
É possível solucionar os males sociais? 5 128
Egoísmo e apego 4 47
Eliminação da tragédia 1 30
Eliminação do mal 5 116
Elo espiritual 2 107
Entregue-se a Deus 4 49
Era semicivilizada 1 77
Espírito de “Izunomê” 3 56
Espírito de justiça 5 111
Espírito e corpo 3 21
Está errado dizer que os honestos saem perdendo 1 141
Estado de união com Deus 1 156
Eu e a Igreja Messiânica Mundial 1 150
Eu escrevo a Verdade 1 44
Exclusão do temor 2 15
Existem Fantasmas? 3 68
Fé “Shojo” 2 37
Fé é confiança 4 13
Fé é justiça 4 15
Fé e religião 2 35
Fé Messiânica 3 52

ENSINAMENTO VOL. PÁG.
Felicidade 3 39
Filosofia da Intuição 4 57
Fisiognomonia das casas e sua posição
em relação aos pontos cardeais 4 145
Formação do mundo novo 1 11
Gananciosos sem ganância 4 125
Honestidade e mentira 4 123
Igreja abrangente 1 20
Inadequação do estudo 1 84
Incêndio e Johrei 2 125
Incorporação 2 92
Incorporação e encosto 4 20
Incorporação e encosto de espírito encarnado 2 93
Indignação ao mal 5 107
Insensibilidade em relação à fé 2 36
Instinto e abstinência 4 113
Introdução à Agricultura Natural 5 11
Johrei através das letras 4 31
Jornal que enaltece o bem 5 133
Julgamento no Mundo Espiritual 3 70
Leia o mais possível os meus ensinamentos 4 32
Liberdade na Fé 4 18
Libertação 4 112
Luz da Inteligência 3 31
Materialismo e Espiritualismo 1 79
Medicina espiritual 1 115
Milagre e religião 2 44

ENSINAMENTO VOL. PÁG.
Minha Luz 1 157
Minha maneira de pensar 1 147
Minha natureza 1 144
Mistério do Mundo Espiritual 4 41
Morte natural e morte antinatural 3 84
Mundo Espiritual e Mundo Material 2 68
Nação regida pelo Caminho 5 157
Não julgue 4 80
Não julgueis 4 77
Não menospreze os cálculos 5 173
Não se irrite 4 73
Não seja odiado 4 86
Nós é que traçamos o destino 4 44
Nós é que traçamos o nosso destino 3 43
Novamente a respeito de Bergson 4 58
Novo conceito de amor à pátria 5 145
O Bem e o Mal 1 72
O Bem e o Mal são relativos 1 61
O caráter dependente dos japoneses 5 150
O conflito entre o Bem e o Mal 4 81
O dinheiro deve ser usado de maneira correta 4 142
O espírito precede a matéria 1 113
O globo terrestre respira 5 40
O hábito da mentira 4 123
O hábito de resignação dos japoneses 5 101
O Herói da Paz 1 161
O homem depende de seu pensamento 4 41

ENSINAMENTO VOL. PÁG.
O homem é um poço de saúde 3 81
O homem mau é enfermo 5 95
O homem mau é ignorante 5 93
O Japão é um país civilizado ou selvagem? 5 148
O Johrei é tratamento científico (1) 1 129
O Johrei é tratamento científico (2) 1 131
O Juízo Final 1 95
O mal social é ou não é causado pelo meio ambiente? 5 126
O materialismo cria o homem mau 1 80
O mau comportamento dos filhos 5 132
O mundo desconhecido 2 63
O mundo dominado pelo mal 5 113
O Paraíso é o Mundo do Belo 5 62
O pecado e a doença 4 29
O poder da Natureza 2 57
O primeiro mundo 1 12
O que é a doença 3 94
O que é a doença? — A gripe 3 99
O que é a Igreja Messiânica Mundial 1 9
O que é a morte? 3 66
O que é a verdadeira salvação 1 17
O que é Limite 3 55
O que é o estado ligeiramente febril 3 113
O que é uma religião nova 2 27
O saber das coisas 3 32
O segredo da boa sorte 3 27
O tratamento natural 3 92

ENSINAMENTO VOL. PÁG.
O valor do homem reside no seu espírito de justiça 1 139
O verdadeiro homem forte 5 99
Obediência ao Caminho Perfeito 5 159
Obras-primas da arte ao alcance do povo 5 76
Ordem 4 92
Os elementos fogo, água e solo 2 60
Os japoneses e as doenças psíquicas 2 102
Os japoneses não têm ambição 5 155
Os três espíritos do homem 3 16
Os três tipos de toxinas 3 89
Os virtuosos bem-sucedidos na vida 5 135
Ostentação religiosa 1 145
Palestra ao público em Tóquio 1 49
Paraíso – Mundo da Arte 5 60
Paraíso Terrestre 5 45
Paz e segurança 2 16
Pessoa simpática 4 67
Pessoas medrosas 4 96
Poder revogante ou poder constituinte? 5 171
Por que as obras-primas chegaram às minhas mãos 5 78
Por que o mal se revela 5 91
Por que surgem crianças-prodígio 5 177
Possua Fé Universal 3 46
Pragmatismo 4 11
Práticas ascéticas 2 24
Precisamos ser universais 5 162
Prefácio do livro “O Mundo Espiritual” 2 55

ENSINAMENTO VOL. PÁG.
Presunção 4 78
Princípio da Agricultura Natural 5 26
Princípio do Johrei 1 117
Quem é o Salvador 1 160
Religião à luz da verdade (Religião “Daijo”) 2 20
Religião antiga e religião moderna 2 25
Religião artística 5 55
Religião ativa 1 23
Religião celestial e religião infernal 2 32
Religião criadora de pessoas felizes 1 26
Religião e Arte 5 53
Religião e Arte 5 54
Religião e mandamentos 2 13
Religião é milagre 2 46
Religião é milagre 2 47
Religião e obstáculo 2 88
Religião e Política 5 167
Religião e seitas 2 31
Religião pragmática 4 12
Religião progressista 2 18
Religião que revela Deus 1 29
Religião, Educação e Política 5 165
Religiões novas e religiões tradicionais 2 30
Respeite a ordem 4 89
Sabor da Fé 4 51
Satisfação e insatisfação 4 46
Segredo da felicidade 3 40

ENSINAMENTO VOL. PÁG.
Seja um bom ouvinte 4 84
Sejam fortes os virtuosos 5 104
Sejam sempre homens do presente 3 24
Sentimento e reputação 4 85
Ser amado por Deus 3 25
Sermão, Johrei e felicidade 1 127
Significado da construção do Museu de Belas-Artes 5 72
Sinceridade 4 43
Sinceridade 4 61
Sobre a purificação proporcional 3 115
Sol e Lua 3 53
Sou um cientista em Religião 1 109
Subjetivismo e objetivismo 4 119
Tempo é Deus 4 103
Tente agradecer a Deus por tudo o que faz 4 34
Teoria sobre os efeitos contrários 4 69
Tipos de Fé 4 26
Toxinas Urinárias 3 90
Transição da Noite para o Dia 1 105
Treino de humildade 4 45
Ultra-Religião 1 21
Vença seu próprio mal 3 17
Vencer a ira 4 76
Vencer o mal 5 102
Verdade e Pseudoverdade 1 42
Verdade, Bem e Belo 1 39
Verdadeira Fé 4 16
Vida e Morte 3 61